O
Dano da Segunda Morte - Watchman Nee
Nestes últimos anos, os
homens estão à mercê da entrada de um novo milênio com um misto de esperança e ansiedade,
mais ansiedade do que esperança. Você, como cristão, não está imune às
exigências e consequências do novo tempo que já está às portas. Que fazer, se a
cultura humana com tudo o que ela representa tenta desviá-lo do principal -
Deus e as Suas exigências para com os Seus filhos? Que fazer? Uma excelente
reação é ler o "Dano da segunda Morte", uma seriíssima advertência
para os cristãos distraídos com o curso deste mundo. Como hábil cirurgião,
manejando corretamente o bisturi da Palavra de Deus, Watchman Nee desvenda para
nós questões cruciais sobre as atitudes e comportamentos cristãos e as suas
consequências no milênio por vir. Nesta virada de milênio, neste momento
decisivo da história da igreja e da humanidade, são fundamentais e estão
totalmente embasadas na Palavra de Deus as revelações inéditas e corajosas
contidas neste livro do consagrado escritor cristão. Infelizmente é possível
que o cristão distraído não tome conhecimento de tais revelações. Quanto aos
que estão preocupados com a volta iminente do Senhor Jesus, que leiam este
livro e cooperem com o despertamento que se exige no cristianismo nestes
últimos dias.
DISCIPLINA E RECOMPENSA
Temos de distinguir duas
coisas na Bíblia: a disciplina de Deus nos cristãos desta era e a salvação
deles na eternidade. Hebreus registra a questão da disciplina dos cristãos.
Agora devemos ver quais os tipos de pessoas que Deus disciplina e qual é a
finalidade dessa disciplina.
O MOTIVO E O OBJETIVO DA DISCIPLINA
A Epístola aos Hebreus
12:5-6 diz: "E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre
convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies
quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a
todo filho a quem recebe". Aqui vemos claramente que o motivo da
disciplina é o amor de Deus. Aqueles que recebem a disciplina de Deus são os
filhos de Deus. Se uma pessoa não for filho de Deus, Ele não irá discipliná-la.
Você nunca encontrará na Bíblia que Deus disciplina um incrédulo. Deus não gasta
Seu tempo e energia para disciplinar todas as pessoas desta terra. Ocorre o
mesmo conosco. Nós não disciplinamos os filhos de nossos vizinhos. Se eles não
se vestem bem ou não fazem as coisas direito, nós não os disciplinamos. Somente
disciplinamos nossos próprios filhos. Portanto, a esfera da disciplina
limita-se somente aos cristãos, e o motivo da disciplina é o amor. Não é porque
odeia o homem que Deus o disciplina. Ele disciplina o homem por amá-lo.
Apocalipse 3:19 também diz que Deus disciplina por causa do amor. Hebreus
12:7-8 diz: "É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como a
filhos); pois, que filho há a quem o pai não corrige? Mas, se estais sem
correção, de que todos se têm tornado participantes, logo sois bastardos, e não
filhos". Portanto, a esfera da disciplina limita-se somente aos filhos. O
versículo 9 diz: "Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que
nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior
submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos?" Se aceitamos a
disciplina de nossos pais na carne, quanto mais devemos aceitar a disciplina de
nosso Pai, o Pai dos espíritos! O versículo 10 diz: "Pois eles nos
corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina
para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade". Isso
nos mostra o propósito da disciplina. Não é porque gosta de disciplinar-nos que
Ele o faz. Tampouco é porque Ele quer que soframos. Ele nos disciplina a fim de
podermos participar da Sua santidade. Se um cristão vive de uma maneira muito
relaxada na terra, sem manifestar a natureza e a santidade de Deus, a mão de
Deus recairá pesadamente sobre ele. Deus não gosta de nos açoitar. Seu
propósito é ter Sua santidade manifestada em nós. Ele somente cessará de nos
disciplinar quando Sua santidade for manifestada em nós. Portanto, percebemos
que a disciplina não prova que não somos do Senhor. Pelo contrário, ela prova
que pertencemos ao Senhor. Não há necessidade de disciplina para alguém que não
pertença ao Senhor. Somente aqueles que pertencem ao Senhor estão qualificados
a ser disciplinados. Há uma grande diferença entre punição e disciplina. A
disciplina de Deus sobre Seus filhos não é a Sua punição sobre eles. Mesmo
quando Deus os castiga, esse castigo não é uma punição, mas uma disciplina. A
disciplina tem um objetivo definido, que é podermos participar da Sua
santidade, para que não vivamos nesciamente dia a dia. Após um cristão crer no
Senhor Jesus, embora nunca perca sua salvação, ele pode receber um severo
castigo de Deus. Nunca devemos dizer que um cristão pode fazer tudo o que quer
após ser salvo. A Bíblia nos diz claramente que após um cristão ser salvo,
mesmo que esteja derrotado e caído, ele não perecerá eternamente e não perderá
a vida eterna. Entretanto, ele receberá a correção de Deus, hoje, na terra. Não
devemos cometer o engano de pensar que por estarmos salvos eternamente, podemos
viver relaxadamente nesta terra. Ninguém pode refutar o fato de que uma vez que
uma pessoa é salva, ela é salva para sempre. Isso é um fato. Se um cristão dá
vazão às suas concupiscências, comete pecados, cai em perversão e não tem a
santidade de Deus, Deus estenderá Sua mão e o disciplinará por meio de seu
ambiente, sua família, sua saúde e seus planos futuros. Ele poderá encontrar
dificuldades na sua família. Poderá experimentar muita doença e infortúnio em
seu ambiente. O propósito de Deus, ao permitir que essas coisas lhe
sobrevenham, não é puni-lo; elas não sobrevêm para causar-lhe dificuldades, mas
para fazê-lo participar da santidade de Deus e torná-lo merecedor da graça do
Seu chamamento. Essa é a compreensão adequada da salvação. Ninguém deve dizer
que, se um cristão não fizer o bem, Deus negará que ele seja filho Seu e o
expulsará como a um cachorro. Se alguém disser isso, ou é cego quanto à obra da
cruz de Cristo, ou pensa que a obra de Cristo é uma questão muito leviana. A
Bíblia nos motra que a salvação é eterna. Ao mesmo tempo, a Bíblia também nos
mostra que existem punições seriíssimas entre os que crêem. Se falharmos,
haverá muita punição para nós. Deus quer que participemos da Sua santidade.
Nesta terra, Ele quer que vivamos como filhos de Deus. Ele não quer
intimidar-nos com o inferno para que busquemos a santidade. Ser salvo é algo
totalmente da graça, mas Deus tem Sua maneira de conduzir-nos para a Sua
santidade. Ele faz com que nos deparemos com muitas coisas em nossas famílias,
em nosso corpo, em nossa carreira e em nosso ambiente, a fim de que nos
voltemos a Ele. Esse é o propósito da disciplina. Ananias e Safira eram
cristãos; eles eram salvos. Eles cometeram o pecado de mentir ao Espírito, e
receberam uma disciplina muito severa (At 5:1-10). Em certa época, eu achava
que talvez Ananias e Safira não fossem salvos. Lendo a Bíblia cuidadosamente,
deve-se reconhecer que eles eram salvos porque estavam com os discípulos na
época do Pentecoste. Além disso, eles também fizeram uma oferta. Eles apenas
buscaram alguma vanglória. Os pecados deles não foram tão graves como se possa
pensar. Eles não se embebedaram nem cometeram fornicação. O fato de serem
rapidamente tirados do mundo prova que eram cristãos. Se fossem pessoas do
mundo, provavelmente tivessem vivido muito mais. O fato de terem sido
rapidamente removidos do mundo prova que eles eram nossos irmãos. Os cristãos
coríntios não respeitavam a reunião da mesa do Senhor. Eles não respeitavam o
Corpo do Senhor, e tratavam a ceia do Senhor levianamente. Quais foram os
resultados de tais coisas? Paulo diz em 1 Coríntios 11:29-30: "Pois quem
come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por
que há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem". A mão
disciplinadora de Deus torna as pessoas doentes e fracas, e até mesmo as faz
morrer. Deus as tratou dessa maneira porque elas trataram o Corpo do Senhor
levianamente. Elas não viram a morte do Senhor nem a obra de Cristo, e não
viram o Corpo de Cristo. Elas não viram o respeito que deviam ter com o Senhor
Jesus, e não viram seu posicionamento adequado no Corpo de Cristo. Isso
resultou em fraqueza, doença e até morte. Após terem pecado, Deus as
disciplinou. O versículo 32 diz: "Mas, quando julgados, somos
disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo". Há um
objetivo na disciplina de Deus. Ela visa salvar-nos da condenação no futuro.
Deus nos disciplina para que não caiamos na condenação que o mundo receberá. Em
outras palavras, a disciplina prova que somos salvos. A disciplina preserva
nossa salvação. A maneira como Deus faz as coisas e a nossa maneira são
totalmente diferentes. Nós achamos que se dissermos às pessoas que elas estão
salvas, elas se tornarão levianas e sem restrição. Deus não é assim. Ele
proclama claramente, absolutamente e sem limitação para todos os que crêem Nele
que todo aquele que crê tem a vida eterna e não perecerá. Contudo, Ele tem a
Sua maneira de guardarnos de pecar e de guardar-nos de ser cristãos libertinos
e frouxos. Sua disciplina é um subtitutivo de sermos condenados. O homem pode
achar que a condenação é o melhor método de guardar-nos de pecar, mas Deus não
utiliza a maneira da condenação. Em vez disso, Ele usa a maneira da disciplina.
É muito evidente que Deus separa os cristãos das pessoas do mundo pela
disciplina. As questões da disciplina e salvação devem ser claramente
diferenciadas. A disciplina é exercida somente para o presente e nada tem que
ver com nossa salvação eterna. Há um bom exemplo em 1 Coríntios que mostra que
a disciplina para um cristão é prova de que ele é salvo. Mesmo que um cristão
tenha cometido um pecado muito grave, ele ainda é salvo. A Primeira Epístola
aos Coríntios, capítulo cinco, fala acerca de um cristão que cometeu adultério.
Tal ato de adultério com a madrasta não era encontrado nem mesmo entre os
incrédulos. Os que têm clareza sobre a lei de Moisés diriam que esta pessoa
certamente perecerá e irá para o inferno. Mas surpreendentemente, 1 Coríntios
mostra-nos claramente que aqui está alguém que cometeu grave e desprezível
pecado; é um pecado que não é cometido por pessoas comuns. Paulo diz que com o
poder do Senhor Jesus, ele entregou tal pessoa a Satanás para a destruição da
carne, para permitir que Satanás mostrasse seu poder sobre o corpo dele,
podendo levá-lo a ficar fraco, doente e até mesmo morrer. O propósito de Paulo
ao fazer isso era que essa pessoa pudesse ser salva no dia do Senhor.
Disciplina é algo para esta vida. Ela absolutamente não está relacionada com a
salvação na eternidade. Se dependesse de nós, diríamos: "Está acabado.
Embora essa pessoa tenha sido salva, certamente ela perecerá novamente por ter
cometido um pecado tão grosseiro". Entretanto, Paulo diz que essa pessoa
não perecerá mesmo que tenha cometido tal pecado. Uma pessoa salva pode,
temporariamente, receber disciplina, mas não pode ser punida com a perdição eterna.
Esse é o ensinamento de Paulo. Um cristão pode ter disciplina temporária nesta
era, mas não pode perecer eternamente. Podemos precisar de disciplina, mas
ainda estaremos salvos na eternidade. Paulo fez, muitas vezes, uma distinção
clara entre estas duas coisas no Novo Testamento. A destruição mencionada aqui
e o dormir mencionado anteriormente referem-se somente ao corpo; não se referem
ao espírito. As questões do espírito e da salvação eterna já foram decididas
quando cremos no Senhor. Algumas pessoas têm dificuldade com 1 João 5:16, onde
diz que não devemos rogar por alguém que comete pecado para morte. Tais pessoas
têm dificuldade porque não entendem a Palavra de Deus. Elas acham que pecar
para morte como fala aqui significa perdição. Na verdade, não existe semelhante
coisa. A Primeira Epístola de João 5:16 fala-nos de algumas pessoas que pecaram
a tal ponto que Deus teria de fazê-las morrer e a carne delas teria de ser
removida do mundo. A morte mencionada em 1 Coríntios 11, a destruição em 1 Coríntios
5, e as mortes de Ananias e Safira são todas mortes da carne e nada têm a ver
com a morte do espírito. A disciplina está totalmente relacionada com o corpo.
Portanto, na Bíblia, muitos lugares que parecem dizer que os cristãos podem
perecer, na verdade, estão falando sobre disciplina.
RECOMPENSA E DOM
Agora veremos a terceira
diferença - a diferença entre recompensa e dom; em outras palavras, a diferença
entre o reino e a vida eterna. Hoje, existem muitos cristãos na igreja que não
conseguem fazer distinção entre o reino dos céus e a vida eterna. Eles pensam
que o reino dos céus é a vida eterna e que a vida eterna é simplesmente o reino
dos céus. Eles confundem a Palavra de Deus, achando que a condição para receber
o reino é a condição para a conservação da vida eterna. Eles acham que perder o
reino é perder a vida eterna. Entretanto, a distinção entre os dois é muito
clara na Bíblia. Uma pessoa pode perder o reino dos céus, mas ela não perderá a
vida eterna. Ela pode perder a recompensa, contudo não perderá o dom. Então que
é a recompensa, e que é o dom? Nós fomos salvos por causa do dom. Deus nos deu
o dom gratuitamente pela Sua graça; portanto, fomos salvos. A recompensa diz
respeito ao relacionamento entre nós e o Espírito Santo após sermos salvos.
Quando fomos salvos passamos a nos relacionar com Cristo. Esse relacionamento
permite-nos obter o presente que somos totalmente indignos de receber. Da mesma
forma, após termos sido salvos, temos um relacionamento com o Espírito Santo.
Esse relacionamento permite-nos obter a recompensa que de outra forma jamais
obteríamos por nós mesmos. Se alguém crê no Senhor Jesus como Salvador,
aceitando-O como vida, ele é salvo diante de Deus. Após ser salva, Deus
imediatamente coloca essa pessoa num caminho de modo que ela corra a carreira e
obtenha a recompensa que está diante dela. Um cristão é salvo por causa do
Senhor Jesus. Após ser salvo, ele deve manifestar a vitória de Cristo pelo
Espírito Santo dia a dia. Se fizer isso, então, no fim da carreira, ele obterá
a glória celestial e a recompensa celestial de Deus. Portanto, a salvação é o
primeiro passo deste caminho, e a recompensa é o último passo. Somente os
salvos estão qualificados para obter a recompensa. Os não-salvos estão
desqualificados para isso. Deus nos deu duas coisas em vez de uma. Deus coloca
o presente diante das pessoas do mundo e coloca a recompensa diante dos
cristãos. Quando alguém crê em Cristo, recebe o presente. Quando alguém segue a
Cristo, recebe a recompensa. O presente é obtido por meio da fé, e é para as
pessoas do mundo. A recompensa é obtida por meio da fidelidade e das boas
obras, e é para os cristãos. Há um grande engano nas igrejas hoje. O homem
pensa que a salvação é a única coisa e que não há nada além de ser salvo. Ele
considera o reino dos céus e a vida eterna como se fossem a mesma coisa. Ele
pensa que uma vez que alguém é salvo quando crê, não tem de se preocupar com as
obras. A Bíblia faz distinção entre a parte de Deus e a parte do homem. Uma
parte é a salvação dada por Deus, e a outra parte é a glória do reino milenar.
Ser salvo não tem absolutamente nada a ver com as obras da pessoa. Assim que
uma pessoa crê no Senhor Jesus, ela é salva. Mas, após sua salvação, Deus
imediatamente coloca a segunda coisa diante dela, dizendo-lhe que além da
salvação existe para ela uma recompensa, uma glória vindoura, uma coroa e um
trono. Deus coloca Seu trono, coroa, glória e recompensa diante dos cristãos.
Se uma pessoa for fiel, obtê-los-á; se for infiel, perdê-los-á. Portanto, não
dizemos que as boas obras sejam inúteis. Entretanto, dizemos, sim, que as boas
obras são inúteis no que se refere à salvação. O homem não pode ser salvo pelas
suas boas obras, tampouco pode ser impedido de receber a salvação pelas suas
más obras. As boas obras são úteis quanto às questões da recompensa, da coroa,
da glória e do trono. As boas obras são inúteis quanto à questão da salvação.
Deus não pode permitir que o homem seja salvo pelas suas obras; Ele também não
permitirá que o homem seja recompensado pela sua fé. Deus não pode permitir que
o homem pereça devido às suas obras más. Deus só pode decidir sobre a salvação
ou perdição do homem por meio de ele crer, ou não, no Seu Filho. Da mesma
forma, Deus não pode decidir que o homem receba a Sua glória por meio de ele
crer ou não no Seu Filho. Se você tem ou não tem Seu Filho em si, determina a
questão da vida eterna ou perdição. Se você tem ou não tem boas obras diante de
Deus, determina a questão de receber a recompensa e a glória. Em outras
palavras, Deus nunca salvará uma pessoa por ela ter méritos, e Ele nunca
recompensará alguém que não tenha mérito. Se alguém tem méritos, Deus não o
salvará por essa razão. Por outro lado, Deus nunca recompensará alguém que não
tenha mérito. O homem deve vir diante de Deus totalmente carente e sem méritos,
para que Ele o salve. Contudo, após a salvação, temos de ser fiéis, e temos de
esforçar-nos para produzir boas obras por meio de Seu Filho Jesus Cristo, a fim
de obtermos a recompensa. Por favor, não pense que as boas obras sejam inúteis.
Estamos dizendo que as boas obras são inúteis no tocante à salvação. Elas nada
têm a ver com a salvação, de forma alguma. A salvação depende de você se
arrepender ou não da sua posição anterior. Ela depende de você se lamentar do
seu passado, para crer na Sua obra na cruz e na Sua ressurreição como prova da
sua justificação. Esse é o ponto crucial de todos os problemas. A questão de
obras está relacionada com a recompensa. As obras são úteis, mas somente no
tocante à recompensa. O problema de hoje é que as pessoas não fazem distinção
entre a salvação e o reino. Na Bíblia, há uma distinção clara entre a salvação
e o reino, e entre o dom e a recompensa. Devido às pessoas não diferenciarem
esses assuntos, a questão da salvação é mal compreendida, e a questão da
recompensa também é mal compreendida. Deus jamais colocou a questão da
recompensa diante dos não-salvos. Deus somente quer que os não- salvos obtenham
a salvação. Entretanto, após a salvação, Deus coloca a recompensa diante dos
salvos, para que eles se esforcem, persigam e corram atrás da recompensa. A
salvação não é o último passo da experiência cristã. Pelo contrário, a salvação
é o primeiro passo. Após termos sido salvos, temos de correr e perseguir a
recompen sa diante de nós. O problema é que pensamos que nossa salvação é nossa
recompensa. Os pecadores pensam que ser salvo é obter a recompensa, e assim
eles confiam em suas obras. Os cristãos acham que a glória é simplesmente a
graça, e assim tornam-se néscios em seu viver. Por favor, apliquem as obras
somente à recompensa, e a graça à salvação. Por meio da salvação, Deus separa
os salvos dos não-salvos; Ele separa os que têm a vida eterna dos que estão
condenados. De igual modo, Deus também separa Seus filhos em dois grupos por
meio de Sua recompensa. Assim como a salvação separa as pessoas do mundo, da
mesma forma, a recompensa também faz separação entre os filhos de Deus. Deus
separa Seus filhos em obedientes e desobedientes. Para com as pessoas do mundo,
a questão é ter fé ou não ter fé. Para com os cristãos, a questão é ser fiel ou
não ser fiel. Para com as pessoas do mundo, é uma questão de ser salvo ou não
ser salvo. Para com os cristãos, é uma questão de ter ou não ter a recompensa.
O problema de hoje com os filhos de Deus é que eles exaltam demais a salvação;
tudo o que vêem é simplesmente a salvação. Eles acham que somente quando
cuidarem da sua obra é que poderão ser salvos. Como resultado, eles não têm
mais tempo para perseguir a recompensa. Se alguém não passou pelo primeiro portão,
não pode passar pelo segundo. Que Deus seja misericordioso conosco, para que
compreendamos que a questão da salvação já está resolvida. Ela não pode mais
ser abalada, pois já foi cumprida pelo Senhor Jesus. Ela está totalmente
concretizada. Hoje, devemos empenhar-nos é com a recompensa diante de nós.
Haverá uma grande diferenciação no reino: alguns terão glória, e outros não
terão glória. Agora precisamos ver sobre que base a recompensa é dada. A
Palavra de Deus diz que a recompensa é dada por causa da obra. Assim como a
Bíblia diz claramente que a salvação é pela fé, da mesma forma a Bíblia diz
claramente que a recompensa é pela obra. A Bíblia revela-nos que a salvação é
pela fé dos pecadores, e a recompensa é pela obra dos cristãos. A fé está
relacionada com a salvação; isso está mais do que claro. A obra está
relacionada com a recompensa; isso também está mais do que claro. Ninguém deve
confundir as duas coisas. Romanos 4:4 diz: "Ora, ao que trabalha, o
salário não é considerado como favor, e, sim como dívida". Dar uma
recompensa a alguém que trabalha não é graça, mas é dívida. Em outras palavras,
como alguém pode obter uma recompensa? A recompensa vem pelas obras, e não pela
graça. Apocalipse 2:23 diz: "Matarei os seus filhos, e todas as igrejas
conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a cada um,
segundo as vossas obras". Esse versículo diz que o Senhor fará todas as
igrejas conhecerem que Ele é Aquele que sonda as mentes e os corações, e dará a
cada um segundo as suas obras. Em outras palavras, Ele recompensará cada um
segundo as suas obras. Como Ele recompensa ou retribui? É de acordo com nossa
obra. É claro que essa obra não é nossa própria obra. Nós apenas lavamos nossas
vestes no sangue para ficarem brancas. Quando o Espírito Santo vive Cristo em
nós, temos as obras de um cristão. Alguns viverão Cristo, e outros não viverão
Cristo. Todo o capital provém de Cristo. Todo poder também origina-se de
Cristo. Mas alguns deixarão o Senhor trabalhar no seu interior, e outros não.
Portanto, esse versículo nos mostra claramente a questão da recompensa. A
questão da recompensa depende de um cristão ser digno ou não. Hoje, Deus não
salva uma pessoa por ela ser digna, e, no futuro, Deus não recompensará um
cristão que seja indigno. A Primeira Epístola aos Coríntios 3:14 diz: "Se
permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá
galardão". Aqui diz que se a sua obra permanecer, essa pessoa será
recompensada. Não diz que se a sua fé permanecer, essa pessoa será recompensado.
A questão da recompensa depende da obra da pessoa. A Bíblia distingue
claramente salvação de galardão. Ela nunca confunde salvação e galardão, e
nunca confunde fé com obras. Sem a fé, o homem não pode ser salvo. Sem as boas
obras, o homem não pode ser recompensado. As obras de alguém devem resistir
diante do trono do julgamento e sobreviver ao exame minucioso dos olhos
flamejantes, antes que haja a possibilidade de receber galardão. Lucas 6:35
diz: "Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, nada
esperando em troca; e será grande o vosso galardão". A recompensa é
inteiramente devida à obra de alguém. Emprestar dinheiro a alguém sem esperar
ser pago é sua obra, e amar seu inimigo é sua obra. Você tem de fazer isso para
obter a recompensa. Nenhuma passagem da Bíblia menciona que alguém tenha de
amar seus inimigos e fazer o bem para que possa receber a vida eterna. Tampouco
existe qualquer versículo que diga que alguém tenha de emprestar aos outros
para que possa ser salvo, ou que tenha de emprestar aos outros para que possa
evitar a perdição. Mas existe o versículo que diz que se você emprestar aos
outros e fizer o bem aos outros, a sua recompensa no céu será grande. A
recompensa é proveniente da obra, e não da fé. A fé pode salvá-lo, mas a fé não
pode ajudá-lo a obter a recompensa. A Segunda Epístola a Timóteo 4:14 diz:
"Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga
segundo as suas obras". Aqui é citado um exemplo. Um cristão estava
tentando prejudicar Paulo; ele tinha pecado contra Paulo. A pessoa mencionada
aqui era um cristão. Ele não era uma pessoa do mundo. No futuro, os cristãos
serão recompensados diante de Deus segundo as suas obras.
A RECOMPENSA É O REINO DOS CÉUS
Prossigamos. Muitas pessoas
sabem que existe diferença entre salvação e recompensa. Contudo, há várias
pessoas que não vêem o que é recompensa. Na Bíblia, as palavras faladas quer
pelo Senhor Jesus, quer pelos apóstolos, acerca da recompensa e do reino, não
foram faladas levianamente, da mesma forma que também não se falou assim acerca
de dom e vida eterna. Quando o Senhor Jesus diz no Evangelho de João que Ele dá
a vida eterna para as Suas ovelhas, Ele está falando a realidade e não algumas
palavras vazias (João 10:28). Romanos 6 diz que o dom de Deus é a vida eterna
em Cristo Jesus nosso Senhor (v. 23). Está muito evidente que o dom de Deus é a
vida eterna. Então, que é a recompensa? A Bíblia mostra-nos claramente que a
recompensa é a coroa, o trono e o reino dos céus. O reino dos céus é a
recompensa. Na Bíblia, existem três aspectos para o reino dos céus. No primeiro
aspecto, o reino dos céus é a manifestação exterior da autoridade de Deus hoje;
é a manifestação exterior da soberania de Deus. A Bíblia chama isso de reino
dos céus. O segundo aspecto é a autoridade dos céus controlando e limitando o
homem. Isso também é chamado de reino dos céus. Entretanto, há um terceiro
aspecto do reino dos céus, que se refere à recompensa. O sermão do Senhor no
monte, em Mateus 5 a 7, fala do reino dos céus. Estes ensinamentos do Senhor
dizem-nos como o homem pode entrar no reino dos céus. Mateus 5 a 7 fala
repetidamente sobre a questão da recompensa. Percebemos muito claramente que as
palavras "o reino dos céus" e a palavra "recompensa" são
encontradas juntas várias vezes. Muitos estão familiarizados com as
bem-aventuranças. Os chineses chamam-nas de oito bênçãos. Na verdade, existem
nove bênçãos nas bemaventuranças1: Bem-aventurados os pobres de espírito,
porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados; bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra; bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos; bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque serão
chamados filhos de Deus; e também, bem-aventurados os perseguidos por causa da
justiça, porque deles é o reino dos céus. O reino dos céus é mencionado duas
vezes nessas poucas bem-aventuranças. No final o Senhor diz:
"Bem-aventurados sois quando, por Minha causa, vos injuriarem e
perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Alegrai-vos e exultai,
porque é grande o vosso galardão nos céus" (Mt 5:11-12). Aqui, devemos admitir
que a recompensa é o reino dos céus. O Senhor começa dizendo que tais e tais
pessoas são bem-aventuradas, porque o reino dos céus é delas. No final Ele diz
que essas pessoas são bem-aventuradas, porque a recompensa delas é grande nos
céus. Essas sentenças semelhantes mostram-nos que o reino dos céus é a
recompensa de Deus. Não há diferença entre os dois. No sermão do monte, o
Senhor mencionou a questão da recompensa muitas vezes, pois tal sermão diz
respeito ao reino. Mateus 5:46 diz: "Porque, se amardes os que vos amam,
que recompensa tendes?" Mateus 6:1-2 diz: "Guardai-vos de exercer a
vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra
sorte não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus. Quando, pois,
deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas
sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos
digo: Eles já receberam por completo a sua recompensa". O versículo 5 diz:
"E, quando orardes, não sereis como os hipócritas. Eles já receberam a
recompensa". O versículo 16 diz: "Quando jejuardes, não vos mostreis
sombrios como os hipócritas. (...) Eles já receberam por completo a sua
recompensa". O versículo 4 diz: "Para que a tua esmola fique em
secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará". O versículo 6 diz:
"Tu, porém, quando orares, entra no teu aposento íntimo, e, fechada a
porta, ora a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te
recompensará". A parte final do versículo 18 diz: "E teu Pai, que vê
em secreto, te recompensará". Todo leitor da Bíblia concorda que o assunto
principal do sermão no monte em Mateus 5 a 7 é o reino dos céus. Mas aqui, a
questão da recompensa é também mencionada repetidas vezes, porque o reino dos
céus é a recompensa. Mateus 16:27-28 diz: "Porque o Filho do Homem há de
vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e então retribuirá a cada um
conforme as suas obras". Deus recompensará ou punirá uma pessoa salva de
acordo com as suas obras. "Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui
se encontram, que de maneira nenhuma provarão a morte até que vejam vir o Filho
do Homem no Seu reino". Há três fatos aqui. Primeiro, o homem será
recompensado de acordo com suas obras. A questão da recompensa é inteiramente
baseada nas obras. Segundo, em que momento a recompensa será distribuída? Ela
será conhecida quando Cristo vier na glória de Seu Pai com Seus anjos. Quando
Cristo vier na glória de Seu Pai com Seus anjos, aquele será o tempo em que Ele
estabelecerá Seu reino sobre a terra. Portanto, somente quando o reino se
iniciar é que a recompensa se iniciará. Terceiro, aqui está um tipo que fala
sobre um fato. A transfiguração do Senhor no monte tipifica Sua manifestação em
glória no reino vindouro. Naquela ocasião alguns cristãos serão recompensados.
Os versículos em Mateus 6 que acabamos de ler sobre dar, orar e jejuar, todos
envolvem recompensa. Alguns pensam que a recompensa de orar é a resposta de
Deus à nossa oração. Entretanto, esse não é o significado completo. O Senhor
Jesus disse que devemos orar ao Pai que está em secreto, e nosso Pai que vê em
secreto nos recompensará. É possível interpretar isso como o Pai respondendo à
nossa oração. Contudo, tanto na primeira parte quando o Senhor menciona o dar
esmolas, quanto na segunda parte quando menciona o jejum, Ele diz: "E teu
Pai que vê em secreto te recompensará". Essa recompensa deve referir-se a
algo no futuro. Além disso, o Senhor disse que devemos orar ao Pai que vê em
secreto. Não diz que o Pai ouve em secreto, mas Ele vê em secreto. Quando Deus
der a recompensa no futuro, Ele dará de acordo com o que Ele vê. Deus vê com
Seus olhos. Portanto, a recompensa é no futuro. Apocalipse 11:15 diz: "O
sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos
dos séculos". O versículo 18 diz: "Na verdade, as nações se
enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem
julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos
santos e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos como aos grandes".
Esse versículo mostra-nos claramente que quando o Senhor tornar-se o Rei e o
reino do mundo tornar-se o reino de nosso Senhor e do Seu Cristo, será tempo de
dar a recompensa aos santos, aos pequenos e aos grandes. Em outras palavras, o
tempo do reino é o tempo da recompensa. Quando o reino vier, a recompensa virá
também. Há um ponto adicional. A recompensa é a obtenção da coroa e a obtenção
do trono. Certa vez um missionário ocidental disse-me: "Se não posso ter a
coroa, pelo menos posso ter o reino". Você pode perguntar ao rei Eduardo
da Inglaterra2: se ele perder sua coroa, ainda terá o reino? Que é uma coroa?
Não é simplesmente um chapéu esculpido em ouro e enfeitado com diamantes. Esse
tipo de coroa pode ser obtido com certa quantia de dinheiro. Que é uma coroa?
Uma coroa representa uma posição no reino. Ela também representa glória no
reino. Se uma coroa for apenas um objeto, ela não significa muito. Se alguém
tiver dinheiro, pode fazer uma de ouro. Se não tiver dinheiro, pode fazer uma
de bronze ou de ferro. Mesmo se alguém for muito pobre, ele poderá confeccionar
uma coroa de pano. No futuro, a questão não será de uma coroa ser maior do que
a outra em tamanho, ou de uma ter mais diamantes do que a outra. Uma coroa
representa algo. Quando alguém perde a coroa, perde o que a coroa representa.
Temos de ver que a coroa é o símbolo do reino. Que é o trono? A Bíblia
mostra-nos que os doze apóstolos sentar-se-ão em doze tronos. A coroa é uma
recompensa para os vencedores, e o trono também é uma recompensa para os
vencedores. Portanto, o trono também é um símbolo do reino. Ele representa
posição no reino, autoridade no reino e glória no reino. Não existe algo como
perder a coroa, mas ainda ter o reino. Semelhantemente, ninguém pode perder o
trono e ainda ter o reino. Se alguém perder o trono, também perderá o reino.
Assim também, se alguém perder a coroa, perderá o reino. O trono e a coroa não
são importantes em si mesmos; eles existem apenas para representar o reino. Em
outras palavras, a recompensa é o reino. A Bíblia mostra-nos claramente que a
recompensa é simplesmente o reino.
JULGAMENTO NO TRONO DE JULGAMENTO DE CRISTO
Como Deus nos dará a recompensa?
A época de sermos recompensados é quando Cristo vier novamente para executar o
julgamento. Pedro nos diz que o julgamento começa pela casa de Deus. No futuro,
antes de julgar as pessoas no mundo, Deus julgará primeiramente os cristãos. Em
relação a que Deus nos julgará? Ele não nos julgará para salvação ou perdição
eternas; esse julgamento foi realizado na cruz. Todos os nossos pecados foram
julgados na cruz, e o problema da perdição eterna foi resolvido. Contudo, nós,
cristãos, seremos julgados no futuro. Tal julgamento determinará se teremos ou
não participação no reino. Para alguns, não só não haverá participação no
reino, como haverá punição. Naquela ocasião, Cristo estabelecerá o trono de
julgamento e julgará os Seus cristãos naquele trono de julgamento. Vamos ler
dois versículos que esclarecem ainda mais esta questão. A Segunda Epístola aos
Coríntios 5:10 diz: "Porque é necessário que todos nós sejamos
manifestados diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez
por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal" (IBB - Rev.).
Cada um de nós que cremos no Senhor seremos manifestados diante do trono do
julgamento. A palavra "trono do julgamento" é Bema no original grego.
Significa uma plataforma erguida. Bema é o lugar onde são decididas as questões
em família. Esse versículo diz que devemos todos ser manifestados diante do
trono do julgamento para cada um ser recompensado de acordo com o que praticou.
Salvação eterna ou morte eterna é uma questão do crer. Mas o julgamento de um
cristão é segundo o que ele praticou, se o bem ou o mal. Isso é o julgamento
diante do trono do julgamento. Com relação ao reino, existem umas poucas coisas
que precisamos saber. Se alguém pode ou não entrar no reino é uma coisa. Mesmo
se alguém puder entrar no reino, haverá uma diferença de posição no reino. Se
alguém não puder entrar no reino, irá para as trevas exteriores, ou seja, será
castigado. Portanto, após termos crido no Senhor, embora nossa boa obra não
possa salvar-nos, ela determinará nossa posição no reino. Graças a Deus que a
questão da nossa vida eterna ou morte eterna foi decidida, mas ainda seremos
julgados diante do trono do julgamento de Cristo. Esse julgamento não é para
determinar nossa vida ou morte eternas. É para determinar nossa posição no
reino. Existem muitos outros versículos na Bíblia que nos mostram que os
cristãos serão julgados pelo Senhor Jesus diante do trono do julgamento de
Cristo. Entre esses versículos, 1 Coríntios 3 mostra-nos muito claramente como
seremos julgados pelo Senhor diante do trono do julgamento. A Primeira Epístola
aos Coríntios 3:8 diz: "Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um
receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho". O assunto aqui é
como cada um será recompensado segundo o seu próprio trabalho. O versículo 10
diz: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como
prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como
edifica". O fundamento é Jesus Cristo. O próprio trabalho de cada um é a
maneira de cada um edificar. A maneira de edificarmos é determinada pelo
material que utilizamos. Os versículos 12 a 15 dizem: "Contudo, se o que
alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira,
feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará,
porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio
fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou,
esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas
esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo". Essa passagem
mostra-nos que cada um que está edificando sobre esse fundamento é salvo. A
obra que alguns edificam sobre o fundamento permanecerá, e eles serão
recompensados. A obra de alguns não permanecerá, e será consumida pelo fogo.
Eles sofrerão perda, muito embora ainda estarão salvos. Lembremo-nos de que
ainda há um julgamento diante de nós. Esse julgamento não determinará se
pereceremos ou não, mas determinará se receberemos ou não uma recompensa.
Capítulo Vinte e Um
A MANEIRA DE DEUS LIDAR COM OS PECADOS DOS CRISTÃOS - QUALIFICAÇÕES
PARA ENTRAR NO REINO DOS CÉUS
Deixamos claro que o reino é
o tempo em que Deus recompensará os cristãos conforme as suas obras. No reino,
os cristãos fiéis serão recompensados e os infiéis serão punidos. Muitas
pessoas pensam que se um cristão for infiel, mesmo que tenha de ocupar uma
posição inferior, ele, contudo, estará dentro do reino. Muitos que não
compreendem a Palavra de Deus e a obra de Deus pensam que lhes está garantida a
entrada no reino dos céus. Eles acham que, quando o Senhor Jesus vier para
reinar, haverá simplesmente uma distinção entre as mais altas e as mais baixas
posições no reino; que ninguém perderá totalmente o reino dos céus. Entretanto,
no reino dos céus, haverá não só distinção entre as posições mais altas e mais
baixas, como também haverá distinção entre ter entrada permitida e ser deixado
de fora. A Bíblia mostra-nos que há uma nítida diferença entre dez cidades e cinco
cidades, entre uma coroa grande e uma pequena, e entre a glória maior e a
menor. Como uma estrela difere de outra, assim também serão diferentes as
posições no reino. Não só haverá diferença entre as mais baixas e as mais altas
posições no reino, como haverá também distinção de estar qualificado ou não
para entrar.
FAZER A VONTADE DO PAI
A Bíblia revela-nos uma
verdade muito séria. Apesar de uma pessoa ter a vida eterna, ela ainda pode ser
rejeitada para o reino dos céus. Mateus 7:21 é um versículo que fala disso:
"Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus". Nesse versículo,
todas as pessoas se dirigem ao Senhor como "Senhor". O Senhor fará
uma distinção entre os discípulos que podem entrar no reino dos céus e os que
não podem. O Senhor mostra-nos claramente, aqui, que a condição para entrar no
reino dos céus é fazer a vontade de Deus. Embora alguns tenham sido salvos e
tenham-No chamado de Senhor, e realizado algumas obras, todavia, sem fazer a
vontade de Deus, eles não podem entrar no reino dos céus. A recompensa do reino
dos céus tem por base a obediência do homem. Quem não for fiel enquanto viver
na terra, não perderá a vida eterna, mas perderá o reino dos céus. Quando
chegar o tempo de os céus reinarem, isto é, quando o Senhor Jesus vier pela
segunda vez, alguns não poderão entrar no reino, mas irão perdê-lo.
Primeiramente o Senhor mencionou esse assunto no versículo 21. A seguir, nos
versículos 22 e 23, Ele explicou-nos a questão em forma de profecia. Haverá
muitos, não apenas um ou dois, que não farão a vontade de Deus. "Muitos,
naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! não foi em Teu nome que profetizamos, e
em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres? Então
lhes declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a
iniqüidade". Aqui o Senhor Jesus nos diz o que ocorrerá diante do trono de
julgamento. Ele diz: "Naquele dia"; portanto, isso não se refere a
hoje, mas ao futuro. Há muitos que labutam, mas não vêem a luz de Deus em sua
vida. Quando o tempo do trono do julgamento vier, e quando Cristo começar a
julgar a partir da casa de Deus, esses cristãos terão luz pela primeira vez.
Eles verão que estão errados em sua posição e em seu viver. Naquele dia, diante
do Senhor muitos dirão: "Não temos nós profetizado em Teu nome, e em Teu
nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres?" Em uma
só frase, a expressão "em Teu nome" é mencionada três vezes. Isso
prova que essas pessoas são do Senhor. O fato de dizerem: "Senhor,
Senhor", prova que a posição delas é a de um cristão. Elas não apenas
dizem que profetizam, expulsam demônios e fazem milagres, mas fazem isso em
nome do Senhor. A menção de "em teu nome" por três vezes, mostra-nos
o relacionamento delas com o Senhor. Surpreendentemente, o Senhor lhes diz:
"Então lhes declararei: Nunca vos conheci". Por não compreenderem o
significado dessas palavras, muitos acham que tais pessoas certamente não são
salvas. Mas se elas não fossem salvas, então a palavra do Senhor aqui não teria
significado. Mateus 7 é a conclusão do sermão no monte, dando seqüência à
palavra do Senhor acerca das bem-aventuranças. Essas palavras no monte foram
ditas pelo Senhor Jesus aos discípulos. Após o Senhor ter subido na montanha,
Seus discípulos seguiram-No, e a partir do capítulo 5 até o capítulo 7, Ele
abriu a boca e passou a ensiná-los. O Senhor Jesus disse que eles não deveriam
chamá-Lo de Senhor apenas com a boca. Se eles O chamavam de Senhor, deveriam
fazer a vontade do Pai. Mesmo que tivessem as obras exteriores de profetizar,
expulsar demônios e fazer milagres, essas obras não deveriam substituir a
vontade do Pai. Fazer a vontade do Pai é uma coisa, enquanto profetizar,
expulsar demônios e fazer milagres são coisas totalmente diferentes. Algumas
vezes, pode-se profetizar, expulsar demônios e fazer milagres sem fazer a
vontade do Pai. Devemos lembrar-nos não somente de chamá-Lo de Senhor com nossa
boca, mas também de fazer a vontade do Pai em nosso andar. Se o Senhor
estivesse falando acerca de pessoas não-salvas, essa palavra perderia
totalmente o significado, pois se essas pessoas não fossem salvas, não
importaria muito para os discípulos ouvirem ou não a Sua palavra. Os discípulos
poderiam dizer que Sua palavra era para não salvos, mas eles eram salvos;
portanto, se fizessem ou não a vontade do Pai, o Senhor não poderia negar que
os conhecia. Se fosse esse o caso, então todos os não-salvos seriam os que não
fazem a vontade de Deus, e todos os salvos seriam os que fazem a vontade de
Deus. Isso anularia o significado maior dessas palavras. O Senhor Jesus, aqui,
deve estar advertindo os salvos, falando sobre os salvos. Ele não pode estar
advertindo os salvos, falando sobre os não salvos. Suponha que uma pessoa tenha
uma empregada e duas filhas, e dissesse para a filha mais jovem: "Você
está vendo essa empregada? Ela não nasceu de mim, e estou batendo nela. Você
deve ser obediente, caso contrário, castigarei você assim como estou fazendo com
ela". Essas palavras são coerentes? A criada não nasceu na família e, se
for desobediente, pode apanhar. Mas a filha da família não é uma empregada. Não
se pode aplicar a uma filha a maneira de tratar uma empregada. A mãe deveria
dizer: "Na noite anterior castiguei sua irmã, pois ela foi desobediente.
Agora, se cuide, pois se você não for obediente, vou castigá-la da mesma
forma". A mãe deve tomar a irmã como exemplo. Uma empregada não pode ser
usada para comparação. Não existe motivo para o Senhor usar os não-salvos como
exemplo para mostrar aos discípulos que eles precisam fazer a vontade de Deus.
Se Ele fizesse isso, os discípulos poderiam levantar-se e dizer: "Eles não
são salvos, mas nós somos salvos". Se dissessem isso, ninguém poderia
dizer mais nada. O que o Senhor Jesus está dizendo é isto: "Muitas pessoas
são filhos de Deus. Elas são salvas e são como você. Elas chamam-Me de 'Senhor'
e têm realizado muitas obras. Mas, apesar disso, elas serão excluídas do reino.
Por essa razão vocês devem ser cuidadosos e fazer a vontade de Deus".
Somente dessa maneira os discípulos saberiam que, mesmo que realizassem muitas
obras, se não fizessem a vontade de Deus, receberiam a mesma punição. Se Ele
estivesse falando a não-salvos, não haveria mais o elemento penetrante de Sua
palavra. O Senhor os estava advertindo de que somente os que fazem a vontade de
Deus podem entrar no reino. Se alguém confiar em sua própria obra para se
achegar diante de Deus, o Senhor Jesus lhe dirá: "Não conheço você".
Permitam que eu lhes dê outro exemplo. Suponham que o filho de um juiz dirija
de modo imprudente e bata em outro carro. Ele é levado pela polícia até o
tribunal para uma audiência. O juiz pergunta: "Jovem, qual é o seu nome?
Quantos anos tem? Onde você mora?" Abatido, no tribunal, o filho pode
pensar: "Você deve saber todas essas coisas melhor do que eu". Ele
pode responder às poucas perguntas iniciais. Mas depois de algum tempo pode
gritar ao pai: "Pai, você não me conhece?" Então, que deveria o juiz
fazer? Ele poderia bater seu martelo e dizer: "Eu não o conheço. Em minha
casa, eu o conheço. Mas, no tribunal, nunca o conheci". Se alguém vir a
questão do reino, perceberá que no reino a questão não é se uma pessoa é salva
ou não nem se é um filho de Deus ou não; o que realmente conta é a sua obra
depois de tornar-se cristão. Suponha que após ser salvo, você seja muito
zeloso. Apesar de não ter feito a vontade de Deus, você profetizou, expulsou
demônios e realizou milagres em nome do Senhor. Se você vier diante do Senhor,
pedindo para ser admitido no reino por causa dessas obras inescrupulosas, o
Senhor dirá que nunca o conheceu. Por que o Senhor disse: "Nunca vos
conheci"? A próxima sentença explica: "Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniqüidade". Por favor, lembrem-se de que o Senhor não lhes
disse para apartarem-se da vida eterna. No original grego o significado de
"os que praticais a iniqüidade" é de pessoas que não seguem regras,
não guardam a lei ou não aceitam regulamentos. Aos olhos de Deus, fazer o mal
não significa apenas fazer coisas más. Não importa quanto uma pessoa tenha
feito; uma vez que ela não tenha atentado à exigência de Deus, ao Seu
julgamento, e ao Seu arranjo soberano, isso é maligno aos olhos de Deus. Se
essa palavra "iniqüidade" for traduzida para "mal", como
fazem algumas versões, muitos teriam base para argumentar. O problema aqui não
é fazer o mal, mas não ter princípios. Que são os princípios? Os princípios são
a palavra de Deus. Mas que é a palavra de Deus? A palavra de Deus é a vontade
de Deus. Se você não estiver fazendo a vontade de Deus, não importa o que faça,
o Senhor Jesus dirá que você é iníquo. Os que fazem as coisas segundo seu
próprio ego não terão parte no reino dos céus. Meu propósito ao dizer essas
coisas é mostrar-lhes a importância das obras de um cristão. A Bíblia
mostra-nos claramente que uma pessoa, após crer no Senhor, embora nunca perca a
vida eterna, ela pode perder seu lugar e glória no reino. Se não fizermos a
vontade de Deus, mas, em vez disso, fizermos obras de acordo com nossa própria
vontade, seremos excluídos do reino. Podemos pensar que profetizar, expelir
demônios e realizar milagres seja o mais importante, pois achamos que, se
pudermos fazer essas coisas, seremos uma pessoa maravilhosa. Entretanto, essas
coisas nunca podem substituir a vontade de Deus. Os que nunca aprenderam a não
trabalhar para Deus, não são dignos de trabalhar para Ele. Aqueles que não
sabem como parar a sua própria obra, certamente nada sabem sobre a vontade de
Deus. Somente os que conhecem a vontade de Deus conseguem parar de trabalhar.
Deus quer que primeiro obedeçamos à Sua vontade e, depois, trabalhemos. Deus
não nos quer como voluntários para trabalhar por Ele. Quanto mais alguém
conhece a vontade do Senhor, mais aprenderá a não trabalhar relaxadamente.
Portanto, existe uma grande diferença entre trabalhar e fazer a vontade de
Deus. Hoje, podemos apreciar as obras e estar interessados em profetizar,
expulsar demônios e realizar obras de poder. Mas um dia, muitos serão
despertados.
ESMURRAR O CORPO PARA AGRADAR O SENHOR
Outra passagem que alguns
interpretam mal, como se referisse à perdição, na verdade, refere-se também à
perda do reino e à perda da recompensa. A Primeira Epístola aos Coríntios 9:
23-27 diz: "Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar
cooperador com ele. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na
verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o
alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa
corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta;
assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o
reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser
desqualificado". Paulo temia que, tendo pregado a outros, ele mesmo fosse
reprovado. Aqui, Paulo estava dizendo que ele também poderia ser reprovado.
Qual é, aqui, o significado de ser reprovado? E em que se está sendo reprovado?
Nestas mensagens, temos ressaltado o fato de que, ao ler a Bíblia, deve-se dar
atenção ao contexto. Aqui também devemos considerar o contexto. No versículo
24, Paulo se compara a alguém que está participando de uma corrida, na qual
somente um levará o prêmio. Portanto, o problema aqui não é uma questão de
salvação, mas de receber o prêmio. Paulo está falando sobre como uma pessoa
salva pode receber o prêmio; ele não está falando de como alguém não-salvo pode
ser salvo. Somente os que são salvos, os que creram no Senhor Jesus, nasceram
de novo e tornaram-se filhos de Deus estão qualificados para entrar na corrida.
Somente os filhos de Deus podem participar da corrida e perseguir o prêmio que
Ele deseja que ganhemos. Se alguém não é filho de Deus, não está sequer
qualificado para entrar na corrida. Em nenhum lugar na Bíblia é dito que a
salvação é ganha por corrermos a carreira. A Bíblia nunca diz que se alguém for
capaz de correr, então será salvo. Se assim fosse, poucos seriam salvos, e a
salvação dependeria de obras. A Bíblia diz que o prêmio vem pelo correr; Deus
colocou-nos em uma pista de corrida para corrermos a carreira. Qual é o prêmio?
O versículo 25 diz: "Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar
uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível". Aqui é dito que o
prêmio é uma coroa. Já mencionamos antes que a coroa representa a glória e o
reino. Portanto, a palavra "desqualificado" não se refere à perda da
salvação. A palavra "desqualificado", no versículo 27, significa
fracassar em receber a coroa e o prêmio. Se Paulo podia ser desqualificado,
então todos nós temos a possibilidade de o ser. Se Paulo podia perder seu
prêmio e sua coroa, então cada um de nós também tem a possibilidade de perder o
prêmio e a coroa. O versículo 26 indica o motivo de ser desqualificado:
"Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo
golpes no ar". Paulo tinha um propósito e uma direção. Ele não desferia
golpes no ar. O seu alvo e direção eram aquilo que ele disse em 2 Coríntios 5:
que ele anelava ser agradável ao Senhor (v. 9). Quer vivesse ou morresse nesta
terra, o seu desejo era agradar ao Senhor. Como ele correu a carreira? Ele não
a correu desleixadamente. Ele tinha uma direção certa e um alvo definido. Ele
não desferia golpes no ar nem fazia simplesmente o que outros diziam que
fizesse. Tampouco fazia algo apenas porque havia necessidade. Se fosse
trabalhar de acordo com a necessidade, ele teria de correr dia e noite, pois a
necessidade era enorme. Nós não somos para a obra, mas somos para agradar ao
Senhor. Se quisermos receber o prêmio, que devemos fazer? "Mas esmurro o
meu corpo, e o reduzo à escravidão" (v. 27). Muitos estimam seu próprio
corpo acima do prêmio. Muitos consideram seu próprio corpo acima da vontade de
Deus. Entretanto, Paulo disse que dominava seu corpo; ele era capaz de controlá-lo.
Paulo podia controlar a concupiscência de seu corpo, as exigências excessivas
de seu corpo e os desejos de seu corpo. Ele não permitia que seu corpo
prevalecesse. Ele disse que esmurrava seu corpo e fazia dele seu escravo. Se um
cristão pode ou não agradar ao Senhor, depende de se ele pode ou não controlar
seu corpo. Muitos não conseguem controlar seu próprio corpo. Sempre que um
pequeno estímulo chega ao corpo, toda sorte de pecados acontece. Devemos ver
que todos os que não podem controlar seu próprio corpo perderão seu prêmio e
sua coroa. Embora possam pregar o evangelho a outros, eles mesmos serão
desqualificados. Nós, cristãos, somos salvos uma vez por todas e jamais
perderemos nossa salvação. Mas quando o Senhor Jesus voltar na Sua glória para
governar a terra, Ele não dará coroas para todos. No novo céu e nova terra,
embora cada pessoa salva receberá a mesma glória, quando o Senhor Jesus vier
governar sobre a terra por mil anos, alguns perderão seu prêmio, sua autoridade
e sua glória. Alguns não estarão aptos para entrar no reino e não estarão aptos
para receber uma coroa. A palavra do Senhor é muito clara acerca da salvação e
da vida eterna: ambas são totalmente provenientes da graça. Além do mais, se
alguém pode ou não entrar no reino dos céus, depende de suas obras. Acabamos de
ver que temos de fazer a vontade de Deus. Aqui vemos que é necessário esmurrar
nosso próprio corpo. Exteriormente, podemos realizar muitas obras, mas enquanto
não restringirmos nosso corpo, não nos será permitido entrar no reino. Na
Bíblia parece haver um número fixo de coroas. Apocalipse 3: 11 diz: "Venho
logo. Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa"
(BJ). Alguns que não compreendem a Bíblia, não sabem qual a diferença entre uma
recompensa e um dom. Tampouco sabem a diferença entre a coroa e a salvação de
Deus. Eles acham que a salvação pode ser tirada deles. A palavra
"tome", aqui, não se refere à salvação, mas à coroa. Alguém pode
estar salvo e, no entanto, perder a coroa. Recentemente havia uma manchete
muito sensacionalista nas revistas dizendo que determinado rei de determinada
nação havia perdido sua coroa. Se uma pessoa salva não segurar com firmeza o
que tem, se não guardar as palavras da perseverança do Senhor Jesus, e se negar
o nome do Senhor Jesus algum dia ele perderá a coroa. Se você for frouxo, e não
segurar com firmeza, também perderá sua coroa. Alguém poderá tirá-la de você.
Apocalipse 2: 10 tem uma palavra semelhante a essa: "Sê fiel até à morte,
e dar-te-ei a coroa da vida". Aqui não diz dar a vida, mas dar a coroa da
vida. A vida é obtida pela fé; ela não é obtida pela fidelidade. Se uma pessoa
não tiver fé, ela não poderá ter vida. Mas se uma pessoa for infiel depois de
ter vida, ela perderá a coroa da vida. Portanto, se um cristão não tiver boas
obras após ser salvo, ele não perderá a vida, contudo, perderá a coroa.
EDIFICAR COM OURO, PRATA E PEDRAS PRECIOSAS
A passagem mais clara na
Bíblia acerca da recompensa é 1 Coríntios 3:14-15: "Se permanecer a obra
de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de
alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo". Isso nos
mostra claramente o que um cristão não pode perder e o que ele pode perder.
Desde que uma pessoa seja salva, certamente está salva para sempre. Contudo, se
tal pessoa receberá ou não um galardão, isso não pode ser decidido hoje. A
salvação eterna de um cristão já está determinada. Mas a recompensa futura é
uma questão ainda pendente. Ela é decidida pela maneira como alguém edifica
sobre o fundamento do Senhor Jesus. A nossa salvação independe de como
edificamos. Ela depende apenas de como o Senhor edifica. Se a Sua obra é
perfeita, certamente estamos salvos. Entretanto, se receberemos ou não a
recompensa, ou se sofreremos perda, depende da nossa própria obra de
edificação. Se alguém edifica com ouro, prata e pedras preciosas, coisas com
valor eterno, sobre o fundamento do Senhor Jesus, certamente receberá galardão.
Contudo, se edifica com madeira, feno e palha, não receberá galardão diante de
Deus. Ele pode ter muito diante do homem, contudo não terá muito diante de
Deus. Isso nos mostra que é possível uma pessoa perder seu galardão e ter sua
obra queimada. Permitam-me repetir isto: Graças a Deus que a questão da nossa
salvação eterna foi decidida há mais de mil e novecentos anos. Quando o Filho
de Deus foi levado à cruz, a nossa salvação foi decidida. Mas, se vamos receber
ou não a recompensa, depende de como nos conduzimos. A verdade do evangelho é
muito equilibrada. A salvação depende totalmente do Senhor Jesus. Conceder a
salvação depende totalmente do Senhor Jesus. Entretanto, se alguém pode obter
sua recompensa ou não, depende da sua própria obra de edificação. O homem deve
crer, e também deve trabalhar. Esse trabalho não é propriamente dele, mas é
aquilo que o Espírito Santo tem trabalhado nele. Aqui vemos que é possível
perdermos nosso galardão. É igualmente possível sermos reprovados para o reino
e privados da nossa coroa. Dá-se a impressão de que a nossa posição no reino não
está decidida; ela está sujeita a mudanças e não está assegurada.
GUARDAR FIRME A EXULTAÇÃO DA ESPERANÇA
Hebreus 3:6 dá-nos uma
palavra semelhante: "Cristo, porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual
casa somos nós, se guardamos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da
esperança". Aqui parece incerto se somos ou não a Sua casa. O apóstolo
disse que somos a Sua casa, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a
exultação da esperança. Que é essa casa e essa esperança? Essa esperança
bendita não é outra senão a da volta do Senhor Jesus em glória, para
estabelecer Seu reino na terra. Se um cristão tiver tal esperança, sabendo que
o Senhor Jesus voltará novamente para estabelecer Seu reino em glória, e
sabendo que todos os fiéis que fizerem a vontade de Deus reinarão com o Senhor,
se ele guardar firme isso, ele será Sua casa. Hoje, nós já somos Sua casa.
Somos todos pedras vivas edificadas casa espiritual. Isso é o que Pedro nos
disse (1 Pe 2:5). Mas qual será nossa porção no reino futuro, depende de quão
firme guardamos até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. Essa questão
não pode ser decidida de uma vez por todas. Existem muitos versículos na Bíblia
sobre isso, e todos são muito claros. O problema da eternidade está totalmente
decidido, mas a questão da posição e recompensa no reino depende de quão firme
guardamos hoje a ousadia e a exultação da esperança.
SER MAIS DILIGENTE PARA FIRMAR O CHAMAMENTO E A ELEIÇÃO
Chegamos a 2 Pedro 1:10:
"Por isso, irmãos, sede ao máximo diligentes, para firmar vosso chamamento
e eleição, porque, fazendo isto de modo algum jamais tropeçareis" (lit.).
Se alguém não conhece a verdade acerca da eleição, ele não verá que isso se
refere a firmar a esperança do reino. Aqui diz que a eleição e o chamamento de
uma pessoa não estão necessariamente firmados. Isso significa que uma pessoa se
tornará não-salva novamente? Não, não significa isso, porque Romanos 11
claramente nos diz que o chamamento de Deus é irrevogável (11:29). Aqui não
fala apenas sobre chamamento, mas também sobre eleição. Pedro colocou o
chamamento e a eleição juntos. A Bíblia diz muitas vezes que muitos são
chamados, mas poucos são escolhidos. Com exceção de um trecho, sobre o qual não
estou absolutamente certo, todos os outros lugares referem-se a muitos sendo
salvos e poucos obtendo um galardão. Portanto, eleição aqui se refere à posição
no reino. Pedro disse: "Porque fazendo isto de modo algum jamais
tropeçareis". "Isto" são as coisas mencionadas nos versículos 5
a 7, tais como: fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança,
piedade e amor. Se fizermos essas coisas, jamais tropeçaremos. Isso é o mesmo
que dizer que, se formos os mais diligentes, nosso chamamento e eleição serão
firmados. Essas expressões são correspondentes. A primeira dessas expressões
diz que devemos ser diligentes para firmar nosso chamamento e eleição. A
segunda delas diz que procedendo assim, jamais tropeçaremos. O versículo 11
diz: "Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no
reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". A Bíblia mostra-nos
que o reino de Cristo é eterno. Contudo, alguns entrarão nele somente na
eternidade futura, enquanto outros entrarão nele no milênio. O reino de Cristo
começa com o reino milenar. Portanto, Apocalipse 11:15 diz: "O sétimo anjo
tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se
tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos
séculos". Esse versículo nos mostra que o reino de Cristo está ligado à
eternidade futura; ele perdura para todo o sempre. Entretanto, ele começa com o
trombetear do sétimo anjo, isto é, com o início da tribulação. Quando Cristo
começar Seu reinado, alguns entrarão no reino. Eles não apenas entrarão, mas
ser-lhes-á rica e amplamente suprida a entrada. Portanto, firmar nosso
chamamento e eleição é ser rica e amplamente supridos com a entrada nesse reino
eterno. Pode-se ver que a salvação foi decidida, mas a entrada no reino ainda
não o foi. Uma vez que um cristão creia no Senhor Jesus, ele pode imediatamente
louvar o Senhor, porque sabe que a questão de vida ou morte eterna está
decidida. Entretanto, após alguém crer, há experiências diante dele; ele ainda
tem o reino diante dele e a glória futura aguardando por ele. Alguns obterão
estas coisas: o reino, a coroa, a glória e o galardão; enquanto outros, não.
Alguns entrarão no reino de Cristo; outros não estarão aptos para entrar.
Alguns não apenas entrarão, como também serão rica e amplamente supridos com a
entrada no reino de Cristo. Isso não significa que aqueles que não puderem
entrar no reino de Cristo não sejam salvos. Mas significa que serão retiradas a
recompensa e a glória deles. Portanto, precisamos correr e nos esforçar. Se
estaremos aptos para reinar com Jesus, o nazareno, no futuro, dependerá de como
nos esforçamos hoje.
ENTRAR NO REINO PARA PARTICIPAR DA GLÓRIA DE CRISTO
Gostaria de saber se vocês,
alguma vez, pensaram com que tipo de glória Deus recompensará Cristo no
milênio, por aquilo que Ele sofreu há mil e novecentos anos. Uma recompensa
deve equiparar-se ao sofrimento. Se um homem for rebaixado à mais inferior
posição, sua recompensa deverá ser a maior. Suponha que sua casa pegue fogo ou
que você se encontre em sério perigo, e um empregado seu arrisque-se e quase
perca e a vida tentando salvá-lo. Como você o recompensaria? Você diria:
"Eu o recompenso com vinte centavos"? Ninguém faria isso. A
recompensa tem de equiparar-se ao sofrimento. Cristo glorificou a Deus de tal
maneira e sofreu tal morte na cruz. Como Deus recompensará Cristo no futuro? E
como Ele glorificará Cristo? O reino será o tempo no qual Cristo e os cristãos
receberão glória juntos. O reino será o tempo no qual Deus recompensará Cristo.
Naquele tempo, nós também teremos uma porção. Se vamos ser achados dignos de
receber a glória do Senhor, dependerá totalmente do resultado de nosso andar e
trabalho pessoais. Não existe a questão de mérito no novo céu e nova terra. Mas
no reino, somente os que tiverem mérito receberão glória. O Senhor sofreu
perseguição, dificuldades e humilhação. Se hoje sofrermos perseguição,
dificuldades e humilhação, da mesma forma, nós partilharemos uma porção com Ele
no reino vindouro.
Capítulo Vinte e Dois
A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos - A Disciplina no Reino
(1)
A DISCIPLINA DE DEUS NA ERA VINDOURA
A Bíblia diz que o Senhor
nos disciplina porque nos ama (Hb 12:6). O homem quando ama, é tolerante. Mas
Deus quando ama, disciplina. Quando o homem ama, ele é negligente. Mas quando
Deus ama, Ele é sério. Se Deus não nos tivesse amado, Ele não teria enviado Seu
Filho para morrer pelos nossos pecados na cruz. Da mesma forma, se Deus não nos
amasse, Ele não nos disciplinaria. O amor disciplinador de Deus é semelhante ao
Seu amor salvador, o qual fez com que Ele enviasse Seu Filho para morrer por
nós na cruz. Foi Seu amor que fez Seu Filho morrer em nosso favor. Da mesma
forma é Seu amor que nos disciplina. Todo cristão deveria saber que não há
contradição entre a disciplina de Deus e a graça de Deus. Pelo contrário, a
disciplina de Deus manifesta a graça de Deus. Apesar de termos visto que uma
pessoa não pode perecer após ser salva, jamais podemos dizer que essa pessoa
nunca sofrerá a disciplina de Deus. Agora, a questão é se a disciplina de Deus
restringe-se a esta era ou se ela se estende à era vindoura também. Essa é uma
questão que muitos jamais consideraram. Então vamos examiná-la. A Bíblia nos
mostra que a disciplina de Deus não se restringe somente a esta era. Ela também
pode ser vista na próxima era. Muitos restringiram a disciplina de Deus a esta
era. Entretanto, você não consegue encontrar na Bíblia nenhuma base para tal
ensinamento. Em se tratando de experiência cristã, certamente existe a
possibilidade de disciplina na era vindoura. Muitos não têm sido disciplinados
nesta era. Embora sejam filhos de Deus, eles não têm um viver consagrado nesta
era. Fazem o que querem e em muitas coisas são desobedientes por toda a vida,
até à morte. Embora alguns sejam zelosos e trabalhem pelo Senhor, e
exteriormente até experimentem, muitos milagres e obras de poder, todas essas
coisas são feitas segundo sua vontade pessoal e são contrárias ao propósito de
Deus. Alguns têm até mesmo pecados evidentes e transgressões específicas. Não
vemos muita disciplina neles. Pelo contrário, vivem tranqüilamente em paz
partem deste mundo. Entretanto, além de perderem a recompensa, essas pessoas
serão disciplinadas no reino. Elas experimentarão uma disciplina específica de
Deus. Portanto, de acordo com a experiência, se um cristão viver na terra,
hoje, sem controlar suas paixões, amando o mundo e andando nos seus próprios
caminhos, ele será disciplinado na era vindoura. Temos ampla evidência disso na
Bíblia.
A DISCIPLINA É PARA PURIFICAÇÃO
Segundo a Palavra de Deus, a
disciplina é para purificação. O homem está sujo, portanto, precisa ser limpo.
Na Bíblia não há somente um tipo de purificação. A primeira purificação é a do
sangue, isto é, a purificação pelo sangue do Senhor Jesus. A Bíblia menciona-a
mais de trezentas vezes, mas aqui nós citaremos somente dois versículos do
livro de Hebreus: "Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se
purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão"
(9:22). Esse versículo fala sobre a purificação pelo sangue. E: "Ele, que
é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos
pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas" (1:3). Aqui
podemos traduzir "depois de ter feito a purificação dos pecados" por
"depois de ter feito a limpeza dos pecados". Na Bíblia vemos que a
purificação de nossos pecados é feita pelo sangue do Senhor Jesus. Após haver
purificado nossos pecados, Ele ascendeu às alturas e assentou-se à direita da Majestade.
Esse é o primeiro tipo de purificação na Bíblia. Entretanto, apesar de muitas
pessoas terem recebido a purificação pelo sangue do Senhor Jesus, elas ainda
têm muitos pensamentos imundos, ainda estão muito corrompidas pelo mundo e têm
muitos pecados carnais. Por ainda haver esse tipo de coisas, Deus utiliza
outros meios para nos purificar. Esses meios de purificação são a disciplina e
a punição, sobre as quais trataremos agora. Em João 15:2 o Senhor diz:
"Todo ramo em Mim que não dá fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto,
Ele o limpa, para que produza mais fruto". O limpar aqui é uma
purificação. Deus poda os elementos desnecessários, supérfluos e obstáculos,
para que os ramos produzam mais fruto. Isso é a disciplina de Deus. Portanto, o
propósito da disciplina de Deus não é destruir-nos, mas aperfeiçoar-nos a fim
de que nos tornemos mais dignos da glória de Deus, da santidade de Deus, e da
justiça que é posta diante de nós. Portanto, na Palavra de Deus existem dois
tipos de purificação: Uma é a purificação pelo sangue do Senhor Jesus; a outra
é a purificação que Deus faz por meio do nosso ambiente, família, saúde ou
trabalho. Se formos indulgentes naquilo que não devemos ser, ou se nos
recusarmos a eliminar o que for preciso, a mão disciplinadora de Deus recairá
sobre nós em nosso ambiente.
A PURIFICAÇÃO NA ERA VINDOURA
Tal disciplina purificadora
de Deus está restrita somente a esta era, ou ela também é encontrada na era
vindoura? Pela Bíblia sabemos que a morte jamais muda alguém. Nenhuma passagem
da Bíblia mostra o caso de uma pessoa que tenha sido mudada pela morte. Sabemos
que no futuro estaremos com Deus eternamente. Na eternidade seremos como o
Senhor; seremos santos, assim como o Senhor é santo. Mas será que podemos dizer
que hoje somos tão santos como o Senhor é? que somos dignos de estar com o
Senhor pela eternidade? É verdade que o sangue do Senhor Jesus nos limpou e o
registro de nossos pecados foi apagado. Isso é um fato. Mas falando de modo
subjetivo, temos Cristo vivendo em nós praticamente? Temos permitido o Cristo
ressurreto expressar-se em nós? Nosso andar hoje ainda é muito diferente
daquele que deverá ser na eternidade; os dois estão por demais distantes. Hoje
estamos muito aquém da santidade, justiça e glória de Deus. Muitos cristãos
ainda estão cheios de pecados e imundícies. Sendo assim, aqui temos um
problema. Se as coisas hoje estão tão ruins, mas serão tão boas no futuro, se
são tão imperfeitas hoje, mas serão tão perfeitas no futuro, quando ocorrerá a
mudança? Deve haver uma mudança em algum lugar ao longo do caminho. Se você não
é perfeito hoje, mas o será no futuro, quando ocorrerá a mudança? Na
eternidade, quando estivermos com Deus e o Cordeiro na Nova Jerusalém,
estaremos na luz assim como Deus está na luz. Mas quando nos tornaremos esses
tais? O conceito humano é que ao morrer mudaremos, mas a Bíblia nunca afirma
que a morte física fará uma pessoa ser santa. Essa é uma doutrina que foi
pregada há quinhentos ou seiscentos anos, porém a Bíblia nunca diz que a morte pode
mudar uma pessoa. Se a morte pudesse mudar um cristão, então ela também poderia
mudar uma pessoa não-salva. Contudo, a morte jamais muda alguém. O servo
indolente ainda será indolente ao ser ressuscitado. As virgens néscias ainda
eram néscias quando acordaram. Ao acordarem, a indolência e a insensatez delas
não haviam sumido. Se uma pessoa não muda nesta era, mas estará diferente no
novo céu e nova terra, e se a morte não muda as pessoas, então, quando ocorrerá
a mudança? A Bíblia nos mostra claramente que na era vindoura haverá
disciplina, e essa disciplina nos podará e purificará.
ALGUNS SERVOS DE DEUS SERÃO JULGADOS NA ERA VINDOURA
Precisamos ver alguns
versículos que falam dessa disciplina futura. Lucas 12: 45-48 diz: "Mas se
aquele servo disser no seu coração: Meu senhor tarda em vir, e começar a
espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o
senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe, e
cortá-lo-á pelo meio e designará a sua parte com os incrédulos. Aquele servo
que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua
vontade, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não a conheceu e fez
coisas dignas de açoites, receberá poucos açoites. Mas a todo aquele a quem
muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito foi confiado,
muito mais lhe pedirão". Nesses versículos a primeira coisa que precisamos
decidir é se o servo, aqui, pertence ou não ao Senhor. Ele é cristão? Ele é
salvo? Sem dúvidas o servo aqui é salvo. Como posso dizer isso? Primeiro,
porque no Novo Testamento, Deus nunca considera como Seus servos os que não lhe
pertencem. Indo do Antigo Testamento para a era do Novo Testamento, o homem,
primeiro, é um servo e a seguir torna-se um filho. Assim, no Antigo Testamento
existem muitos servos não-salvos. Mas no Novo Testamento a ordem é invertida.
Se um homem não é filho de Deus, ele não está qualificado para ser um servo de
Deus. No Novo Testamento todos os servos de Deus são filhos. Portanto, o servo
aqui referido, certamente é alguém salvo. Há uma segunda prova de que o servo
em Lucas 12:45-48 é salvo. A prova está nos versículos anteriores. Os
versículos 42-44 dizem: "Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e
prudente, a quem o senhor constituirá sobre os seus servos para dar-lhes a
razão a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier,
achar fazendo assim. Verdadeiramente vos digo que o constituirá sobre todos os
seus bens". Será o servo nesses versículos o mesmo servo dos versículos 45
e 46? ou será que existem dois servos? Há somente um servo aqui. O servo nos
versículos 43 e 44 é o mesmo servo do versículo 45. Uma mesma pessoa pode ser
um servo bom, assim como pode ser um servo mau. Esse servo pode ter dois pensamentos
diferentes. Se ele for fiel ao encargo do senhor da casa e der aos conservos o
sustento a seu tempo, o senhor o recompensará bem e confiar-lhe-á todos os seus
bens. Mas se o servo disser em seu coração: "Meu senhor tarda; posso agir
da maneira que quiser", e começar a espancar os criados e as criadas, o
senhor virá e julgará seus pecados. Isso prova que uma pessoa salva pode tanto
ser um servo bom como um servo mau. Se, infelizmente, uma pessoa salva
tornar-se um servo mau, qual será o seu fim? O versículo 46 diz: "Virá o
senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe, e
corta-lo-á pelo meio e, designará a sua parte com os incrédulos". Esse
castigo ocorrerá nesta era ou na era vindoura? Aqui, qual é a hora e o dia que
ele não sabe? A hora e o dia que ele não sabe devem referir-se ao tempo da
volta do Senhor. Isso é algo no futuro. O Senhor diz que um servo pode ser fiel
ou infiel, e um servo infiel não somente perderá a recompensa, como também será
condenado e receberá uma punição precisa. Os versículos 47 e 48 baseiam- se nas
palavras do versículo 46, e dizem respeito ao futuro daqueles que pertencem ao
Senhor e trabalham para Ele. "Aquele servo que conheceu a vontade de seu
senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, receberá muitos
açoites. Aquele, porém, que não a conheceu e fez coisas dignas de açoites,
receberá poucos açoites. Mas a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe
será exigido; e àquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão".
Esses versículos não dizem que aquele que não conheceu não receberá nenhum
açoite; dizem apenas que receberá poucos açoites. Ainda assim receberá os
açoites. Deus não deixa que passem despercebidos os que não conhecem a Sua
vontade, porque Sua Palavra está aqui. Aqueles que a conhecem devem ficar
responsáveis diante Dele; aqueles que não a conhecem, mas fizeram coisas dignas
de açoites, receberão os açoites, contudo receberão poucos açoites. Pois para
todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e para aquele a quem
muito foi confiado, muito mais lhe pedirão. Essa é a regra da punição futura de
Deus. Lucas 12:47-48 estabelece para nós a questão da punição futura dos
cristãos diante de Deus. Meus amigos, estou aqui pregando o evangelho da graça.
Quando um homem é salvo, ele é salvo para sempre. Isso é um fato imutável.
Entretanto, após sermos salvos, se a nossa conduta é imprópria a cristãos,
seremos punidos no futuro. Sou apenas um pregador da Palavra de Deus.
Responsabilizo-me por falar apenas o que a Bíblia diz. Não me responsabilizo
pelo que a Bíblia deveria dizer. Hoje, alguns podem perguntar por que os
cristãos precisam ser castigados no futuro. Eu não sei. Você mesmo deve
perguntar ao Senhor. Estou apenas dizendo o que a Bíblia diz. Essa é a palavra
do Senhor. Leiamos Col 3: 23-25: "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o
coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do
Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois
aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há
acepção de pessoas". O contexto dessa passagem deixa claro que esses
versículos referem-se a cristãos, não a incrédulos. Os versículos que vêm antes
dessa passagem dizem como um cristão deve ser uma esposa, um marido, um pai ou
uma mãe, um filho ou uma filha, um senhor ou um escravo. Em seguida, Paulo diz
que se um cristão comete injustiça, receberá o que fez injustamente, pois não
há acepção de pessoas. Isso nos mostra claramente que um cristão receberá a recompensa
no trono de julgamento de Cristo. Se ele cometer injustiça hoje, receberá
recompensa segundo o que tiver feito injustamente. Se agir justamente, ele
receberá recompensa segundo a sua justiça. Portanto, não podemos dizer que os
cristãos não receberão certa porção de disciplina e punição.
RECEBER AS COISAS FEITAS POR MEIO DO CORPO
Agora leiamos 2 Coríntios
5:10: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de
Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio
do corpo". Todos os leitores da Bíblia devem saber que o trono de
julgamento de Cristo estará nos ares. Portanto, aqueles que estarão diante do
trono de julgamento serão os que foram arrebatados. E quem pode ser arrebatado?
A Bíblia nos diz que somente os cristãos podem ser arrebatados. Os que não são
cristãos não podem ser arrebatados. Se um homem não é salvo, ele não é um filho
de Deus e ainda não está qualificado para ser julgado naquele julgamento, pois
aquele será o julgamento de Deus dentro da Sua própria família. A Segunda
Epístola aos Coríntios 5:10 nos diz com que nos defrontaremos no futuro trono
de julgamento de Cristo: Seremos recompensados pelas coisas feitas por meio do
corpo. Em outras palavras, seremos recompensados pelas coisas que tivermos
feito enquanto vivemos na terra, sejam elas boas ou más. Se fizer o bem por
meio do corpo, você receberá uma boa recompensa. Se fizer o mal por meio do
corpo, você receberá uma má recompensa. A Palavra de Deus nos mostra claramente
que no trono de julgamento os que fazem o bem receberão um galardão e os que
não fazem o bem perderão o galardão e serão recompensados segundo o mal que
fizeram. Por existir julgamento futuro, o apóstolo Paulo orou por misericórdia
no futuro. A Segunda Epístola a Timóteo 1:18 diz: "O Senhor lhe conceda,
naquele Dia, achar misericórdia da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que
eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso". Aqui, Paulo expressa o
desejo de que Onesíforo possa achar misericórdia da parte do Senhor naquele
dia. Se, no futuro, quando estiver diante do trono do julgamento, um cristão,
no máximo, perder sua recompensa, e não for punido ou disciplinado, então essa
palavra não tem significado. Paulo esperava que o Senhor fosse misericordioso
com Onesíforo no Seu julgamento, pois ele havia ajudado muito a Paulo e tinha
propagado o evangelho juntamente com ele. Se existissem quaisquer falhas que
Onesíforo houvesse cometido, Paulo esperava que o Senhor fosse misericordioso
com ele. Portanto, vemos que os cristãos não só precisam do perdão, mas também
da misericórdia de Deus na época do julgamento no início do milênio; caso
contrário, eles estarão sujeitos à punição de Deus. No capítulo quatro da
Segunda Epístola a Timóteo há outro versículo que devemos ler. O versículo 16
diz: "Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todos me
abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta!". Essa é outra oração.
Quando Paulo estava na Ásia, todos ali o abandonaram. Quando ele estava diante
do rei sendo julgado, muitos cristãos ocultaram-se com medo da morte. Apesar de
o haverem abandonado, Paulo orou para que tal pecado não fosse levado em conta
contra eles. Portanto, vemos que no futuro Deus ainda julgará nossos pecados.
Paulo orou aqui para que esse pecado não fosse contado contra eles. Há luz
suficiente na Bíblia mostrando-nos que se uma pessoa salva não for disciplinada
pela sua conduta desleixada nesta era, ou não se arrepender após a disciplina,
ela não apenas perderá sua recompensa, como também será punida de um modo
específico. Em Mateus 12, o Senhor Jesus menciona especificamente a blasfêmia
contra o Espírito Santo. Todos os pecados podem ser perdoados, todas as
palavras faladas contra o Filho do Homem podem ser perdoadas; contudo, o pecado
da blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoado. Para esse pecado
não haverá perdão nesta era, e não haverá perdão na era vindoura (v. 32). Na
Bíblia, a era vindoura sempre se refere ao reino. Na língua original, a palavra
"era" é aion, e não cosmos. Se a palavra fosse cosmos, estaria se
referindo à organização do mundo. Mas, uma vez que é aion, ela se refere a um
intervalo de tempo. Por isso, ela foi traduzida para era. Hoje a era é a era da
graça. A próxima era será a era na qual o Senhor virá para reinar por mil anos.
Ao ler Mateus 12, você percebe que o perdão de pecados está dividido em dois
períodos. Alguns pecados são perdoados nesta era, e outros serão perdoados na
era vindoura. Algumas pessoas, por meio de disciplina, são perdoadas nesta era.
Algumas pessoas podem não ter agido bem hoje, mas elas serão perdoadas no
reino. Algumas pessoas são perdoadas ao serem salvas, mas seus pecados
subseqüentes não serão perdoados no reino; pelo contrário, elas serão
severamente castigadas. Este é o ensinamento bíblico acerca da punição. A
punição para o cristão nesta era está suficientemente clara. Alguns cristãos
que pecam, cujos problemas não forem solucionados diante de Deus hoje,
receberão punição no futuro.
O REINO É O TEMPO DA PUNIÇÃO FUTURA
Exatamente quando ocorrerá a
punição futura? Está claro que haverá punição no futuro após o Senhor voltar;
mas em que momento após a volta do Senhor isso ocorrerá? Consideremos três eras
na Bíblia. A era presente pode ser chamada de era da graça. Ela pode também ser
chamada de era do evangelho ou era da igreja. A era vindoura pode ser chamada
de era do reino ou era do milênio, pois tal era durará somente mil anos (Ap
20:6). Após aquela era, ainda há outra era, que é uma era eterna. É a era do
novo céu e nova terra. A Bíblia apresenta-nos essas três eras. A era da igreja
é a era da graça, porque a graça e o amor de Deus são manifestados nela. Nesta
era Deus salva os injustos e leva o homem a receber a graça do Senhor Jesus.
Tudo nesta era é proveniente da graça, mas a era vindoura será a era de
justiça. A era eterna também será uma era de graça. Hoje a era é uma era de
graça, e a era do novo céu e nova terra também será uma era de graça. Contudo,
o reino é todo de justiça. Se você não tiver clareza sobre essas eras, sua leitura
da Bíblia, sua teologia e sua compreensão bíblica estarão todas incorretas.
Tanto a era da igreja quanto a era do novo céu e nova terra são eras da graça.
Mas, a era do milênio é uma era parentética, especialmente preparada por Deus,
para recompensar os fiéis e punir os pecaminosos. Aquele período será um
período especial. Tanto o Novo como o Antigo Testamento nos dizem que, neste
período, Deus lida com o homem em justiça (Sl 72:2; 85:10-13; 96:13; 97:2; Is
11:5; 26:9; 33:5; 62:1; Jr 33:15; Dn 7:27). Podemos citar pelo menos duzentos
versículos do Antigo e do Novo Testamento acerca do julgamento justo no reino.
Qual é a diferença entre o reino e o novo céu e nova terra? A Bíblia faz uma
nítida distinção entre ambos. Consideremos Apocalipse 19:6-8: "Então, ouvi
uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes
trovões, dizendo: Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o
Todo-poderoso". Por favor, note que aqui é o início do reino.
"Alegremo-nos, exultemos, e demos-lhe a glória, porque são chegadas as
bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado
vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo
são os atos de justiça dos santos". Aqui lemos que o linho finíssimo foi
dado à noiva. Embora tenha sido dado, ele é de justiça. O linho finíssimo é a
justiça nos atos dos que crêem. Na língua original, a justiça mencionada aqui
se refere à justiça nas ações. A palavra justiça tem o sentido de ações.
Portanto, refere-se aos nossos próprios atos justos. Agora leiamos Apocalipse
20:4-6: "Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada
autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho
de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a
besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e
viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não
reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição.
Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre
esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de
Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos". Esses versículos nos
dizem quem serão os reis que reinarão com Cristo por mil anos. O reino não é
para todos. O reino é apenas para os mártires. É somente para os que rejeitam
Satanás e o anticristo. Unicamente esses podem reinar por mil anos. Portanto,
apenas os mártires podem reinar; somente aqueles que rejeitam Satanás e o
anticristo serão reis. Isso nos prova que o reino milenar não é dado como um
dom gratuito, mas é obtido por meio de boas obras diante de Deus. Apesar de
vermos em outras passagens outros tipos de pessoas reinando, em Apocalipse
vemos que deve haver justiça específica antes que possa haver participação nas
bodas do Cordeiro. Somente os que são mártires podem ser reis. Sem ter a
justiça específica e sem ser martirizado, nem um sequer pode ter parte no
reinado. Assim é o milênio.
A ERA DO NOVO CÉU E NOVA TERRA
Consideremos agora
Apocalipse 21:1-7: "Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a
nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo. Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis
o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos
de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e
a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que
faço novas todas as cousas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são
fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega,
o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da
vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus e ele me será
filho". A descrição do reino em Apocalipse 19 e 20 é totalmente diferente
da descrição do novo céu e nova terra no capítulo 21. Ao descrever o reino, a
Bíblia fala acerca daquilo que o homem fez. Entretanto, ao descrever o novo céu
e nova terra, não há mais menção daquilo que o homem fez. A partir do capítulo
vinte e um, a Bíblia simplesmente fala acerca daquilo que Deus faz. Deus disse
que faz novas todas as coisas. Deus disse que o primeiro céu e a primeira terra
passaram e o mar já não existe. Todas estas coisas serão realizadas por Deus. O
tabernáculo de Deus estará com os homens. Ele habitará com os homens. Somos o
Seu povo; Deus mesmo habitará conosco e será nosso Deus. Ele enxugará todas as
nossas lágrimas, de maneira que não teremos mais morte, tristeza, pranto ou
dor, pois todas as coisas anteriores terão passado, e todas as coisas serão
novas. Deus disse que todas essas palavras são fiéis. Ele disse que Ele é o
Alfa e o Ômega. O homem não tem parte aqui. Esses versículos prosseguem,
dizendo-nos o que Deus tem feito. Não existe condição ou exigência. Se você deseja
saber como obter tal maravilhoso novo céu e nova terra, apenas ouça esta
palavra: "Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o
Princípio e o Fim" (v. 6a). Em outras palavras, tudo é feito por Deus.
"Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida" (v.
6b). Após todas estas coisas terem sido ditas, tudo é resumido em uma sentença:
"Eu, a quem tem sede darei de graça da fonte da água da vida". Desde
que haja sede, desde que haja a necessidade, Deus dará gratuitamente da fonte da
água da vida. Isso é graça. Graça é dar da fonte da água da vida gratuitamente.
O novo céu e nova terra são provenientes da graça. Deus é o Alfa e o Ômega, o
início e o fim. O novo céu e a nova terra são totalmente da parte Dele. O
versículo seguinte diz: "O vencedor herdará estas coisas". Quem são
os vencedores a que João se refere? Os vencedores aqui diferem daqueles nas
cartas às sete igrejas no início de Apocalipse. Aqui, por meio do uso do termo
vencedores, uma distinção é feita entre as pessoas do mundo e os cristãos. A
distinção aqui não é entre um tipo de cristão e outro tipo de cristão. Nos três
primeiros capítulos de Apocalipse, vencer está relacionado com cristãos em meio
a outros cristãos. Mas, no capítulo vinte e um, vencer relaciona-se a cristãos
entre as pessoas do mundo. Como podemos beber da água da vida? Por meio da fé.
Aqueles que crêem podem beber. Para que possamos beber de graça da água da
vida, precisamos crer. É a fé que nos capacita a vencer o mundo. Comparado às
pessoas do mundo, cada cristão é um vencedor. Entretanto, comparado a outros
cristãos, muitos cristãos são falhos. Com relação às pessoas do mundo, todos
somos vencedores, pois temos uma fé diante de Deus que elas não têm. Os que
vencem e os que bebem da água da vida herdarão essas coisas, e Deus será o Deus
deles, e eles serão filhos para Deus. O capítulo vinte e dois também menciona o
novo céu e nova terra. Os versículos 1 a 5 dizem: "Então, me mostrou o rio
da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do
Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da
vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da
árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela,
estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a
sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem
precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus
brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos". A principal
coisa na Nova Jerusalém é o rio da água da vida. Esse rio procede do trono de
Deus e do Cordeiro. Por ser o rio da vida, há a árvore da vida, com seu fruto
da vida crescendo. Em Apocalipse 22, após tudo ter sido dito, uma coisa é
proeminente, o rio da vida. Esse rio da água da vida flui por toda a cidade.
Como podemos desfrutar o rio da água da vida? No final de Apocalipse, após o
era do reino e a era da igreja terminarem, o versículo 17 diz: "O Espírito
e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede, venha, e
quem quiser receba de graça a água da vida". Em outras palavras, todos são
bem-vindos no novo céu e nova terra. No novo céu e nova terra há um trono, e do
trono sai um rio. O rio provém de Deus e tem o trono como sua fonte. O trono é
o centro do novo céu e nova terra. Além disso, a palavra Cordeiro nunca é
mencionada com relação ao reino. Mas no novo céu e nova terra, o Cordeiro
certamente é mencionado. O trono é de Deus e do Cordeiro (22:1); o Senhor Deus
Todo-poderoso e o Cordeiro são o templo da cidade (21:22); e o Cordeiro é a
lâmpada da cidade (21:23). O fato de o Cordeiro ser mencionado com relação ao
novo céu e nova terra indica que aquela será uma era da graça. Quando chegamos
ao final de Apocalipse, a igreja, o reino, e a tribulação não são mais
mencionados. Em vez disso, descobrimos apenas que todos os que estão sedentos
podem vir e tomar de graça da água da vida. Isso significa que você é convidado
para o novo céu e nova terra. Tudo é gratuito. E, ser gratuito significa que
provém da graça. Portanto, o novo céu e nova terra são totalmente distintos do
reino. O novo céu e nova terra são gratuitamente dados a nós. Segundo o
ensinamento de Apocalipse, podemos dizer que no novo céu e nova terra Deus lida
com o homem baseado na graça. No reino, entretanto, Ele lida com os cristãos
com base na justiça. Portanto, devemos admitir que é no reino que Deus nos
disciplina. No novo céu e nova terra tudo é recebido gratuitamente. Nisso vemos
a relação entre o presente e o futuro. Se hoje amarmos o mundo, andarmos
segundo a carne, e tivermos um viver desleixado, na era por vir seremos
disciplinados por Deus. Mas, se amarmos o Senhor hoje e abandonarmos tudo por
causa do Senhor, receberemos a graça de Deus e o Seu galardão. Esse é o
ensinamento bíblico acerca destas três eras. Eu não sou responsável pelo que
estou falando aqui. Estou falando apenas a Palavra de Deus. A Palavra de Deus
diz que na era vindoura haverá essas coisas. Deus mesmo se responsabiliza pelas
Suas próprias palavras. Eu apenas sei que o Filho de Deus disse essas palavras.
É verdade que o homem pode desfrutar a vida eterna hoje. Mas o reino é o tempo
no qual Deus lidará com Seus filhos. Se você tiver um viver desleixado hoje,
será disciplinado no futuro. Portanto, temos uma segurança eterna, mas também
temos um perigo temporário. Temos a garantia do novo céu e nova terra. Temos,
entretanto, o perigo do reino. No reino poderemos sofrer severa punição e
disciplina. Embora a salvação tenha sido estabelecida pela obra do Senhor
Jesus, a recompensa será decidida pela obra de cada um. A salvação vem pela
obra do Senhor Jesus. A recompensa vem pela nossa própria obra. Somos
recompensados por obedecer à vontade de Deus e por não andar segundo a nossa própria
vontade. Que possamos valorizar a graça que temos recebido, receber a
advertência de Deus e perseguir a recompensa do reino.
Capítulo Vinte e Três
A MANEIRA DE DEUS LIDAR COM OS PECADOS DOS CRISTÃOS - A DISCIPLINA NO
REINO RECEBER VIDA NO REINO NA ERA VINDOURA
Ao pregarmos o evangelho,
dizemos às pessoas que recebemos a vida eterna, crendo em Jesus Cristo. Se uma
pessoa crer Nele, ela terá a vida eterna. Todo aquele que compreende a Palavra
de Deus sabe que na era da igreja hoje, assim que uma pessoa crê, ela tem a
vida eterna. Essa é a nossa mensagem. Mas a questão agora é: Quando é que esta
vida eterna é manifestada, revelada e desfrutada? Hoje, nossa mente e espírito
estão sendo constantemente perseguidos pela morte. Satanás ainda é muito forte.
Sendo assim, quando a vida eterna será plenamente manifestada? Será no novo céu
e nova terra? ou isso ocorrerá no reino? Leiamos João 5:24-29: "Em
verdade, em verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê Naquele que Me
enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas passou da morte para a
vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os
mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Porque
assim como o Pai tem vida em Si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter vida
em Si mesmo. E Lhe deu autoridade para exercer o julgamento, porque é o Filho
do Homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se
acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para
a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição
do juízo". Aqui, o versículo 24 diz que desde que uma pessoa creia, ela
tem a vida eterna e não entra em juízo. Aquele que ouve a palavra do Senhor e
crê no Pai que enviou o Senhor tem a vida eterna. Contudo, o versículo 29 diz
que os que tiverem feito o bem sairão para a ressurreição da vida, enquanto os
que tiverem praticado o mal sairão para a ressurreição do juízo. A palavra vida
(zoe, no grego) no versículo 29 é a mesma palavra do versículo 24. Aqueles que
tiverem praticado o bem sairão para a ressurreição da zoe, e aqueles que
tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. O versículo 24 diz
claramente que já temos a vida eterna. Mas o versículo 29 diz que alguns não
terão a vida eterna, senão após a ressurreição. Você consegue ver a diferença
aqui? O versículo 25 ocorre na era da igreja. Diz que os mortos ouvirão a voz
do Filho de Deus. Nós todos somos esses mortos. Ouvimos a voz do Filho de Deus
e, como resultado, vivemos. O versículo 28 diz: "Não vos maravilheis
disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua
voz e sairão". O versículo 25 diz que vem a hora e já chegou. O versículo
28, entretanto, omite a frase "e já chegou", dizendo apenas que vem a
hora. Portanto, refere-se ao futuro, e não ao presente. Além disso, aqui o
Senhor Jesus diz que no futuro todos os que se acham nos túmulos sairão. No
versículo 25, Ele refere-se "aos mortos". Aqui Ele refere-se aos
mortos que se acham nos túmulos. O versículo 25 fala sobre os mortos,
referindo-se àqueles mortos em ofensas e pecados. Quando o Senhor fala no
versículo 28 dos mortos nos túmulos, Ele não está referindo-se à morte da alma
em pecado; pelo contrário, Ele está referindo-se aos mortos no corpo. Todos os
que estão mortos em seus corpos, isto é, os que estão nos túmulos, ouvirão a
voz do Filho de Deus pela segunda vez. Os que tiverem feito o bem sairão para a
ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal sairão para a ressurreição
do juízo. Esta segunda vez é o tempo em que todos os que estiverem nos túmulos
ressuscitarão. Leiamos Marcos 10: 30: "Que não receba cem vezes mais
agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições; e no século vindouro a vida eterna". Aqui o Senhor Jesus
menciona novamente a vida eterna. Devemos perceber que tipo de vida eterna é
essa. A vida eterna em Marcos 10: 30 não é a vida eterna da era da igreja
referida no Evangelho de João ou a vida eterna no novo céu e nova terra. Por
favor, perceba que essa vida eterna será na era vindoura. A frase "no
século vindouro" na língua original significa a era seguinte ou a era
subseqüente. Hoje estamos na era da graça. A próxima era será a era do reino,
isto é, a era do milênio. Aqui, o Senhor diz que uma pessoa pode receber a vida
eterna na era vindoura. Isso não se refere à vida eterna que recebemos quando
cremos no Senhor. Antes que o Senhor falasse essa palavra, um homem veio a
Jesus, perguntando o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Essa questão
estava relacionada com as obras. Assim sendo, o Senhor Jesus lhe disse acerca
da vida eterna que é ganha por meio das obras. Ele disse ao jovem que antes que
pudesse herdar essa vida eterna, ele deveria guardar a lei e vender tudo o que
tinha. No Evangelho de João, o Senhor Jesus nos mostra claramente que a vida
eterna provém da graça e não das obras. Então, por que Ele diz aqui que devemos
guardar a lei e vender tudo o que temos, antes de poder herdar a vida eterna? É
porque a vida eterna descrita aqui em Marcos 10 é diferente daquela descrita em
João. A vida eterna em Marcos 10 é recebida por meio de obras. A vida eterna em
João é recebida pela fé. Após o jovem partir, o Senhor Jesus olhou ao Seu redor
e disse aos discípulos: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os
que têm riquezas!" (v. 23). Ao dizer isso, o Senhor colocou a vida eterna
e o reino juntos. Após o Senhor Jesus dizer isso, os discípulos quiseram saber
qual o significado da Sua palavra. O Senhor disse: "Filhos, quão difícil é
para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! É mais fácil passar
um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de
Deus". Os discípulos ficaram maravilhados e perguntaram quem então poderia
ser salvo. O Senhor disse que "para os homens é impossível; mas, não para
Deus, porque para Deus tudo é possível". Pedro, então, perguntou-Lhe o que
ganharia por ter deixado tudo para segui-Lo, e o Senhor falou sobre as coisas
que estavam por vir. "Jesus respondeu: Em verdade vos digo: Ninguém há que
tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos,
por causa de Mim e por causa do evangelho, que não receba cem vezes mais agora,
neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e
no século vindouro a vida eterna". Eles receberão a vida eterna no reino.
Portanto, a vida eterna de que se fala aqui é a vida eterna no reino. A vida
eterna no reino é obtida por meio de obras. Ela é obtida através de
consagração, de sofrimento e por suportar injúrias pelo Senhor. Para o cristão,
a questão da vida eterna nesta era está resolvida. A questão da vida eterna na
eternidade também está resolvida. Contudo, se ele terá ou não vida eterna no
reino depende de: se ele ama ou não o Senhor; se abandona tudo por causa do
evangelho; se nega a si mesmo em todas as coisas e se rejeita o mundo. Depende
se ele está ou não vivendo para o dinheiro, para o ganho material, para sua
família, ou para as pessoas do mundo. Se ele ama ao Senhor e abandona todas as
coisas por causa do evangelho, o Senhor prometeu que ele não perderá essas
coisas mesmo nesta era, mas pelo contrário, ganhará centenas de vezes mais. Se
alguém desistir de algo apenas um pouco, por causa do Senhor, ele colherá o
cêntuplo de volta no banco celestial. Quem consegue obter um juro tão alto? O
depósito de um dólar renderá cem dólares. Você não consegue encontrar nenhum
banco como esse no mundo. Somando-se a isso, há a vida eterna na era vindoura.
Em muitas porções de Mateus, a frase "vida eterna" é usada como
sinônimo da palavra "reino". Nessas porções, os vivos são os que
entram no reino. Por exemplo, Mateus 7:14 diz que a porta é estreita e apertado
é o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que a encontram. Hoje,
muitos pregam o evangelho usando essa passagem, e exortam as pessoas a entrar
pela porta estreita e tomar o caminho apertado. Todavia, se alguém fosse salvo
por entrar pela porta estreita e por tomar o caminho apertado, a salvação não
seria pela graça, mas por obras, e se tornaria uma recompensa por entrar pela
porta estreita e por se tomar o caminho apertado. A vida eterna, como é
revelada no livro de Mateus, não se refere à vida eterna de hoje, mas sim, à
vida no reino milenar. Para poder reinar com Cristo no reino, uma pessoa deve
entrar pela porta estreita e tomar o caminho apertado. Se alguém não obedecer
aos mandamentos de Deus e à Sua vontade, perderá a vida eterna. Entretanto,
isso não significa que ele irá perecer, mas perderá a vida eterna no reino. Se
esse problema estiver resolvido, então o problema das eras na Bíblia estará
claramente solucionado. Na era da igreja, todas as coisas são pela graça. Ao
final da era da igreja, Deus estabelecerá Seu reino por meio do Seu Filho. No
reino, somente os servos fiéis reinarão com Cristo ao serem ressuscitados de
entre os mortos. A Bíblia nos mostra isso muito claramente.
A PUNIÇÃO NO REINO MILENAR
A Bíblia diz que muitos
filhos de Deus terão uma punição específica. Muitos cristãos têm um andar
inadequado. Eles não vivem de maneira piedosa. Amam o mundo e andam conforme a
própria vontade. Adoram a Deus segundo a maneira do homem. Não obedecem à
Palavra de Deus ao cuidar da obra de Deus, mas em vez disso fazem o que eles
mesmos gostam de fazer. Eles tentam agradar a homens. Buscam a glória do homem
em vez da glória de Deus e não querem ocupar o mesmo lugar de vergonha que o
Senhor ocupou. Eles cometeram muitos erros e pecados e não foram disciplinados
pelo Senhor nesta era. Após morrer e ser ressuscitados naquele dia, poderão
eles reinar com o Senhor? A Bíblia diz que primeiro devemos sofrer e suportar
injúrias com Ele, antes que possamos reinar e ser glorificados com Ele (2 Tm
2:12). Muitos cristãos, não apenas nunca sofreram, como têm muitos pecados.
Eles amam o mundo e andam segundo a carne. Quando deixarem o mundo, eles ainda
terão muita injustiça e muitos pecados que não foram tratados. A Bíblia nos
mostra que tais cristãos terão uma punição específica e definida. Mateus
18:23-35 fala de um servo sendo perdoado de suas dívidas pelo seu senhor. Outro
conservo tinha uma dívida com o primeiro servo. Mas o servo que foi perdoado de
sua dívida não queria perdoar seu conservo. O primeiro servo definitivamente
representa uma pessoa salva, pois ele rogou pelo perdão do seu senhor, e o
senhor, movido pela compaixão, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Todos
somos pessoas desamparadas vindo ao Senhor buscar graça. O Senhor perdoou nossa
dívida e deixou-nos ir. Se o primeiro servo representa um cristão, então o que
quer que ele expresse, representa aquilo que iremos expressar. A maneira como o
senhor lida com seu servo será a maneira como o Senhor lidará conosco. Os
versículos 28-30 dizem: "Saindo, porém, aquele servo". Ele saiu
porque agora era um homem livre. "Saindo, porém, aquele servo, encontrou
um dos seus conservos, que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava,
dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu conservo, prostrando-se,
implorava-lhe dizendo: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis;
antes, indo-se, o lançou na prisão, até que pagasse a dívida". Essa
passagem é sobre um cristão que não perdoa o pecado de outro. Você é alguém que
foi perdoado, mas não deseja perdoar. O Senhor perdoou-lhe dez mil talentos.
Agora seu irmão lhe deve apenas cem denários, mas você diz em seu coração que
ele deve restituir-lhe. Ele deve devolver-lhe até o último centavo. Qual será,
então, o resultado? Os versículos 31-33 continuam: "Vendo os seus
companheiros o que se havia passado, entristeceram-se grandemente, e foram e
relataram minuciosamente ao seu senhor tudo o que acontecera. Então, o seu
senhor, chamando-o a si, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te toda aquela
dívida porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, ter misericórdia do teu
conservo, como também eu tive misericórdia de ti?" Que aquela pessoa
representa uma pessoa salva é novamente provado pelo fato de que o Senhor teve
misericórdia dele. O Senhor disse: Não devias tu, igualmente, ter misericórdia
do teu conservo, como também eu tive misericórdia de ti? Não devias perdoar teu
conservo como eu te perdoei? Isso prova que essa pessoa representa alguém que
recebeu a misericórdia e o perdão de Deus. Ele deve ser alguém que já tem a
vida, contudo, não perdoa outros cristãos. "E, irando-se, o seu senhor o
entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida". Essa pessoa a quem
fora concedida misericórdia e fora perdoada foi entregue aos verdugos até que
pagasse toda a dívida ao Senhor. Se ele podia devolver tudo o que devia é outra
questão. O fato é que ele teria de sofrer. Isso nos mostra que se um cristão
não perdoar a outro, naquele dia o Senhor lidará com ele da mesma forma como
ele lidou com os outros. Se você não perdoar seu irmão, o Senhor lidará com
você segundo a sua atitude implacável.
MISERICÓRDIA E JULGAMENTO
Sabemos que nosso Deus é um
Deus justo. No futuro, no trono de julgamento, Ele nos julgará segundo a
justiça. Entretanto, apesar de haver justiça no trono de julgamento, também
haverá misericórdia. Se você mostra misericórdia para com os outros, o Senhor
será misericordioso para com você. Se você é implacável para com os outros, e
se você é tão justo e intransigente com as falhas e fraquezas dos outros, o
Senhor lidará com você apenas com justiça naquele dia. Se você é misericordioso
para com os outros, o Senhor mostrará misericórdia para com você. Lucas 6:37
diz que se você não julgar, não será julgado; se você não condenar, não será
condenado, e se você perdoar, será perdoado. Alguns cristãos são mesquinhos
demais hoje. Ao criticarem os outros, eles apontam cada erro cometido. Quando
dão o melhor de si para criticar e julgar os outros, eles devem ser cuidadosos.
No futuro, Deus lidará com eles da mesma maneira com que eles lidam com os
outros. Com a medida com que medir, você será medido. Se você dá boa medida,
recalcada, sacudida, transbordante, o Senhor lhe dará da mesma forma. Aquele
que perdoa, será perdoado, e àquele que mostra misericórdia, misericórdia será
mostrada. Portanto, a Bíblia diz que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg
2:13). Há uma coisa sobre a qual o juízo não pode triunfar - sobre o fato de
uma pessoa mostrar misericórdia para com os outros por toda sua vida. Não
estamos livres de erros. Contudo, se mostrarmos misericórdia para com os outros
hoje, Deus será incapaz de lidar conosco. Muitos cristãos são incapazes de
perder quando lidam com os outros. Eles discutem o tempo todo com os outros,
dão pouca razão aos outros e concedem a si mesmos toda a razão. Mas hoje, pelo
contrário, deveríamos mostrar misericórdia para com os outros. Quando chegar o
tempo do julgamento, haverá alguns contra os quais nem mesmo o Senhor do juízo
será capaz de levantar coisa alguma. Isso não significa que o homem possa
propositadamente alterar o mandamento de Deus. Significa apenas que, se você é
misericordioso com os outros enquanto viver na terra, Deus será misericordioso
com você. Sua misericórdia hoje triunfará sobre seu juízo amanhã. A maneira
como você julga os outros será a maneira como será julgado. Esta graça é justa.
A forma como você trata os outros será a mesma forma como o Senhor o tratará. A
sua maneira de lidar com os outros moldará um vaso, com o qual Deus medirá o
julgamento para você. Tiago 2: 13 diz: "Porque o juízo é sem misericórdia
para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o
juízo". Aqueles que não usam de misericórdia para com os outros serão
julgados sem misericórdia. Mas, para aqueles que usam de misericórdia para com
os outros, a misericórdia triunfará sobre o juízo. A sua misericórdia excederá
o juízo. Isso é um fato maravilhoso. Mateus 18 nos mostra com clareza que os
filhos de Deus ainda podem cair nas mãos dos verdugos. Se isso ocorrer, eles
terão de permanecer ali até pagar toda a dívida. É claro que não há como quitar
toda a dívida. Mas pelo menos chegará o dia em que eles aprenderão a ser
misericordiosos e a perdoar aos outros assim como o Senhor usou de misericórdia
para com eles e lhes perdoou. Naquele tempo eles terão de usar de misericórdia
para com outros. Por isso, no versículo 35 o Senhor diz: "Assim também Meu
Pai celeste vos fará, se de coração não perdoardes cada um a seu irmão".
Essa porção da Palavra não é falada aos incrédulos, mas aos cristãos, e mostra
a relação que existe entre o Pai celeste e Seus filhos, e entre os irmãos.
Antes dessa porção da Palavra, Pedro perguntou ao Senhor: "Até quantas
vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe hei de perdoar? Até sete
vezes?" (Mt 18:21). O Senhor lhe disse que deveria perdoar até setenta
vezes sete. Em seguida o Senhor falou sobre os dois servos. Se não perdoar a
seu irmão, Pedro deparará com punição. A palavra do Senhor mostrou a Pedro que
existe a possibilidade de ser entregue aos verdugos; existe a possibilidade de
ser lançado em prisão. Se para Pedro existe a possibilidade de ser entregue aos
verdugos e atirado na prisão, para nós também há a possibilidade de ser
tratados da mesma forma. Essa é a razão de o Senhor usar o plural
"vos" no versículo 35. Sua palavra não é apenas para Pedro, é para
cada um de nós. Se não perdoarmos de coração a cada um de nossos irmãos, o Pai
celeste fará a mesma coisa conosco. Por favor, lembre-se de que a nossa
salvação eterna no novo céu e nova terra é inabalável. Somos gratos ao Senhor
pois isso é pela graça. Mas se hoje nossos problemas não forem tratados
especificamente, ainda sofreremos punição específica no reino futuro.
Capítulo Vinte e Quatro
A MANEIRA DE DEUS LIDAR COM OS PECADOS DOS CRISTÃOS - A GEENA DE FOGO
NO REINO
Há muitas passagens na
Bíblia que mencionam a punição de Deus para os cristãos derrotados, no reino
milenar. Examinaremos agora essas passagens e, posteriormente, chegaremos a uma
conclusão sobre elas.
A ENTRADA E A POSIÇÃO NO REINO
Consideremos primeiramente
Mateus 18:1-3: "Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos,
perguntando: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando a Si uma
criança, colocou-a no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino
dos céus". Aqui os discípulos fizeram uma pergunta sobre o reino dos céus,
uma pergunta acerca da posição no reino. Não se trata de uma pergunta
envolvendo salvação e perdição, mas diz respeito a ser grande ou pequeno,
superior ou inferior, no reino. O Senhor Jesus mostra-nos que, a menos que nos
convertamos e nos tornemos como crianças, não poderemos entrar no reino dos
céus. A seguir, o versículo 4 diz: "Portanto, aquele que a si mesmo se
humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus". O versículo
3 nos dá a condição para entrar no reino, enquanto o versículo 4 nos dá a
maneira de ser grande no reino. O versículo 3 diz que devemos converter-nos e
tornar-nos como crianças antes de poder entrar no reino, e o versículo 4 diz
que se continuarmos a ser crianças e nos humilharmos, seremos os maiores no
reino dos céus. Isso nos mostra que no reino devemos continuar da mesma maneira
que começamos. A direção que tomamos para entrar no reino deve ser a mesma para
continuar nele. Para entrarmos no reino dos céus, temos de converter-nos e
tornar-nos como crianças; e para sermos grandes no reino dos céus, temos de
continuar a ser humildes como crianças. Aqui o Senhor continua a ressaltar a
questão de sermos como crianças. Em seguida, o Senhor diz: "E qualquer que
acolher uma criança, tal como esta, por causa de Meu nome, a Mim Me
acolhe" (v. 5). Quem quer que acolha alguém como esta criança por causa do
nome de Cristo, isto é, alguém que se converte e se torna como uma criança e
continua a ser humilde como esta criança, recebe a Cristo. "Qualquer,
porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe
fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse
afogado na profundeza do mar" (v. 6). Essa palavra indica que fazer alguém
tropeçar é um problema maior do que sofrer e ser morto. Suponha que alguém o
matasse e atirasse seu corpo ao mar. Você nem mesmo seria enterrado
adequadamente, o que sem dúvida seria uma tragédia. No entanto, se você fizer
alguém tropeçar, seu destino será pior do que esse. O versículo 7 diz: "Ai
do mundo por causa dos tropeços; porque é necessário que venham tropeços, mas
ai do homem por quem vem o tropeço."
A GEENA DE FOGO NO REINO
Os versículos 1 a 7 de
Mateus 18 são palavras gerais do Senhor, e podemos mencioná-las de maneira
breve. Queremos dar maior atenção às palavras que iniciam o versículo 8. Aqui o
Senhor Jesus estende o assunto para dar ênfase que não apenas é errado fazer os
outros tropeçarem, mas até mesmo fazer tropeçar a si mesmo é questão séria e
grave. O versículo 8 diz: "Se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar,
corta-o, e lança-o de ti". A quem se refere o "ti" aqui? Nos
versículos 3 a 7, "vos" refere-se aos discípulos que fizeram a pergunta
no versículo 1. Após o Senhor Jesus responder-lhes, Ele lhes disse para serem
vigilantes e não serem tropeço para os outros. As palavras do Senhor o
versículo 8 são dirigidas às mesmas pessoas. Se sua mão ou seu pé faz com que
você tropece, é melhor cortá-los e lançá-los fora. É claro que isso não deve
ser tomado literalmente. Se as suas mãos roubam e seus pés andam por caminhos
indevidos, isto é, se existe pecado e lascívia em você, você deve lidar com
eles. "Melhor te é entrar na vida aleijado ou coxo do que, tendo duas mãos
ou dois pés, ser lançado no fogo eterno" (v. 8). O Senhor mostra-nos aqui
que se os cristãos cometerem pecados e os tolerarem, eles sofrerão: ou serão
lançados no fogo eterno com as duas mãos e os dois pés, ou entrarão na vida com
uma mão ou um pé. Há também os que não controlarão suas concupiscências e serão
lançados no fogo eterno. O fogo é um fogo eterno, mas aqui não diz que eles
permanecerão no fogo eterno para sempre. O que o Senhor Jesus não disse é tão
significativo quanto o que Ele disse. Se uma pessoa tornou-se cristã, mas suas
mãos ou pés pecam o tempo todo, ela sofrerá a punição do fogo eterno na época
do reino dos céus; ela não sofrerá essa punição eternamente, mas apenas na era
do reino. Que significa cortar uma mão ou um pé? Quando um homem corta sua mão
ou pé, ele ainda pode pecar. Se não tiver pé, ele pode andar de carro. Se uma
de suas mãos é cortada, ele ainda pode pecar com a outra mão. A intenção do
Senhor não é que cortemos a mão ou o pé, pois mesmo que cortemos uma mão, ainda
podemos não remover nossa lascívia. Portanto, esta palavra não deve referir-se
ao corpo exterior, mas à concupiscência interior. O que temos de arrancar é
aquilo que nos força a pecar. Outra coisa que temos de perceber é que a pessoa
da qual se fala aqui é um cristão, pois somente um cristão já tem todo o corpo
limpo e pode assim entrar na vida após lidar com a lascívia em um único membro
do seu corpo. Para os incrédulos não seria suficiente cortar uma mão ou um pé,
porque mesmo que eles cortassem ambas as mãos e ambos os pés, ainda assim iriam
para o inferno. A fim de entrar no reino dos céus, é melhor um cristão ter o
corpo incompleto do que ir para o fogo eterno por causa de um tratamento
incompleto. A seguir, o versículo 9 diz: "Se o teu olho te faz tropeçar,
arranca-o e lança-o fora de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho do
que, tendo dois olhos ser lançado na Geena de fogo". Isso nos mostra que
se uma pessoa salva não lida com sua lascívia, ela não será capaz de entrar na
vida, mas irá para o fogo eterno. O fogo eterno aqui é a Geena de fogo. A
Bíblia nos mostra que um cristão tem a possibilidade de sofrer a Geena de fogo.
Evidentemente, embora possa sofrer a Geena de fogo, ele não sofrerá para
sempre, mas sofrerá somente durante a era do reino. Mateus 18 não é a única
porção das Escrituras que diz isso. Em outras porções da Bíblia também há o
mesmo ensinamento. Por exemplo, no Sermão do Monte em Mateus 5-7 há palavras
claras do mesmo tipo. Mateus 5:21-22 diz: "Ouvistes que foi dito aos
antigos: Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos
digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento;
e quem disser a seu irmão: Raca, estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; e
quem lhe disser: Moré, estará sujeito à Geena de fogo". No início do
capítulo cinco, lemos que o Senhor Jesus viu a multidão, contudo Ele não
ensinou à multidão. Pelo contrário, Ele ensinou aos discípulos (v. 1). O Sermão
no Monte é para os discípulos. Portanto, aquele que insulta a outro, no versículo
22, é um irmão. Ele chama outro irmão de "Raca", que quer dizer
"imprestável" ou tolo. Quando chama seu irmão dessa forma, ele fica
sujeito à Geena de fogo. Isso não se refere a uma pessoa não-salva, pois um
não-salvo irá ao inferno mesmo que não chame ninguém de tolo. Toda vez que a
Bíblia fala sobre obras, ela se refere a alguém que pertence a Deus. Se uma
pessoa não pertence a Deus, não há necessidade de mencionar tais coisas. Aqui,
se trata de uma pessoa salva, um irmão, mas por ter ofendido a seu irmão ele
está sujeito à Geena de fogo. O versículo 23 diz: "Se estiveres
apresentando a tua oferta no altar e, ali te lembrares de que teu irmão tem
alguma coisa contra ti". Muitas vezes as pessoas guardam coisas contra nós
de propósito, e não há nada que possamos fazer sobre isso; mas se alguém se
queixar por causa do nosso insulto, devemos ser cuidadosos ao trazer a oferta
ao altar. Se pensar mal de um irmão e falar algo contra ele, você deve ir a ele
e lidar com essa questão. "Deixa ali perante o altar a tua oferta e vai
primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, vem apresentar a tua
oferta" (v. 24). O importante é reconciliar-se com seu irmão. O versículo
25 diz: "Entra em acordo sem demora com o teu adversário enquanto estás
com ele a caminho". Seu irmão é quem se queixa, e você é o réu. Agora ele
o está levando ao tribunal: "Para que o adversário não te entregue ao
juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas lançado à prisão" (v. 25). Tal
fato ocorrerá no reino. O reino será muito rigoroso. Agora direi algumas
palavras francas e sérias. Dois irmãos ou duas irmãs que estejam em discórdia
não podem estar juntas no reino. No reino vindouro, haverá somente amor e
misericórdia; apenas os que amam e têm misericórdia dos outros poderão estar no
reino dos céus. Se estou envolvido em uma discussão com um irmão, e se a
questão não for resolvida nesta era, então, no futuro, ou ambos seremos
excluídos do reino, ou somente um de nós entrará. Não será possível ambos
entrarmos. É impossível termos problemas uns com os outros e ainda reinar ao
mesmo tempo no milênio futuramente. No reino todos os cristãos serão unânimes.
Não haverá absolutamente quaisquer barreiras entre duas pessoas. Se hoje
enquanto estamos na terra, tivermos algum atrito com qualquer irmão ou irmã, se
tivermos obstáculos com qualquer irmão ou irmã, temos de ser cuidadosos. Poderá
ocorrer de nós entrarmos e o outro ser excluído, ou de o outro entrar e de nós
sermos excluídos, ou de ambos sermos excluídos. O Senhor diz que enquanto
estiver com seu irmão a caminho, você deve reconciliar-se com ele. Isso
significa que enquanto você e ele estiverem vivos e antes que o Senhor Jesus
volte, você tem de reconciliar-se com seu irmão. O Senhor não irá tolerar que
dois inimigos fiquem queixando-se um do outro no reino. Hoje podemos fazer
queixas sobre os outros com muita facilidade; mas tais queixas vão manter a
nós, ou a outros, ou a ambos, do lado de fora do reino. Parece que hoje a
igreja é muito livre, mas não será assim naquele dia. "Enquanto estás com
ele a caminho", diz o Senhor. Se você morrer, se ele morrer ou se o Senhor
Jesus voltar, esse caminho terá acabado. Portanto, você deve resolver a questão
rapidamente, antes que o Senhor volte e enquanto você e ele estão a caminho.
"Para que o adversário não te entregue ao juiz", o juiz é o Senhor
Jesus; "o juiz ao oficial de justiça", o oficial de justiça é o anjo;
"e sejas recolhido à prisão". Isso nos mostra claramente que um irmão
que tenha ofendido a outro irmão sofrerá uma punição muito severa. Se estudar
esta passagem cuidadosamente, você verá que a prisão aqui é a Geena de fogo no
versículo 22, porque o versículo 23 começa com "portanto". As
palavras do versículo 23 em diante são uma explicação das palavras do versículo
22. O versículo 22 diz que qualquer um que chame seu irmão de Moré estará
sujeito à Geena de fogo. Os versículos 23 a 25 seguem dizendo que aqueles que
não se reconciliarem com seus irmãos serão lançados na prisão. Portanto, a
prisão no versículo 25 é evidentemente a Geena de fogo do versículo 22. Está
claro que não existe possibilidade de um cristão perecer eternamente; contudo,
se um cristão tiver qualquer pecado de que não tenha se arrependido e
confessado, o qual não foi perdoado, ele estará sujeito à Geena de fogo. Note
quão severas são as palavras do Senhor no versículo 26: "Em verdade te
digo: De modo algum sairás dali, enquanto não pagares o último centavo".
Existe a possibilidade de sair, se a pessoa pagar tudo. Na era vindoura, ainda
há a possibilidade de perdão, mas a pessoa não poderá sair até que pague o
último centavo e ponha tudo em ordem com seu irmão. Os versículos 27 a 30
formam outra seção. Essa seção é semelhante à anterior. "Ouvistes que foi
dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma
mulher para cobiçar, no coração já adulterou com ela". O mandamento no
Antigo Testamento diz que não devemos cometer adultério, mas o mandamento do
Novo Testamento diz que não podemos sequer ter pensamentos adúlteros. Aqui, a
palavra "mulher", na língua original, refere-se à esposa de outro
homem. Se a mulher não fosse esposa de outro homem, não haveria possibilidade
de adultério, pois adultério é a infidelidade no casamento. Se não for a esposa
de outro homem, não pode ser considerado como adultério; é fornicação. A Bíblia
julga a fornicação, mas não tanto quanto ela julga o adultério. Aqui se diz que
um pensamento adúltero é produzido com relação à esposa de outro. Segundo, o
significado da palavra "olhar", na língua original, não é tão amplo
quanto o da nossa palavra "olhar". A palavra "olhar" na
língua original coloca muitas pessoas nesta categoria de pecado, pois ela não
implica um olhar casual, mas um olhar intencional. Olhar pode ser simplesmente
olhar de relance, de modo acidental para algo na rua. "Observar" é
uma palavra melhor, pois observar é um olhar intencional. Além disso, na língua
original o observar aqui é realizado com um propósito específico. Podemos
traduzir assim: "qualquer que observar uma mulher com intenção
impura". O que o Senhor condena não são os pensamentos repentinos que
entram na mente. Ele está lidando é com continuar observando com intenção
impura, depois que um pensamento repentino entra. Em outras palavras, nossos
pecados não residem na incitação da carne por Satanás dando-nos pensamentos
sujos. Nossos pecados consistem no observar adicional, após Satanás ter-nos
dado um pensamento repentino. Isso é adultério. Os pensamentos repentinos vêm
de Satanás. O observar vem de você mesmo. Os pensamentos repentinos são
tentações. O seu observar é a sua aceitação das tentações. Devemos saber como
distinguir essas duas coisas. O versículo 29 diz: "Se o teu olho direito
te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti". Se o seu olho direito leva-o
a observar, arranque-o e jogue-o fora. "Pois te convém que se perca um dos
teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado na Geena". Se a lascívia
não for removida, se o pecado não for tratado, a pessoa será "lançada na
Geena". Em seguida o versículo 30 diz: "E se a tua mão direita te faz
tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus
membros e não vá todo o teu corpo para a Geena". O Senhor Jesus falou
essas palavras aos discípulos. Cristo disse àqueles que Lhe pertenciam, cuja
justiça deveria exceder à dos fariseus e escribas (v. 20), que eles tinham de
tratar com seus pecados. Se permitissem que o pecado se desenvolvesse neles,
embora não fossem perecer eternamente, havia a possibilidade de que fossem para
a Geena. Isso é o que o Senhor nos mostra no livro de Mateus.
TEMER AQUELE QUE TEM AUTORIDADE PARA LANÇAR NA GEENA
Agora vejamos o que dizem
outras passagens da Bíblia acerca desta questão. Lucas 12:1 diz:
"Aglomerando-se, entrementes, as miríades da multidão, a ponto de se
atropelarem uns aos outros, pôs-se Jesus a dizer primeiro aos Seus
discípulos". Ele não falou a todos, mas aos discípulos primeiramente.
"Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia". A
palavra do Senhor aqui prova que os discípulos não são os hipócritas; eles são
o povo de Deus. A seguir, nos versículos 4 e 5, o Senhor disse: "Digo-vos,
amigos Meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem
fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei Aquele que, depois
de matar, tem autoridade para lançar na Geena". A palavra de Deus é
suficientemente clara. Ela nos diz, não uma vez, mas muitas vezes, que é
possível um cristão ser "lançado na Geena". Isso está dito claramente
aqui. O Senhor disse aos discípulos para não temerem aqueles que matam o corpo,
mas depois disso nada mais podem fazer. Eles não deveriam temer o que alguns
poderiam fazer ao corpo deles, uma vez que isso é tudo o que conseguiriam
fazer. No entanto, eles deveriam temer Aquele que pode lançá-los na Geena. Os
versículos seguintes também provam que aqui o Senhor está se referindo aos
discípulos, isto é, aos cristãos. Os versículos 6 e 7 dizem: "Não se
vendem cinco pardais por dois asses? E nenhum deles é esquecido diante de Deus.
Mas até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais; mais
valeis do que muitos pardais". Apenas os cristãos são pardais. Os
não-salvos não são pardais; eles são corvos. Em Mateus, os lírios do campo e
também os pardais referem-se aos cristãos. Os pardais não semeiam, não colhem,
nem ajuntam em celeiros (Mt 6:26). Isso se refere aos cristãos e não aos
incrédulos. Aqui se diz claramente que é possível os "pardais" de
Deus serem "lançados na Geena". Note também que é dito que os cabelos
dessas pessoas foram todos contados. Deus não teria tamanho cuidado com
incrédulos. Portanto, o que se quer mostrar aqui é que os que pertencem ao
Senhor não precisam temer o que possam fazer a seus corpos. O único a quem eles
devem temer é Deus, pois Ele tem autoridade para lançá-los "na
Geena". Devemos temer a Deus que possui a autoridade para lidar com nossa
alma, e não os que apenas podem matar nosso corpo. Os dois versículos
seguintes, 8 e 9, são muito preciosos. "Digo-vos ainda: Todo aquele que,
em Mim, Me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem, nele, o confessará
diante dos anjos de Deus; mas aquele que Me negar diante dos homens, será
negado diante dos anjos de Deus". Os cristãos podem ser divididos em duas
classes: os que confessam e os que não confessam o Seu nome. Alguns confessam
Seu nome, enquanto outros não. Alguns estão preparados para ser perseguidos,
enquanto outros não estão. Alguns só serão cristãos secretamente; são os que
desejam a glória do homem. Outros confessam o Senhor abertamente e estão
prontos a ser mártires. Portanto, vocês podem ver a quem o Senhor se refere
nesses versículos de Lucas 12. Não devemos temer qualquer sofrimento que venha
por confessar Seu nome. Se não confessamos o Seu nome, nosso pecado é mais
sério que todos os outros pecados. Conseqüentemente, Ele não confessará nossos
nomes diante dos anjos de Deus. Quando você considerar os versículos 1 a 9 como
um todo, verá que o "lançar na Geena" no versículo 5 é equivalente ao
Senhor não confessar o nome deles diante dos anjos no versículo 9. A confissão
diante dos anjos pode ser ilustrada com um exemplo. Suponha que um jovem tenha
feito algo errado e termine numa cadeia. Seus pais ou outros membros da família
podem pagar a fiança e livrá-lo do problema. Mas suponha que o jovem seja
realmente mau, e seus pais sintam que ele precisa de algum sofrimento. Como
resultado, seus pais não pagam a fiança. O mesmo ocorre com os cristãos. A não
ser que o Senhor confesse nossos nomes, seremos punidos. Há uma palavra
maravilhosa em Apocalipse 3:5: "O vencedor será assim vestido de vestiduras
brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário,
confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos". No
início do reino, antes do trono de julgamento, os anjos de Deus levarão os
cristãos até Deus. O livro da vida estará ali. No livro da vida estão
registrados todos os nomes dos cristãos. Haverá muitos anjos e muitos cristãos.
O Senhor Jesus também estará ali. Um ou mais anjos, então, lerão em voz alta os
nomes do livro da vida, e o Senhor Jesus confessará alguns dos nomes. Aqueles
cujos nomes Ele confessar, por conseguinte, entrarão no reino. Quando outros
nomes forem lidos, o Senhor não dirá nada. Em outras palavras, Ele não
confessará seus nomes. Os anjos, então, colocarão um sinal negativo nesses
nomes. Portanto, os nomes dos vencedores estarão sem marca no livro da vida,
enquanto os nomes dos derrotados estarão marcados. Quanto aos não-salvos, seus
nomes nem sequer aparecem no livro da vida. Um grupo de pessoas não terá seus
nomes no livro; outro grupo terá seus nomes ali, mas os nomes estarão marcados;
e um terceiro grupo, à época do reino, terá seus nomes preservados tal qual
quando inicialmente foram escritos no livro. Se o seu nome estiver marcado no
trono de julgamento, isso não significa que você estará acabado e não mais será
salvo. Apocalipse 20:15 diz: "E, se alguém não foi achado inscrito no
livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago do fogo". Isso nos
mostra que aqueles cujos nomes não estiverem registrados no livro da vida
estarão eternamente no lago do fogo. Aqueles cujos nomes não aparecerem no
livro da vida serão lançados no lago do fogo. Isso ocorrerá no início do novo
céu e nova terra. Não podemos dizer que os que são citados em Apocalipse 3 não
têm seus nomes escritos no livro da vida. Podemos dizer apenas que seus nomes
foram marcados. Por conseguinte, eles não serão lançados no lago do fogo, pois
seus nomes já estão no livro da vida. A salvação eterna é muito segura; ela
jamais pode ser abalada. Por outro lado, porém, há um perigo. Se formos
tolerantes com o pecado, se não perdoarmos aos outros, se cometermos adultério,
se insultarmos os irmãos, se temermos sofrer, ser envergonhados, perseguidos e
se temermos confessar o Senhor, temos de ser cuidadosos, pois Deus nos lançará
"na Geena" para sermos punidos temporariamente.
O DANO DA SEGUNDA MORTE
Na Bíblia existem outras
passagens similares que também falam destas questões. Apocalipse 2:11 nos diz
que os que vencerem não sofrerão o dano da segunda morte, e Apocalipse 20:6 diz
que um grupo de pessoas não morrerá novamente e a segunda morte não terá
autoridade sobre elas. A segunda morte é o lago de fogo citado no final de
Apocalipse 20. Isso significa que os derrotados sofrerão o dano da segunda
morte. Ainda que não sofram a segunda morte, irão sofrer o dano da segunda
morte. Uma vez que uma pessoa seja salva, ela não sofrerá a segunda morte.
Contudo isso não garante que ela não sofrerá o dano da segunda morte. Sabemos
que o tempo do lago do fogo e enxofre será o tempo no qual terá início o novo
céu e nova terra. Naquela época, Satanás, o mundo e a morte serão todos
lançados no lago do fogo (Ap 20:10, 14). Também naquele tempo quem não tiver
seu nome registrado no livro da vida será lançado no lago do fogo. Aquele será
o tempo em que os incrédulos serão oficialmente postos no lago do fogo.
Entretanto, durante o milênio, os cristãos derrotados sofrerão o dano da
segunda morte. Obviamente tal tratamento não será igual ao que os incrédulos
terão, pois não será para a eternidade. Se um cristão estiver unido ao mundo e
se ele amar o mundo e as coisas do mundo, o Senhor permitirá que ele participe
da corrupção, para sofrer um pouco daquilo que os incrédulos sofrerão. Este é o
significado de sofrer o dano da segunda morte em Apocalipse 2, e esta palavra é
dita aos cristãos. A palavra "dano" na língua original significa
machucar alguém e prejudicá-lo. A segunda morte causará sofrimento em alguns. A
partir do grande trono branco, haverá a própria segunda morte, que é o
sofrimento eterno no lago do fogo e enxofre. No milênio, porém, haverá somente
o dano da segunda morte. Se alguns cristãos não tiverem lidado com seus
pecados, eles ainda sofrerão o dano e a dor da segunda morte.
O FIM É SER QUEIMADO
Leiamos agora duas passagens
do livro de Hebreus. Hebreus 6:4-6 diz: "É impossível, pois, que aqueles
que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram
participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes
do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para
arrependimento". Esses versículos descrevem uma pessoa que possui muitas
qualificações. É impossível que ela seja uma pessoa não-salva. Ela viu a luz, e
viu o Deus revelado, o Unigênito do Pai; conheceu o amor de Deus e provou o dom
celestial, o único dom, Jesus Cristo. Na Bíblia, dons, como um substantivo
plural, refere-se aos dons do Espírito Santo, e dom, como um substantivo
singular refere-se ao único dom, o unigênito Filho de Deus, como está em João
3:16. Esse dom é diferente dos dons do Espírito Santo. Essa pessoa não apenas
tem Deus e o Senhor Jesus, mas também tornou-se participante do Espírito Santo.
Ela conhece a Deus, provou do Senhor Jesus e tem o Espírito Santo vivendo
dentro de si. Além disso, ela provou a boa palavra de Deus e os poderes da era
vindoura. Os poderes da era vindoura são os poderes do reino milenar. Os dons e
os poderes do Espírito Santo são particularmente abundantes no reino milenar. O
reino milenar será repleto de obras de poder, milagres, maravilhas e outras
coisas semelhantes. Dizer que alguém provou os poderes da era vindoura
significa dizer que ele provou as coisas do reino milenar. Portanto, esta
pessoa é definitivamente uma pessoa salva. Se tal pessoa deixa hoje a palavra
de Cristo, que ela recebeu quando creu, e escorrega e cai, não há
arrependimento para ela. Ela não pode começar tudo de novo para crer no Senhor
Jesus, pois já tem uma longa história com o Senhor. Ela recebeu muita chuva,
porém caiu, não produz mais coisas boas para Deus, mas tem produzido cardos e
abrolhos. Tal pessoa é como "a terra que absorve a chuva que
freqüentemente cai sobre ela, e produz erva útil para aqueles por quem é também
cultivada, recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos,
é rejeitada, e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada" (vs.
7-8). Perceba três coisas acerca desta pessoa e seu fim. Primeira coisa, ela é
"rejeitada". A palavra "rejeitada" aqui é a mesma usada em
1 Coríntios 9:27, onde Paulo disse que temia que embora tivesse pregado o
evangelho a outros, ele mesmo fosse desqualificado e não fosse mais usado por
Deus nesta era e no reino. Ser rejeitado, ser desqualificado, significa que
Deus rejeitará tal pessoa e não a usará mais no reino. Segunda coisa, esta
pessoa "perto está da maldição". O versículo não diz que ela receberá
maldição, mas a punição que receberá é semelhante a uma maldição. Ela não
perecerá eternamente, mas sofrerá o dano da segunda morte e padecerá a Geena de
fogo no reino. Terceira coisa, "seu fim é ser queimada". Que é isso?
Por exemplo, há algumas semanas eu quis fazer uma queimada em algumas terras em
Jen-ru. Poderia eu queimar a terra eternamente? Poderia queimar a terra pelo
menos por cinco anos? O queimar aqui se refere a algo temporário. Aqui se fala
sobre queimar, enquanto Mateus 5 diz que alguns estarão sujeitos à Geena de
fogo. Se você puser essas duas passagens juntas, elas se combinarão. Se um
cristão recebe todas essas coisas maravilhosas, mas não produz bom fruto para
Deus, e sim, cardos e abrolhos, ele será queimado. Entretanto, esse queimar
será apenas por breve tempo. Até mesmo um aluno do primário sabe que se você
atear fogo em um terreno, o fogo irá parar após todo o mato ser queimado. A
queimada no reino durará no máximo mil anos. Quanto tempo vai durar a queimada,
na verdade, dependerá de você. Se você tiver produzido muitos cardos e
abrolhos, então haverá mais queima. Se tiver produzido poucos cardos e
abrolhos, então haverá menos queima. Quantas coisas há em nós que ainda não
foram tratadas? Quantas coisas não foram limpas pelo sangue do Senhor, e
quantas coisas ainda não foram confessadas, tratadas e resolvidas com os irmãos
e as irmãs? São esses os cardos e abrolhos a que o Senhor se refere. Mateus 5
diz que ninguém poderá sair dali enquanto não pagar o último centavo. Toda
dívida terá de ser paga. Quando tudo houver sido queimado, toda dívida terá
sido paga. Um cristão é semelhante a um campo, e seu comportamento indevido é
comparado a cardos e abrolhos. Suponha que eu possua um terreno de cinco
alqueires. Seria possível, depois da queimada, que somente dois alqueires
tenham sido deixados intactos e três tenham sido queimados? Isso é impossível.
O que é queimado são os cardos e abrolhos. O terreno em si não pode ser
queimado. Em outras palavras, somente aquelas coisas que foram amaldiçoadas em
Adão e deveriam ser removidas, mas não foram, é que serão queimadas. Elas serão
o material que será queimado na Geena de fogo. A vida que Deus nos concedeu não
pode ser tocada pelo fogo. Portanto, depois que os cardos e abrolhos forem
queimados, o terreno ainda permanecerá. Nenhuma parte dele será tirada. Não há
absolutamente nenhum problema com a nossa salvação, mas sim com o que vier a
crescer sobre ela, com o que for proveniente da carne. Se tais coisas não forem
tratadas com o sangue de Jesus, deveremos sofrer algum tratamento. Agora
vejamos Hebreus 10:26-29: "Porque, se vivermos deliberadamente em pecado,
depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta
sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e
fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo
depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De
quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou
aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança". Esses versículos
referem-se a alguém que rejeitou a Cristo e voltou ao judaísmo. Ele acha que
gastando alguns dólares pode comprar um touro ou um bode como oferta pelo
pecado. Se, porém, alguém conheceu a Cristo e voltou ao judaísmo, ele calcou
aos pés o Filho de Deus e considerou Seu sangue como algo comum. Ele está
tratando o Senhor como um touro ou um bode. Para ele não existe diferença entre
o Senhor e um touro ou um bode. O versículo conclui: "E ultrajou o
Espírito da graça". Enquanto o Espírito Santo está lhe dando graça, ele O
está insultando por voltar ao judaísmo. Esses versículos nos mostram o caminho
de um apóstata. Eu não diria que tal pessoa seja salva; somente diria que pode
ser que ela seja salva; talvez nem seja salva. O apóstolo não nos diz se tal
pessoa é salva ou não. Ele diz apenas que, se uma pessoa veio a Cristo e depois
voltou ao judaísmo, ela sofrerá pior punição. Seu fim é uma expectação de juízo
e fogo vingador. Aqui vemos uma espécie de fogo. Juntamente com todas essas
passagens, temos também as próprias palavras do Senhor em João 15. O versículo
2 diz: "Todo ramo em Mim que não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá
fruto Ele o limpa". Esses não são ramos que nada têm que ver com Ele; são
ramos que estão Nele. O que é mostrado aqui, pode não referir-se à punição
temporária, mas à disciplina nesta era. Mas atente para o versículo 6: "Se
alguém não permanece em Mim, é lançado fora, como o ramo, e seca; e os apanham,
lançam no fogo, e são queimados". Alguns ramos serão lançados no fogo e
queimados. Alguns ramos cresceram e produziram folhas verdes, mas não têm
fruto. Embora tenham vida interiormente, eles não têm fruto exteriormente. O Senhor
Jesus disse que eles serão lançados fora, secarão, e queimarão no fogo. Aqui
vemos claramente que os cristãos podem ter de passar pelo fogo. Tendo lido
todas essas passagens, podemos concluir que se um cristão não lidar
adequadamente com seus pecados, haverá punição à sua espera. A Bíblia nos
mostra nitidamente que tipo de punição será. Não será uma punição comum, mas a
punição da "Geena de fogo". Contudo será o fogo no reino, não o fogo
na eternidade. A questão agora é esta: Que tipo de pecado levará a essa
condição? Desde que uma pessoa seja salva, é importante que ela lide com seus
pecados. Nenhum dos pecados que ela tenha confessado, se arrependido, tratado e
feito remissão pelo sangue do Senhor Jesus, voltará a ela no trono de
julgamento. Tais pecados terão passado. Até mesmo o maior dos pecados terá
passado. Mas existem muitos pecados que não serão omitidos; são os pecados que
alguém contempla em seu coração. O Salmo 66:18 diz: "Se eu no coração
contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido". Quais são os pecados
que o coração contempla? O coração é o lugar onde residem nosso amor e nossos
desejos. O coração representa nossa emoção. Ele representa o homem psicológico.
Se o coração contemplar a vaidade, o Senhor não nos ouvirá. Muitas confissões
são feitas só porque a pessoa sabe que pecou, não há aversão pelo pecado,
tampouco condenação do pecado. Tal pessoa o Senhor não ouvirá. Além disso, se
temos com alguém um problema que não foi resolvido, ou se há coisas que
precisam ser perdoadas e não foram, ou se procedemos mal com as pessoas ou com
o Senhor, temos de tratar com estas coisas de modo específico. Ao mesmo tempo,
temos de colocá-las debaixo do sangue do Senhor. Só então tais coisas estarão
tratadas, e estaremos livres do julgamento vindouro. RESUMO Vamos agora resumir
o que vimos. O futuro dos cristãos é muito simples. Para uma pessoa salva o
assunto do novo céu e nova terra, incluindo toda a eternidade, está resolvido.
No entanto, a era do reino é duvidosa. Ninguém ousa dizer algo sobre o que
ocorrerá. O que temos de resolver hoje é o problema do reino. No reino há
muitas posições de cristãos. Muitos reinarão com Cristo por ter trabalhado
fielmente e por ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento. Alguns podem
não ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento, contudo eles também não têm
pecados. Eles viveram uma vida limpa. Apesar de não terem feito nada que mereça
um mérito especial, eles pelo menos deram um copo de água para um pequenino por
causa do nome do Senhor (Mt 10:42). Eles também receberão uma recompensa;
entretanto, sua recompensa será bem pequena. Na era do reino, alguns cristãos
receberão recompensa no reino. Alguns receberão uma grande recompensa; outros
receberão uma recompensa pequena. Os que não receberão recompensa também estão
divididos em algumas categorias. Um grupo não entrará no reino de modo algum. A
Bíblia não nos diz para onde eles irão; diz apenas que serão mantidos fora do
reino, nas trevas exteriores (Mt 8:12; 22:13; 25:30; Lc 13:28). Eles serão
deixados fora da glória de Deus. Haverá também muitos que, além de não terem
trabalhado bem, têm pecados específicos que ainda não foram tratados. Eles são
salvos, mas ao morrer, ainda têm pecados com os quais não trataram e dos quais
não se arrependeram; eles ainda têm o problema do pecado. Esses tais serão
temporariamente submetidos ao fogo, e sairão somente depois de terem pago todo
seu débito. Eu não sei, na verdade, de quanto tempo esse período será, mas
durará no máximo até o final do reino. Ainda há muitas coisas das quais não
estamos esclarecidos acerca do futuro, mas a Bíblia mostrou-nos o suficiente.
Embora haja detalhes que ainda não vimos, nós de fato sabemos o que os filhos
de Deus enfrentarão. Alguns receberão uma recompensa; alguns experimentarão
corrupção. Alguns serão aprisionados, e outros serão lançados no fogo e serão
queimados. A questão da nossa salvação está muito clara. Quando um homem crê no
Senhor Jesus, tanto a salvação como a vida eterna estão determinadas para ele.
Mas, da salvação até sua morte, as obras de uma pessoa, isto é, seus fracassos
ou suas vitórias, determinarão seu destino no reino. Nosso Deus é um Deus
justo. Por um lado, nossa salvação é livre, e os que crêem terão vida eterna.
Ninguém pode contrariar esse fato. Por outro lado, não podemos pecar à vontade,
simplesmente porque recebemos a vida eterna. Se produzirmos cardos e abrolhos,
seremos queimados. Se o Senhor Jesus não pode desligar-nos de nossos pecados e
se não resolvermos todas as coisas em nossa vida, Deus não terá escolha a não
ser castigar-nos no futuro; Ele não terá escolha, senão purificar-nos com
punições específicas, de maneira que possamos estar juntos com Ele no novo céu
e nova terra. Deus é um Deus justo. O que Ele preparou também é justo. Desde
que tenhamos visto estas coisas, devemos aprender a lição e acatar as
advertências de Deus.
A ATITUDE ADEQUADA AO LER A BÍBLIA
Com relação à maneira de
estudar a Bíblia, eu gostaria de mencionar algumas coisas. Primeiro, há um
grupo de pessoas que acredita apenas na graça. Sempre que lêem alguma coisa
sobre o reino na Bíblia, eles a aplicam aos judeus. Se ouvir seus sermões e ler
seus livros, perceberá que, invariavelmente, eles empurram para os judeus tudo
o que se refere ao reino. Tudo o que se refere à graça é para a igreja, e todas
as coisas terríveis são para os judeus. Para eles, todas as coisas penosas e
difíceis e as exigências são para os judeus, não para nós. Isso é tolice. A
Palavra de Deus é para Seus filhos, quer sejam judeus quer sejam gentios.
Alguns dizem que Paulo nunca disse especificamente que suas epístolas foram
escritas a gentios e, portanto, elas não são para os gentios. Contudo, esse
tipo de explanação nada explica e mutila a Palavra de Deus. Outros dizem que as
porções das Escrituras citadas anteriormente referem-se somente aos incrédulos.
Mas como pode existir distinção entre vencedores e não vencedores dentre os
pecadores? Isso é conversa tola. A Palavra de Deus nos mostra essas questões de
forma clara e definida. Devemos comer aquilo que Deus nos tem dado, quer seja
doce quer seja amargo. Quando as pessoas ouvem sobre graça, elas ficam alegres;
quando ouvem sobre o reino, ficam tristes. A Palavra, porém, é equilibrada. Por
um lado, vemos graça; por outro lado, vemos justiça. Existe a fábula da águia e
o gato. Certa vez um gato encontrou uma águia. A águia disse ao gato: "O
céu é realmente vasto. Ele tem isso e aquilo. Você quer que eu o leve para o
céu?" O gato disse: "Não, eu não tenho interesse em ir para lá".
Quando a águia perguntou por que não, o gato disse: "Não há camundongos no
céu. Se houvesse camundongos lá, eu iria. Mas uma vez que não há, eu não
irei". O céu é tão santo; o pecado, o mundo e Satanás não estão ali. Se
Deus levá-lo ao céu, você será capaz de viver ali? Se não mudarmos hoje, nós
teremos de esperar até que sejamos dignos de entrar nele. É verdade que o
Senhor Jesus nos salvou, mas subjetivamente falando, se não permitirmos que o
Espírito Santo trabalhe o Senhor Jesus em nosso interior, Deus terá de nos
castigar para que possamos receber benefício e ser considerados dignos de estar
com Ele. Se apenas pregarmos a graça sem pregar o reino, a igreja sofrerá e os
filhos de Deus sofrerão; e quando o reino vier, haverá sofrimento ainda maior.
Eu devo falar, porquanto tenho o dever de falar. Admito que depois do meu falar
nestes poucos dias, alguns aumentarão sua oposição contra mim. Se estas
palavras são minhas, estou disposto a vê-los se oporem. Eu mesmo me oporia a
elas. Contudo, se estas coisas são a Palavra de Deus e se Deus as tem dito, que
posso eu fazer? Como desejaria não ter de falar sobre essas coisas. Como
desejaria poder pregar algo que todos gostassem de ouvir. Eu não sou Mateus,
não sou Marcos, não sou Paulo. Não escrevi o livro de Hebreus, e não escrevi
Apocalipse. Se eu fosse o escritor, poderia mudar as coisas. Mas essas coisas
são a Palavra de Deus. Deus tem-nas falado e tem determinado que elas sejam
assim. Meus amigos, ao ler a Bíblia, vocês têm de ler aquilo que Deus disse.
Vocês não devem considerar aquilo que o homem diz. Vocês devem cuidar somente
do que Deus disse. A maior dificuldade hoje ao estudar a Bíblia reside no
preconceito na mente dos filhos de Deus. Eles têm aquilo que consideram como
verdade e aquilo que consideram como heresia. Eles acham que tudo o que combina
com eles é verdade, e tudo o que não combina com eles e difere deles é heresia.
Não obstante o quanto a base seja bíblica, qualquer pensamento ou conceito
contrário ao deles é considerado heresia. Mas se alguém tem tal atitude, tal
pessoa está acabada. O que está em questão hoje é aquilo que Deus disse. Estou
alegre em meu coração porque posso pregar a "heresia" da Palavra de
Deus e posso opor-me à "verdade" do ensinamento do homem. Hoje temos
de estar esclarecidos diante do Senhor. Não podemos estar sob nenhuma outra
autoridade que não seja a Palavra de Deus. Não conheço nenhuma outra
autoridade. Não sei o que é teologia; não sei o que é a palavra do homem; não
sei o que é a tradição da igreja. Eu sei apenas o que a Bíblia diz, e somente o
que ela diz é que interessa. Devemos sujeitarmos somente a ela. Não podemos
mudar a Palavra de Deus. A Palavra de Deus relata-nos o destino de Seus filhos.
Ela nos conta o que experimentaremos no reino. Devemos prestar atenção a estas
questões, pois cedo ou tarde nos depararemos com elas novamente. Se dermos
atenção a elas, seremos cuidadosos na maneira de viver na terra hoje. A segunda
coisa que devemos perceber é que somente os que compreendem a verdade podem
opor-se à heresia. Uma heresia não pode opor-se a outra heresia. Mas todas as
heresias não são heresia pura; elas são a verdade acrescentada de um pequeno
erro. Heresia é acrescentar coisas erradas a coisas certas. Adicione um pouco
do pensamento do homem ao pensamento de Deus e você terá uma heresia. Por não
conhecer plenamente a verdade na Bíblia, o catolicismo prega a doutrina do
purgatório. Se você não conhece a verdade que temos liberado nas últimas
reuniões, você não será capaz de dizer se a doutrina do purgatório está certa
ou errada. Agora que você ouviu essas palavras, perceberá que a doutrina do
purgatório está absolutamente errada. Você pode dizer que é heresia. Na Bíblia
vemos que a disciplina de Deus sobre os cristãos ocorre no milênio, mas os
católicos dizem que há um purgar ocorrendo hoje. Eles dizem que se um cristão
não viver à altura do padrão na terra hoje, ele não será capaz de ir para o
céu. Por conseguinte, ele terá de ser purgado. Portanto, eles dizem que tão
logo um cristão morra, ele começa a ser purgado e é purgado até que a obra seja
completada. Entretanto, não existe absolutamente tal ensinamento na Bíblia. A
Bíblia nunca diz que assim que um cristão morre, ele será purgado no Hades. A
Bíblia nos mostra que haverá a disciplina no reino no futuro, mas não há o
purgar no Hades hoje. Em segundo lugar, os católicos cometem outro grave
engano. Eles pensam que se assegurarem para si mesmos indulgências enquanto
estiverem vivos ou se após morrerem os padres orarem por eles, eles serão
aliviados de alguma purificação do purgatório. Contudo, a Bíblia nunca diz algo
semelhante a isso. A Bíblia diz somente que aquele que tem misericórdia dos
outros obterá misericórdia. A oração dos padres não fará nada pelos mortos. A
Bíblia nunca nos ensina a orar pelos mortos. Em terceiro lugar, os católicos dizem
às pessoas que um homem não será salvo até que tenha sido completamente
purificado no purgatório. Isso é uma completa reviravolta do ensino da Bíblia.
A Bíblia nos mostra que não há outro nome no céu ou na terra além do nome do
Senhor Jesus pelo qual devamos ser salvos (At 4: 12). Somente Ele pode
salvar-nos. Fora do Senhor Jesus, não há salvação. Disciplina e punição não são
para salvação, mas para santificação. A questão da nossa salvação está
determinada bem antes de Deus disciplinar-nos, mas ainda há coisas em nós que
não combinam com Ele. Ainda existem imperfeições e áreas que não estão à altura
do padrão. Portanto, existe disciplina nesta era e disciplina no reino
vindouro. Uma vez que uma pessoa esteja clara sobre a verdade bíblica, ela verá
heresia no catolicismo romano. A Igreja Católica Romana toma uns poucos
versículos e os utiliza para seu próprio proveito. No entanto, se conhecermos a
verdade bíblica, perceberemos que a doutrina do purgatório anula a graça.
Agradeço a Deus que, embora eu seja um pecador imundo, por meio do Senhor Jesus
agora estou salvo. Quando eu morrer, não tenho mais de ser purgado, pois a
salvação não depende de mim, mas do Senhor Jesus. Certamente estou salvo. Agora
sabemos o que é disciplina. A disciplina é o meio de Deus fazer-nos perfeitos
como Ele é perfeito. Ele nos castiga a fim de sermos como Ele, até mesmo para
sermos o que Ele é. Isso nada tem a ver com nossa salvação. É um assunto dentro
de Sua família. Finalmente, somente depois de conhecermos isso seremos capazes
de lidar com a heresia no protestantismo. Hoje, entre os protestantes, estão
sendo difundidos dois tipos de erros. Primeiro, um grupo de teólogos
protestantes propõe que desde que um homem é "salvo, salvo para
sempre", e pode fazer qualquer coisa em sua conduta. Uma vez que um
cristão é salvo eternamente, eles dizem, ele pode ser mau até morrer e ainda
estará no reino. Ele, entretanto, ocuparia uma posição bem inferior no reino.
Sua maior perda consiste em ocupar uma posição mais baixa no reino. Esse tipo
de ensinamento fará com que o homem seja desleixado e irresponsável. Então, que
é graça para eles? Para eles a graça é uma desculpa para desleixo e
licenciosidade. Há outro grupo de protestantes que diz que depois que uma
pessoa crê, ainda existe a possibilidade de ela não vir a ser salva. Talvez ela
esteja salva e não-salva três ou quatro vezes ao dia. Se esse fosse o caso, o
livro da vida seria sem dúvida muito confuso. Um irmão certa vez disse que se
não estamos eternamente salvos assim que cremos, então o livro da vida seria
extremamente volumoso. O meu nome sozinho poderia ser apagado e inserido muitas
e muitas vezes. Se um homem é condenado tão logo peque e se vai para o inferno
tão logo transgrida, devemos questionar se a salvação é pela graça ou pelas
obras. Ambos os grupos são extremistas demais, muito embora ambos tenham sua
base bíblica. A Bíblia claramente nos mostra que quando um homem é salvo, ele
está eternamente salvo. A Bíblia também nos revela com clareza que é possível
um cristão ser "lançado na Geena" temporariamente. Mas o problema é
que alguns irmãos, por um lado, insistem que a salvação é eterna e não há tal
coisa de disciplina no reino, enquanto outros irmãos, por outro lado, insistem
que se podemos ser "lançados na Geena", então a vida eterna é incerta
e, portanto, podemos ir para a perdição eterna. Contudo, se virmos a diferença
entre a era do reino e a eternidade, e a diferença entre a punição temporária
do milênio e a punição eterna, nós estaremos esclarecidos de que um cristão pode
receber punição no futuro, mas ao mesmo tempo, Deus tem dado a vida eterna às
Suas ovelhas, e elas jamais poderão perdê-la. Esse conhecimento dá-nos a
ousadia de dizer que uma vez que fomos salvos, estamos eternamente salvos.
Depois que uma pessoa é salva pela graça, ela jamais perecerá novamente. Dessa
forma, nós não somente resolvemos adequadamente o problema do purgatório do
catolicismo, como também fizemos uma clara distinção entre salvação eterna e
disciplina. Que o Senhor nos conceda graça e nos mostre que a questão da
salvação eterna está resolvida devido à obra de Jesus de Nazaré, mas a situação
de alguém no reino é determinada pela própria pessoa.