A Existência de Deus
1.1 INTRODUÇÃO
É praticamente impossível à mente humana, limitada que é, alcançar a compreensão do que é
Deus, em toda sua extensão e perfeição, e assim formular uma definição do que
Ele seja. Deus é infinito em todos os sentidos e, desta forma, toda tentativa
de explicá-Lo de maneira compreensível ao homem é ainda muito inferior (mas não
inútil) àquilo que Ele realmente é.
Entretanto, foi e é, da vontade de Deus, que o homem, obra máxima de sua criação e refletora de Sua
Pessoa, O conheça, ainda que por agora de forma limitada. Portanto, Deus
providenciou formas para que o homem pudesse conhecê-Lo e ter relacionamento
com Sua Pessoa.
Qualquer esforço do homem para definir Deus
sempre será incompleto e muito distante de revelar quem Ele é, por isso a
própria Escritura diz em Isaías 55:8-9:
“Porque os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque
assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos
mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que
os vossos pensamentos”.
Então, por não podermos compreender apenas pela
razão o que é esse Ser Extraordinário, chamado de Deus e Senhor, devemos pensar
como Agostinho:
“Creio, para que possa compreender”.
Assim, o conhecimento de Deus se inicia pela fé,
como ensinou Paulo aos Romanos (10:17):
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela
Palavra de Deus”.
E essa fé é a ligação do homem com a
espiritualidade de Deus, ou seja, a única forma de se entrar em contato com o
mundo de Deus, melhor, a dimensão onde Deus está, é mediante a fé, por isso
está escrito em Hebreus 11:1:
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam, e a prova das coisas que se não veem”.
Desta maneira, a compreensão de Deus é feita de
modo espiritual, e não apenas por meio dos sentidos naturais do homem (aquilo
que se vê, se ouve, se toca, se saboreia e cheira).
De modo que a compreensão de Deus se inicia e se
sustenta pela fé, mas é aperfeiçoada pelo conhecimento, podendo evoluir para experiências naturais com Deus, tais como ouvir a própria
voz de Deus, como Isaías e os demais profetas, ver o Mar
Vermelho se abrir, como o povo hebreu no deserto, receber os Dons do
Espírito Santo, como os discípulos no Pentecostes, e muitas outras experiências
que ainda hoje são possíveis. E é isso que a Escritura declara em Hebreus 11:6:
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é
necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é
galardoador dos que o buscam”.
Portanto, para que se compreenda Deus é
necessário que se creia que Ele existe, o que só então possibilitará ao homem
conhecê-Lo, aproximar-se e ter experiências naturais com Ele.
Nesse ponto, citando o pastor e teólogo John
Owen, podemos tentar conceituar Deus como:
“Um ser eterno, não causado, independente,
necessário, que tem poder ativo, vida, sabedoria, bondade e qualquer outra
excelência na mais elevada perfeição em si e de si mesma”.
E ainda, na definição do teólogo Augustus Hopkins
Strong:
“Deus é o Espírito infinito e perfeito, em quem
todas as coisas têm sua fonte, sustento e fim”.
1.2 A CONSCIÊNCIA NATURAL DA EXISTÊNCIA
DE DEUS
Primeiramente, é importante termos em mente que a
existência do homem está totalmente vinculada à existência de Deus. De maneira
que a existência do homem prova a existência de Deus (essa afirmação é melhor
explicada no item 1.3).
Assim, partimos do princípio que o homem já nasce
com a consciência da existência de um ser superior, ou seja, de um “deus”, por
isso se diz: “consciência natural”.
Em todos os lugares do mundo, o ser humano é
apegado à ideia da existência de um ser supremo (deus), que cuida da existência
do homem, do tempo e de toda a natureza. Isso se comprova na análise de todas
as civilizações que já existiram na Terra, tanto aquelas estudadas na História:
babilônicos, assírios, egípcios, gregos, como também os povos que foram
recentemente descobertos: incas, astecas, maias e outras culturas indígenas, as
quais cultuavam um ou vários deuses.
É bom lembrarmos que entre os gregos, os quais o
apóstolo Paulo visitou em sua viagem missionária (At. 17:23) haviam inúmeros
deuses e entidades sobrenaturais, contudo, havia um altar, ao DEUS
DESCONHECIDO, não porque os gregos pensavam ter esquecido de algum
deus, mas devido a saberem (intuitivamente)
acerca da existência de um ser superior a tudo que eles conheciam até então, o
nosso Deus e Senhor Jesus Cristo.
Fato é que, em todos os lugares, e em todas as
épocas, o homem cultuou a um “deus”, possuidor de características superiores às
dele próprio, seja esse ser um “deus” humanizado, difuso ou etéreo,
personificado na natureza, manifestado em eventos e circunstâncias acima do seu
poder de explicação. O homem carrega dentro de si algo que o impele à um
conhecimento extremamente elevado, chamado fé.
E por que o homem possui essa consciência natural
da existência de Deus?
Em Gênesis. 2:7, está escrito:
“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e
soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”.
Com base nesse texto, percebemos que no ato da
criação do homem, Deus depositou dentro do homem parte de Sua própria natureza,
isto é, a vida (Deus, que é vida – Jo.14:6 e I Jo. 1:2 – colocou dentro de sua
nova criatura, o homem, a vida), inserindo no homem o conhecimento da Sua
existência.
Logo, é natural a consciência da existência de
Deus ao homem, pelo fato de sua própria formação ter decorrido da operação de
Deus. É o mesmo que ocorre na vida de uma criança separada de seu pai: ainda
que essa criança jamais o tenha visto, ou possuído qualquer contato com seu pai
biológico, ela possuirá características que a identificará com ele, porque
carrega em si semelhanças com esse pai: cor dos olhos, temperamento, forma
física, e muitas outras afinidades, que a fará semelhante a esse pai – e ainda,
ninguém falará que pelo pai dessa criança não estar perto e ser conhecido
objetivamente por todos, não exista.
A Bíblia concorda com esse exemplo, ao apresentar
o homem como criado “a imagem e semelhança de Deus”, no livro de Gênesis 1:26:
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança(…)”.
O escritor Robert Browning expressa a certeza da
existência natural de Deus de forma clara:
“Eu sei que Ele está ali, como eu estou aqui, com
a mesma prova, que parece não provar nada, e isto vai além das formas
familiares de prova.”
Desse modo, é natural a consciência no homem da
existência de Deus, pois o homem carrega dentro de si mesmo, ainda que em uma
proporção muito menor, características e atributos que o próprio Deus possui
(bondade, amor, sabedoria, justiça, veracidade).
1.3 A LIMITAÇÃO HUMANA
A existência de Deus é conhecida pelo homem
quando, apesar das suas limitações, fraquezas e mortalidade, consegue conceber
a ideia de um ser ilimitado, perfeito e eterno. Partindo desta ideia
apresentaremos três argumentos acerca da existência de Deus:
1 – O Argumento
Ontológico, de Anselmo de Cantebury,
2 – Os Cinco Argumentos em Prol da
Existência de Deus, de Tomás de Aquino, e
3 – Deus Como Expressão Máxima das
Virtudes Humanas.
1.3.1 O ARGUMENTO ONTOLÓGICO
Um dos argumentos mais sólidos, no campo filosófico,
para sustentar a existência de Deus, é o Argumento Ontológico (Ontologia: ramo
da filosofia que estuda a existência e a constituição do ser), defendido por
Anselmo de Cantebury, no século XI.
Na tentativa de ajudar o homem a se aproximar de
Deus, Anselmo criou um argumento em favor da existência de Deus através da
razão, onde nenhum engano fosse capaz de distorcer essa existência. O argumento
de Anselmo é este:
“Por definição, Deus é o mais perfeito dos seres,
de tal modo que é impossível conceber outro ser mais perfeito; porém, se
supuséssemos que Deus existe apenas como uma proposta intelectual, e não na
realidade, então seria claro, por Deus existir verdadeiramente somente no
intelecto (mente humana), que seria possível imaginarmos um ser mais perfeito
do que o nosso ser perfeito (Deus), a saber, um que existisse na realidade e
não apenas no intelecto. Portanto, Deus, o ser perfeito – deve realmente
existir”.
Deste modo, o homem pode concluir pela existência
de um Ser Supremo (Deus), pois seu intelecto e sua experiência natural lhe
mostram que ele – homem – é limitado, o que o leva a ter certeza que acima dele
deve haver um Ser Perfeito, ilimitado e completo, que quando o homem deixa de
existir, continua existindo e sustentando todo o sistema do universo, como o
Apóstolo Paulo afirma em Atos 17:28:
“Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos
(…)”
E ainda é assegurado em Hebreus 1:3, que o
próprio Deus sustenta todas as coisas pela Palavra do Seu poder:
“O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a
expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do
seu poder (…)”
1.3.2 OS CINCO ARGUMENTOS EM PROL DA
EXISTÊNCIA DE DEUS
Tomás de Aquino foi um dos maiores filósofos
cristãos, que defendeu a existência de Deus no século XIII, utilizando-se da
metafísica (que é o ramo da filosofia que estuda a essência dos seres e a
transcendência, ou seja, aquilo que ultrapassa os aspectos físicos e busca a
causa deles), apoiando sua doutrina através de cinco argumentos de razão pura.
Os cinco argumentos são:
1 – O Movimento: Todas as coisas no universo
estão em movimento, ou seja, em contínuo desenvolvimento. Contudo para que
saiam do estado de inércia (ausência de movimento), para o estado de ação, deve
haver uma força capaz de proporcionar a ação. Por exemplo: Uma bola de futebol
se movendo. O pé do jogador a colocou em movimento. O jogador foi gerado de sua
mãe. E sua mãe nasceu de sua avó, e esta de sua bisavó, e assim
regressivamente.
Se fôssemos voltando até encontrar o primeiro
movimento, que retirou a bola da inércia e a colocou em movimento (ação), nunca
o encontraríamos, pois sempre existiria um movimento anterior, até o ponto em
que fosse impossível chegar ao primeiro movimento (ou alteração), por essa
razão, precisamos apontar um primeiro movimentador (alterador), que não é
movido por ninguém, mas que movimenta todas as coisas, e todos compreendem que
este é Deus.
2 – As Causas Eficientes: Nesse mundo palpável,
todas as coisas existentes possuem uma causa anterior de existir, que deve ser
maior do que a própria causa. Por exemplo: Um carro viajando por uma estrada. É
impossível imaginar um carro existindo sem que haja uma fábrica que o produziu
(a fábrica é a causa eficiente, que produziu o carro) e da mesma maneira é
impossível imaginar uma estrada que não tivesse sido construída por alguma
empresa construtora (a empresa construtora é causa eficiente, que construiu o
carro).
Não há nenhum caso conhecido no mundo em que uma
coisa qualquer é a causa eficiente de si mesma, pois nesse caso, seria anterior
a si mesma, o que é simplesmente impossível. Como no nosso exemplo é impossível
imaginar que o carro e a estrada existam por si mesmos, isto é, sem uma causa
eficiente.
Assim, se retrocedermos, causa por causa, até o
infinito, teremos que admitir uma primeira causa eficiente (que produz de si
mesma), à qual todos damos o nome de Deus.
3 – A Possibilidade e a Necessidade: Na
observação da natureza, podemos encontrar coisas que são possíveis de ser e não
ser, de modo que, dependendo da circunstância algo é possível, e em outras
situações não é possível. Por exemplo: É possível a um homem, em condições
climáticas normais, colocar fogo em um arbusto, mas caso esteja chovendo muito,
isso não é mais possível. Entretanto, se parar de chover, torna-se possível ao
homem atear fogo no determinado arbusto. Então, podemos dizer em nosso exemplo,
que enquanto estiver chovendo, não existe fogo no arbusto (não ser), ao passo
que, terminada a chuva e colocado o fogo pelo homem, o arbusto se incendeia
(ser).
Dessa maneira, todas as coisas dependem da
possibilidade de ser, pois caso não haja a possibilidade para determinada coisa
de ser, ela não será, isto é, não existirá.
Podemos falar agora da necessidade. Para que
alguma coisa seja possível de ser, deve haver algo capaz de fazer possível que
determinada coisa seja. Esse algo capaz de fazer alguma coisa ser, então, é
algo necessário, sem o qual não seria possível para a coisa ser.
No exemplo acima, a não existência de chuva
forte, faz o fogo no arbusto ser. Se fôssemos retroceder a todas as coisas
necessárias para que o arbusto pegasse fogo, voltaríamos até o infinito, pois o
ato de colocar fogo no arbusto faz parte de uma cadeia sequencial de atos
(necessidade) até que seja possível colocar fogo no arbusto (arbusto seco –
arbusto – nascimento do arbusto – semente do arbusto – terra para plantar o
arbusto, e assim até o infinito).
Assim, não podemos deixar de admitir a existência
de algo que tem em si mesmo sua própria possibilidade e necessidade, não as
tendo recebido de nenhum outro, mas antes, esse algo é a causa necessária e da
possibilidade de tudo mais ser. A esse algo, todos os homens chamam de Deus.
4 – A Gradação: Em todos os seres, podemos
encontrar um determinado sistema de gradação entre eles, isto é, alguns que são
mais e outros que são menos bons, amáveis, sinceros, nobres. Porém essas
gradações (de mais ou menos) são atribuídas a diversas coisas na medida em que
elas se parecem com algo que é o máximo. Por exemplo: Dizemos que alguém é mais
nobre, mais amoroso, mais misericordioso, em relação àquele que é nobre,
amoroso e misericordioso.
O máximo, dentro de qualquer gênero, é a causa de
tudo quanto existe nesse gênero. Assim, deve haver algo que, para todos os
seres, é a causa do ser de todos eles, de sua bondade e de todos os seus outros
atributos, e a esse algo graduado no nível máximo, chamamos de Deus.
5 – O Governo e a Finalidade: A quinta maneira de
se provar a existência de Deus se baseia no governo e na finalidade
(teleologia) inteligente do mundo, isto é, as coisas existentes, não estão no
mundo aleatoriamente dispersas, mas possuem uma utilidade, e ainda além dessa
utilidade, possuem uma finalidade. Por exemplo: A erva cresce, se torna
alimento da ovelha, e esta se transforma em alimento e vestimenta para o ser
humano.
Entretanto esse argumento vai muito além de
mostrar uma cadeia simples de governo e finalidade (erva – ovelha – homem): Ele
revela a inter-relação perfeita de todas as coisas no mundo. Assim, todas as
coisas naturais foram ordenadas a se comportar de uma determinada forma
(governo), para atingirem um objetivo também previamente estabelecido
(finalidade).
Ora, é impossível para coisas irracionais se
dirigirem a uma finalidade, a menos que sejam orientadas por algum ser dotado
de conhecimento e inteligência, tal como a flecha não pode atingir um alvo se
não for orientada pelo lanço de um arqueiro. Portanto, existe algum ser por
meio do qual todas as coisas naturais são dirigidas (governadas) às suas
respectivas finalidades (pré-determinadas por Ele). E a esse ser chamamos de
Deus.
1.3.3 DEUS COMO EXPRESSÃO MÁXIMA DAS VIRTUDES
DO HOMEM
O homem é o ápice de toda criação que há no
mundo. Não há nenhuma coisa ou ser que se compare a ele em domínio, finalidade,
vontade ou potencial.
Existem coisas que são maiores ou mais poderosas
que ele, mas o homem tem a capacidade de dominar a todas: desde o corte de
árvores gigantescas, até o redirecionamento de rios inteiros ao seu querer.
Muitos seres são mais ágeis e resistentes que o homem, contudo, tanto os
grandes felinos, como o tigre e o leão, quanto as imensas baleias são
facilmente dominadas pela capacidade do homem. Todas essas condições foram
presenteadas ao homem, por Deus, conforme Gênesis 1:28:
“E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai
e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do
mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo animal que se move sobre a terra.”
Entretanto, o ser humano possui virtudes que vão
muito além daquelas que são aplicadas às aptidões físicas ou intelectuais: Ele
possui virtudes de caráter, que são inconciliáveis com qualquer instinto e
lógica natural, ou seja, o indivíduo humano externa determinadas atitudes que
contrariam o instinto de autopreservação ou de prazer próprio.
Por exemplo, o homem é capaz de atos de extrema
bravura e nobreza, ao entrar em locais em chamas para salvar a vida de seus
semelhantes, e isso sem receber nenhuma retribuição, ou ainda, é capaz de
renunciar honras a sua própria pessoa para reconhecer que outros fizeram um
melhor trabalho que ele, e por isso são mais dignos de receberem as honras que
lhe são prestadas.
Muitos outros exemplos poderiam ser apontados,
mas esses já bastam para concluirmos que o homem possui, como nenhuma outra
coisa ou ser, virtudes morais, que o determinam a definidas atitudes que não
são nem instintivas, tampouco apenas intelectuais.
Pensando sobre a possibilidade de se provar a
existência de Deus, um grande filósofo moderno (séc. XVIII), chamado Immanuel
Kant, através de várias obras no campo da filosofia – ora assumindo a
existência de Deus (História Geral da Natureza), ora a criticando (Crítica da
Razão Pura) – construiu um sistema que o levou a concluir, em sua obra O Único
Argumento Possível para a Existência de Deus, que é possível se provar a
existência de Deus através da finalidade moral que o homem possui. Kant entende
que o homem é um ser dotado de uma razão que é prática, isto é, que é capaz de
agir intencionalmente. Isso significa que o homem possui a capacidade de dar
uma finalidade às suas atitudes, independentemente de seu instinto (algo
semelhante ao livre-arbítrio, ainda que apenas em parte).
Logo, se pela finalidade natural (ver Item 1.3.2
Os Cinco Argumentos em Prol da Existência de Deus, de Tomás de Aquino) já era
provável a conclusão de uma causa inteligente do mundo (Deus), muito mais
acertado é deduzir a existência de Deus, tomando-se por base a finalidade
moral do ser humano, ou seja, se o homem é moral,
Deus é a causa máxima da moralidade do homem, e além disso, é um legislador
moral do mundo.
E isso se dá em virtude do homem possuir, em si,
da mesma substância de Deus (evidentemente apenas em parte, e outorgada a ele,
mas não como dele próprio), pois Dele foi derivado, de acordo com Gênesis
1:26-27 e 2:7:
“E disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem,
conforme a nossa semelhança (…). E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou (…). E formou o Senhor Deus o homem do pó
da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma
vivente.”
Assim, todas as virtudes do homem (bondade, amor,
nobreza, simplicidade, generosidade, etc) devem possuir uma fonte que é a
geradora de todas elas, ou seja, que é o grau de virtude máxima, de forma que
ao valor moral mais sublime dá-se o nome de Deus.
1.4 CONCEITUAÇÕES ECLESIÁSTICAS DE DEUS
NA FÉ PRÁTICA REFORMADA
1.4.1 A CONCEITUAÇÃO LUTERANA DE DEUS –
Confissão de Fé Alemã (Augsburgo) de 1530, por Philipp Melanchthon.
Em primeiro lugar, ensina-se e mantém-se,
unanimemente, de acordo com o decreto do Concílio de Nicéia, que há uma só
essência divina, que é chamada Deus e verdadeiramente é Deus. E todavia há três
pessoas nesta única essência divina, igualmente poderosas, igualmente eternas,
Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, todas três
uma única essência divina, eterna, indivisa, infinita, de incomensurável poder,
sabedoria e bondade, um só criador e conservador de todas as coisas visíveis e
invisíveis. E com a palavra persona se entende não uma parte, não uma propriedade
em outro, mas aquilo que subsiste por si mesmo, conforme os Pais usaram esse
termo nessa questão.
Rejeitam-se, por isso, todas as heresias que são
contrárias a esse artigo, como os maniqueus, que afirmaram a existência de dois
deuses, um bom e um mau; também os valentinianos, arianos, eunomianos,
maometanos e todas as similares, também os samosatenos, os antigos e os novos,
que afirmam uma só pessoa e sofismam acerca do Verbo e do Espírito Santo,
dizendo não serem pessoas distintas, porém que Verbo significa palavra ou voz
física, e que o Espírito Santo é movimento criado em suas criaturas.
1.4.2 A CONCEITUAÇÃO PURITANA DE DEUS –
Confissão de Fé Escocesa de 1560, por John Knox e outros.
Confessamos e reconhecemos um só Deus, a quem,
só, devemos apegar-nos, a quem, só, devemos servir, a quem, só, devemos adorar
e em quem, só, devemos depositar nossa confiança (Dt. 6:4. I Co. 8:6. Dt. 4:35.
Is. 44:5-6.). Ele é eterno, infinito, imensurável, incompreensível, onipotente,
invisível (I Tm. 1:17. I Rs. 8:27. II Cr. 6:18. Sl. 139:7-8. Gn. 17:1. I Tm.
6:15-16. Êx. 3:14-15); um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o
Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt. 28:19. I Jo. 5:7). Cremos e confessamos
que por ele todas as coisas que há no céu e na terra, visíveis e invisíveis,
foram criadas, são mantidas em seu ser, e são governadas e guiadas pela sua
inescrutável providência para o fim que determinaram sua eterna sabedoria,
bondade e justiça, e para a manifestação de sua própria glória (Gn. 1:1. Hb.
11:3. At. 17:28. Pv. 16:4).
1.4.4 A CONCEITUAÇÃO PRESBITERIANA DE DEUS –
Confissão de Fé de Westminster de 1647.
Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é
infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem
corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível,
-onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo
tudo para a sua própria glória e segundo o conselho da sua própria vontade, que
é reta e imutável. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo,
muito bondoso e verdadeiro remunerador dos que o buscam e, contudo, justíssimo
e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado; de modo algum terá por
inocente o culpado.
Deus tem em si mesmo, e de si mesmo, toda a vida,
glória, bondade e bem-aventurança. Ele é todo suficiente em si e para si, pois
não precisa das criaturas que trouxe à existência, não deriva delas glória
alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre
elas. Ele é a única origem de todo o ser; dele, por ele e para ele são todas as
coisas e
sobre elas tem ele soberano domínio para fazer
com elas, para elas e sobre elas tudo quanto quiser. Todas as coisas estão
patentes e manifestas diante dele; o seu saber é infinito, infalível e independente
da criatura, de sorte que para ele nada é contingente ou incerto. Ele é
santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras e em todos os
seus preceitos.
Da parte dos anjos e dos homens e de qualquer
outra criatura lhe são devidos todo o culto, todo o serviço e obediência, que
ele há por bem requerer deles.
1.4.5 A CONCEITUAÇÃO BATISTA DE DEUS –
Confissão de Fé Batista de 1689.
O Senhor nosso Deus é somente um, o Deus vivo e
verdadeiro (I Co.8: 4,6. Dt.6:4), cuja subsistência está em si mesmo e provém
de si mesmo (Jr.10:10. Is.48:12); infinito em seu ser e perfeição, cuja
essência por ninguém pode ser compreendida, senão por Ele mesmo (Êx.3:14).
Ele é um espírito puríssimo (Jo.4:24), invisível,
sem corpo, membros ou paixões; o único que possui imortalidade, habitando em
luz inacessível, a qual nenhum homem é capaz de ver I Tm.1:17. Dt.4:15-16);
imutável (Ml. 3:6), imenso (I Rs.8:27. Jr.23:23), eterno (Sl.90:2),
incompreensível, todo-poderoso (Gn.17:1); em tudo infinito, santíssimo (Is.6:3),
sapientíssimo; completamente livre e absoluto, operando todas as coisas segundo
o conselho da sua própria vontade (Sl.115:3. Is.46:10), que é justíssima e
imutável, e para a sua própria glória (Pv.16:4. Rm.11:36); amantíssimo,
gracioso, misericordioso, longânimo; abundante em verdade e benignidade,
perdoando a iniquidade, a transgressão e o pecado; o recompensador daqueles que
o buscam diligentemente (Ex.34:6-7. Hb.11:6); contudo justíssimo e terrível em
seus julgamentos (Ne.9:32-33), odiando todo pecado (Sl.5:5-6), e que de modo
nenhum inocentará o culpado (Êx.34:7. Na.1:2-3).
Deus tem em si mesmo e de si mesmo toda a vida
(Jo.5:26), glória (Sl.148:13), bondade (Sl.119:68) e bem-aventurança. Somente
ele é autossuficiente, em si e para si mesmo; e não precisa de nenhuma das
criaturas que fez, nem delas deriva glória alguma (Jó 22:2-3); mas somente
manifesta, nelas, por elas, para elas e sobre elas a sua própria glória. Ele,
somente, é a fonte de toda existência: de quem, através de quem e para quem são
todas as coisas (Rm.11:34-36), tendo o mais soberano domínio sobre todas as
criaturas, para fazer por meio delas, para elas e sobre elas tudo quanto lhe
agrade (Dn.4:25,34-35). Todas as coisas estão abertas e manifestas perante Ele
(Hb.4:13); o seu conhecimento é infinito, infalível e
independe da criatura, de maneira que para Ele
nada é contingente ou incerto (Ez.11:5. At.15:18). Ele é santíssimo em todos os
seus ensinamentos, em todas as suas obras (Sl.145:17), e em todos os seus
mandamentos. A Ele são devidos, da parte de anjos e de homens, toda adoração
(Ap.5:12-14), todo serviço, e toda obediência que, como criaturas, eles devem a
criador; e tudo mais que Ele se agrade em requerer de suas criaturas.
1.5 CONCLUSÃO
Diante de tantos argumentos e proposições filosófico-científicas,
até se poderia convencer as mentes sobre a existência e realidade de Deus.
Ainda assim, existiram os homens com a consciência cauterizada que o apóstolo
Paulo falou, e que em Romanos 1 descreve com clareza.
Não seria necessária a ciência para explicar a
existência de Deus. Ele, o Senhor Todo-Poderoso, simplesmente é, o Deus “Eu
sou”, que na sarça se revelou a Moisés, e ainda deseja se revelar a todo homem,
por meio de Seu Único Filho, Jesus Cristo. Esse Deus utiliza, com toda a certeza,
da razão para se mostrar ao homem, pois foi Ele quem lhe conferiu esse
presente, contudo, sem a fé, requisito indispensável para se chegar a Ele, a
razão só distancia o homem de Deus, e o aproxima mais de si mesmo e da sua
vaidade, típica da sua natureza pecaminosa.
O teólogo Augustus Hopkins Strong aponta que sem
a prática, a ciência teológica não tem utilidade proveitosa:
“A teologia é uma ciência cujo cultivo pode ser
bem-sucedido somente em conexão com sua aplicação prática.”
Um grande cientista cristão, chamado Louis
Pasteur, disse uma vez:
“Pouca ciência afasta-nos de Deus; muita ciência
nos aproxima Dele.”
Por fim, terminamos com as palavras do homem que
mais se esforçou para ensinar os incrédulos no caminho da existência e verdade
eterna de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, por meio de sua 1ª Carta aos
Coríntios, em 1:18,21-24, o apóstolo Paulo ensina:
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que
perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus (…).Visto como na
sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a
Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal,
e os gregos buscam sabedoria. Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é
escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são
chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e
sabedoria de Deus.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário