segunda-feira, 29 de julho de 2013

Filipenses - Carta aos


“As cartas” aos filipenses e o seu conteúdo”


Texto, inicialmente, elaborado para Apresentação em Exame DE UNIVERSA na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. Em seguida,aprofundado e reelaborado para publicação.

1. À GUISA DE INTRODUÇÃO: Generalidades sobre a carta aos Filipenses

No Cânon das Sagradas Escrituras a carta aos Filipenses ocupa o quinquagésimo sétimo lugar. No Novo testamento ela é o décimo primeiro livro. Sua importância, contudo, não se dá pela colocação que ocupa nas Páginas Sagradas, mas pelo conteúdo e riqueza que apresenta. Em sua forma canônica - para além das discussões exegéticas - ela é composta por quatro capítulos e cento e onze versículos.
É consensual que essa pequena carta foi redigida por Paulo3 e foi elaborado num momento da vida do Apóstolo dos Gentios em que ele encontrava-se preso4, portanto ela - juntamente com Efésios, Colossenses (Discute-se a autoria paulina nessas duas Cartas) e Filemom – são tidas como Cartas da prisão, do cativeiro.
Para grande maioria dos exegetas essa carta revela um tom afetivo de Paulo, pouco manifesto em todas as outras. Isso se justifica, entre outros fatos, porque ela foi a primeira comunidade Paulina fundada que hoje conhecemos como Europa.5 Depois pelo fato de entre, tantas comunidades que serão fundadas posteriormente, ela é a única que demonstra, gratuitamente, interesse pelo Apóstolo ( cf. Fl 4,10)”Por isso ela é a única em relação de “dar e receber”(Fl 4,15).
Grosso modo, a carta aos Filipenses, vista como um todo, além de externar a alegria do autor , apresenta Paulo que busca dissuadir a comunidade em contentas internas(Fl 1,15-17) exortando-os a perfeição progressiva em Cristo(Cf 1, 10-11); Retifica interpretações distorcidas dos fiéis de Filipos gestadas por grupos de “judaizantes” que haviam associado-se à comunidade(Fl 2, 2). Por fim, para agradecer dividendos remetidos pelos fiéis dessa região da Macedônia, quando o Apóstolo dos Gentios precisou (Fl 4, 10. 15.).

2 - PAULO E A COMUNIDADE DE FILIPOS

A ida de Paulo para Filipos deu-se, segundo os Atos do Apóstolos, depois de uma visão de Paulo(At 16, 9-10). Isso aconteceu durante a chamada “Segunda viagem missionária”. Após o desagradável incidente com Barnabé(At 15, 36-37), Paulo partiu de Antioquia para visitar “os irmãos de todas as cidades onde havia anunciado a palavra do Senhor”(cf.At 15, 26). Ele atravessou, junto com Silas(cf.At 15,41), a Síria e a Cilícia – atual parte ocidental da Turquia - até Derbe e Lista onde encontraram Timóteo( At 16,1). Em seguida, os três, após tentarem, em vão, adentrar Bitínia (At 16,7), foram para a cidade costeira de Troâde (At 16, 8). Nesse lugar o apóstolo dos Gentios viu “um macedônio”(At 16, 9a) que lhe pedia sua ajuda. Esse fato, Paulo interpretou como um chamado de Deus para “anunciar-lhes a boa Nova”(At 16,10). Assim, de Troâde, por via marítima, Paulo foi Neapólis, atual Kavalla na Grécia, outra cidade portuária e a mais próxima do destino final, Filipos.
Filipos, Atual Filippoi na Grécia, foi o primeiro lugar, do que hoje conhecemos como Europa, em que o Evangelho foi anunciado, o primeiro nicho do “Cristianismo” no universo europeu6. Na época, essa cidade era uma colônia Romana de veteranos das Legiões desse Império.
As raízes históricas dessa cidade, embora ela já fosse habitada, asseguram que em 358 a.C, Felipe II, rei da Macedônia, conquistou-a, fortificou-a e deu-lhe seu nome7. Posteriormente, Filipos foi conquistada pelo Imperador Romano, Marco Antônio, tornando-se parte do Império. Por ela passava a maior rota de acesso do Império ao Oriente, a Via Ignátia8 o que fazia dessa cidade a um ponto de estratégico de parada para os viajastes. Em 31 a.C Otaviano, combateu e venceu Marco Antônio de quem tomou muitas de suas colônias, inclusive Filipos. Após a batalha, essa cidade, segundo O’conor, teve seu nome alterado para Colônia Iulia augusta phillip(i)ensis e passou a gozar de privilégio políticos, dentre eles, o Ius italicum9. Entre outras coisas, esse direito Romano conferia a liberdade de compra e venda; a isenção de impostos provinciais e individuais e a proteção do Império Romano.
Na época em que Paulo por essa região passou e mais tarde enviou uma ( ou três) carta, sua população era formada em grande parte por Romanos, tinha também, entre outros, alguns poucos Judeus, Siríacos e Gregos. O livro de Atos diz que em meio a essa população, Paulo procurou o “lugar de oração próximo” próximo ao rio( Cf.At 16,13), onde a comerciante de púrpura, temente a Deus, chamada Lídia, aderiu à sua pregação e hospedou-os em sua casa(At 16, 14-15). A estada nessa comunidade, segundo relata o mesmo livro, não durou muito tempo, pois Paulo e seus colaboradores, Timóteo e Silas, foram vítimas de calúnias e injúrias que resultaram na sua prisão(At 16, 24) e milagrosa libertação(At 16, 25-38). À prisão, Paulo faz alusão na carta aos Tessalonicenses(1Ts 2,2) e, segundo Barbaglio10, na própria carta dirigida aos filipenses (Fl 1, 29-30)
A essa plural cidade do Império Romano, Paulo dirige-se para anunciar a Boa Nova (cf.At 16,10) aproximadamente entre os anos de 48 e 50 d.C. As razões que lhe levaram a ir a essa cidade e ignorar outras pelo caminho – Neápolis, por exemplo – são desconhecidas. Quase nenhum pesquisador bíblico arisca-se a afirmar uma razão plausível para que esse ato, exceto Hawthone11, em Dicionário de Paulo, que afirma que era por causa da importância Política de Filipos – era Colônia Romana. A essa mesma comunidade, tempos depois, volvido de uma alegria incomum nos texto paulinos, o Apóstolo dos Gentios vai dirigir uma (ou três) carta, talvez, entre os anos de 57 e 59 d.C.

3 - “A CARTA” E “AS CARTAS” AOS FILIPENSES

Como fora afirmado acima, no cânon da Sagrada Escritura, só encontramos uma única carta dirigida a comunidade de Filipos. No entanto, não é necessário muito esforço em sua leitura para percebermos abruptas mudanças no conteúdo do texto12. Desde o início do Estudo crítico do Novo Testamento essa aporia em torno da unidade da carta a Filipenses é expressa por estudiosos. Nesse sentido, há quem afirme13a existência de duas ou três cartas e quem assegure, não obstante os questionamentos, a unidade da Carta14. Neste emblemático caso de argumentos em favor ou contra a unidade da carta, optamos pelo primeiro grupo, isto é, aqueles que acreditam na divisão do texto em pequenas unidades, pequenas outras cartas.
Desse modo, teríamos três cartas que a tradição exegética costumou chamar de Carta “A”, “B” e “C”. A primeira, Carta “A”, compreende os versículos de dez a vinte do capítulo quatro do texto canônico (Fl 4, 10-20). Ela freqüentemente é chamada de bilhete de Agradecimento. A chamada Carta “B” é composta pelo capítulo um ao três um, depois pelo capítulo quatro versículo dois a nove e vinte a vinte três(Fl 1,1-3,1 + 4,2-9. 21-23). Esta carta é chamada Exortação à unidade e de notícias pessoais. Por fim, a Carta “C”, que é formada pelo capítulo três versículo dois até o capítulo quatro versículo um (Fl 3, 2 – 4,1), chamada de Carta de Advertência. Deste ponto adentraremos com maiores minúcias em cada uma dessa três cartas.

CARTA “A”: Fl 4, 10-20

A Carta “A”, usualmente chamada Carta de Agradecimento,possui dez versículos. Trata-se de um texto pequeno, um bilhete. Segundo Barbaglio, no processo redacional – visto que ela é entendida como um texto autônomo – deve-se ter perdido o “ exórdio e a conclusão, conservando apenas o corpo epistolar”15. Ela ocupa os capítulos finais da carta canônica. Não obstante essa posição, dizem os estudiosos16, ela foi a primeira a ser remetida por Paulo a comunidade.
Paulo, como o próprio texto da carta sugere, escreve para agradecer a comunidade. Trata-se uma gratidão pelo interesse da comunidade pelo Apóstolo(Fl 4,10). Tal interesse reside numa provável contribuição que a comunidade tenha oferecido a Paulo(Fl 4, 18). Deve-se mencionar que Paulo, como suas próprias cartas denunciam, nunca havia aceitado óbolo algum por seus serviços (1Cor 9, 1. 15; 2Cor 11, 10). Desta vez, no entanto, com gratidão, ele acolhe a oferta. A resposta para essa mudança de comportamento, dizem alguns exegetas17, era pela relação de ternura e carinho que Paulo nutria pela comunidade bem como pela comunhão e mútua responsabilidade que ambos tinham pelo anúncio do Evangelho (cf. 1, 7; 4,3).
Não obstante ter aceitado a oferta dos filipenses, Paulo faz questão de deixar claro que ela não é imprescindível(Fl 4, 11-12.17). O Apostolo busca, acima de qualquer coisa, o bem da comunidade (Fl 4, 17). Sua alegria pelos dividendos ofertados é, portanto, em decorrência da solidariedade que os filipenses mostraram com Paulo. Não uma solidariedade qualquer, mas uma que tem com verdadeiro e maior artífice “Deus nosso Pai”, tal qual o apóstolo apresenta em linguagem litúrgica nos versos finais da Carta(Fl 4,19-20).

CARTA “B”: Fl 1,1-3,1 + 4,2-9. 21-23

A segunda Carta aos Filipenses, chamada de “Carta B” é, como já afirmamos, marcadamente confessional(Fl 1,12-26; Fl2 19-30) e, ao mesmo tempo, uma exortação paulina à unidade da comunidade, uma, assim chamada, exortação parenética ( Fl 1, 27 – 2,18. 3, 1 + 4,2-9) . Nessa carta, como diz O’conor “ouve-se as batidas do coração de Paulo”18 tal é relação de afeto, ternura e confiança que o autor deixa transparecer para os seus interlocutores. Os problemas a que ele se refere são insignificantes, típicos de qualquer comunidade que, embora, mereçam uma correção, não lhe desabonam .
Após a tradicional saudação e hino de ação de graças (Fl 1, 1-11), típicas das cartas paulinas19, o Autor inicia uma série de notas pessoais informando sua situação aos Filipenses. Ele abre sua alma e seu coração aos seus diletos irmãos em Cristo(cf.Fl 1,12). Ele informa “aos irmãos” que está preso, todavia sua preocupação maior, diante disso, é o bem do evangelho e os benefícios que tal ato traz para o “progresso” desse mesmo evangelho e da comunidade(Fl 1,12-14). Sua prisão, ao que tudo indica, tornou-se um valioso instrumento de propaganda da mensagem de Cristo(Fl 1,14)
Relativo às preocupações futuras – morrer ou viver – visto que ele está enfrentando um processo, Paulo estipula para si e revela aos seus um novo significado dessas realidades, frutos da sua fé. Para ele viver ou morrer são realidade de comunhão com Cristo (Fl 1, 20ss). No entanto, ele deseja continuar vivendo para o bem da comunidade “em Cristo Jesus”( Fl 1,27).
Deste ponto em diante na carta(Fl 1, 27-2,18) Paulo segue uma exortação parenética, isto é, convida sua comunidade à unidade em vista dos conflitos internos que estão sendo gestados entre eles.Barbaglio20 distingue neste ponto quatro unidades literárias: A primeira fala da fidelidade ao Evangelho; A segunda da Comunhão eclesial; A terceira de uma espécie de imitatio Christie; e a Quarta, recomendações gerais.
A primeira(Fl 1, 27-30) foca a questão da fidelidade ao Evangelho em meio às perseguições. Paulo insiste para que a comunidade de Filipos seja fiel ao Evangelho, tanto em seus sentimentos como em suas ações(Fl 1, 27). Supõe-se que a comunidade estava sendo vítima de algum tipo de perseguição(Fl 1,28).Nesse sentido Diz o Apóstolo:

Somente vivei vida, digna do evangelho de Cristo, [...] permaneceis firmes num só espírito, [...] pela fé do evangelho; e que em nada vos deixais atemorizar pelos adversários, [..]( cf. Fl 1, 27-28)”

Um convite à união, enquanto comunidade marca o que o teórico que seguimos chama de segunda unidade literária (2, 1-4). Nesta pequena fração do texto Paulo alude aos destinatários do texto a necessidade de Comunhão(Fl 2,4) e a necessidade de fazer todas as coisas por gratuidade e não por vanglória ou competição(Fl 2,3). Trata-se, talvez, de uma competição interna entre os membros da própria comunidade(Ler Fl 4,2)
A quarta unidade(Fl 2,6-11) é marcada pelo profundamente discutido hino Cristológico. Um convite de Paulo para que a comunidade adquira os mesmos sentimentos de Cristo(Fl 2, 4).Cristo que existindo em condição divina (Fl 2, 6) esvaziou-se (= kenósis) profundamente até a morte de Cruz(Fl 2, 7-8) da qual Deus lhe exaltou( Fl 2, 9-11). Assim deve ser a vida da comunidade.Grosso modo essa é raiz temática do texto - contudo adentraremos numa análise mais delicada deste texto abaixo.
A última unidade Paulo faz um série de exortações Gerais(Fl 2, 12-18). Exorta os filipenses aderirem à obediência do Evangelho(cf.Fl 2, 12); De igual modo, pede o Apóstolo para que a comunidade evite contendas, discussões em sua vida religiosa(Fl 2,15 ) e que sua conduta e prática religiosa seja irrepreensível, conseqüentemente luz para o mundo(Fl 2, 15-16).
Após notas particulares sobre sua vida e de uma série de Exortações, Paulo comunica à comunidade algumas decisões que são pertinentes. Primeiro que Timóteo Poderá visitá-los(Fl 2, 19) com o fim de ajudá-lo; Segundo que o próprio Paulo anseia por ver a comunidade; por fim, que Epafrodito, que fora enviado para cuidar dele na prisão(Fl 2,25) e com ele alguma oferta financeira(Fl 4, 18).
Assim, chega-se aos versículos finais da Carta “B” dirigida aos Filipenses(Fl 4, 2-9.21-23). A inclusão desses versículos nesta carta nem sempre é tão aceita pelos estudiosos21, mas há outros que aceitam validamente por ela ligar-se em muitos aspectos com o inicio da carta “B”22. Argumenta Murphy O’conor que a expressão “ nada fazendo por competição, e vanglória, mas com humildade..”(Fl 2,3) , está em relação ao conflito entre Evódia e Santique(Fl 4,2). Num plano geral, este trecho associa-se bem à parte parenética da Carta. Paulo exorta os membros das comunidades a Alegria(Fl 4,4) e o exercício de virtudes evangélicas(cf. Fl 4,8). Por fim, a conclusão, típica das cartas de Paulo nos versículos vinte e um a vinte e três.
Dado as considerações acima, uma breve digressão no curso de nosso estudo, faz-se necessário para uma reflexão sobre o texto que ficou conhecido com hino Cristológico.

3.2.1 Hino Cristológico: 2 , 6-11

Exatos cinco versículos presentes na chamada “Carta B” dirigida aos filipenses são merecedores de uma análise mais acurada. Não tanto por sua localização no corpo do texto quanto por sua densidade teológica e pelas inúmeras reflexões e interpretações que já recebeu.
No universo da carta o hino destaca-se: Poético, rítmico, teológico e místico. Impossível não notá-lo. Sua localização no texto, evidentemente, busca sustentar a exortação paranética paulina. A forma e a estrutura, no entanto, não o deixam passar desapercebido.
Sabe-se hoje que esse arranjo poético não é uma construção paulina23. Certamente é um escrito remoto, elaborado por um fiel de uma de suas comunidades e respaldo, possivelmente pela pregação de Paulo. O nosso apóstolo, no entanto deu-lhe o acento que, aos seus olhos, precisaria ser evidenciado sobre o cristo.
No plano estrutural, recaem, ainda, sobre este hino pertinentes questionamentos sobre sua divisão. Para sua análise, há exegetas que optam por dividi-lo em seis estrofes de três linhas; outros que preferem um esquema de três estrofes de quatro linhas. Nesse imbróglio todo, optamos pela divisão proposta por O’conor que propõe um arranjo de três estrofes “que mais respeita os elementos formais do texto”24
Sucintamente o texto apresenta, numa primeira parte, Cristo que em condição divina não serviu-se dessa categoria(vv.6). Antes tomou uma forma humana, sendo como homem(vv.7). Ele humilhou-se e por obediência a Deus foi morto na cruz (vv.8) Sua atitude, no entanto, não foi em vão. Deus o exaltou. Em resposta a sua fidelidade obediente, ele foi exaltado (vv.9) e todos, deste ponto, proclamam e reverenciam seu nome(vv.9) para glória de Deus(vv10).
A partir dessa localização temática do texto percebe-se as diversas implicações cristológicas25 desse escrito: A iniciar pela a alusão à forma divina de Cristo (vv6) perpassando pela morte de Cruz(vv. 8) e finalizando com exaltação do seu nome(vv. 10-11). Para a grande maioria dos exegetas, Paulo está aludindo a uma cristologia adâmica. Cristo é o justo por excelência, a imagem não deformada, pura da humanidade, por oposição à imagem que se deformou em adão. Essa condição de incorruptibilidade em Cristo dava-lhe o direito viver somente como Deus, no entanto, ele não o faz. Desprende-se de sua condição, despoja-se de seu estado e faz-se humano(vv.7), adentra na realidade humana, assumindo as características da realidade existencial inaugurada por adão – exceto o pecado. Ele torna-se sujeito, embora seja livre, das intempéries da vida: sofrimento, dor e morte(vv. 8).
Embora humano, Cristo não tinha necessidade reconciliar-se com Deus.No entanto, por livre opção, fez-se oferenda agradável a Deus para restituir a dignidade humana. Por isso, sujeitou-se à morte de Cruz (vv.8). Em resposta a essa fidelidade “Deus o exaltou acima de todos os justos aos quais foi prometido um reino, e lhe transferiu o título de autoridade que antes fora só de Deus”26.
Grosso modo e em linhas gerais, não obstante as dúvidas que repousam sobre a autoria paulina do hino, o fato de Paulo ter assumido esse hino e posto em sua carta revela a sua concepção cristologica de inclinado acento adâmico e de influência sapiencial27. Essa teologia Paulo desenvolverá em outras cartas também( por exemplo 1Cor 15 e Rm 5,12-21). Ela acena, sucintamente, para a condição humana(realidade adâmica = pecado) que recupera seu pleno sentido em Cristo(Imagem incorruptível.)
No contexto geral da carta “B” o texto quer significar, visto que faz parte da paranese paulina, um convite a imitar o comportamento de Cristo, consequentemente viver uma vida autenticamente humana.

CARTA “C”: Fl 3, 2 – 4,1

A chamada carta “C” possui exatos 21 versículos. Certamente trata-se de um carta escrita pós-prisão. Costumou-se chamá-la de Carta de Advertência Ela sucintamente quer alertar a comunidade de filipos, entre outras coisas para os perigos doutrinais difundidos ou por Judaizantes ou por Judeu-cristãos anti-paulinos (cf. Fl 3, 2ss). Grosso modo, podemos dizer que a carta tem quatro focos: Primeiro advertir contra os judaizantes(Fl 3, 1-3); Segundo ilustrar os perigos que esse grupo pode gerar a partir de traços autobiográficos de Paulo(Fl 3, 4-14);Terceiro um convite a imitação do Apóstolo que segue somente a Cristo(Fl 3,15-21) por fim, um chamado á fidelidade(Fl 4, 1).
Nessa carta, assim com “A” - diferentemente da “B” - não encontramos nem um exórdio tampouco uma conclusão. Deve-se dizer que o escriba quando coligia o texto certamente deve tê-los excluídos para dar ao texto uma forma epistolar única.
Nos versos iniciais, Paulo difere uma série de criticas aos adversários com o fim de alertar os filipenses. Ele os chama seus inimigos de “ cães”, “maus operários” e “falsos circuncidados”. Trata-se de uma forte advertência que abre viés para uma poderosa polêmica. Paulo chama os judeu-cristãos de cães. Trata-se de um título usado pelos próprios judeus para desprezar aos pagãos. O Apóstolo, também, chama-os de maus operários, relativizando o valor do anúncio que eles fazem, por fim, desqualifica a circuncisão da carne, recomendando um novo tipo de circuncisão feita no Espírito e não mais na carne(Fl 3,3).
Para legitimar todo seu argumento contra os “judaizantes”, Paulo alega que ele próprio, em seu anúncio, poderia “ confiar na carne” (Fl 3,4), pois gozava de títulos e privilégios religiosos(Fl 3,4-6). Paulo não o fez. Com isso ele denúncia a irreconciliável oposição entre o cumprimento esquizofrênico da lei e a fé no Cristo, o “conhecimento de Cristo”(Fl 3, 7-8), talvez uma reconciliação apresentada como possível28 pelos “adversários” de Paulo que estavam em Filipos. Para o Apóstolo, portanto, a nosso ver, Cristo é toda lei. Excludente, assim, uma aliança entre cumprimento da lei/circuncisão e fé em Cristo29.
Deste ponto, dessa oposição apresentada no texto, Paulo exorta a comunidade a ser seguidora dele, que segue a Cristo(Fl 3,17). Ao mesmo tempo ele convida-os a desacreditar no que anunciam os “ adversários” paulinos, pois eles são “ inimigos da Cruz”. Certamente negam o valor salvífico da Cruz de Cristo. Seu deus é o ventre. Devem aferrar-se a normas dietéticas (cf.Fl 3,18-19). Por fim, Paulo encerra a carta, certamente com o o coração condoído, exortando sua comunidade amada a permanecer firme no Senhor(Fl 4,1.)

4 - CONCLUSÃO

Ao cruzarmos o limiar que julgamos final(o que não esgota) de nossa pesquisa sobre a carta aos Filipense, podemos elencar alguns dados conclusivos sobre o referido texto em forma de pontos enumerados:

  • A carta aos Filipenses, conforme tentamos apresentar, é um opúsculo singular na literatura paulina. Ela, congrega, em seu conteúdo, uma ternura singular do Apóstolo dos Gentios; Uma reflexão clara e objetiva sobre os atributos de Cristo(Cristologia); Por fim, exortações paranéticas decorrentes, como não podia ser diferente, da reflexão Cristológica cunhada em todo texto por Paulo.

  • O referido libelo paulino, como apontamos, na pesquisa bíblica recente é interpretada com uma tríplice carta. Com raríssimas exceções, os estudiosos bíblicos asseguram uma estrutura tripartite para o escrito Paulino. A primeira Carta é uma escrito de gratidão; A segunda, uma de assuntos que oscilam entre notas pessoais e exortações paranéticas; Uma forte advertência aos Cristãos é o conteúdo da terceira carta.

  • No segundo “bilhete” escrito por Paulo encontramos uma pedra de Jaspe da literatura paulina. Trata-se do hino, conhecido atualmente pelos, teólogos com Kenótico. Certamente, como acenamos, não é um escrito de Paulo, mas uma produção de alguma comunidade Cristã utilizada por Paulo para apresentar sua Cristologia adâmica sapiencial, onde a humanidade recupera sua imagem verdadeira, deformada em adão e reconciliada em Cristo.

  • Grosso modo, podemos concluir nossa reflexão assegurando que a Carta de Paulo aos Filipenses é um texto rico. Em nível de pesquisa, ao menos ao que se tem acesso, percebemos que não há um evolução, ou melhor, não inovações nas pesquisas sobre esse texto. Nesse sentido, muitas vezes, esta pesquisa parecia um conglomerado de informações sem, contudo, apresentar singularidades exegéticas/ hermenêuticas.

 

CARTA AOS FILIPENSESa epístola da alegria!


 

Pr.  José Barbosa de Sena Neto


 

     Quando Paulo escreveu aos Romanos ele finalizou a sua carta com um pedido: que os irmãos orassem a seu favor “a fim de que, pela vontade de Deus, chegue a vós com alegria, e possa recrear-se convosco” (Rm 15.32). A oração foi ouvida, pois três ou quatro anos mais tarde Paulo chegou a Roma, preso é verdade, e, ao encontrar-se com os irmãos da metrópole, o seu coração transbordava de alegria. Perto do fim da sua prisão em Roma escreveu aos filipenses, e com justa razão essa carta é chamada de “A Epístola da Alegria”! Nada menos que dez vezes é que a palavra, em forma de substantivo ou de verbo, aparece na Epístola, e a carta só é de apenas quatro capítulos curtos!

 

   E, humanamente falando, as circunstâncias em que Paulo escreveu essa carta exigiam que ele fosse triste, acabrunhado, sim, até cheio de ódio e de amargor. Vejamos as circunstâncias quando escreveu aos filipenses. Há quatro anos tinha estado preso e isso injustamente. As maiores autoridades que o examinaram declararam que Paulo nada fizera que merecia prisão ou morte.  “...achei que o acusavam de algumas questões da sua lei; mas que nenhum crime havia nele digno de morte ou prisão”(At. 23.29), escreveu Cláudio Lísias a Festo. “Este homem nada fez digno de morte ou de prisões”(At. 26.31, disse Agripa e Festo em conversa. “Este homem bem podia ser solto, se não tivesse apelado para César” (At. 26.32), finalizou Agripa  Sua prisão, portanto, era injusta, e as acusações contra ele, feitas pelos seus próprios patrícios, os judeus, eram falsas. E, na prisão em Roma, vinte e quatro horas por dia, Paulo sofria a humilhação de estar acorrentado  ao soldado romano que lhe servia de guarda. E, como se tudo isso  não fosse o suficiente de sofrimento, Paulo era caluniado por certos ‘crentes’ em Roma, gente que aspirava a liderança na comunidade cristã. Esses homens inescrupulosos viam na prisão de Paulo uma oportunidade de desprestigiá-lo em proveito próprio. Paulo escreve: “Verdade é que também alguns pregam a Cristo por inveja e porfia, mas outros, de boa mente. Estes, por amor, sabendo que fui posto para defesa do evangelho. Aqueles, contudo, anunciam a Cristo por contenda, não sinceramente, julgando suscitar aflição às minhas cadeias” (1.15-17). Ainda mais, Paulo deveria sentir-se  frustrado: as igrejas que ele fundara estavam sem os seus cuidados pastorais; os seus planos para uma vasta campanha missionária que o levaria até a Espanha, estavam parados. E, além de tudo, Paulo estava na véspera de comparecer perante Nero, o imperador, e, embora inocente, bem poderia ser condenado à morte.

 

   Preso injustamente, caluniado por inimigos gratuitos, seus planos frustrados, a sua vida em perigo – tudo isso deveria fazer com que Paulo fosse magoado, revoltado, vingativo, e com a vida totalmente amargurada. Mas, longe disso, ele declara em verdadeira euforia de alma: “Mas que importa? contanto que Cristo, de qualquer modo, seja anunciado, ou por pretexto ou de verdade, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei”  (1.18).

 

   Logo se vê, a verdadeira alegria  não depende de circunstâncias. Qual  o segredo então? “Alegrai-vos sempre no Senhor”(4.4). O segredo de uma vida contínua de alegria está “em Cristo”. Cristo está em mim, e a minha vida está escondida  com Cristo em Deus: que importa que a tempestade ruja em torno de  mim? No Senhor sempre me alegro e sempre me alegrarei. O fruto do Espírito é alegria, e alegria vem em segundo lugar, logo depois do fruto por excelência, o amor. Para mim que sou crente, a alegria não é anormal, mas perfeitamente normal em todas e quaisquer circunstâncias, pois, a alegria é fruto do Espírito. Vamos, agora, entender o que Paulo quer dizer quando nos exorta: “Alegrai-vos no Senhor sempre, alegrai-vos”.

 

   1.3 - A alegria em  oração. – A vida de oração é fundamental ao crente; faz parte do seu ministério sacerdotal. Devemos orar por todos os santos, e fazer isso com a maior alegria e satisfação. O segredo de orar com alegria é “trazer no coração” aqueles pelos quais oramos, e ao orarmos  por eles pedir  para eles profundas e ricas experiências  na vida  em Cristo  (1.9-11). 

 

   1.18 –  A alegria  no fato de Cristo ser pregado. – Os longos anos de prisão de Paulo, longe ser de atraso para o progresso do Evangelho, antes contribuíra para o seu progresso. Paulo está confinado dentro de quatro paredes, mas na sua imaginação, segundo a linguagem que ele emprega, está na vanguarda daqueles que pregam o Evangelho, indo na frente e abrindo picada para que os demais passem com relativa facilidade (1.12). Ao menos duas cousas positivas resultaram da prisão de Paulo: a “guarda pretoriana”, a elite do exército romano, estava sendo evangelizada; e, os irmãos em Roma proclamavam o Evangelho com mais desassombro. Até os inimigos gratuitos do apóstolo estavam pregando a Cristo! E Paulo se regozijava!

 

   1.25. - A alegria na fé. – Paulo enfrentava a vida com realismo. Bem sabia que poderia ser condenado à morte, mas para ele vida ou morte lhe era indiferente. O seu interesse era o bem-estar dos filipenses, e para eles seria mais interessante que Paulo continuasse a viver. Seria para a alegria da fé deles. A alegria da fé resultante da comunhão dos santos.

 

 

   2.2. - A alegria da fraternidade cristã. – Havia em Filipos uma tendência religiosa perigosa, a da fragmentação da Igreja em partidos. Paulo reúne todos os elementos que contribuem para união de vida e de amor entre os irmãos, e ainda acrescenta o exemplo supremo de humildade, o da descida de Cristo do trono até a cruz, num esforço de combater o espírito partidário. E afirma que o que vai completar a sua alegria é que os filipenses sejam de fato unidos de alma. Verdadeiramente, nada há que complete a nossa alegria mais do que isso, contemplar a união da igreja local, união essa que resulta de amor e de humildade, a fim de que “cada  um considere os outros superiores a si mesmo” (v.3). Pode haver maior alegria?!

 

   2.17. -  A alegria de sofrer por Cristo. – Nessa carta constantemente Paulo está face a face com a morte; considera o seu martírio como probalidade. Neste versículo Paulo se transporta em seu pensamento para o templo em Jerusalém na hora do sacrifício. A vítima está imolada e posto no altar: o fogo está acesso. Chegou o momento cruciante, o auge da cerimônia toda: o sacerdote derrama sobre a vítima a libação. É o que aperfeiçoa o sacrifício. Paulo se considera essa libação , o que completa o serviço e sacrifício da fé dos filipenses. O seu martírio seria justamente isso, a libação sobre o sacrifício. Por isso, os filipenses deveriam se alegrar, e alegrar-se juntamente com ele. Alegria no sofrimento, mesmo que este seja o sacrifício supremo.

 

   2.28-29.-  A alegria de receber e de honrar um amado servo de Deus. – Epafrodito viera a Roma, enviado pelos irmãos filipenses, para servir a Paulo. Isso ele tinha feito com todo empenho. Adoecera, e tinha estado às portas da morte. Deus, porém, o poupou para alegria sua, alegria de Paulo e alegria dos irmãos filipenses. O processo contra Paulo estava na véspera de ser resolvido, e, por isso, Paulo espera em breve dispensar com os serviços de Epafrodito, e mandá-lo de volta para Filipos. Paulo pensa na alegria com que esse fiel servo de Cristo será recebido pela Igreja, e de como será honrado pelos irmãos. A alegria de receber e honrar um servo amado de Cristo.

 

   3.1; 4.1,4. - A alegria daquele que está em Cristo. – Quando o Divino Mestre estava se despedindo dos seus discípulos logo antes do seu suplício, Ele lhes falava muito em alegria. Disse-lhes: “Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza, mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar” (João 16.22). Paulo era exemplo vivo desta verdade, pois quando   tudo lhe era contrário  então era que o seu coração transbordava de alegria!

 

   4.1. -  A alegria de quem ganha almas para Cristo. – Nenhuma igreja local que Paulo conseguiu fundar dava-lhe maior alegria do que a dos filipenses. Foi as primícias de Cristo na Europa, e foi fundada em muita tribulação. Era igreja   leal ao seu fundador, uma lealdade provada através dos tempos, mas que nunca falhava. Não é de admirar que Paulo se alegra na  igreja: “...meus amados e mui saudosos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados”! Ah! meus irmãos, que alegria quando encontramos os nossos filhos na fé “...andando na verdade, assim como recebemos o mandamento do Pai”!(II João v.4).

 

   4.10. - A alegria de receber donativos. – Paulo relembra com gratidão as inúmeras vezes que os irmãos de Filipos o tinham ajudado financeiramente. Tantas vezes nas suas viagens missionárias ele recebia auxílio dos irmãos amados, e agora, estando preso, mandam-lhe um mensageiro, Epafrodito, para servir a Paulo na prisão., mas não o mandam de mãos vazias! Ele leva consigo uma oferta, donativo de amor da parte dos irmãos filipenses. Paulo tem esta oferta “como cheiro suave, como sacrifício agradável e aprazível a Deus” (v.18). Notemos de passagem que os dízimos, as ofertas, as coletas especiais – tudo isso na igreja local, não é transação comercial, muito menos um imposto, mas faz parte do ministério sacerdotal de todo crente: é sacrifício aceitável que se oferece a Deus, é oferta da sementeira, é o aroma suave que agrada a Deus. E traz tanta alegria a tanta gente, como foi no caso de Paulo. Eu lhe pergunto: sua igreja local tem plano missionário, investimento para suprir as necessidades dos missionários e as de sua família, daqueles que levam “a preciosa semente, andando e chorando...”, os quais voltarão “com cânticos de alegria, trazendo consigo os seus molhos”? (Sal. 126.6). Quantos benefícios espirituais recebem aqueles que ofertam com alegria na obra missionária! Muitos são  ofertantes anônimos, mas que ofertam fielmente sabendo de antemão, que, “no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (I Cor.15.58). Muito obrigado, de coração, a todas aquelas Igrejas locais e aos irmãos e irmãs muitos deles até anônimos, que têm  orado e ofertado generosamente em nosso benefício,  para o nosso tão necessário sustento e o de minha modesta família, pois sem este “cheiro suave, como sacrifício agradável e aprazível a Deus”, não poderíamos continuar dando tempo integral à obra missionária que o Senhor Deus nos tem confiado.  Muito obrigado!

 

   Finalizando, queremos sinalizar que a alegria não depende de circunstâncias, mas de estar em Cristo. E a alegria é fruto do Espírito. E quais os elementos que contribuem para a alegria?  - a oração incessante, a pregação de Cristo, a fé, a fraternidade entre os irmãos, o sofrimento;  sim, o sofrimento, o sofrimento é alegria, também; a fidelidade de um companheiro, servo de Cristo, o ganhar almas para Cristo, o sustento de missionários, a liberalidade nas ofertas e nada e ninguém poderá tirar do crente essa alegria em Cristo! Que o Senhor vos abençoe!

 

Filipenses
Autor: Paulo
Data: Cerca de 61 dC
 
Antecedentes
At 16.12-40 registra a fundação da igreja de Filipo. Paulo estabeleceu a igreja durante sua segunda viagem, por volta de 51 dC. Desde o começo, a igreja apresentava um forte zelo missionário e era constante em seu apoio ao ministério de Paulo (4.15-16; 2Co 11.8-9). Paulo desfrutou de uma amizade mais próxima com os filipenses do que com qualquer outra igreja.

Ocasião e Data
É mas provável que Paulo tenha escrito esta carta durante sua primeira prisão romana, por volta de 61 dC, para agradecê-los pela contribuição que tinha recebido deles. Ele também elogiou calorosamente Epafrodito, que tinha trazido a doação de Filipos e quem Paulo estava enviando de volta.

Características
Em muitos aspectos, esta é a mais bela cara de Paulo, cheia de ternura, calor e afeição. Seu estilo é espontâneo, pessoal e informal, apresenta-nos um diário íntimo das próprias experiências espirituais de Paulo.
A nota dominante por toda a cara é a alegria triunfante. Paulo, embora prisioneiro, era muito feliz, e invocava seus leitores para sempre regozijarem em Cristo. É uma carta ética e prática em sua ênfase e está centralizada em Jesus. Para Paulo, Cristo era mais do que um exemplo; ele era a própria vida do apóstolo.

Conteúdo
A mensagem permanente dos filipenses diz respeito à natureza e base de alegria cristã. Para Paulo, a verdadeira alegria não é uma emoção superficial que dependeu de circunstâncias favoráveis do momento. A alegria cristã é independente de condições externas, e é possível mesmo em meio a circunstâncias adversas, como sofrimento e perseguição.
A Alegria definitiva surge da comunhão com Cristo ressuscitado e glorificado. Por toda a carta, Paulo fala da alegria do Senhor, enfatizando que somente através de Cristo se alcança a alegria, como ocorre com todas as outras graças cristãs. Essencial para essa alegria é a convicção confiante de autoridade de Cristo, baseada na experiência do poder de sua ressurreição. Devido essa convicção, a vida de Paulo ganhou sentido. Mesmo a morte tornou-se uma amiga, pois o levaria a uma maior experiência da presença de Cristo (1.21-23)
A alegria apresentada em filipenses envolve uma expectativa ávida da volta eminente de Cristo. O fato de essa expectativa ser dominante no pensamento de Paulo é vista em suas cinco referências à volta de Cristo. No contexto de cada referência há uma nota de alegria (1.6,10; 2.16; 3.20; 4.5).
Paulo também descreve uma alegria que surge da comunhão na propagação do evangelho. Ele começa a carta agradecendo aos filipenses pro sua parceria na propagação do evangelhos através de suas ofertas monetárias. As ofertas, entretanto, são apenas uma expressão de seu espírito de comunhão, ou como ele coloca em 4.17, “o fruto que aumente nossa conta”. Sendo assim, a alegria cristã é uma conseqüência de estar em comunhão ativa com o corpo de Cristo.

Cristo Revelado
Para Paulo, cristo é a soma e a substancia da vida. Pregar Cristo era sua grande paixão; conhece-lo era sua maior aspiração; sofrer por ele era um privilégio. Seu principal desejo para seus leitores era de que eles pudessem ter a mente de Cristo. Para sustentar sua exortação de humildade, o apóstolo descreve a atitude de Cristo, que renuncia à glória dos céus para sofrer e morrer por nossa salvação (2.5-11). Ao fazê-lo, ele apresenta a declaração mais concisa do NT em relação à pré-existência, à encarnação e à exaltação de Cristo. São realçadas tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo.

O Espírito Santo em Ação
A obra do Espírito em três áreas é mencionada na carta. Primeiro, Paulo declara que o Espírito de Jesus direcionará a realização do propósito de Deus em      Jesus própria experiência (1.19). O Espírito Santo também promove unidade comunicação com o corpo de Cristo (2.1). A participação comum nele cria uma unidade de propósito e mantém uma comunidade de amor. Então, em contraste com a observância ritual inerte dos formalistas, o Espírito Santo inspira e direciona o louvor dos verdadeiros crente (3.3)

Esboço de Filipenses
Introdução 1.1-11

Salvação 1.1-2
Ação de graças 1.3-8
Oração 1.9-11

I. Circunstância da prisão de Paulo 1.12-26

Avançaram o evangelho 1.12-18
Garantiram a bênçãos 1.19-21
Criaram um dilema para Paulo 1.22-26

II. Exortações 1.27-2.18

Vida digna do evangelho 1.27-2.4
Reproduzir a mente de Cristo 2.5-11
Cultivar a vida espiritual 2.12-13
Cessar com murmúrios e questionamentos 2.14-18

III. Recomendações e planos pra os companheiros de Paulo 2.19-30

Timóteo 2.19-24
Epafrodito 2.25-30

IV. Advertências contra o erro 3.1-21

Contra os judaizantes 3.1-6
Contra o sensualismo 3.17-21

Conclusão 4.1-23

Apelos finais 4.1-9
Reconhecimento das dádivas dos filipenses 4.10-20
Saudações 4.21-22
Bênção 4.23

 

 

 

 

 

O Livro de Filipenses

Epístola aos Filipenses - é como é conhecida a carta que o apóstolo Paulo redigiu aos habitantes de Filipos, uma cidade importante no Império Romano por causa de sua localização geográfica na região montanhosa entre a Ásia e a Europa.

Cidade da Macedônia fundada por Felipe II, pai de Alexandre, o Grande, no ano 358 a.C. Foi a primeira cidade da Europa que ouviu a pregação de um missionário cristão (Atos 16:6-40).

Autoria


A tradição cristã atribui a autoria desta epístola a Paulo, o apóstolo.

Data e local de escrita


A epístola foi escrita, provavelmente, entre 53 e 58 D.C. E, segundo a tradição, a carta teria sido escrita numa prisão em Roma, para a igreja em Filipos. Entretanto há pesquisadores que argumentam em favor da carta ter sido escrita numa prisão em Cesareia ou ainda em Éfeso.

Conteúdo


Esta afetuosa epístola elogia os filipenses por sua fé em Jesus e por seu apoio. Paulo os ajuda a centralizar a vida em Cristo e a estar contentes em todas as situações, ser fortes em oração e imitar com alegria o exemplo de seu Salvador, Jesus Cristo.

Esboços principais


1º Paulo ora pelos Filipenses. (Filipenses 1:1-11)

2º As cadeias de Paulo fazem com que o evangelho avance. (Filipenses 1:12-26)

3° Cristo é modelo de humildade. (Filipenses 1:27 à Filipenses 2:18)

4º Paulo louva a Timóteo e Epafrodito. (Filipenses 2:19-30)

5º Exortação ao conhecimento e à paz de Cristo Jesus. (Filipenses 3:1-4,20)

6° Saudações finais. (Filipenses 4:21-23)
 

A Carta de Filipenses

As três mais belas cartas do apóstolo Paulo, dentre as treze, as cartas aos Efésios, aos Filipenses e aos Colossenses se destacam pela lucidez dos ensinamentos doutrinários e pela alegria do Espírito que o fazia superar todas as dificuldades. Acrescente-se a Carta a Filemom às três outras cartas escritas na prisão. Esta carta tinha um caráter bem pessoal com algumas inserções doutrinárias quanto ao trato social com escravos e senhores. Naturalmente, o contexto social e político da época permitia a compra e venda de escravos serviçais. Uma vez que Filemom tornou-se um ardoroso cristão, seu comportamento social mudou no trato com as pessoas. As Cartas são conhecidas como “cartas da prisão” porque foram escritas quando Paulo esteve preso em Roma nos anos 62 e 63 d.C.

A Cidade de Filipos


Filipos é o nome da cidade da Macedônia em homenagem a Filipe, pai de Alexandre, o Grande. Lucas descreveu Filipos como a primeira cidade da Macedônia, e sua localização estratégica tornou-a um posto de fronteira militar de Roma, vindo a ser uma das principais rotas entre a Europa e a Ásia. De pequena cidade antiga por nome Krenidês, significando lugar de fontes, foi transformada em um ponto estratégico para o Império de Roma (At 20.6) quando Filipe tomou posse da região e dominou a cidade. Filipos, portanto, tornou-se uma distinta colônia romana, e as colônias romanas eram administradas por magistrados, identificados como pretores (At 16.22,35,36,38).

A Macedônia


A Macedônia era um território do antigo reino da península balcânica (Balcãs), que tinha limites com a Tessália ao sul e ao este e nordeste com a Trácia. A Macedônia fazia parte dos domínios gregos pelas conquistas militares de Filipe II, todavia, depois que este foi assassinado, seu filho Alexandre III — identificado como Alexandre, o Grande — herdou o domínio grego-macedônico. A partir desse domínio, Alexandre, o Grande, partiu para a conquista da parte ocidental da Ásia e do Egito. Porém, com a divisão do império e a sua morte em 323 a.C., a Macedônia tornou-se outra vez um reino separado. Nos anos 221-179 a.C., os romanos fizeram guerra a Filipe e o venceram, mas os descendentes de Filipe reagiram, porém não conseguiram se impor sobre os romanos. A Macedônia tornou-se uma base de expansão do Império Romano. Nos novos tempos depois de Cristo, o cristianismo chegou à Macedônia nas cidades de Tessalônica, Bereia, Filipos e outras (ou colônias). Portanto, Paulo e seus companheiros chegaram a Filipos aproximadamente entre os anos 50 e 51 d.C.
Segundo o registro resultante das escavações arqueológicas no local da cidade de Filipos, os arqueólogos descobriram que Filipos era uma cidade idólatra com vários deuses gregos e romanos, além de várias divindades orientais, como Baal e Astarote e outros. Por não haver muitos judeus na cidade, não havia sinagoga judaica. Com as guerras constantes, a cidade foi sendo invadida e destruída
Filipenses — A Humildade de Cristo como Exemplo para a Igreja
perdurando o que restou da cidade de Filipos até a Idade Média, e então os turcos a destruíram totalmente, restando apenas ruínas arqueológicas com alguns vestígios do passado.

Como Tudo Começou

A mensagem do evangelho chegou a Filipos, na Macedônia, em 51 ou 52 d.C., conforme está registrado em Atos 16.6-40. Paulo e Silas estavam na segunda viagem missionária pela Asia Menor (hoje Turquia), quando, tendo desembarcado no porto de Trôade (ou Troas), Paulo foi surpreendido por uma visão de noite “em que se apresentava um varão da Macedônia e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At 16.9). Paulo não teve dúvida de que era uma visão de Deus e, por isso, partiu para a Macedônia. Desembarcou no porto de Neápolis e viajou para Filipos.

Os Primeiros Convertidos

Em Filipos, Paulo começou a pregar a Cristo quando uma mulher vendedora de púrpura, chamada Lídia, que era da cidade de Tiatira, abriu o coração para a mensagem de Paulo e o recebeu em sua casa (At 16.14,15). Havia poucos judeus na cidade e gente de outras nações. Filipos era, de fato, uma cidade cosmopolita. Nas primeiras semanas de evangelização, uma vez que não havia uma sinagoga em Filipos, Paulo e seus companheiros desciam à beira do rio no dia de sábado onde se reuniam algumas mulheres e lhes pregava a Cristo. Entre os primeiros convertidos ao cristianismo aparecem o carcereiro e sua família, que foram tocados com o testemunho de Paulo e Silas na prisão, os quais, estando com os corpos feridos, cantavam ao Senhor (At 16.22-34).

O Primeiro Incidente

O modo incisivo de Paulo pregar o evangelho e apresentar a Cristo como Salvador e Senhor acabou por provocar a ira dos comerciantes de Filipos mediante um episódio de libertação de uma jovem adivinha que era escrava, cuja adivinhação lhes dava lucro. Paulo percebeu que se tratava de um espírito imundo que envolvia aquela jovem e expulsou o demônio dela. Uma vez liberta daquele espírito, a jovem não tinha mais o poder de adivinhar, o que provocou grande ira contra Paulo e Silas (ou Silvano) (At 16.16). Os senhores da escrava, percebendo que os lucros caíram, acusaram os dois apóstolos de interferirem em seus direitos de propriedade. Por isso, levaram-nos aos magistrados da cidade e os dois foram presos. Na prisão, depois de açoitados, Paulo e Silas cantavam ao Senhor. Antes, acusados ante os magistrados da cidade, para não serem apedrejados e mortos, os dois apelaram para o fato de que eram cidadãos romanos e não podiam ser tratados daquele modo. Lucas descreveu o episódio que culminou com a conversão do carcereiro da cidade, depois de um terremoto localizado naquele lugar.

A semente do evangelho foi plantada na cidade e, depois de algum tempo, os primeiros convertidos, a partir de Lídia, formaram a igreja na cidade.

 

A Segunda e a Terceira Viagem Missionária

Alguns eventos anteriores ao envio da Carta aos Filipenses indicam que Paulo completou sua segunda viagem missionária passando por Tessalônica, Bereia, Atenas e Corinto (At 17.1-23) a fim de visitar as igrejas ali estabelecidas.
Quando empreendeu a terceira viagem missionária, visitando as igrejas formadas em seu ministério, Paulo foi para Efeso, que era outra igreja formada em sua evangelização (At 19.1-40). Então, dessa feita, ele voltou para a Macedônia (At 20.1), quando visitou a igreja em Filipos, da qual recebia ajuda de sustento. No fim de sua terceira viagem missionária, Paulo foi a Jerusalém, onde foi preso (At 21.17- 23.30). Transferido de Jerusalém para Cesareia, onde esteve preso por dois anos (At 23.31; 26.32), foi posteriormente enviado para Roma, onde ficou preso por mais dois ou três anos. Foi nesse período de sua
Filipenses — A Humildade de Cristo como Exemplo para a Igreja
prisão que Paulo escreveu algumas de suas cartas entre 61 e 64 d.C., às igrejas de Éfeso, Colossos, Filipos e a Filemom.

A Autoria da Carta


Não há dúvidas quanto à autoria da Carta, porque os elementos autobiográficos colocados na Carta a tornam genuína e autêntica. Discute-se, antes de tudo, o local onde foi escrita, mas é indiscutível a autoria de Paulo. A Carta tem um caráter bem pessoal da parte de Paulo quando cita nomes de pessoas ligadas a ele de modo muito carinhoso. A autoria tem o testemunho dos pais da igreja que no século II citaram a Carta de Paulo aos Filipenses, tais como Poli- carpo e outros. Num documento histórico da primeira metade do segundo século, está escrito que Policarpo, bispo da igreja, escreveu aos filipenses lembrando as cartas de Paulo.

Data e Lugar da Composição da Carta


Tradicionalmente, tem-se datado a Carta em 61 ou 62 d.C., visto que essa data se situa no período da prisão de Paulo em Roma por dois anos (At 28.16-31). Quando Paulo se refere “à guarda pretoria- na” (1.13) e “à casa de César”, subentendem-se como elementos fortes de que a Carta aos Filipenses foi escrita durante o período de sua prisão em Roma. Os argumentos que colocam dúvidas sobre o lugar em que foi escrita a carta ficam desprovidos de provas. Paulo estava à disposição da justiça romana e, por isso, foi-lhe permitido morar em casa alugada desde que estivesse sob a guarda de um soldado.

Propósito da Carta.

Um membro da igreja chamado Epafrodito, crente fiel e amigo de Paulo, visitou o apóstolo em sua prisão em Roma, levando uma oferta da igreja de Filipos (Fp 4.18). Epafrodito foi acometido de uma enfermidade ao chegar a Roma e quase morreu (Fp 2.27), mas recuperou-se e, quando se preparava para voltar a Filipos,
Paulo resolveu escrever a Carta. Esta tinha por objetivo exortar e animar os filipenses, bem como alertá-los sobre boatos mentirosos a seu respeito lançados por falsos obreiros que procuravam minar a unidade da igreja e a sua lealdade ao apóstolo. Um dos propósitos de Paulo era agradecer a oferta enviada para ajudá-lo no seu sustento durante o tempo de sua prisão. Mesmo estando prisioneiro e com a vida correndo risco de extermínio, Paulo demonstrou à igreja que havia um gozo em sua alma que o capacitava a superar todas as adversidades (Fp 1.4; 4.11-13).
 

Estudo da Carta de Filipenses


Introdução

Da prisão, Paulo escreve aos irmãos filipenses um apelo emocionante e encorajador para serem unidos e constantes.

 
Saudação (1:1-2). Paulo não escreve aos seus amigos em Filipos de sua posição como apóstolo, mas sim de sua posição ao lado deles, em jugo como eles no serviço ao Senhor. Suas palavras são para todos  os santos em Cristo Jesus em Filipos -- frisando a importância deles serem unidos na recepção da mensagem que ele está enviando-- mas com ênfase especial nos bispos e diáconos da congregação, cujo trabalho é de ajudar em manter os irmãos unidos e constantes no serviço do Senhor.


Ele lhes deseja graça e paz de Deus; onde essas coisas abundam, a unidade e constância também abundarão.


A oração de Paulo (1:3-11).  Paulo é sempre agradecido por tudo que ele tem recebido do Senhor, e ele vê os irmãos em Filipos como mais uma dádiva de Deus, porque o ajudaram desde o início de seu serviço de evangelização. Ele tem saudades deles "na terna misericórdia de Jesus Cristo" (1:8), mas, ao invés de orar pelo próprio desejo de os ver de novo, ele ora pelo crescimento espiritual deles. Se eles crescerem em amor, com conhecimento e discernimento, Paulo sabe que terá oportunidade de os ver de novo após esta vida, que é mais importante que os ver outra vez nesta vida. O desejo dele é que Deus seja glorificado pelo crescimento frutífero dos irmãos em Filipos.

Pregando Cristo (1:12-18). Paulo não perdeu nenhuma oportunidade para pregar Cristo; mesmo na cadeia, ele estava pregando aos perdidos. Outros, também, estavam pregando. Alguns ficaram animados pelo exemplo de Paulo na prisão e se esforçaram para pregar mais fora da prisão. Outros, talvez egoístas em querer mostrar que o apóstolo não era o único capaz de ganhar almas, estavam pregando zelosamente. Paulo não demonstrou o mesmo caráter daqueles com atitudes erradas. Ele não sentiu inveja deles como eles esperavam. Antes, ele louvou ao Senhor porque Cristo estava sendo pregado. O poder da salvação está na palavra (veja Romanos 1:16); aqueles que procuram a salvação, vão ouvir a palavra da verdade e a seguir, ao invés de seguir os homens que a ensinam.

Vivendo em Cristo (1:19-26). Paulo conhece apenas duas opções: viver como Cristo viveu, ou morrer como Cristo morreu (1:21). Essa é a chave para entender a atitude de Paulo. Porque ele vive como Cristo viveu, ele não se envergonha de estar preso. Sabe que será provado justo no dia do Senhor, assim como Cristo foi provado justo pela ressurreição. Uma vez que ele vive como Cristo, sabe que a morte será para ganhar a recompensa eterna com o Pai. Portanto, o desejo sincero de Paulo é que Cristo seja magnificado no seu corpo, e que sua vida encoraje os irmãos em Filipos. Ele preferiria morrer agora para estar com Cristo. Mas, se a decisão fosse dele, ele escolheria ficar para trás para continuar servindo, ainda na carne, aos seus irmãos, para o bem maior deles e não para o próprio bem dele.

Perguntas para estudo pessoal:

§     Paulo escreveu para "todos os santos". Quem são os santos?

§     Qual será o resultado se os filipenses crescerem em conhecimento e discernimento?




Filipenses 1:27-2:30

A Mente de Cristo

A importância da união (1:27 - 2:4). Filipos era uma colônia do Império romano. Os cidadãos viviam como romanos, respeitando as leis de Roma e pagando impostos a César. Eles gozavam da segu-rança e dos benefícios de serem cidadãos romanos, ainda que vivessem a uma grande distância de Roma. Parte da força de Roma era a união de suas colônias através do mundo antigo: todas elas estavam se esforçando juntas pelo bem comum.
 
Semelhantemente, os cristãos filipenses eram uma "colônia" do céu. Quando Paulo escreveu "vivei de um modo digno" (v. 27), ele estava lhes dizendo para "viverem como cidadãos" de sua cidade capital: o céu (veja 30:20). Um cidadão tem que manter um certo perfil. Como o resto do mundo saberia que os filipenses eram romanos? Eles viviam como romanos. Como o mundo saberia que eles eram cidadãos do céu? Eles teriam que viver como santos: em união, amor e serviço. O Império Romano era forte, mas no fim caiu. A unidade da cidadania cristã é parte de "um reino inabalável" (veja Hebreus 12:28).
 
A mente de Cristo (2:5-11).
Para os santos filipenses servirem bem uns aos outros, deixando seus próprios desejos pelo bem comum de todos os santos, eles teriam que aprender a ser desprendidos. Muitos reinos tinham caído por causa do egoísmo e da ganância. Mas o reino do céu estava estabelecido no serviço desinteressado aos outros. Jesus Cristo -- o próprio Rei -- veio como um servo (vs. 6-7), e serviu a toda a humanidade vivendo sem pecado e morrendo numa cruz. Se Jesus pode humilhar-se para descer do céu e servir os homens, estes podem humilhar-se para descer de seu orgulho e servir os outros.

Realize sua salvação (2:12-16). A salvação é uma dádiva de Deus (veja Romanos 6:23), mas exige uma resposta por parte dos homens para a receberem. Essa resposta é obediência. Paulo encoraja-os a continuarem obedecendo, justo como tinham feito quando ele estava com eles (v. 12). Ele incita-os a obedecer "porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (v. 13). Quando obedecemos a Deus fielmente, ele trabalha em nós para a salvação. A obediência jubilosa e unida dos servos de Deus é "luz" num mundo escuro onde as pessoas vivem com ira e disputa, servindo só a si mesmas.

Vários exemplos (2:17-30). Paulo conclui com três exemplos de serviço desinteressado. Paulo estava feliz (vs. 17-18) por ser "oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé". Timóteo (vs. 19-24) não era como os outros, que "buscam o que é seu próprio" (v. 21), mas queria fazer as jornadas perigosas de ida e volta a Filipos para servir a Paulo e seus irmãos. E Epafrodito (vs. 25-30), "por causa da obra de Cristo chegou às portas da morte e se dispôs a dar a própria vida". Que Deus ajude todos nós a sermos um exemplo de serviço desinteressado.

 
Perguntas para estudo pessoal:

§     Qual é a resposta de Deus para aqueles que se humilham? (vs. 9-11; veja ambém 1 Pedro 5:5-6).

§     As denominações buscam "União na Diversidade Doutrinária" -- uma tentativa para esquecer as diferenças entre "doutrinas" em favor da "unidade a todo custo". Qual é a diferença entre essa união e a que Paulo prega aqui? diferenças entre "doutrinas" em favor da unidade a todo custo". Qual é a diferença entre essa união e a que Paulo prega aqui?


Filipenses 3:1-16

Não Confiar na Carne

"No Senhor" (3:1). A chave à nossa alegria deve estar "no Senhor" (v. 1), e não nas nossas próprias obras. Devemos estar buscando "em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça" (Mateus 6:33). Por este motivo, Paulo escreve aos filipenses mais uma vez "as mesmas coisas" que já ouviram dele em Cristo. É nossa segurança no evangelho que continuamos estudando as mesmas palavras do Senhor, ao invés de criar novos e "melhores" credos. Tudo que precisamos para sermos fiéis e piedosos já foi nos dado nas Escrituras (veja 2 Timóteo 3:16-17; 2 Pedro 1:3; Judas 3). Quando acrescentamos ou tiramos alguma coisa da vontade divina revelada, mostramos que nossa confiança está em nós mesmos e na nossa sabedoria e não na dele.

 
A verdadeira circuncisão (3:2-3).
Alguns chegaram a filipos ensinando coisas que não faziam parte do evangelho de Cristo. Falaram que os irmãos precisavam se circuncidarem e cumprirem a Lei de Moisés. Paulo explica que a circuncisão verdadeira é do espírito, e não da carne (veja Colossenses 2:11-14). É Cristo quem circuncida nosso coração e espírito quando, pela fé obediente, somos batizados nele. A falsa circuncisão tem ligação com Abraão apenas pela descendência física, mas a verdadeira circuncisão são aqueles que têm a de Abraão (veja Gálatas 3:7-14,26-29).


Considerando tudo como perda (3:4-11). Paulo mostra a futilidade de confiar na carne, usando o exemplo da própria vida dele. Se alguém poderia ter confiado na carne, seria Paulo. As coisas que ele conseguiu fazer, como judeu, eram notáveis. Mas, para Paulo, nada disso importava. Ele não somente considerava todas essas coisas perda, mas até as chamou de refugo. Até as maiores coisas que um homem pode conseguir aqui nessa vida não são nada quando comparadas com "a sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus" (v. 8). Paulo considerava tudo refugo para não ser tentado confiar nas coisas que ele tinha feito. Ele sabia que precisava se conformar com Cristo na sua morte (v. 10-11).  Se houver algo que ameaça nos impedir de participar da ressurreição, precisamos considerar tal coisa refugo e jogá-la fora.


Prosseguindo para alcançar (3:12-16). Até o próprio apóstolo Paulo não acreditou que uma vez que ele foi salvo, foi salvo para sempre. Enquanto ele era confiante da sua salvação em Cristo, é óbvio que ele continuou cada dia a fazer o que pôde para prosseguir na luta. Ele não quis perder "o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (v. 14). Se Paulo tinha que batalhar todos os dias, todos os discípulos de Cristo precisam fazer o mesmo. Utilizemos o que já aprendemos em Cristo para nos ajudar a prosseguir cada dia para aprender mais de Cristo e de seu plano eterno para aqueles que o amam!

Perguntas para reflexão:

§     No seu louvor, você faz coisas que não fazem parte do evangelho de Cristo revelado nas Escrituras, ou você está se esforçando para fazer "as mesmas coisas" que Paulo escreveu para os irmãos do primeiro século?

§     Quais coisas que você tem feito -- até educação e profissão-- ameaçam impedir a sua vida eterna com Cristo? Mude e coloque o Senhor em primeiro lugar.

§     Você está prosseguindo para alcançar quais alvos espirituais? Você está progredindo?




Aplicando as Lições

Um contraste de caráter (3:17- 4:1). Paulo começa aplicando as lições a si mesmo, como um exemplo aos irmãos. Ele os faz lembrar de sua caminhada como cidadão do céu, cujo Deus é o Salvador, com poder para mudar nossos humildes corpos terrestres em outros glorificados (3:21). Ele se contrasta com outros que entraram no meio deles, aqueles que servem a seus próprios desejos e paixões em vez da verdade e poder de Deus. Seu deus "do ventre" não pode dar glória eterna aos seus seguidores, mas pode somente levá-los à "perdição", que é a "glória" do ganho terrestre temporário (3:19). É a esperança de glória celestial que fortalece os fiéis quando os infiéis caem (4:1).


Responsabilidades individuais (4:2-3). A unificação do corpo de Cristo começa num nível pessoal. A igreja se compõe de pessoas que vêm de uma variedade de ambientes, com uma variedade de perso-nalidades e níveis de maturidade. Certa-mente, aparecerão diferenças de opinião entre irmãos. Mesmo o próprio Paulo tinha uma forte diferença de opinião com dois outros discípulos (veja Atos 15:36-41). Mas, se estas diferenças espirituais forem tais que afetem nossa unidade espiritual, elas precisam ser superadas. Nossa tarefa é permanecer unidos para que possamos continuar a luta contra Satanás (veja 1:27-28). Evódia e Síntique são instruídas a superar suas diferenças, pensando "concordemente, no Senhor" (4:2). E, como o "fiel companheiro de jugo" não nomeado (4: 3), aqueles que estão unidos no Senhor deverão trabalhar duramente ajudando aqueles que estão lutando.


Alegria em Cristo (4:4-7). Não é fácil estar contente no sofrimento, mas isto é o que o cristão é chamado freqüentemente a fazer. O cristão que está lutando contra Satanás sofrerá nesta vida (veja 2 Timóteo 3:12). Mas podemos regozijar-nos, não importa quão dura seja a situação, se rego-zijamos "no Senhor". Se simplesmente nos mantivermos perto do Senhor, em oração, e pelo nosso próprio comportamento moderado, até mesmo no sofrimento poderemos conhecer a paz "que excede todo o entendimento" (4:7). Paulo está escrevendo com experiência: lembre-se, foi em Filipos que ele e Silas estavam alegremente cantando hinos a Deus mesmo depois de terem sido espancados e atirados na prisão (veja Atos 16:19-25).


Como pensar (4:8-9).
Tornar-se um cristão forte envolve uma mudança completa de personalidade, do coração para fora. Para se comportar como um cristão, precisa-se pensar como um cristão. O cristão precisa pensar ativamente, e não passivamente. Paulo diz para deixar que esta coisa "ocupe o vosso pensamento" (4:8). Uma mente ociosa acolherá todo tipo de pensamentos, desde os bons até os maus; mas uma mente ativa trabalhará para controlar-se, detendo-se no que é nobre e bom, deixando fora o que corrompe. Jesus ensinou que, não somente nossos atos, mas nossos pensamentos por trás deles serão julgados no dia final (veja Mateus 5:21-32).


Perguntas para reflexão:

§     Se unidade é estar "no Senhor", o que isto sugere sobre a prática de ficar tolerando diferenças doutrinárias de modo a preservar "a unidade"? (4:2).

§     Quais coisas, na sua prática diária, ameaçam sua capacidade de ocupar sua mente com o que é bom? (4:8).




Filipenses 4:10-23

Gratidão e Bênção

Paulo começou sua carta agradecendo a Deus pelos filipenses (1:3). Ele encerra com  agradecimento pessoal aos irmãos.

 
A vida contente (4:10-13). Ao receber ajuda dos filipenses, Paulo se regozija grandemente "no Senhor" (4:10). Mesmo assim, ele explica que seu contentamento vem, não das coisas que ele tem nesta vida, mas em sua relação com o Senhor. O contentamento, nesta vida, é uma atitude aprendida (4:11). Em todas as coisas que Paulo sofreu por amor do evangelho (veja 1:17; 3:4-11; 2 Coríntios 11:23-30), ele aprendeu a manter sua atenção em Cristo (veja também 2 Coríntios 12:7-10). Se aprendemos a ter Cristo como o foco de nossa vida, a nossa circunstância material perderá sua importância (4:12-13).
 
O verdadeiro donativo (4:14-20). Ainda que Paulo não precisasse do donativo deles para ficar contente, assim mesmo ele se regozijou em recebê-lo porque eles participaram da aflição dele (4:14). Eles tinham ajudado a Paulo desde o início, quando ele saiu de Filipos para ensinar em Tessalônica (4:15-16; veja Atos 16:11-17:4 e 2 Coríntios 8:1-5). Agora que tinham oportunidade de ajudá-lo novamente, isso significaria "fruto" para crédito deles (4:17). Eles colheriam ricas recompensas do Pai (4:19). A dádiva deles era um sacrifício pessoal, "como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus" (4:18). Não é o objeto do sacrifício que dá a suave fragrância a Deus, mas o coração daquele que faz o sacrifício. Os corações dos filipenses eram suaves para Deus, em seu abundante amor para com Paulo.

 
Essa generosidade é o modelo para os cristãos de hoje. Eles não deram esperando receber bênçãos em retribuição. Não deram porque era algo que "a igreja" exigia. Eles deram com ânimo e de coração, sabendo que sua dádiva estava indo para a divulgação do evangelho e que "Deus ama a quem dá com alegria" (2 Coríntios 9:7).

 
Saudações e bênçãos (4:21-23). Nosso amor genuíno de uns pelos outros e nosso cuidado com a unidade no corpo de Cristo devem compelir-nos a ver uns aos outros assim como Cristo nos vê. Podemos saudar nossos irmão "em Cristo Jesus", se há lutas entre nós? (veja 4:2-3). Temos que humilhar-nos e abandonar nossas diferen-ças pessoais para ajudar uns aos outros chegar ao céu. Isso é exatamente o que Jesus fez por nós (2:5-11).

 
Paulo envia saudações de todos os irmãos que estavam com ele (4:21-22). Os filipen-ses haviam ajudado a levar o evangelho até aqueles da casa de César, que se lembravam deles com amor. Em tudo isto, a graça do Senhor é óbvia. Paulo começou sua carta desejando-lhes a graça do Senhor, e encerra-a com o mesmo desejo (4:23). Onde abunda a graça do Senhor, haverá paz, unidade, e força para superar as tentativas de Satanás a destruir os servos de Deus (veja 2 Coríntios 12:9-10). 

Perguntas para mais estudo:

§     Através de toda a sua carta aos filipenses, Paulo estava agradecido por quais coisas? Pelo que você é agradecido (Qual é o seu foco)?

§     Deus aceita todos os sacrifícios? Como é possível fazer um sacrifício a Deus que não lhe agrada? (Veja Isaías 1:11-14; Jeremias 7:21-23; Mateus 7:21-23; 15:7-9).

§     Se amamos a Deus, qual será nossa atitude para com o povo por quem ele morreu para salvar?