quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A CAUSA DA SALVAÇÃO

A CAUSA DA SALVAÇÃO

EF. 1:3-6
Deus como Causa - Ap. 1:8
‘Somente Deus pode causar a salvação pois apenas Ele pode causar o que lhe apraz’
A salvação começa com Deus, e isso, “antes da fundação do mundo” (Ef. 1:3,4; II Ts. 2:13; Ap. 13:8). Por causa de não existir no princípio um homem sequer, junto com a sua vontade, nem o ministério dos anjos ou a pregação da Palavra de Deus - a salvação começou com o que era no princípio: Deus (Gn. 1:1). Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim (Ap. 1:8, 11). Deus é a primeira causa de tudo, um conceito reservado para o divino (Rm. 11:36). Porque? “Ó Pai, porque assim te aprouve.” (Lc. 10:21).
Entendendo a situação deplorável do homem (Gn. 6:5; Rm. 3:10-18) podemos entender que a fé em Cristo é “obra de Deus” (Jo. 6:29). É necessário lembrar-nos que o assunto deste estudo é a salvação e não a condenação. Os condenados pela justiça santa de Deus só podem culpar a sua própria cegueira espiritual e amor pelo pecado. Nunca podem responsabilizar a Deus pela condenação (Ec. 7:29). Os salvos, de outra maneira, somente têm Deus para louvar pela salvação (II Ts. 2:13).
O Bom Prazer da Sua Vontade - Ef. 1:11
A vontade de Deus é a expressão do prazer de Deus. A vontade de Deus não pode ser diferente da Sua natureza, portanto, ela é soberana (não influênciada pelas forças terceiras), santa (pura, imaculada, inocente), poderosa (Ele pode desejar o que Ele deve) e imutável (nada impendido ou mudando a Sua vontade).
A Sua vontade motiva as Suas ações (Ef. 1:11, “faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”). Na esfera dos deuses o verdadeiro Deus se destaca, pois, somente Ele faz “tudo o que lhe apraz” (Sl. 115:3). O que foi criado, nos mares e em todos os abismos, é atribuído a ser criado por que Deus quis (Sl. 135:6, “tudo o que o SENHOR quis, fez”). A eleição em Cristo que foi programada antes da fundação do mundo e a predestinação para os Seus serem filhos de adoção por Jesus Cristo são tidos como sendo “segundo o beneplácito de Sua vontade” (Ef. 1:4,5); “segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (II Tm. 1:9). Tudo o que é envolvido no assunto da salvação é “segundo a Sua vontade” (Tg. 1:18). Deve ser notado que o amor e a graça de Deus fazem parte de Deus e conseqüentemente a salvação, mas não serão tratados como causas da salvação em particular pois podem ser considerados melhor num estudo detalhadamente sobre a própria vontade de Deus.
É lógico que seja a vontade de Deus uma causa da salvação pois a vontade de Deus é uma parte essencial da sua natureza expressando-a e sendo tudo que Deus é. “Falhamos em entender a origem de qualquer coisa quando não voltamos à vontade soberana de Deus” (Pink, The Atonement, p. 22). Se Deus é antes de todas as coisas (Cl. 1:17), a sua vontade é também antes de tudo que existe e acontece. Aquele que sucede e é efetuado no mundo é o que o SENHOR dos Exércitos pensou e determinou (Is. 14:24, “O SENHOR dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará”). Muito além da Sua vontade ser um tormento, é confortadora. Deus fazendo as Suas obras conforme o bom prazer da Sua vontade conforta o santo na sua tribulação. O servo Jó confiou na vontade de Deus na sua tristeza e foi confortado (Jó 23:13, “O que a Sua alma quiser, isso fará”). A mesma vontade que nos salva nos garante o aperfeiçoamento da salvação até o memento que estamos na presença do Salvador no céu (Jo. 6:39,40). Tal conhecimento da vontade de Deus traz paz ao salvo.
Tudo que Cristo precisava fazer pessoalmente para efetuar a salvação foi em submissão à vontade de Deus (Hb. 10:7; Mt. 26:39). Tudo que os outros fizeram com Jesus durante o Seu tempo na terra, sim, até a traição de Judas, o julgamento injusto e a crucificação vergonhosa foi “pelo determinado conselho” de Deus (At. 2:23). Ninguém fez mais nem menos do que a completa vontade de Deus. Podemos não entender este ponto, mas a verdade revelada pela Palavra de Deus pode ser maior que a nossa capacidade de entende-la. Devemos acata-la pela fé (Hb. 11:1,6).
Mesmo que incluímos a vontade de Deus como parte da causa da salvação devemos frisar que a vontade de Deus não é a própria condenação ou a salvação mas uma parte íntegra de ambas. Há meios que Deus usa para efetuar a sua vontade e estes meios serão tratados posteriormente.
A Sua Presciência - I Pedro 1:2
A palavra ‘presciência’ (em grego: prognosis, #4268. Usada somente em Atos 2:23 e I Pe. 1:2) não é idêntica à palavra ‘conhecer’ (em grego: proginosko, # 4267. Usada em At. 26:5; Rm. 8:29; 11:2; I Pe. 1:20 e II Pe. 3:17) mesmo que seja relativa a ela. A palavra ‘presciência’ tem mais do que um mero conhecimento prévio de fatos embutido nela. É claro que Deus conhece todas as coisas e todas as pessoas pois ele é onisciente. Todavia a palavra ‘presciência’ também tem um entendimento de preordenação ou uma preparação prévia (Thayer’s Léxico. Citado em Simmons, p. 211, Inglês). A presciência de Deus não somente conhece tudo, mas determina tudo em relação à salvação: O nascimento de Cristo (Gl. 4:4), a morte de Cristo pelas mãos injustas (At. 2:23; 4:28), as pessoas a serem salvas (I Pe. 1:2, “os eleitos”), o envio da mensagem a estes (At. 18:10) e a hora que crêem (At. 13:48). Tudo foi segundo a Sua ordenação explícita que, por sua vez, é segundo a Sua vontade que é eterna (II Ts. 2:13,14; Rm. 9:15,16). É nesse sentido de preordenação, que a salvação é segundo a presciência de Deus.
Deus conhece os Seus intimamente com um amor especial e a palavra ‘presciência’ indica isso. A presciência que Deus tem do Seu próprio povo quer dizer Sua complacência peculiar e graciosa para com Seu povo” (Comentário de Jamieson, Fausset, e Brown, citado pelo Simmons, p. 241, Português). Por ter um amor especial, Deus age para com os Seus de maneiras especiais (Dt. 7:7,8; Jr. 31:3; Rm. 9:9-16; I Jo. 4:19). No sentido de preordenação, os eleitos são especialmente e intimamente amados de antemão. É dessa maneira que eles são determinados em I Pedro 1:2 de serem eleitos “segundo a presciência de Deus”.
Há os que determinam que a vontade eterna de Deus é baseada naquilo que vem livremente do homem: a sua vontade. Isso seria basear a salvação divina no conhecimento anterior que Deus tem de algumas ações do homem. Se a vontade de Deus é baseada na ação que Deus conhecia antemão que um homem faria ensinaria que o conhecimento da ação do homem veio antes da própria vontade de Deus. Mas como temos estudado, Deus é antes de todas as coisas, e, em verdade “todas as coisas subsistem por Ele” (Cl. 1:17). A salvação do pecador não é baseada na vontade do homem, mas na de Deus (Ef. 1:11). O novo nascimento “não vem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo. 1:13; Rm. 9:16). Por isso, quando consideramos a causa da salvação, a vontade soberana e a presciência de Deus são contempladas. Os eleitos “segundo a presciência” de Deus são os que foram eleitos ‘na’ presciência de Deus (Simmons, p. 211, Inglês). Os eleitos são chamados não segundo as suas obras, mas, “segundo o Seu próprio propósito e graça” que lhes foi dado em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos (II Tm. 1:9).
A presciência, contudo, não anula que o homem tenha uma escolha na salvação. Os mandamentos de Deus para com o homem e as promessas de Deus em resposta às ações do homem confirmam que o homem tem responsabilidade pessoal. Todavia, a presciência garanta que os eventos preordenados serão feitos, até mesmo pela ação livre do homem. A referencia de Atos 2:23 e as múltiplas profecias sobre a vinda, vida, morte, ressurreição de Cristo, a implantação da sua igreja no mundo e os eventos que chamamos ainda de ‘futuros’ são provas que a presciência garante eventos predeterminados sem anular a ação livre do homem.
Aqueles que Deus não conheceu intimamente (Mt. 7:23) são os condenados. Devemos frisar que estes não são condenados por não serem especialmente conhecidos antemão por Deus, mas por praticarem a iniqüidade. São eternamente julgados por não buscarem a justiça de Deus pela fé (Rm. 9:31-33). O inferno é para os que “não se importaram de ter conhecimento de Deus” (Rm. 1:28). A Bíblia diz claramente que “o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá” (Pv. 1:25-32). Os “entenebrecidos no entendimento” são verdadeiramente separados da vida de Deus. Essa separação não é pela eleição, mas, biblicamente, “pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” (Ef. 4:17-19). Os salvos são recipientes da misericórdia e da graça de Deus dispensadas segundo a Sua vontade e trazidos ao arrependimento e a fé em Cristo (Jr. 31:3; Rm. 9:14,15; Ef. 2:5-9). Os salvos têm somente a Deus, Seu amor e a Sua vontade para louvarem eternamente. Os não salvos não são recipientes da misericórdia e da graça especial de Deus e são condenados pelos seus pecados (Rm. 6:23). Eles somente podem culpar o seu próprio pecado pois este é o que os separam de Deus (Is. 59:1-3). Os condenados têm somente a sua incredulidade para os acompanharem pela eternidade (Jo. 3:18,19). Devemos le1mbrar-nos que o propósito da salvação, que já estudamos, não é nem a salvação ou a condenação do homem, mas a própria glória de Deus. Tanto a salvação quanto a condenação operam para este fim (Pv. 4:16). A presciência faz parte da causa da salvação e não da condenação.
A Soberania de Deus - Ef. 1:11
A palavra soberania significa: 1. Qualidade de soberano. 2. Poder ou autoridade suprema de soberano. 3. Autoridade moral, tida como suprema; poder supremo. 4. Propriedade que tem um Estado de ser uma ordem suprema que não deve a sua validade a nenhuma outra ordem superior. 5. O complexo dos poderes que formam uma nação politicamente organizada (Dicionário Aurélio Eletrônico).
Quando falamos da soberania de Deus entendemos a qualidade de Deus desejar e fazer o que lhe apraz. É o exercício da Sua supremacia (C. D. Cole, citado em Leaves, Worms .., p. 120) ou a expressão da sua santa independência. A soberania de Deus deve ser considerada como parte da causa da salvação juntamente com a sua vontade e preordenação. É a vontade soberana que é relacionada com a Sua presciência, e, é o Seu poder soberano que determina que a Sua vontade seja realizada (Is. 46:10,11, “O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade”; 55:10,11, “fará o que me apraz”; Dn. 4:35; At. 2:23). Que Deus é tido como soberano é claro pelos versículos seguintes (Jó 23:13; Sl. 115:3; 135:6; Lm. 3:37,38; Is. 14:24; 45:7; Is. 46:9,10; Jo. 19:11; Rm. 11:33-39). Deus é soberano na salvação pois Ele não é obrigado a salvar qualquer das suas criaturas rebeldes. A Sua soberania na salvação é entendida em Romanos 9:18, “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer.” (Veja também Ef. 2:7-11). Deus, pela Sua soberania, faz o Teu povo chegar a Si (Sl. 65:4) e isso, voluntariamente (Sl. 110:3).
“Deus não é somente soberano, mas também é amor. Soberania isolada pode ser fria e dura. Amor isolado pode ser fraco. Deus não é frio e duro nem fraco. Ele é tanto Todo-Poderoso quanto cheio de amor. A soberania de Deus assegura que tudo que aconteça a nós é para Sua glória e o amor de Deus assegura que tudo que aconteça a nós é para o nosso bem.” (Maggie Chandler, Leaves, Worms, Butterflies and T. U. L. I. P. S., p. 70)
A soberania de Deus, em relação a causa da salvação junto com a sua vontade e presciência, é um assunto que vai além do entendimento do homem. A soberania de Deus pode ser considerada uma parte daquilo que é encoberto e que pertence somente ao SENHOR. Porem, aquela parte da soberania de Deus que é revelada pela Palavra de Deus, é para nós e deve ser abordada (Dt. 29:29). Mesmo assim que deve ser estudada, nem tudo revelado nas Escrituras é entendido facilmente. Há coisas para nós inescrutáveis (Jó 42:3), insondáveis (Rm. 11:33) e mais do que podemos contar (Sl. 40:5). Mesmo que nunca alcançaremos os caminhos de Deus ou chegaremos à perfeição do Todo-Poderoso (Jó 11:7), toda essa glória não deve nos cegar de ter fé no que as Sagradas Escrituras revelam de Deus. O homem pode não entender tudo sobre a Deus junto com a Sua vontade, a Sua presciência e Soberania (Mt. 20:13-15), mas em nenhum instante isso justifica o homem julgar ou replicar a Deus (Rm. 9:14-21) e nem ser ignorante do assunto. Se vamos andar da maneira reta diante de Deus, precisaremos andar pela fé com os fatos revelados (Hb. 11:1,6). O assunto da soberania de Deus pede que exercitamos essa fé.
A justiça e o amor de Deus são envolvidos na salvação mas não propriamente como a causa dela. A justiça pede a condenação dos pecados (Gn. 2:7; Ez. 18:20; Rm. 6:23) e não a salvação. O amor de Deus é o que trouxe Cristo para ser o Salvador (Jo. 3:16; Rm. 5:6-8), todavia estamos tratando não o ato da salvação mas a sua causa.

O DESÍGNIO E A NATUREZA DA SALVAÇÃO

O DESÍGNIO E A NATUREZA DA SALVAÇÃO

Introdução
A doutrina da salvação, na maioria das igrejas e centros de crença existentes hoje, é nebulosa ou, nos casos piores, contraditória. A confusão que existe sobre esta doutrina é tremenda. Tal confusão pode vir por ela tratar muitos tópicos em uma ordem que às vezes é difícil de seguir. Mesmo que o assunto contém aspectos que são impossíveis de entender por completo, convém um estudo sobre este vasto assunto pois quase todos os livros da Bíblia o tratam. O termo teológico deste assunto é soteriologia. Essa doutrina abrange as doutrinas da reprovação, a eleição, a providência, a regeneração, a conversão, a justificação e a santificação entre outras. Também envolve a necessidade de pregação, de arrependimento e de fé. Inclui até as boas obras e a perseverança dos santos. A salvação não é uma doutrina fácil de entender pelo homem. É uma atividade divina em que participam as três pessoas da Trindade agindo no homem. Por ela tratar da obra de Deus que resulta no eterno bem do homem para a glória de Deus somos incentivados a avançar neste assunto com temor e oração para entendê-la na forma que é do agrado de Deus.
Que Deus nos guie com entendimento espiritual pelas maravilhas da Sua Palavra no decorrer deste estudo e que Deus nos traz à convicção verdadeira, e, pela Palavra de Deus, nos dá um conhecimento melhor e pessoal de Jesus Cristo (Ef. 1:17-23).
O Desígnio da Salvação
Pela eternidade passada e pela eternidade futura Deus deseja receber toda a glória de tudo que Ele faz (Êx. 34:14; Is. 42:8; 48:11; Rm. 11:36; I Co. 10:31). Na realidade a ninguém outro, senão a Deus o Todo Poderoso, é devido toda a glória nos céus e na terra. A glória de Deus é a prática dos seres celestiais agora (Sl. 103:20; Is. 6:1-3) e para todo o sempre (Ap. 4:11; 5:12). Essa glória não vem de uma necessidade em Deus pois Ele não necessita de nenhuma coisa (At. 17:25) mas é simplesmente um desejo e direito particular (I Co. 1:26-31; Ef. 2:8-10).
A obediência é a forma abençoada por Deus para Ele ser glorificado (Rm. 4:20,21). A obediência desejada é entendida tanto antes do pecado (Gn. 2:16,17) quanto depois (Dt. 10:12,13). Pela obediência da Sua Palavra, Deus é glorificado. Essa observação contínua é o dever de todo o homem (Ec. 12:13).
A desobediência da lei de Deus é pecado (I Jo. 3:4; 5:17) e provoca a separação eterna do pecador da presença de Deus (Gn. 2:17; Rm. 6:23). O pecado é uma abominação tamanha justamente por não intentar dar glória a Deus (Nm. 20:12,13; 27:14; Dt. 32:51). O pecado é iniqüidade a Deus e em nenhuma maneira glorioso.
Desde o começo da Sua operação com os homens, Deus requer uma obediência explícita. Essa obediência desejada tem o fim de O glorificar. A maldição no jardim do Éden (Gn. 3:14-19, 22-24) foi expressada por causa do homem não colocar o desejo de Deus em primeiro lugar (Gn. 2:17; 3:6). A destruição da terra pela água nos dias de Noé (Gn. 6:5-7) foi anunciada sobre todos os homens por eles servirem a carne, não glorificando a Deus (Mt. 24:38). A história bíblica mostra o povo de Deus sendo castigado repetidas vezes, um castigo que continua até hoje, por adorar outros deuses (Jr. 44:1-10). A condição natural do homem é abominável diante de Deus justamente por ele não ter o temor de Deus diante de seus olhos (Rm. 3:18). A condenação final do homem ímpio será simplesmente por causa do homem não ter Deus nas suas cogitações (Sl. 10:4), desprezar toda a Sua repreensão (Pv. 1:30) e por não se arrependerem dos seus pecados e voltar a dar glória a Deus (Ap. 16:9). Foi dado outro tanto de tormento e pranto à Babilônia por causa de glorificar a si mesmo (Ap. 18:7). Deus nunca dará a glória devida a Ele a outro (Is. 42:8). Ao Deus da glória (At. 7:2), o Pai da glória (Ef. 1:17) é devida toda a glória para todo o sempre (Fp. 4:20; I Tm. 1:17).
Quando chegarmos ao assunto da salvação não podemos procurar modificar o desígnio eterno de Deus. Na doutrina da salvação Deus não está procurando dar glória ao homem. Pela salvação tratar dos seres humanos e o estado eterno deles não quer dizer que Deus não deseja receber a glória deste tratamento.
A salvação tem o propósito de trazer glória eternamente a Deus, e, essa glória na salvação, é por Jesus Cristo para todo o sempre (Rm. 16:27; II Co. 4:6; I Pe. 5:10). Pelo decorrer deste estudo entenderemos melhor como cada fase da salvação exalta a Cristo desde a eleição que foi feita em Cristo (Ef. 1:3,4) à santificação que traz os eleitos a serem semelhantes a Cristo (I Jo. 3:2). Cristo é a semente incorruptível pela qual os salvos são gerados de novo (I Pe. 1:23-25). Cristo é o caminho sem o qual ninguém vai a Deus (Jo. 14:6). Cristo é a verdade em qual o pecador deve crer para ser salvo (Jo. 3:35,36). Na imagem de Cristo os salvos são transformados (Rm. 8:29) e por Cristo os salvos são conservados (Jd. 1). Os frutos de justiça, são por Jesus Cristo, e, por isso, para a glória e louvor de Deus (Fp. 1:11). Não existe uma operação sequer na salvação que não glorifica Deus pelo Filho unigênito. Não deve ser segredo, tanto na realização da salvação quanto na condenação dos pecadores, Deus é, e sempre será, eternamente glorificado por Cristo (Jo. 5:23; 12:48; II Co. 2:15,16; Fp. 2:5-11).
Existem muitos erros nas crenças de muitas igrejas e crentes já neste ponto inicial sobre o propósito da salvação. Muitos querem colocar as bênçãos que o homem recebe pela salvação como sendo os objetivos divinos na salvação. Mesmo que a criação nova feita na salvação é maior e mais gloriosa do que a primeira criação relatada em Gênesis; mesmo que a salvação é de uma condenação horrível; mesmo que pela obra de Cristo na salvação Satanás é vencido e, mesmo que pela salvação moradas celestiais estão sendo feitas no céu, todas estas verdades são resultados da salvação e não os desígnios dela. Muitos confundem o eterno lar, o fruto do Espírito Santo, a vida cristã diante do mundo ou a igreja cheia de alegria como os desígnios da salvação. Mas, o estado final da salvação não deve ser confundido com o objetivo dela, nem os efeitos com as causas. Deus não tem propósito de dar a Sua glória ao outro, inanimado, animado ou mesmo um salvo, mas, somente a Ele (Is. 42:8). Como em tudo que Deus faz, a salvação centra em Deus e em sua glória e não nos benefícios do homem. Os efeitos que a salvação produz não são as causas da salvação ser decretada por Deus na eternidade passada.
Se, em nosso entendimento desta maravilhosa doutrina da salvação, a ênfase for colocada de qualquer maneira nas bênçãos que o homem recebe e não na glória de Deus, o nosso entendimento é falho neste respeito e devemos buscar as bênçãos de Deus para que Ele nos endireita para adorarmos a Ele como Ele deseja, em espírito e em verdade (Jo. 4:24).
A Natureza da Salvação
O fato de estudarmos a salvação presume que ela existe (Jo. 3:19). Se ela existe há uma necessidade que a faz existir. Por ter uma doutrina da salvação é presumida a existência de iniqüidade, que é a quebra de uma lei (I Jo. 3:4; 5:17, “o pecado é iniqüidade.”), e a existência de um que deu a lei, o qual é Deus (Jo. 15:22,24, “Se Eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado..”). Tudo o que é pecado (que será estudado posteriormente) e tudo que o pecado causa é desfeito pela salvação.
Em geral podemos dizer que a salvação é uma libertação. A salvação é libertação da culpa e impiedade do pecado juntamente das suas conseqüências eternas de rebelão contra o governo do Deus Todo-Poderoso (Cole, Definitions, V.II, p. 52). Sem a libertação que a salvação efetua, o pecador seria excluído eternamente da presença de Deus e para sempre exposto à Sua ira (Jo. 3:36). O fato da salvação ser livre, substitutiva, penal e sacrificatória será tratado quando estudarmos o preço pago por Cristo na salvação. Por agora entendemos que a salvação é necessária e é uma libertação.

A Habitação do Espirito Santo

A HABITAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
INTRODUÇÃO
Os Apóstolos ficaram tristes e confusos quando da menção da morte de Cristo e de sua partida. Na noite anterior a da Sua crucificação, o Salvador fortaleceu-os falando da vinda de um outro Consolador (João 14:16, 17). Este Consolador não só estaria com eles durante a vida como verdadeiramente habitaria neles. A habitação do Espírito de Deus ainda é consolo e sustento para os crentes. Nosso Salvador não está conosco em carne enquanto nós enfrentamos as aflições de cada dia, mas há Um maior do que o mundo (I João 4:4).
I. A DOUTRINA BÍBLICA DECLARADA.
O Novo Testamento ensina que o corpo de cada crente é lugar de habitação para o Espírito de Deus (I Cor 6:19; João 7:38,39). A habitação do Espírito não deve ser confundida com Suas obras graciosas no crente. A regeneração e os dons do Espírito devem ser distinguidos do dom da própria pessoa do Espírito (I Cor 12:4; Atos 2:38).
II. UMA VISÃO FALSA
Nenhuma verdade bíblica tem escapado da perversão das mãos dos homens. O erro mais comum referente a habitação do Espírito nos crentes é a afirmação de que essa benção não é comum a todos os crentes. Muitos ensinam que a salvação deve ser complementada por uma outra experiência antes que alguém possa gozar da presença e do poder do Espírito. A essa experiência chamam de segunda benção, santificação, ou batismo com o Espírito Santo. Enquanto vários grupos aumentam seus próprios conceitos, a idéia geral permanece a mesma.
A falha fundamental deste ensinamento está na idéia de que a salvação deve ser suplementada. Estando em Cristo o crente alcança todas as bênçãos (Col 2:10; Efés 1:3; I Cor 1:30). Quando os homens deixam de estar atentos a Cristo eles cometem erros. O dom do Espírito Santo vem para nós através da salvação por Cristo não como um suplemento (Rom 8:32; João 7:39). O Espírito Santo veio para magnificar a Jesus Cristo e não para chamar a atenção a Si (João 15:26).
III. A DOUTRINA BÍBLICA PROVADA
Já têm sido mencionado os versículos que mostram nossa doutrina claramente, e estes que seguem revelarão que há muitas outras verdades bíblicas que sugerem a habitação do Espírito Santo em cada crente.
A. O Espírito é recebido através da fé. A condição da salvação e o recebimento do Espírito são iguais - Efésios 2:8; João 7:38,39; Atos 11:16,17; Gálatas 3:2; Efésios 1:13.
B. Aqueles que estão sem o Espírito não são salvos - Romanos 8:9; I Coríntios 2:9-15; 12:3; Judas 19.
C. A presença do Espírito é necessária para que alguém seja ressurgido ou transladado - Romanos 8:11.
D. O Espírito é um dom - Atos 10:45.
E. A segurança da salvação está baseada em nós termos o Espírito - I João 4:13; 3:24; Romanos 8:15,16; 5:5.
F. Os crentes são vencedores - I João 4:3,4.
G. Deus nos dá o Espírito porque somos filhos - Gálatas 4:6..
A Simples idéia de um cristão não ter o Espírito é contraditória a todos os ensinamentos da Bíblia sobre a salvação
IV. PROBLEMAS RESOLVIDOS
Deixe-nos gastar alguns momentos com versículos usados no ensino de um falso aspecto dessa doutrina.
A. Efésios 5:18 - O "enchimento" do Espírito e a "habitação" não devem ser confundidos. Nós nunca somos instruídos a sermos "habitados" pelo Espírito de Deus.
B. Atos 5:32 - A obediência mencionada aqui é simplesmente a fé em Cristo. II Tessalonicenses 1:8; João 6:28,29; 7:39.
C. Passagens relacionadas ao batismo com o Espírito Santo - veja o capítulo 20

Estudos da Salvação

- SOTERIOLOGIA – A DOUTRINA DA SALVAÇÃO


Definição: Soteriologia é o estudo da doutrina da salvação, mas, não é correto dizer que a soteriologia é um estudo da apropriação da salvação pelo homem, pois isto não existe. A soteriologia é um estudo da aplicação e administração da obra redentora de Cristo aos pecadores eleitos, que se faz da seguinte forma: o Pai escolheu alguns pecadores entre a massa da humanidade caída para serem salvos, o Filho realiza a obra redentora na plenitude do tempo e o Espírito aplica esta obra redentora nos pecadores eleitos, justificados pela exclusiva graça de Deus a partir de um momento se suas vidas.
Depois disto, o estado de salvação é permanente, pois Deus provê não só a salvação, mas todos os meios conducentes para a regeneração e perseverança do pecador eleito na salvação recebida.

“Ao Senhor pertence a salvação”.


Jonas 2,9: “Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Ao SENHOR pertence a salvação!”

Quando se diz crer na confissão de Jonas, quer se mesmo dizer que a salvação pertence inteiramente ao Senhor? Isto significa que a salvação não depende ou é determinada por nenhum ato, decisão, obra ou vontade do homem, onde Deus faz a sua parte e o homem faz a dele. A salvação é a obra exclusiva da graça de Deus em Cristo; as obras, a justiça e o mérito humano não estão em questão, toda a salvação é pela graça, não é pela graça mais sacramentos, pela graça mais obras, pela graça mais serviços... Somente pela graça.


Romanos 11,6: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”.

A obra do homem, regenerado ou natural, não merece crédito algum para sua salvação, tampouco o homem caído pode decidir por sua salvação, a salvação depende da vontade soberana de Deus, somente Ele determina quem será salvo. O homem está sujeito à vontade de Deus, e não o contrário como imaginam muitos religiosos, na verdade pode-se dizer, com grande pesar: A grande maioria dos religiosos.

Romanos 9,15-16: “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia”.
João Calvino – Institutas – Vol. II: “Com efeito, nada há que a natureza humana mais cobice que ser afagada por lisonjas. E por isso onde ouve que seus predicados se revestem de grande realce, para esse rumo propende com extrema credulidade. Portanto, não é de admirar que, neste ponto, se haja transviado, de maneira profundamente danosa, a maioria esmagadora dos homens. Ora, uma vez que é ingênito a todos os mortais que sintam um cego amor por si mesmos, de muito bom grado se persuadem de que nada neles existe que, com justiça, deva ser abominado”.
A salvação é uma obra do deus triúno
A origem da salvação
A salvação do homem tem sua origem na graça de Deus, a graça é uma das qualidades e atributos de Deus, que consiste na aplicação de sua misericórdia, de forma livre e voluntária, aos homens pecadores que não merecem este favor.
A graça de Deus age conjuntamente com todas as suas qualidades e atribuições, e principalmente em adição à sua justiça, sendo que, enquanto sua justiça não é plena e cabalmente cumprida, sua misericórdia fica retida. A santidade de Deus provêm do equilíbrio de suas qualidades, que são todas igualmente perfeitas, e uma jamais pode se sobrepor à outra, o que é impossível para a natureza divina, que mantém eternamente o perfeito equilíbrio entre todas as qualidades e atributos que lhe são próprios.
Cristo como mediador entre Deus e o homem, é também o mediador entre a justiça e a misericórdia divinas, desta forma, Cristo é o representante vivo da graça de Deus.
Romanos 16,24: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!”.
A graça de Deus também pode ser referida à operação do Espírito Santo na obra de redenção, o Espírito é o aplicador da graça na justificação e regeneração do crente.
Hebreus 10,29: “De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?”.
A graça comum
O homem natural consegue fazer muitas coisas louváveis neste mundo, tais como o desenvolvimento científico, as obras de arte, a música, a convivência social, o respeito às leis civis e tantas outras. Como explicar todas estas coisas sabendo que o mundo é escravo do pecado? A posição reformada é que o homem natural não tem em si mesmo capacidade para realizar qualquer obra realmente boa e agradável a Deus; ao lado da graça salvadora, existe a graça comum, uma graça universal que não traz a redenção ao homem, mas mantém a ordem natural e possibilita o progresso social, artístico e científico distribuindo aos homens os dons necessários para estes fins. Esta graça comum manifesta-se na distribuição de bênçãos e também na restrição do poder destruidor do pecado, mantendo desta forma, a ordem moral no universo criado.
Mateus 5,45: “Para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”.
A graça comum consiste, pois, na operação geral do Espírito Santo pela qual ele mantém e dirige tanto a natureza como os seres vivos de forma que todos os fatos do universo se dirijam inexoravelmente à execução do plano eterno de Deus.
Resta uma questão sobre a graça comum: Como um Deus perfeitamente santo e justo estende suas bênçãos a homens pecadores dignos apenas da morte e do castigo eterno? Alguns teólogos afirmam que, mesmo esta graça comum somente se torna possível através da obra expiatória de Cristo, mas não é necessário supor uma base legal para a administração da graça comum, pois ela é necessária à manutenção e à ordem do universo e não retira a culpa pelos pecados nem promove a salvação dos réprobos, pela graça comum, a condenação não é eliminada, mas reservada para o Dia do Juízo.
Os arminianos, defensores do livre-arbítrio, consideram a graça comum como parte do processo de salvação, e sustentam que a graça comum é suficiente para a salvação do homem, afirmando que o recebimento da graça comum torna o homem capaz de obter por seu próprio esforço a graça salvadora e decidir pela sua própria salvação.
Este é um erro denunciado por todos os documentos da reforma, particularmente pelos Cânones de Dort e pela Confissão de Fé de Westminster, sendo incompatível com a fé cristã, pois rejeita a soberania de Deus e a exclusividade do sacrifício de Cristo, tornando o homem dono e senhor de sua salvação, criando para Deus a obrigação da salvação pelo mérito próprio do homem.
Lamentações 3,37-39: “Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Acaso, não procede do Altíssimo tanto o mal como o bem? Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados”.

Operação da graça comum
1 – A revelação geral (a luz de Deus): Todo homem traz em si a consciência inata do conhecimento de Deus, este é um reflexo da imagem de Deus no homem, que, mesmo após a queda, continua fazendo parte da natureza humana. Por esta consciência, operada pelo Espírito, e legada de forma inalienável a todo o homem, existe um senso comum universal de rejeição ao assassinato, ao roubo, ao adultério e à violência desnecessária. Este senso comum forma uma opinião pública generalizada em prol da ordem civil e harmonia social própria de todas as raças, sexos e idades em todo o mundo, o que possibilita a ordem e a convivência entre as pessoas e os diversos países.
Romanos 1,19: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis”.
2 - Autoridades estabelecidas: Todos os governos e autoridades civis são estabelecidos por Deus, tanto para manter a ordem e a paz social, como em muitos casos, para trazer o caos e a destruição. Todas estas coisas visam à execução do plano eterno de Deus, o qual está além da compreensão humana.
Teólogos respeitáveis consideram válida a insurgência civil contra os governos e autoridades que violam deliberadamente as leis de Deus, trazendo aos seus governados a desesperança e a miséria resultantes; este é um assunto para meditação, havendo muitas formas de protesto contra um governo deste tipo, mas, sem sombra de dúvida, o conhecimento de Deus vem em primeiro lugar para dar origem à autoridade e ao direito a este protesto.
Romanos 113,1: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas”.
UNIÃO MÍSTICA
Este é um nome infeliz, pois traz a ideia de algo misterioso e esotérico, ou ainda de uma união de propriedades do crente com Cristo, o que é impossível, nenhum homem pode ter união ou participar da essência divina de forma alguma. Todavia, este nome foi adotado de forma geral pela teologia reformada, motivo pelo qual será usado neste estudo.
A união mística significa o relacionamento íntimo e eterno de Cristo com o eleito; assim como Adão foi o representante federal da humanidade na queda, Cristo é o representante federal dos eleitos de Deus, posição esta que foi assumida por ele no Decreto da Redenção. É preciso, porém, salientar a diferença entre a ligação de toda a humanidade que caiu pelo pecado de Adão e a união mística: A união mística é somente entre os eleitos justificados e Cristo, ela não é universal como a queda.
Desta forma, todos os crentes estão unidos a Cristo a partir deste Decreto da Eleição desde a eternidade, a ligação do crente a Cristo durante sua vida terrena é uma manifestação temporal desta união, pois, a eleição precede, em ordem lógica, o Decreto da Redenção. Desta forma, vê-se que todos aqueles que foram salvos antes da vinda de Cristo, já estavam unidos a ele desde a eternidade.
João 15,5: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.
Esta união é a origem da diferença entre a graça comum e a graça especial, que será vista adiante, a graça comum é própria a todas as coisas e criaturas no universo, mas a graça especial somente pode ser concedida àqueles que estão unidos a Cristo pela eleição eterna.
Esta união primordial explica a justificação, quando Cristo morreu pelos seus eleitos eles já estavam ligados a ele desde a eternidade, ele já era o representante federal de todo o seu povo que lhe foi dado por Deus antes da criação do mundo.
Esta união permanente antes da existência do mundo também explica a filiação eterna do Verbo, ele é o Filho eternamente, pois desde a eternidade ele está ligado a seu povo em caráter visceral, permanente e inalienável, por isto ele pode dizer: “Eu lhes dou a vida eterna”.
João 10,28: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”.

A teologia luterana, assim como os arminianos e católicos, atribuem esta ligação e a continuidade dela ao esforço humano, negando, desta forma, tanto os efeitos universais da queda como os decretos divinos e a suficiência do sacrifício de Cristo.

Adão era o representante federal da humanidade, isto era necessário, pois caso ele cumprisse a Aliança de Obras, seus efeitos salvadores seriam transmitidos a todos os seus descendentes por imputação desta união. Pelo mesmo motivo, a queda também se propagou em toda sua descendência, por geração ordinária, da mesma forma como teria sido a salvação, se obtida.

Cristo é o representante federal de seu povo, que lhe foi dado por Deus, desta forma, os efeitos redentores da sua obra se transmitem de forma eficaz e irresistível a todos aqueles que foram escolhidos para a salvação e somente estes.

A operação da união mística: Esta é a ação eficaz e silenciosa do Espírito na vida dos crentes justificados pela graça; ele recebe de Cristo todas as bênçãos da redenção e as aplica em seu povo, que vêm a constituir a Igreja de Deus, onde Cristo é o cabeça e o Espírito o operador e preservador da salvação, que desta forma é eterna e inalienável para aqueles a quem foi destinada na eternidade.

João 16,14: “Ele (o Espírito) me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”.

Esta união é considerada orgânica, isto significa que não é uma atribuição aleatória, sendo aplicada ora em um crente, ora em outro, também não é uma relação temporal, ora conseguida ora perdida, mas é uma relação decidida na eternidade e permanente entre Cristo e aqueles que são seus, constituindo um corpo orgânico único, que se constitui no reino de Deus: A união de todos os salvos, em todas as épocas da história da humanidade, em torno de Cristo.

Hebreus 2,14-15: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida”.
Apesar de ser uma união orgânica entre todos os verdadeiros cristãos, deve-se lembrar que esta união não se refere à igreja local, mas à Igreja (ou reino) de Deus, da qual somente fazem parte os eleitos em todos os tempos. Também não se pode esquecer que esta é uma união pessoal, todo verdadeiro crente foi escolhido antes da fundação do mundo e está ligado a Cristo de forma eterna e pessoal.

João 10,14: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim”.
Gálatas 2,20: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.
Adoção: No ato da justificação o cristão é imediatamente perdoado de seus pecados e adotado como filho de Deus, e após isto ele jamais perderá a condição de filho, isto somente é possível pela união previamente existente entre Cristo e o crente - a união mística que procede da eternidade. Não houvera esta união prévia e a adoção não seria possível sem ferir a justiça divina.

Efésios 1,5: “Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
Este verso é muito claro a respeito da adoção, ela se torna possível
“por meio de Jesus”, desta forma, pode-se ver que a adoção somente se viabiliza porque o eleito já está unido a Cristo que é o Filho eterno, de outra forma a justiça de Deus seria violada, coisa impossível de acontecer.
Isto é um fato completamente racional que torna inviável o arminianismo, pois a heresia do livre-arbítrio nega a união eterna entre Cristo e os eleitos, retirando definitivamente a legitimidade da adoção e tornando-a injusta, sujeitando a salvação a perdas e ganhos ao longo do tempo tornando-a inconstante e totalmente impossível.
João 8,35: “O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre”.
Por outro lado, a manutenção desta união não depende do esforço do crente, mas da operação do Espírito que mantém todo o corpo unido (a Igreja de Deus) de forma orgânica e provê a união pessoal pela habitação no crente. A Confissão de Fé de Westminster é muito clara com relação a este artigo, limitando a comunhão dos crentes à Igreja Universal, que é a união dos eleitos de Deus.
CFW - Capítulo XXV, Seção I - A igreja de Deus: A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.
Efésios 1,22-23: “E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”.
A igreja de Deus é católica, ou seja, universal, um corpo único constando de seus eleitos de toda a raça e nacionalidade que existem, existiram ou existirão em todos os lugares e em todos os tempos. Nenhuma denominação, raça ou nação tem a exclusividade da igreja, somente Deus conhece seus eleitos.
1 Coríntios 3,16: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.
Todos os homens, pela queda, estão mortos em seus delitos e pecados, o que possibilita esta união é a vivificação em Cristo dos eleitos que são justificados por Deus: O novo nascimento, sem o qual ninguém verá a Deus.

João 3,3: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.
Esta união não traz ao homem a capacidade de perseverar nela pelos seus próprios méritos, pelo contrário, ele somente permanece unido a Cristo pela ação contínua e efetiva do Espírito durante toda sua vida terrena. Aqueles que apostatam são os receberam uma iluminação temporal e foram abandonados pelo Espírito, estes nunca estiveram de fato unidos eternamente a Cristo, a união mística é visceral e inalienável, jamais será perdida.

Mateus 7,22-23: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.

Definição de termos – Iniquidade: “Iniquidade é tudo aquilo que é praticado pelas pessoas que ainda não receberam a graça de Deus em Cristo, podem ser atos louváveis aos olhos dos homens, e até heroicos, mas se não foram realizados pela graça de Deus, são apenas fruto de vaidade humana”.
Esta é uma definição que pode parecer cruel aos sentimentos humanos, mas é o que afirma a Escritura. Isto, porém, não significa que os atos iníquos praticados por aqueles que já foram justificados sejam agradáveis a Deus, somente os atos piedosos dos crentes regenerados são agradáveis a Deus, porque têm nele a sua origem e realização.
Efésios 2,10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.
Esta união mística não pode, de forma alguma, ser considerada como base ou mérito para a salvação, pelo contrário, ela é fruto da eleição eterna e sua aplicação é antes da existência do mundo, sem consideração alguma por algo que proceda do homem, mas somente por uma decisão divina que não depende dos méritos ou qualidades do homem.

Não se deve também confundir a união mística com a graça de Deus, que leva ao ato judicial de justificação, mas pode-se dizer que esta união é fruto da graça de Deus em Cristo, pois a eleição precede a redenção. Desta forma, esta é uma doutrina que deve trazer, sobretudo, humildade, pois o crente está unido a Cristo pela decisão divina e não por mérito algum de sua parte. Desta forma, ninguém se glorie em si mesmo, mas toda a glória desta união eterna pertence a Deus, em Cristo, nosso Senhor e Redentor, como afirma o apóstolo na sua despedida aos Gálatas.

Gálatas 6,14: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo”.

A união mística não é fruto de sacramentos ou perdão de pecados ministrados por sacerdotes, desta forma, transfere-se o poder de salvação para a igreja, que se torna detentora das bênçãos e distribuidora da graça de Deus, assumindo a mediação entre o homem e Deus no lugar de Cristo.

Novamente a Confissão de Fé de Westminster apresenta a comunhão dos santos não apenas como restrita à igreja universal, mas também claramente obrigada e limitada por esta união como se pode ver a seguir:


CFW - Capítulo XXVI, Seção I – O corpo de Cristo: Todos os santos que pelo seu Espírito e pela fé estão unidos a Jesus Cristo, seu Cabeça, têm com Ele comunhão nas suas graças, nos seus sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreição e na sua glória, e, estando unidos uns aos outros no amor, participam dos mesmos dons e graças e estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e particulares que contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no exterior.

1 João 1,3: “O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”.

O termo ‘santo’ utilizado neste capítulo refere-se aos eleitos eternamente unidos à Cristo, não significa que a Escritura ou a Confissão ensinem a santidade perfeita como sendo possível aos homens. A igreja é uma sociedade santa, não no sentido da perfeição moral, que é própria somente de Deus, o termo ‘santo’ usado aqui, tanto para a igreja como para os crentes, significa tanto a união com Cristo como a separação do mundo.  A comunhão dos santos se refere somente aos eleitos de Deus, que são chamados à comunhão através da união eterna com Cristo, o Cabeça da igreja.
A união mística e os sacramentos: Os sacramentos são símbolos, sinais e selos desta união com Cristo, sendo que a Confissão de Fé de Westminster é, mais uma vez, bastante radical nesta consideração, como podemos ver na transcrição do texto em referência:

“O batismo é um sacramento do Novo Testamento instituído por Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na Igreja a pessoa batizada, mas também para servir-lhe de sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus por Jesus Cristo a fim de andar em novidade de vida. Este sacramento, segundo a ordenação de Cristo, há de continuar em sua Igreja até ao fim do mundo.
Quanto à Ceia do Senhor, com muito mais razão ela representa a união mística pela sua própria natureza, quando Jesus instituiu a Ceia, ele claramente simbolizou esta união da forma mais íntima e visceral possível, simbolizando no pão e no vinho sua própria carne e seu sangue, demonstrando desta forma a união pessoal e orgânica entre ele e todos os eleitos em todas as épocas da humanidade. Pode-se mesmo dizer que o significado básico da Ceia é fundamentalmente a união eterna e pessoal de Cristo com todos os cristãos.

1 Coríntios 10,16-17: “Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão”.

Finalmente, a união mística é uma união com a Trindade divina, pois a mente das pessoas divinas é una e indivisível e todos eles são onipresentes e oniscientes, a onisciência de Deus é a onisciência de todas as pessoas da Trindade, pela união mística o cristão está visceralmente ligado através de Cristo à todas as pessoas da Trindade, ou seja, ligadas efetivamente à Deus.

João 14,17: “O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.
João 14,20: “Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós”.
João 14,23: “Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada”.
O Cristão e a lei
Esta união do regenerado com Cristo o leva a observar a lei de forma diversa do homem natural. Para o cristão, a lei, cujo cumprimento perfeito é ainda inalcançável, deixa de ser uma ameaça de maldição e passa a ser uma meta a ser cumprida nesta vida, porém uma meta que já realizada por Cristo. Desta forma, a lei será um ideal para orientar a vida do crente, que consciente de sua incapacidade, demandará todos os seus esforços em direção a este ideal, contando apenas com a graça de Deus em Cristo e mais nada de si mesmo.

Calvino: “Portanto, visto que agora a lei tem em relação aos fiéis o poder de exortação, não aquele poder que prende suas consciências na maldição, mas aquele que, com instar repetidamente, lhes sacode a indolência e lhes espicaça a imperfeição”.

A graça especial, ou salvífica

Como o homem, após a queda, tem a natureza corrompida sendo incapaz de fazer o que quer que seja para sua salvação, Deus determinou, na eternidade, o seu plano para salvar os homens pecadores conforme seus Decretos Eternos.

Salmo 139, 16: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda”.

Assim, Deus determinou na eternidade quem seria salvo, como seria feita a salvação e como seria provida a perseverança dos escolhidos.

As funções da Trindade no plano de redenção

- Deus o Pai, elegeu na eternidade, pela sua livre e soberana vontade, todas as pessoas que seriam salvas e todas que seriam condenadas. Aqueles que foram eleitos são o povo de Deus que foi dado a Cristo para a redenção em seu sangue. Os nomes dessas pessoas que recebem a graça de Deus estão registrados no Livro da Vida do Cordeiro, que morreu por seu povo antes da fundação do mundo.

Apocalipse 17,8: “A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá”.
- Deus o Filho, teve para si determinado, em pleno, eterno e imutável consenso entre as pessoas da Trindade, assumir na plenitude dos tempos, a natureza humana através da encarnação. Desta forma, tornou-se perfeito Deus e perfeito homem, apto a cumprir, de forma cabal e definitiva, a justiça de Deus; passivamente, através de uma vida de perfeita obediência, e ativamente, pela sua morte vicária em substituição aos homens pecadores que lhe foram dados pelo Pai. Pela sua vida de perfeita obediência e pela sua morte vicária, obteve de Deus a aceitação de sua obra através de sua ressurreição, ascensão e glorificação.

2 tessalonicenses 1,12: “A fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós, nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo”.
- Deus o Espírito Santo, realiza a obra da salvação em nome de Deus o Pai e de Cristo, agindo através de ação contínua na vida dos crentes justificados, ensinando, conduzindo e preservando-os no caminho da salvação. Deus garante, pela operação do Espírito, que os eleitos perseverarão na salvação até o fim de suas vidas, garantindo a cada um a vida eterna conforme prometido por Jesus Cristo.

João 6,47: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna”.

A. A. Hodge: “Deus é justo. Todos os homens são pecadores. Todos, todavia, são culpados, ou seja, estão debaixo de condenação. Portanto, nenhum homem pode ser justificado, ou seja, pronunciado não culpado, baseado no seu caráter ou conduta. Pecadores não podem satisfazer a justiça. Mas o que eles não poderiam fazer, Cristo, o Eterno Filho de Deus, vestido com a nossa natureza, fez por eles. Ele veio em retidão eterna, a qual possui todas as exigências da lei. Todo aquele que renuncia sua própria retidão, e confia na retidão de Cristo, foi justificado e salvo por Deus”.
Não se pode esquecer que a obra de aplicação da salvação, que aparece na economia da redenção como sendo do Espírito Santo, se processa como continuação da obra de Cristo, ou seja, desta união visceral e eterna que ele concretiza através do Espírito; todas as ações do Espírito são procedentes do Pai e do Filho.

João 16,13-14: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”.

Este é um resumo da obra da salvação que será estudada em detalhes na continuação deste capítulo, mas primeiro é preciso fazer um estudo da doutrina do pecado, pois em vista da herança cultural e religiosa predominante, existe a tendência inevitável de se ver o pecado somente como sendo intencional e efetivamente realizado, principalmente referente ao sexo ou à contravenção legal, qualquer outra coisa que não envolva estes fatores é vista socialmente como lícita, e isso não é correto, como exposto a seguir.
HAMARTOLOGIA – O ESTUDO DO PECADO
O que é o pecado? O pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, seja ela voluntária ou involuntária, conhecida ou ignorada, consciente ou inconsciente. O pecado tem origem na natureza corrompida e depravada do homem após a queda. Desta forma, o pecado não é a contravenção voluntária e imediata, mas o resultado permanente e definitivo na natureza do homem após a queda dos primeiros pais:

Ninguém se torna pecador porque peca, mas todos pecam porque são pecadores.

Romanos 5,12: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.
Apesar de que a grande maioria dos homens, incluindo os religiosos, não aceitam de fato a imputação do pecado original como a fonte e origem dos pecados factuais, a Escritura vai além disto e afirma que não é correto ver o pecado somente como falta de conformidade com a lei, o pecado é fundamentalmente uma ofensa e uma violação da relação pessoal com Deus, o que é infinitamente mais grave dado à dignidade intrínseca do ofendido. Cristo dá o exemplo, pois não agradou a si mesmo, mas agradou a Deus.

Romanos 15,3: “Porque também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim”.
O pecadoo pecado também pode ser definido como o amor a si mesmo, o desejo e a determinação de ter o próprio caminho, como se pode ver no pecado original: O desejo do homem em se igualar a Deus.

Gênesis 3,5: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”.

O maior obstáculo no relacionamento do homem com Deus é o ego, a negação da justiça própria é o primeiro passo para seguir a Cristo. Martinho Lutero era procurado pelo papado romano para ser submetido à inquisição, o que significava tortura extrema e a morte pública na fogueira, mas ele, quando inquirido a este respeito respondeu:

Martinho Lutero: “Tenho mais medo do meu ego que do papa e todos os cardeais de Roma”.

Os homens pecam conforme sua própria vontade?
O mal e o pecado foram determinados por Deus antes da fundação do mundo. Da mesma forma que os eleitos foram escolhidos na eternidade, sem mérito algum de si mesmos, os pecados que os homens iriam cometer também foram determinados na eternidade para cumprimento do plano eterno de Deus.

Todavia, não deve haver confusão neste ponto, apesar da determinação divina o homem é o único responsável pelos seus atos.

O que diz a Confissão de Fé de Westminster a este respeito?

Confissão de Fé de Westminster, Capítulo III, Seção I - A eterna pré-ordenação de Deus: Desde toda eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, decretou, livre e inalteravelmente, tudo quanto acontece; todavia, o fez de tal maneira, que Deus nem é o autor do pecado, nem faz violência à vontade de suas criaturas; e nem tira a liberdade e a contingência das causas secundárias, antes as confirma.

Capítulo III, Seção II - A presciência de Deus: Ainda que Deus saiba tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não ordena coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer sob alguma circunstância.
Confissões - Agostinho: “para ti, Senhor, não existe absolutamente o mal; e nem para a universalidade da tua criação; porque nada existe fora dela, capaz de romper ou de corromper a ordem que tu lhe impuseste. Todavia, em algumas de suas partes, determinados elementos, a nosso ver, não se harmonizam com outros, e estes são considerados maus”.

O plano de Deus é eterno e imutável, de maneira que todas as coisas acontecem no tempo, de acordo com os Decretos Eternos. Todo o propósito deste plano é destinado à glória de Deus e independe da vontade, pensamento ou atos das criaturas.
Esta predestinação, ou determinação prévia de todas as coisas, não retira do homem sua responsabilidade perante Deus.
A finalidade do bem e do mal foge completamente ao alcance da compreensão finita do homem sendo que a malignidade determinada por Deus se destina certamente a um bom propósito, mesmo que não esteja ao alcance do homem compreender esta finalidade.

Outro fator é que a malignidade, além de servir aos propósitos inescrutáveis de Deus, será completamente eliminada após o juízo final, ficando restrita ao local onde Deus será glorificado por isto: O inferno de fogo.

Desta forma, a malignidade irá servir à glorificação de Deus no mundo do porvir, onde por intermédio desta malignidade Deus irá demonstrar sua glória na punição de homens e anjos réprobos.

João Calvino, no primeiro volume das Institutas, vai mais longe do que a Confissão admitindo que Deus pode ser o autor do pecado sem que isto venha a provocar a mínima mancha em seu Ser ou qualidades, pois toda a responsabilidade pelo pecado cabe aos homens e anjos que venham a realizá-lo.

João Calvino – Intitutas, Volume I: “Mas, mais luz haverá em exemplos especiais. Do primeiro capítulo de Jó sabemos que Satanás, não menos que os anjos que obedecem de bom grado, se apresenta diante de Deus para receber ordens. Certamente que isso ele o faz de maneira e com propósito diferentes, todavia de modo que não possa encetar algo, a não ser que Deus o queira. E visto que, entretanto, em seguida parece explicitar-se permissão absoluta para que aflija ao santo varão, daí ser verdadeira esta afirmação: ‘O Senhor o deu, o Senhor o tirou; como aprouve a Deus, assim se fez’ [Jó 1.21]. Desta provação concluímos que Satanás e os salteadores perversos foram os ministros; Deus foi o autor. Satanás se esforça por incitar o santo a voltar-se contra Deus movido pelo desespero; os sabeus ímpia e cruelmente lançam mão dos bens alheios, roubando-os. Jó reconhece que da parte de Deus fora despojado de todos os seus haveres e em pobre transformado, pois assim aprouvera a Deus. Portanto, seja o que for que os homens maquinem, ou o próprio Satanás, entretanto Deus retém o timão, de sorte que lhes dirija os propósitos no sentido de executarem seus juízos”.
A restrição do pecado:
O Espírito não atua somente nos crentes regenerados, mas, ao mesmo tempo em que mantém os homens e anjos caídos ativamente voltados para o mal, também exerce um importante ministério em caráter universal que é a restrição ao pecado, de forma que estes homens ímpios e anjos caídos não conseguem executar todo o mal que pretendem. Este ministério será retirado nos tempos do fim, quando está revelado que virá a apostasia, antes da segunda vinda de Jesus.
2 Tessalonicenses 2,7: ”Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém”.
O que é o evangelho?
O evangelho são as boas novas trazidas por Jesus, mas, elas começam com más notícias:
1 – O legado de Adão: Adão legou a todas as pessoas da humanidade, em todos os tempos da história, o pecado original, que não é um pecado coletivo, mas um pecado individual, tão real como os pecados de fato, e traz a cada indivíduo a realidade de uma natureza corrompida e afastada deliberadamente da comunhão com Deus (estudo mais detalhado a seguir):
Romanos 5, 12: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.
2 – A natureza do homem: O homem possui, desde então, uma natureza pecaminosa e degenerada, os efeitos do pecado são catastróficos e por eles o homem é inimigo de Deus e não aceita ou procura a própria salvação, pelo contrário, resiste deliberadamente a tudo o que provém de Deus.
Salmo 51,5: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”.
3 – O homem e o pecado: O resultado do pecado é a morte, a condenação de Adão não foi a somente morte física, mas a morte espiritual - o afastamento e a exclusão da comunhão com Deus - e depois disto todos os descendentes de Adão por geração ordinária estão mortos em pecados e delitos, afastados da comunhão e da misericórdia de Deus.
Gênesis 3,3: “Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais”.
4- O pecado diante de Deus: Todos são pecadores diante de um Deus Irado. O homem não é pecador porque peca, mas peca por que é pecador, desta forma, toda a humanidade está debaixo da justa ira de Deus em função do pecado.
Salmos 7,11: “Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias”.
5 – A incapacidade humana: Os efeitos do pecado original são definitivos, o homem tornou-se pecador de forma irresistível e incontrolável, este pecado está tão entranhado na natureza do homem que ele se tornou incapaz de agradar a Deus e salvar a si mesmo.
Isaías 64,6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam”.
6 – O homem interior: Pela sua natureza corrompida e degenerada, o homem é incapaz de ter uma visão correta de si mesmo, pois ele se enxerga através do seu ego, o que coloca sua vontade acima da vontade de Deus. Isto se pode ver claramente em grande parte dos religiosos que acreditam em sua justiça própria e no seu arbítrio, adorando desta forma, a criatura em lugar do Criador.
Romanos 7,15: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto”.
O que é, então, o evangelho?
O evangelho são as boas novas de que Deus proveu, Ele mesmo, os meios para resgatar o homem do pecado e da culpa ao mesmo tempo em que restabelece a comunhão perdida.
A expressão máxima deste plano eterno é a pessoa de Jesus Cristo, o Deus encarnado, que se entregou voluntariamente em lugar do homem pecador, provendo a expiação da culpa e a vida eterna para seu povo, que lhe foi dado por Deus.
João 17,9: “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”.
Qualquer apresentação do evangelho que afirme que a graça de Deus torna o homem potencialmente capaz de salvar a si mesmo deve ser rejeitada como mentira grosseira e orgulho contra Deus.
2 Pedro 3,18: “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno”.
AS OBRAS DA CARNE
Não é somente a imoralidade que caracteriza a mente carnal, a pessoa pode ter uma vida exemplar, praticar assistência social, ser religiosa e mesmo assim possuir a mente carnal, pode ser líder de comunidade religiosa e ainda assim carnal, pode fazer parte integrante e praticante de congregações religiosas, e ainda carnal.
Não existem pessoas de mente mais carnal, referidas na Escritura, que os fariseus; eram religiosos que estavam cegos porque buscavam atender minuciosamente aos aspectos legais de uma religião formalista e procuravam a aprovação e a glória entre os homens.
Esta visão legalista do pecado leva a aceitá-lo como contraposição da lei, ao contrario da narrativa bíblica que deixa absolutamente claro que todo pecado é contra Deus somente e nunca com relação a preceitos ou formalidades legais.
1 João 2,15-16: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”.
O que são, então, as obras da carne?
Em geral, o termo carne, aplicado ao ser humano, não designa uma parte dele, e sim, toda a pessoa do ponto de vista da sua debilidade física ou moral, sujeita ao pecado e à morte. Quanto às obras da carne, não há necessidade de tratar de pecados óbvios: Assassinato,
roubo, adultério, falso testemunho e outros visíveis, todos sabem o que é isto. Todavia, é necessário falar de coisas mais importantes, implícitas nos mandamentos e na vida do homem, que não são diretamente declaradas e que se tornam em laço de iniquidade para o homem.
AS OBRAS DA CARNE
1 - O ORGULHO CONTRA DEUS:

A carne, melhor dizendo, a natureza carnal, é representada pelo ego, o homem natural luta dentro de si para que o Eu seja valorizado acima de todas as coisas. Embora a palavra carne seja entendida usualmente em referência ao sexo e ao corpo físico, seu significado vai muito além; a carne que milita contra o espírito não é nem a mente nem o corpo em si mesmos, mas uma atitude de oposição deliberada e voluntária a Deus: A mente carnal torna a vontade do homem suprema.

Quais os maiores pecados apontados em toda história da humanidade?
- O pecado original (como Deus sereis...)

O pecado original traduz a insatisfação, e ao mesmo tempo a incapacidade do homem, com relação à obediência aos mandamentos de Deus. Estas coisas, fermentando na mente, o levam a querer se igualar a Deus, colocando sua vontade acima das determinações do Criador.

Gênesis 3,5: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”.

- A morte de Jesus (vós o matastes)

A morte de Jesus faz parte do plano divino de salvação do homem e foi determinada por Deus na eternidade, o que não retira dos executores o pecado e a culpa por este ato infame perpetrado contra o Filho de Deus. As determinações eternas não retiram do homem a responsabilidade pelos seus atos, pelo contrário, agravam suas culpas, uma vez que foram destinados por Deus à desobediência e perdição eternas.

Atos 2,23: “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”.

- O homem da apostasia (o homem da iniquidade)

Antes da segunda vinda de Cristo o mundo estará mergulhado na apostasia, este estado de coisas terá um representante na terra, provavelmente a pessoa que irá estar à frente da religião ecumênica, o movimento de união de todas as religiões do mundo em torno de um só líder: “O homem da iniquidade”.

2 Tessalonicenses 2,3-4: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus”.

Nenhum desses pecados envolve o sexo, mas foram os pecados que mais influenciaram ou influenciarão a humanidade, todos oriundos do orgulho contra Deus.
2 - IDOLATRIA E FEITIÇARIA (falsas religiões):

O povo hebreu não conseguia ser fiel ao seu Deus, eles queriam manifestações palpáveis, que pudessem ser aferidas pelos sentidos materiais, que pudessem ser tocadas, guardadas e vistas por eles. Deus é espírito puro, não pode ser visto ou tocado, é transcendente e está acima de todas as coisas do universo. Este é um fato que desagrada ao ego humano, e o homem moderno segue buscando deuses mundanos que atendam suas necessidades psicológicas e materiais antes de suas necessidades espirituais.

Esta adoração de deuses estranhos é chamada, na bíblia, de idolatria ou prostituição.

Jeremias 3,9: “Sucedeu que, pelo ruidoso da sua prostituição, poluiu ela a terra; porque adulterou, adorando pedras e árvores”.

A idolatria é um tema frequente nas escrituras, e apesar do absurdo e da irracionalidade este mal persiste nos dias atuais.

2 Coríntios 11,3: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo”.
Onde estão todos os ídolos?
Os ídolos estão hoje mais vivos do que nunca, a avareza é tida como qualidade, a esperteza também, a dureza no coração e o amor ao dinheiro são cada vez mais presentes e as pessoas buscam desesperadamente a honra e a glória entre os homens, relegando a Palavra como contra-senso às necessidades da vida moderna. Estes se tornaram os ídolos atuais: O emprego, o poder da riqueza, o orgulho, o prestígio e o poder em todas as formas, as preocupações exageradas se tornam deuses.

A heresia nunca é uma busca inocente pelo divino, mas o afastamento deliberado da clara revelação do verdadeiro Deus.

Nenhuma idolatria é justificável por ignorância ou qualquer outro motivo, pois todos os homens têm em si a consciência do Deus verdadeiro.

Romanos 1,18-20: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis”.

Os ídolos modernos
O Estado:
O socialismo, como precursor do fascismo internacional, para o qual o mundo caminha inconsciente, mas aceleradamente, cria uma idolatria institucional aceita sem resistência pela população: O Estado. A prova disto é o aparato de propaganda montado pelos governos atuais que deixariam boquiabertos e admirados Hitler e Stalin, que não conseguiram tanto em seus dias de poder.
A ciência:
Outro ídolo atual é a ciência, tudo o que é apresentado como científico tem a aceitação imediata e os aplausos da mídia e do povo em geral, independente que seja fato comprovado ou mera teoria. Como exemplo, tomamos a teoria da evolução, uma farsa que nunca constituiu um fato científico, mas que é ensinada em todas as escolas do mundo ocidental como uma verdade científica inconteste.
O Eu:

O maior ídolo de todos os tempos é o ego humano, a base e a origem das falsas religiões repousam no culto ao ego. Vê-se hoje nas igrejas evangélicas, mesmo nas mais tradicionais, o humanismo permeando e depois dominando os cultos e as pregações: Os apelos à vontade humana, o enaltecimento do homem em igualdade com Deus e a meta final de todas as heresias sendo realizada: Jesus apresentado como mero exemplo de vida.

Ora, o cristianismo é centrado em Cristo como o autor e consumador da fé e do arrependimento para a vida, ele é o Salvador e Senhor dos eleitos de Deus. Cristo não é um mero exemplo que os homens podem seguir, mas um ideal já
realizado - está consumado - pois Jesus é um ser único no universo, perfeito homem e perfeito Deus, destinado a cumprir, em lugar dos eleitos, toda a justiça exigida por Deus.

Pelas características da encarnação e de sua pessoa divina Jesus Cristo possui perfeição moral, que é inatingível por qualquer ser humano ou espiritual criado.

Hebreus 12,2: “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus”.

As pregações modernas têm-se transformado em tratados de moral, ética e civismo, a doutrina e o evangelho de Jesus Cristo estão cada vez mais distantes das pregações religiosas.

Nos idos dos anos cinquenta, existiam nas escolas básicas duas matérias distintas na grade escolar: ‘Educação Moral e Cívica’ e ‘Religião’. Os ensinamentos morais e éticos eram parte do currículo da primeira matéria e a doutrina cristã fazia parte do estudo da religião.

Esta distinção, que é clara e determinante, foi esquecida ao longo deste tempo, as escolas atuais consideram desnecessárias tanto uma quanto outra matéria. As denominações religiosas, por sua parte, estão substituindo a doutrina pela pregação moral, afastando-se, a cada dia, do verdadeiro evangelho com a finalidade de agradar as pessoas e encher os bancos e os cofres das igrejas.

Gálatas 1,8: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema (amaldiçoado)”.
3 - FORNICAÇÃO, LASCÍVIA:
Fornicação:

Este também é um pecado grave, mas apesar do equívoco generalizado a fornicação não tem a primazia de ser o maior dos pecados - o orgulho contra Deus e as falsas religiões chegam muito mais perto disto.

São formas específicas de fornicação conforme a Escritura e o que dela se pode deduzir claramente: O adultério, o incesto, a prostituição, a sedução, as falsas promessas, o homossexualismo, a pedofilia, a zoofilia, a sodomia e a violência sexual.

A fornicação refere-se à prática de sexo proibido na lei dada por Moisés, conforme acima, abrangendo também a lei civil do país de origem.

1 Coríntios 5,1: “Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai”.

Na versão Almeida Revista e Corrigida (RC) está escrito:

1 Coríntios 5,1: “Geralmente, se ouve que há entre vós fornicação e fornicação tal, qual nem ainda entre os gentios, como é haver quem abuse da mulher de seu pai”.

Sexo pré-matrimonial - O que está escrito a este respeito?
Vimos acima que a fornicação é a prática do sexo proibido na lei mosaica: Adultério, incesto, violência, homossexualidade, zoofilia, sedução. O sexo pré-matrimonial não deve ser tratado com o mesmo rigor do adultério e nem sempre pode ser caracterizado como fornicação.

O que está escrito a este respeito?
1 – Deuteronômio 22,13-14: “Se um homem casar com uma mulher, e, depois de coabitar com ela, a aborrecer, e lhe atribuir atos vergonhosos, e contra ela divulgar má fama, dizendo: Casei com esta mulher e me cheguei a ela, porém não a achei virgem”.
Este é um caso típico de falsidade, a mulher ou o homem está mentindo, um dos dois morrerá.

2 – Deuteronômio 22,22: “Se um homem for achado deitado com uma mulher que tem marido, então, ambos morrerão, o homem que se deitou com a mulher e a mulher; assim, eliminarás o mal de Israel”.
Este é um caso de adultério típico, ambos morrerão, o homem e a mulher.
3 – Deuteronômio 22,23-24: “Se houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade e se deitar com ela, então, trareis ambos à porta daquela cidade e os apedrejareis até que morram; a moça, porque não gritou na cidade, e o homem, porque humilhou a mulher do seu próximo; assim, eliminarás o mal do meio de ti”.
Este é outro caso típico de adultério, trata-se de uma virgem desposada (noiva) possuída por outra pessoa distinta do casal, os dois morrerão.

4 – Deuteronômio 22,25-26: “Porém, se algum homem no campo achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só o homem que se deitou com ela; à moça não farás nada; ela não tem culpa de morte, porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim também é este caso”.
Este é um caso típico de violência sexual - estupro - o homem violento morrerá.
5 - Deuteronômio 22,28-29: “Se um homem achar moça virgem, que não está desposada, e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida”.
Este trecho não é claro quanto ao consentimento mútuo, mas tendo em vista que o estupro foi considerado anteriormente neste mesmo capítulo, deve-se supor que haja, neste caso, o consentimento recíproco.
Considerando-se as execuções radicais e sumárias atribuídas aos atos sexuais considerados ilegais na lei mosaica, pode se constatar que este caso é tratado com relativa brandura e compreensão.
Vemos no verso paralelo no livro do Êxodo que o tratamento dado a este caso também é bastante brando, exigindo a realização do compromisso ou o pagamento do dote.

Êxodo 22,16-17: “Se alguém seduzir qualquer virgem que não estava desposada e se deitar com ela, pagará seu dote e a tomará por mulher. Se o pai dela definitivamente recusar dar-lha, pagará ele em dinheiro conforme o dote das virgens”.
Certamente, pessoas promíscuas, que trocam de parceiro como trocam de camisa, são fornicários e estão sob a ira de Deus, mas podemos generalizar todos os casos que ocorrem antes do matrimônio como fornicação?
Porque então, três mil e quinhentos anos após, os religiosos que aceitam gostosamente a ordenação de mulheres, a ordenação de pastores e pastoras homossexuais, o livre-arbítrio, o dispensacionalismo, a igreja com propósitos, técnicas gerenciais no evangelismo e outras heresias abomináveis na igreja, pretendem neste caso, ser mais rigorosos que a lei mosaica?

Responda cada um conforme sua consciência, mas a causa desta moralidade injusta só pode ser procurada na hipocrisia e ignorância dos religiosos que assim procedem.

Oséias 6,6: “Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”.

Lascívia: A lascívia não se refere especificamente ao pecado sexual, mas sim ao sentimento da licença para o pecado, da perda da consciência do pecado. Pessoas lascivas passam a vida toda justificando seus erros sem arrependimento ou possibilidade de arrependimento. Ou pior ainda, o pecado não os incomoda mais, e pouco lhes importa quem tome conhecimento, a pessoa lasciva, ou dissoluta, acredita com veemência ter o direito de fazer o que quer em todas as áreas do comportamento, inclusive na área sexual.

2 Pedro 2,12: “Esses, todavia, como brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruídos”.

Judas 1,10: “Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem”.
Aristóteles faz uma distinção muito interessante a este respeito, ele chama de incontinência a falha de alguém em observar o que reconhece ser verdadeiro e justo, vindo a seguir o arrependimento; e chama de intemperança a atitude daquele que está tomado pela lascívia, que não se quebranta diante da consciência do erro ou do pecado, mas persiste de forma deliberada e consciente na realização do mal.

Calvino: “A intemperança, porém, não se extingue ou quebranta pela consciência do pecado; ao contrário, persiste obstinadamente na escolha deliberada do mal”.

4 - ÓDIO E RANCOR:
Ódio: Do grego - ódios, plural: Antipatias, falta de amor produzindo contendas e dissensões.
Mágoas: Um cristão não pode guardar mágoa ou rancor de nenhuma outra pessoa, seja por motivos justos ou não. Mas atenção: O crente não é obrigado, por isso, a compartilhar sua vida e amizades com pessoas comprovadamente desleais e iníquas, esta é uma prerrogativa que cabe a qualquer pessoa, cristã ou não.

A bíblia é bastante clara quanto à associação com pessoas iníquas, principalmente os falsos mestres, mesmo aquelas pessoas que partilham da mesma denominação, da mesma igreja, mas que sejam julgadas pelo crente como indignas, idólatras ou heréticas conforme o afastamento das doutrinas bíblicas básicas do cristianismo.

1 Coríntios 5,11: “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais”.

Ódio: O ódio traduz sentimentos de retaliação e vingança, produzindo dano tanto às outras pessoas como ao que odeia, pois o rancor e a mágoa são muito mais prejudiciais para aquele que os nutre no coração, trazendo amargura e desolação.

Romanos 12,18: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”.
Ira: Muita gente afirma que extravasar a ira faz bem ao coração, isto é um mito, está provado cientificamente que as pessoas que se contém na hora da ira vivem mais e melhor. Não é possível deixar de se irar diante de certas situações, o cristão odeia o pecado, mas o domínio próprio deve prevalecer.

Efésios 4,26: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”.
Ciúmes (plural), inveja: Ciúmes, outra palavra com raízes gregas. No grego clássico o ciúme era um sentimento positivo e referia-se à disposição de imitar algo nobre ou de grande qualidade em outra pessoa. Os ciúmes podem ser justos quando provindos de uma pessoa justa sendo referido a algo indigno, mas temos que ter em mente que os ciúmes são devidos ao ódio e não ao amor, como vemos abaixo nos ciúmes de Deus.

Êxodo 34,4: “Porque não adorarás outro deus; pois o nome do SENHOR é Zeloso; sim, Deus zeloso (*) é ele”.
(*) Na versão King James (KJV) esta palavra Zeloso é traduzida corretamente como “jealous” – ciumento.

Ezequiel 8,5: “Ele me disse: Filho do homem, levanta agora os olhos para o norte. Levantei os olhos para lá, e eis que do lado norte, à porta do altar, estava esta imagem dos ciúmes, à entrada”.

Os ciúmes de Deus são voltados aos ídolos e deuses falsos, ao mesmo tempo, estes ciúmes têm origem o ódio de Deus àqueles que se voltam à idolatria, ou melhor, sendo Deus imutável, estas pessoas foram odiadas por Deus na eternidade, manifestando no tempo a reprovação divina que os afastou da salvação e da glória de Deus.

Todavia, os ciúmes não se misturam nem dão origem ao amor, não existem ciúmes no amor verdadeiro, como podemos ver na carta aos Coríntios.

1 Coríntios 13,4: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece”.
Atualmente o significado da palavra ficou como sendo o desejo mórbido e lascivo de algo que pertence a outra pessoa. A inveja, que acompanha os ciúmes, está associada ao ódio e rancor e não significa obrigatoriamente querer para si mesmo, mas simplesmente querer que seja tirado dos outros.

Nenhum dos apóstolos foi jamais acusado de feitiçaria, fornicação, impureza, idolatria, sensualidade ou embriaguez, mas na noite anterior à morte de Jesus eles se mostravam invejosos e cheios de contenda.

Mateus 20,21: “Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda”.

Os outros apóstolos ficaram indignados contra o pedido dos irmãos, dando início a uma situação de contenda que nunca havia existido antes entre eles.

Mateus 20,24: “Ora, ouvindo isto os dez, indignaram-se contra os dois irmãos”.

Mas Jesus põe fim à discussão, repreendendo os discípulos e ensinando a eles que a liderança cristã consiste em servir, e ao contrário do mundo, a humildade deve predominar sobre todos os sentimentos.

Mateus 20,26: “Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva”.

Cobiça: Este é outro sintoma da inveja e vai diretamente contra o mandamento de Deus:

Êxodo 20,17: “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo”.

O ciúme leva à inveja, a inveja à cobiça, a cobiça à avareza, a avareza à crueldade. O ciúme e a inveja são sempre seguidos de disputa.
5 - Drogas, embriaguês:
Vícios incontroláveis: A embriaguez e o uso de drogas devem ser condenados por muitas coisas envolvidas, mas a principal delas é a perda de controle da razão e da emoção. O uso da bebida não é proibido, porém a perda de controle resultante do desregramento e do abuso é nociva e condenável em todos os seus aspectos. Quando o consumo deixa de ser controlado e passa a ser uma necessidade, as consequências são inevitáveis, tanto para a saúde quanto aos relacionamentos.

Efésios 5,18: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”.
Estão incluídos neste item o tabagismo, a gula, o consumo desenfreado de doces e refrigerantes ou ainda de comidas ou bebidas não alcoólicas em excessos nocivos à saúde e ao bem estar da pessoa, remédios e hormônios contra indicados e sem indicação médica; tudo, enfim, que foge ao controle e à razão prejudicando o corpo ou a mente e que passa a se constituir em uma necessidade incontrolável na vida da pessoa é nocivo, condenável e pecaminoso, mesmo em se tratando de coisas lícitas e aparentemente inocentes.
Há cinco áreas de pecado identificadas no texto acima:
1 -     Orgulho contra Deus: Todo pecado é abominável para Deus, todavia, o pecado cometido diretamente contra o Ser perfeito de Deus é, sem sombra de dúvida, o mais grave. Quanto maior o conhecimento recebido, quanto maior a religiosidade, mais grave o pecado. Nos dez mandamentos, os pecados contra Deus encontram-se nos primeiros lugares, somente depois entram os pecados contra o homem, de onde se pode ver a gravidade devida a estes pecados.

No fecho dos três primeiros mandamentos que dizem respeito diretamente a Deus, apresenta-se a única advertência que acompanha todos os mandamentos, o que traduz a importância e seriedade em se respeitar o Ser infinito e perfeito de Deus.
“Não terei por inocente aquele que tomar o meu santo nome em vão!”.

2 –    Falsas atividades religiosas - idolatria: As falsas atividades religiosas, mesmo com aspecto de piedade, sempre conduzem à idolatria, culto ao ego, adoração da criatura em lugar do criador, feitiçaria e a procura pela honra e glória entre os homens, afastando a pessoa definitivamente de Deus.
3 –    Ofensas e prejuízos ao próximo – ódio, rancor, inveja: As atitudes contra outras pessoas sempre representam negatividade total, o amor cristão não se traduz em sentimentos, mas é uma lei de ação constituída de atos práticos que não admitem prejuízos deliberados contra o próximo.

Esta negação do amor cristão não se reflete somente em atos ou pensamentos, mas também na omissão. Muitas vezes, este mesmo amor exige do cristão o julgamento e a repreensão que não podem ser relegados em casos de desvio doutrinário ou comportamento indevido.

A tolerância aos pecados doutrinários, tão comum na moderna igreja cristã, ofende a Deus e traz prejuízos incalculáveis às crianças, aos adolescentes e aos irmãos mais fracos. Por este motivo, os desvios doutrinários devem ser denunciados e combatidos com rigor.

É sempre bom lembrar que, no Livro do Apocalipse, os covardes encabeçam a lista dos ímpios e falsos religiosos destinados ao lago de fogo.
4 -     As práticas sexuais ilícitas: O adultério, o incesto, a prostituição, a sedução, as falsas promessas, o homossexualismo, a pedofilia, a zoofilia, a sodomia e a violência sexual.

Todo ato sexual ilícito é condenável, pela ofensa a Deus e pelas suas consequências quase sempre desastrosas. O ideal é que o ato sexual seja fruto do amor, respeito e do comprometimento sincero e recíproco entre pessoas de sexo oposto unidas pelo matrimônio.
5 – Drogas, embriaguês - domínio próprio: Por fim, tudo o que leva a perder o domínio próprio é condenável e deve ser evitado a todo custo. Além desta consideração, qualquer coisa que provoque deliberadamente prejuízos ou destruição da mente ou do corpo físico, também é condenável, pois está dito que o corpo do cristão é o templo do Espírito Santo.
Os pecados na passividade do crente

Todos estes pecados acima se referem a atitudes ativas, mas o pecado também se manifesta gravemente de forma passiva, quando os crentes passam a dar mais valor à unidade e à convivência social do que à doutrina, transformando a igreja em um clube, onde o respeito às tradições humanas e o relacionamento pessoal estão acima ao respeito à Palavra e à sã doutrina.

Cuidado com o seu zelo! Ele está em Deus ou na unidade desprovida de critério e na conveniência social? Veja no verso abaixo, do livro do Apocalipse, onde os covardes gozam da prerrogativa de serem os primeiros candidatos ao lago de fogo e enxofre. O cristianismo exige coragem para enfrentar os falsos mestres e as doutrinas espúrias dentro da igreja antes de todas as considerações sociais e humanistas.

Apocalipse 21,8: “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”.

Julgamento cristão: O julgamento, pela reta justiça, é um dever do cristão, que deve estar acima das mágoas ou do bem querer, mas, o que vemos atualmente, na doutrina do politicamente correto, que está em alta moda na moderna igreja evangélica, é a proibição do julgamento em quaisquer condições: A covardia institucionalizada dentro da igreja.

João 7,24: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”.

Este cristianismo covarde e efeminado tem minado seriamente as raízes da igreja, permitindo que falsos mestres e pessoas interessadas unicamente em promoção pessoal se instalem confortavelmente nas congregações, propagando falsas doutrinas e heresias que não poderiam jamais ser permitidas dentro da igreja de Cristo.

Judas, o irmão de Jesus, adverte e conclama os crentes a batalhar pela fé, ameaçada pelos falsos mestres infiltrados na igreja, esta batalha exige julgamento e jamais será vencida pela tolerância que se traduz por uma conivência prática com estes falsos mestres.

Judas 1,3-4: “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.

Esta tolerância de heresias e falsas doutrinas na igreja é feita em nome de uma unidade que se forma unicamente em torno de homens, interesses pessoais e se afasta cada vez mais do cabeça da igreja, que é unicamente Cristo. Esta unidade mundana é abominável, pois o cristão deve se congregar somente com seus irmãos na fé, não aceitando em seu meio as doutrinas espúrias que hoje permeiam, com trânsito livre, na igreja. Por este motivo, a igreja local afasta-se a cada dia, mais e mais, da Igreja de Deus.

Lucas 18,8: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?”
Pode-se ir mais longe com relação a este tópico sobre o julgamento e estendê-lo para o xingamento. Dentro do atual cristianismo, falar em xingamentos válidos transforma o cristão em alvo de ataques furiosos da igreja, mas qual a atitude de Jesus com relação a este assunto? Vejamos abaixo um texto de John W. Robbins a este respeito.

John W. Robbins: “Desafortunadamente, a maioria dos cristãos professos de hoje parece nunca ter passado do capítulo sete de Mateus. Isso é muito ruim, pois eles deveriam ler o capítulo vinte e três. Apenas nesse capítulo, Cristo xinga 16 vezes os escribas e fariseus. Os nomes são: “hipócritas” (7 vezes), “filhos do inferno” (uma), “guias cegos” (duas), “tolos e cegos” (3 vezes), “sepulcros caiados” (uma), “serpentes” (uma) e “raça de víboras” (uma). Visto que Cristo era sem pecado, podemos deduzir pela consequência boa e necessária que xingar como tal não é um pecado. Visto que tudo o que Cristo fez foi justo e virtuoso, podemos deduzir por consequência boa e necessária que xingar corretamente é uma virtude. Mas Cristo não é o único exemplo. João, o qual alguns cristãos professos amam, pois eles entendem e representam incorretamente o que ele diz sobre amor, chama certas pessoas conhecidas pelos seus leitores de “mentirosos” e “anticristo”.

Mateus 23,15-17: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós! Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou! Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro ou o santuário que santifica o ouro?”.
Mateus 23,33: Serpentesraça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”.
É possível ver-se muito mais disto em toda a bíblia, nos evangelhos, em Judas, nas cartas de Paulo, em Atos, nos salmos imprecatórios de Davi e em todo o Velho Testamento, basta ler a bíblia com isenção (veja quadro abaixo).

Atos 23,23: “Então, lhe disse Paulo: Deus há de ferir-te, parede branqueada! Tu estás aí sentado para julgar-me segundo a lei e, contra a lei, mandas agredir-me?”.
Para quem quiser conferir, segue abaixo quadro demonstrativo dos falsos profetas e dos inimigos do evangelho e o tratamento que eles recebem na bíblia.

FALSOS PROFETAS E INIMIGOS DO EVANGELHO NA BÍBLIA

Alexandre
1Tm 1,20 – 2 Tm 4,14;
Fariseus
Demétrio
Mt 23,13-36;
At 19,23-27;
Diótrefes
3 Jo 9-10;
Elimas, o mágico (Barjesus)
At 13,4-11;
Falsos profetas (em geral)
1 Pe 2,1; 1 Jo 4.1,4; Ap 19,20; Ap 20,10; Ap 22,6-9;
Alguns judeus
At 13,45; 14,19; 17.5; 21,27-40; 23.14-16;
Simão, o mágico
At 8,9-13, At 18-24;
Alguns romanos
At 16,19-21;
Tértulo e Ananias, o sacerdote
At 24,2-9;
Outras referências
Fp 3,18; Tg 4,4; Jd 1, 5-16; Mt 25,41.


O PECADO ORIGINAL
O pecado original: foi o pecado dos primeiros pais, representantes da humanidade, pelo qual todos os seus descendentes herdam uma natureza corrompida e pecaminosa. Teologicamente o pecado original é constituído pela culpa e pela corrupção:

1 – A culpa: É a real relação que existe entre o pecado e a penalidade, esta culpa pode ser vista de duas formas, a culpa potencial e a culpa penal.

- A culpa potencial é a essência do pecado, a natureza corrompida e degenerada, a pecaminosidade natural do homem após a queda. Este estado é permanente durante toda a vida do homem, não importando se ele é justificado ou não, pois o pecado não é removido pela redenção adquirida por Cristo, somente a culpa.

- A culpa penal é o resultado dos pecados do homem face à penalidade devida pela justiça perfeita de Deus, esta culpa é removida pela justificação e imputada a Cristo, que sofreu a penalidade devida por todos os pecados, em lugar dos eleitos de Deus.

Vê-se desta forma, que a culpa penal é removida pela justificação, mas a culpa potencial, que é o próprio pecado, continua com o homem após a justificação e permanece durante toda sua vida terrena.

2 – A corrupção: É o resultado da culpa potencial, a inexistência da justiça e ao mesmo tempo a presença contínua do mal no coração do homem. Esta corrupção original não é um mal temporário, como se fosse uma doença, mas se constitui em pecado individual, real e permanente durante toda a vida terrena do homem.

Existem alguns erros comuns quanto a esta corrupção do gênero humano:

- Os arminianos consideram esta corrupção como um mal temporal, como se fosse uma espécie de doença, que pode terminar pela escolha voluntária do homem.

- Os maniqueístas acreditavam que esta corrupção é proveniente de uma alteração na substância da alma, ou ainda como uma substância diferente infundida na alma.

- Nenhuma destas alternativas é válida, pois, no primeiro caso, nega-se a transmissão universal do pecado original, negando toda a Escritura, e no segundo caso, a alma é espiritual, e, portanto, simples e indivisível não sujeita a mudanças em sua substância, pois que esta substância não existe.

Esta corrupção derivada do pecado original é permanente e gera no homem duas situações que também são permanentes e irreversíveis.

2.a – Depravação total: Significa que a corrupção original impregna todas as partes da natureza do homem, de forma que não existe no homem natural nenhum bem espiritual que possa reconduzi-lo à comunhão divina. Este é outro fato negado pelos defensores do livre-arbítrio apesar de ser uma realidade explicitamente declarada na Escritura.

João 5,42: “Sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus”.
2.b – Incapacidade total: É representada pelos efeitos da corrupção original nos poderes espirituais do homem. Esta incapacidade não impede o homem natural de realizar o bem social, familiar, a justiça civil e o bem religioso externo, mas estes atos que são louváveis aos homens, quando considerados à luz da perfeita justiça de Deus são falhos, defeituosos e inaceitáveis como mérito ou justiça própria dos homens.

Isaías 64,6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam”.

O pecador, sem a intervenção do Espírito, não consegue dominar sua natureza corrompida pelo pecado e não consegue fazer absolutamente nada que possa satisfazer as exigências infinitas da santidade e da justiça de Deus.

Esta intervenção do Espírito é contínua e permanente durante toda a vida terrena do crente, mas não o capacita para fazer o bem por si mesmo (a graça infundida), a comunhão do Espírito conduz o crente durante toda sua vida terrena, de forma que ele passa a não desejar o pecado, mas não é capaz de evitá-lo.

Romanos 7,23-24: “Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”.
Somente esta comunhão permanente do Espírito pode induzir o homem a perseverar em sua salvação e somente Deus, através de Cristo, perfeito homem e perfeito Deus, pode adquirir a redenção para os seus filhos escolhidos na eternidade.

Hebreus 9,14: “Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!”.

Os defensores do livre-arbítrio negam a corrupção original e afirmam a plena capacidade do homem, seja diretamente ou de forma mais sutil, afirmando a graça infundida (como os católicos romanos) que torna os homens capazes, por si mesmos, para decidir por sua salvação, praticar o bem conforme a justiça perfeita de Deus e perseverar em sua salvação durante toda sua vida.

Esta é uma afirmação sem fundamento bíblico, baseada no orgulho do homem e na exaltação do Eu acima das claras afirmações da Escritura, que ensinam de forma inequívoca a transmissão universal dos efeitos da queda com a resultante corrupção da natureza do homem.

João 15,5: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.
O pecado original e a liberdade do homem
A corrupção provinda do pecado original não retirou do homem a sua liberdade de escolha. O homem é um agente livre, capaz de escolher o que é conveniente e necessário, seja agradável ou não aos seus sentidos, porém, de acordo com sua natureza e sempre motivado por causas secundárias e contingentes que dirigem e orientam sua vontade no momento da decisão. Ora, a Escritura ensina que a vontade do homem é sempre ditada pela sua natureza corrompida e degenerada pela queda, sendo que o homem é completamente incapaz de realizar as coisas espirituais exigidas por Deus para sua salvação.

Ademais, a decisão a ser tomada em cada situação, nem sempre pode ocorrer de acordo com a vontade imediata, mas de acordo com a necessidade e conveniência do momento. É possível ver, desta forma, que nem mesmo a vontade consciente do homem prevalece em suas escolhas.

O pecado original e os pecados de fato:
Os pecados de fato, ou factuais, não são apenas as ações externas dos homens, mas também todos os pensamentos, desejos e incredulidade gerando a vontade consciente ou inconsciente. Estes pecados provêm da corrupção inerente à transmissão do pecado original. É preciso lembrar que o pecado não é propriamente o delito cometido contra o próximo, mas um ato deliberado e consciente de revolta contra Deus.

Pecado mortal?
É muito difícil classificar os pecados, os católico-romanos dividem os pecados em veniais e mortais, Jesus fala do pecado imperdoável e o apóstolo João fala dos pecados para morte.

1 João 5,16: “Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue”.
Uma definição primária do pecado mortal pode ser feita da seguinte forma: O pecado mortal ocorre, de forma ativa, quando a pessoa viola um preceito que ela sabe ser verdadeiro e fundamental, de forma passiva, quando a pessoa tem o conhecimento e o poder para evitar a violação do preceito e não o fez, seja por conveniência social, familiar, profissional ou mesmo religiosa. A orientação do crente é a Escritura, que está acima de todas as outras normas de lei, sejam elas civis ou religiosas.

Pecados para vida e para morte:
O pecado imperdoável, ou pecado para morte, não é propriamente contra a pessoa do Espírito Santo, mas a negação de sua obra, atribuindo a ação do Espírito a outra causa diversa, seja ela o demônio, os santos, os anjos ou o próprio homem, que atribui a salvação a seu mérito próprio negando a suficiência do trabalho de Cristo e a ação exclusiva do Espírito na operação e preservação da salvação.

Marcos 3,28-29: “Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno”.

J. I. Packer: “Finalmente, há o pecado imperdoável, a resistência obstinada à luz do Espírito acerca da divindade e graça de Jesus Cristo, que leva a retirada de qualquer possibilidade de fé e arrependimento, e sua consequência letal”.
Packer está dizendo que a crença na graça de Deus e na divindade de Jesus Cristo é obra do Espírito na mente do homem, a resistência a esta luz do Espírito nada mais é que uma manifestação do pecado imperdoável.
Assim também é que a crença no livre-arbítrio: É a mesma resistência à graça de Deus e à divindade de Cristo, aplicadas pelo Espírito. Ao atribuir a si mesmo mérito próprio para a salvação, o homem nega de forma direta, os três fatores básicos no plano eterno de salvação: A soberania e a graça de Deus, a obra redentora perfeita de Cristo e a ação única do Espírito na operação da salvação. Neste terceiro fator reside o pecado imperdoável, pois o homem atribui a si mesmo a operação de sua salvação que é obra exclusiva do Espírito Santo.

Efésios 2,8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”.

O pecado para a morte é a negação voluntária a respeito do verdadeiro evangelho, que é a salvação pela graça somente e mediante a justiça perfeita de Jesus Cristo, nada mais será acrescentado, o trabalho de Cristo não pode ser complementado pelo homem.

O pecado para a morte não é um ato inocente, mas um erro voluntário com relação à doutrina cristã, quando a pessoa recebeu, sem aceitação salvífica, o conhecimento da verdade e renegou esta verdade, negando que a salvação e a vida eterna são exclusivamente pela graça de Deus através de Jesus.

Não se tratam aqui de pessoas não alcançadas, que ainda não tiveram o conhecimento e a revelação do evangelho, pois estas poderão um dia vir a ser justificadas por Deus, por estes devem ser feitas orações para que se arrependam e venham a crer, mas estas pessoas que receberam a iluminação, ainda que parcial, não serão jamais perdoadas.

Veja abaixo o comentário de John Gill ao verso de João.

1 João 5,16: “Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue”.

Veremos abaixo um comentário de John Gill a respeito do verso acima: Qual o pecado que jamais será perdoado? Jesus se refere a ele e também o apóstolo João em sua primeira carta. Em seu comentário, Gill esclarece a natureza deste pecado.
John Gill:

Existe um pecado para a morte, que não é unicamente merecedor da morte, como todos os outros pecados, mas que indica certa e inevitavelmente a morte para todos os que o cometem, sem exceção. Este é o pecado contra o Espírito Santo, que não será perdoado nesta vida nem na vida do porvir e com certeza será para a morte eterna.

Este é um pecado deliberado, não de uma forma prática, mas em sentido doutrinário depois que um homem tenha recebido o conhecimento da verdade. É uma negação deliberada da verdade do Evangelho, especialmente a de que a paz, perdão, justiça, vida eterna, e salvação, são unicamente por Jesus Cristo e não pela capacidade do homem, e isso é feito com malícia e obstinação.

O que Gill está dizendo aqui? Ele está simplesmente atribuindo à doutrina do livre-arbítrio o pecado imperdoável. Isto faz todo o sentido, pois desta forma, o homem atribui a si mesmo a operação do Espírito na preservação da salvação, o que dá na mesma que atribuir os atos do Espírito a outros espíritos vulgares,  a mente do homem não é espiritual?
Surpreendente? Isto somente nos surpreende porque não avaliamos as coisas com a devida profundidade: Negar ao mesmo tempo, a predestinação divina, a suficiência do trabalho de Cristo e a operação do Espírito na preservação da salvação seria coisa de somenos importância?
Hebreus 6,4-6: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”.

O que resta após este pecado? Não resta nada, não há mais outro sacrifício para tal pecado, não há nada além de certa expectação horrível de ira e fúria a cair sobre estes opositores do evangelho, e como os pecadores presunçosos morreram sem misericórdia ao rejeitar a lei de Moisés, de tal modo devem estes pecadores maliciosos morrer diante do Evangelho.

Hebreus 10,28-29: “Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?”.
Alguns comentaristas pensam que há neste verso em referência uma alusão a um dos tipos de excomunhão entre os judeus, chamado "shammatha", cuja etmologia, segundo alguns escritores judeus, é htym -  a morte".

“Por esse não digo que rogue”
O apóstolo não proíbe expressamente orar pelo perdão deste pecado, mas o que ele diz é que não há valor nesta oração, ele não dá nenhum incentivo para este pecado ou qualquer esperança de sucesso, mas exatamente o contrário.

Gill cita os versos na Carta aos Hebreus abaixo para confirmar suas afirmações até aqui. Assim sendo, podemos deduzir, sem possibilidade de engano, que o pecado no verso abaixo é o desvio doutrinário referido no início do comentário – este é o pecado para a morte: A negação do evangelho de Jesus Cristo, onde o homem atribui a si mesmo o poder de salvação.

Hebreus 10,26-27: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários”.

Certamente, onde este pecado é reconhecido, ou pode ser reconhecido, não deve receber oração, porque é irremissível. Quando ele não pode ser reconhecido, deve-se agir com cautela (até que ele seja reconhecido).

Neste último parágrafo, o apóstolo, seguindo Jesus, proibe o julgamento hipócrita, todavia, quando o pecado é reconhecido ele deve ser tratado com todo o rigor, a despeito de qualquer outra consideração – o julgamento pela reta justiça.



2 Pedro 2,22: “Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal”.

Mesmo Jesus, em sua oração sacerdotal, não intercede por toda a humanidade, mas por aqueles que foram escolhidos previamente pelo Pai.

João 17,9: “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”.
Muitas experiências religiosas e demonstrações de fé são apenas temporais, seja por um período breve ou muito longo; esta iluminação parcial provém do Espírito, mas sem a atribuição da graça de Deus. A justificação que é proveniente da graça de Deus é eterna, ao passo que esta iluminação temporal é transitória e será perdida nesta vida terrena.

Jesus deixa isto bastante claro em várias de suas parábolas: O joio e o trigo, a pesca maravilhosa e a rejeição de muitos religiosos que falam e agem em seu nome. O joio e o trigo estarão sempre presentes na igreja local, somente no dia do juízo serão separados.

Mateus 25,41: “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”.
Veja abaixo em Lucas como muitos recebem a palavra de forma temporal, perdendo depois de algum tempo a fé por razões diversas.

Lucas 8,11-15: “Este é o sentido da parábola: a semente é a palavra de Deus. A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos. A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam. A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer”.

Veja também o comentário de João Calvino ao verso paralelo em Hebreus.

Hebreus 6,4-6: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”.

Calvino: “Sei que a alguns parece duro de aceitar quando se atribui fé aos réprobos, visto que Paulo a declara ser fruto da eleição; essa dificuldade, no entanto, se soluciona facilmente, porquanto, ainda que os réprobos não sejam iluminados à fé, nem sintam verdadeiramente a eficácia do evangelho, a não ser aqueles que foram preordenados para a salvação, contudo a experiência mostra que os réprobos são às vezes afetados por sentimento quase semelhante ao dos eleitos, de sorte que, em seu próprio julgamento, de fato não diferem em coisa alguma dos eleitos. Daí, nada há de absurdo que pelo Apóstolo lhes seja atribuído o deguste dos dons celestiais e uma fé temporária por Cristo. Não que percebam solidamente o poder da graça espiritual e a segura luz da fé, mas porque o Senhor, para que os torne ainda mais convictos e inescusáveis, se lhes insinua na mente, até onde possam degustar a bondade sem o Espírito de adoção”.

É fato, também, que as pessoas que cometem o pecado para morte, o fazem de forma voluntária e consciente, tanto os que se declaram ateus como os religiosos formais, que acreditam em sua justiça e mérito próprio. Eles estão tomados pela vaidade e não têm arrependimento nem desejam as orações a este respeito. Aqueles, ateus, não acreditam em orações, estes, religiosos, julgam-se acima do erro e do pecado.

Agostinho diz que o pecado imperdoável implica na resistência obstinada até a morte na negação da luz do Espírito. Seja isto na negação da graça de Deus, da divindade de Cristo, da Trindade Divina ou da operação plena do Espírito na perseverança dos santos.

Vemos este fato claramente em alguns acontecimentos históricos: Quando submetidos a tribunal eclesiástico, Giordano Bruno e Miguel de Serveto negaram a divindade de Cristo e a Trindade Divina até a morte, o que mostra a renitência destes pecadores na firme convicção de sua vaidade e na negação da obra do Espírito. Estas pessoas jamais desejaram orações para sua conversão.

Todos que adquirem a consciência ter cometido este pecado e desejam as orações e o perdão, seguramente não os cometeram para a morte, mas para a vida.

João 9,1-3: “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”.
O apóstolo João vai mais longe a este respeito, estas pessoas que negam o evangelho de forma deliberada e consciente, apesar de religiosos, não merecem a consideração dos filhos de Deus e não devem ser recebidos no seu convívio.

2 João 1,9-11: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más”.
Calvino – O Pecado Imperdoável: “Este, pois, é o espírito de blasfêmia, quando a ousadia do homem se atira deliberadamente ao ultraje do nome divino. A isto acena Paulo, quando ensina haver alcançado misericórdia porque havia cometido tais transgressões em ignorância e por incredulidade [1Tm 1,13], em virtude da qual doutra sorte teria sido indigno da graça do Senhor. Se a ignorância unida com a incredulidade fez que ele obtivesse perdão, segue-se daqui que não há lugar para perdão onde à incredulidade se acrescenta o conhecimento”.
1 Timóteo 1,13: “A mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade”.
A PUNIÇÃO DO PECADO
1 - A punição natural do pecado: São as consequências advindas do próprio pecado, por exemplo, o ébrio desgraça a si mesmo e a sua família, o jogador perde todas suas posses, o devasso se desmoraliza e perde a saúde e o respeito. Agostinho afirma que o pecado é a punição pelo pecado, este é um fato que deve levar a uma consideração muito cuidadosa a respeito do pecado.

2 – A punição positiva do pecado: É devida porque todo pecado é uma ofensa voluntária e maliciosa em oposição a Deus e merece a punição determinada, incluindo, no final, os sofrimentos infindáveis no inferno. O pecado é próprio de todos os homens, sem exceção alguma e sua punição não envolve castigo ou recompensa, mas a manutenção de uma ordem a ser executada na legislação determinada por Deus para realização de seu plano eterno.

Todos os homens estão sob a ira de Deus, merecendo indistintamente a punição e o castigo, pois nenhum homem possui em si mesmo mérito ou justiça própria para propiciar a ira de Deus. Somente a justiça perfeita de Cristo, aplicada a seu povo, pode propiciar a ira de Deus e livrar o homem da penalidade devida ao pecado.
3 – O castigo disciplinar: É preciso distinguir entre a punição do pecado e o castigo disciplinar, que são as dificuldades e sofrimentos impingidos aos eleitos, com o sentido de voltá-los para os caminhos determinados por Deus para sua própria salvação. A bíblia nos ensina que Deus açoita cada filho que recebe e também que ama e castiga seu povo, mas de forma diferente de como ele aborrece e castiga de forma punitiva os ímpios, que amam o mal e o praticam deliberadamente.
Por outro lado, a ideia modernista e pós-modernista de que toda punição do pecado tem um sentido de corrigir o pecador ou visa à proteção da sociedade como um todo é totalmente antibíblica e não deve ser aceita. A punição do pecado é justa e devida a todos os homens que não receberam a graça de Deus em Cristo, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.
Romanos 3,23: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”.
A PENALIDADE BÍBLICA PELO PECADO - A MORTE
De acordo com a Escritura, o pecado gera a morte, não simplesmente a morte física, mas a separação do homem com Deus, a perda definitiva da comunhão divina.
- A morte espiritual: É representada pela condição pecaminosa em que o homem nasce como consequência da corrupção gerada pelo pecado original. Por esta morte espiritual, o homem vive toda a sua vida debaixo da condição de pecado e da sua natureza degenerada. Esta situação somente pode ser revertida pela graça de Deus em Cristo, pois a morte espiritual é mais real que a morte física, e um morto nada pode fazer de si mesmo.
Ainda a este respeito, não se deve confundir a graça regeneradora com a graça comum, a graça regeneradora é aplicada ao eleito para a salvação, ao passo que a graça comum é uma ação do Espírito, em todo o universo, na manutenção da vida natural através da criação e da providência, também restringindo a possibilidade de homens e anjos caídos executarem todo o mal que desejam.
- A morte física: A morte física também é uma punição pelo pecado, a separação do corpo e da alma representa um sofrimento e um temor contínuo na vida do homem.
Esta era a posição da igreja cristã primitiva e também das igrejas presbiterianas em todo o mundo. A posição bíblica é que Adão foi criado imortal e devia confirmar a imortalidade pela obediência (posse non mori), ou então, receberia a penalidade da morte física pela desobediência (non posse non mori), desta forma, a morte física é um castigo pelo pecado. Este é um fato comprovado pelo horror natural com que o homem enfrenta a morte física, porque ela representa uma terrível expectação de separação da alma e do corpo destruindo temporariamente o equilíbrio natural do homem, que é constituído de corpo e alma em uma unidade formadora do seu ser.
- A morte eterna: Esta é a punição definitiva e irreversível, o castigo infindável no inferno, a manifestação final da ira de Deus sobre os ímpios. Não é uma aniquilação ou desaparecimento, mas apenas angústia, desespero e sofrimento consciente de forma contínua e interminável.
DOUTRINA DO INFERNO
O inferno é um local criado por Deus para sua honra e sua glória, destinado aos réprobos, anjos e homens igualmente. Estes habitantes do inferno foram incondicionalmente destinados a esta condenação, por nada que tenham feito, mas pela decisão soberana de Deus antes da criação do mundo, pois todos nascem em pecado e sob a ira de Deus. Os castigos infligidos no inferno não visam a correção ou redenção, mas somente a punição e a manifestação da ira de Deus de forma vindicativa, pela qual vêm à luz sua justiça e santidade, glorificando a si mesmo através da manifestação de sua ira.
O inferno é um local criado por Deus conforme sua soberania e determinação. Dentro da universalidade do plano eterno de Deus é completamente boa e necessária a existência do inferno. Por este motivo, é pecaminoso rejeitar, desaprovar, manifestar contrariedade ou repulsa pela existência e propósito do inferno.
Este é um assunto que deve fazer parte das pregações regulares da igreja e não deve ser evitado. Jesus pregou sobre o inferno no evangelho, por este motivo, é certo e desejável que o crente fale e advirta sobre o inferno, pois a pregação é a única forma de salvar o pecador do castigo terrível e infindável.
O inferno é uma realidade bíblica, e foi criado para aqueles que foram predestinados para ele; se existe o inferno, existem pessoas a ele destinadas, pois se Deus houvesse determinado salvar toda a humanidade não existiria o inferno, portando é abominável perante Deus, pregar como se Ele tivesse a intenção sincera de salvar todos os homens, pois tudo o que Deus desejou Ele decretou, e tudo o que Ele decretou será realizado.
Mateus 10,28: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”.
ELEIÇÃO e reprovação
A doutrina da Predestinação:
Para melhor entendimento deste tópico é necessário definir alguns termos que serão usados nas descrições abaixo.
O Decreto de Deus (os Decretos Eternos): É a determinação eterna de todos os fatos e coisas que aconteceram, acontecem e irão acontecer no universo desde sua criação até o final, pela qual, todos estes fatos e coisas estão definidos imutavelmente, de forma absolutamente eficaz, unicamente pela sabedoria, poder e vontade soberana de Deus.
Presciência: É a suposição de que Deus determinou a salvação ou condenação dos homens pela previsão do que eles fariam no futuro.
Vontade: A vontade humana é o poder de escolha consciente, porém conforme a natureza da pessoa e as causas secundárias e contingentes envolvidas naquele momento.
O livre-arbítrio: O livre-arbítrio pode ser definido como o poder da escolha contrária à própria natureza determinando a única opção possível, feita contra a vontade, o juízo e as circunstâncias sem a possibilidade de alternativas e imutável ao longo do tempo.
Por esta definição pode-se ver claramente a impossibilidade do livre-arbítrio neutral, conforme se imagina ou afirma na literatura humanística que vemos hoje francamente inserida na teologia dita “cristã”.
O arbítrio do homem existe, porém direcionado por sua vontade, corrompida pela queda, sendo todo este arbítrio voltado continuamente para o mal e incapaz de decidir pelo bem de forma alguma aparte da graça de Deus em Cristo.
Gênesis 6,5: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.
Calvino – Institutas, Volume II – Inconveniência da expressão livre-arbítrio: Desse modo, pois, dir-se-á que o homem é dotado de livre-arbítrio: não porque tenha livre escolha do bem e do mal, igualmente; ao contrário, porque age mal por vontade, não por efeito de coação”.
Gordon Clark – a livre escolha: “A (livre) escolha deve ser definida como uma função psicológica distinta do desejo ou julgamento, por exemplo, e em nenhum lugar na definição pode ser encontrado um lugar para o poder de ter escolhido diferentemente”.
Agostinho vai mais longe nesta definição e diz que o arbítrio do homem é realmente livre da justiça, mas servo do pecado... O homem somente se faz livre do pecado pela graça do Salvador.
Agostinho – Comentários no livro do Gênesis: “A árvore da vida é Cristo, para a qual quem estender a mão viverá, e que o livre-arbítrio da vontade é a árvore do conhecimento do bem e do mal, da qual quem provar, preterida a graça de Deus, morrerá”.
A ELEIÇÃO É VERDADEIRA
Este estudo sobre a eleição será baseado nos versos treze e quatorze do capítulo dois na Segunda Carta aos Tessalonicenses e em algumas idéias transmitidas nos sermões de Charles H. Spurgeon desenvolvidas pelo autor - as citações literais de Spurgeon estão em itálico.
2 Tessalonicenses 2,13-14: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”
Charles Spurgeon: “Se não houvesse outro texto na sagrada Palavra, à exceção deste, penso que todos deveríamos ser prontos para receber e reconhecer a fidelidade da grande e gloriosa doutrina da predeterminação da família de Deus. Mas parece haver um inveterado preconceito na mente humana contra essa doutrina; ela é a mais frequentemente desprezada e rejeitada. A grande maioria dos pregadores evita este tema, pois não é o que eles chamam de doutrina prática, é mais agradável ao ego humano falar sobre comportamento, moral e conformidade social, mas estão equivocados, pois isto não é cristianismo de forma alguma”.
“O que Deus revelou, ele o fez com um propósito, e é dever do pregador abordar todos os aspectos da doutrina divina, principalmente este da eleição, pois ele é fundamental para entendimento da natureza de Deus e da salvação em Jesus Cristo”.
O apóstolo Paulo, adota este princípio, e quando se despede de seus amigos em Mileto, o deixa bastante claro.
Atos 20,26-27: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus”.
Ainda baseado na sequência desta idéia conforme transmitida por Spurgeon, que traduz correta e decisivamente a posição bíblica defendida neste estudo, segue abaixo a continuação da exposição acima, com interpretação e redação livre do autor.
A doutrina da eleição não pode ser transmitida através do pragmatismo, da pregação moral, dos exemplos de vida ou do entretenimento, ou seja: O pregador pode proclamar, ou a livre vontade do homem, ou a livre graça de Deus, uma coisa exclui a outra, não existe possibilidade de concordância.
Agostinho: “Sabemos que a graça de Deus não é dada a todos os homens; e àqueles a quem é dada, não é feito segundo os méritos das obras, nem segundo os méritos da vontade, mas por graciosa benevolência; àqueles a quem não é dada, sabemos que não é dada, pelo justo juízo de Deus.”
Normalmente evita-se uma abordagem tão direta deste tema, que apesar de ser uma doutrina bíblica incontestável, ainda ofende a muitos religiosos, a maioria, mas quanto a isto, alguns darão ouvidos a esta doutrina, crerão e serão salvos, outros terão seus ouvidos tapados, não crerão e serão condenados.
Deuteronômio 28,63: “Assim como o Senhor se alegrava em vós outros, em fazer-vos bem e multiplicar-vos, da mesma sorte o Senhor se alegrará em vos fazer perecer e vos destruir; sereis desarraigados da terra à qual passais para possuí-la”.
Reconhecer que estava errado ontem é perceber que está sendo aperfeiçoado na verdade hoje, mas, qualquer pessoa que disser que esta doutrina não é revelada, então rejeite a doutrina, mas coerentemente rejeite também a bíblia, porque a doutrina esta lá.
Isto é o que asseguram os símbolos de fé da reforma, referentes a todos os ramos iniciais das igrejas protestantes: Anglicana, presbiteriana, batista e luterana; todas as outras denominações são oriundas destas. Os que rejeitaram a bíblia, então rejeitem também estas regras de fé pelas quais todos os membros de igreja juraram e fizeram votos perante Deus e perante os homens, mas daí, não resta alternativa senão rejeitar também a igreja de Cristo.
Mateus 13,14: “De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis”.
Todos os documentos da reforma afirmam de maneira inconteste a doutrina da eleição:
Confissão Anglicana, Lei da Inglaterra, artigo 17: “A predestinação para a vida é o eterno propósito de Deus, pelo qual (antes da fundação do mundo) ele a decretou a nós por seu secreto conselho, para livrar da maldição e da perdição aqueles que ele escolheu em Cristo fora da humanidade, e de trazê-los a Cristo para a eterna salvação, tal como o vaso de honra”.
O Credo Valdense: “Que Deus salvou da corrupção e da perdição aqueles a quem Ele escolheu desde a fundação do mundo; não por disposição alguma, fé ou santidade que estivesse neles, mas meramente por sua misericórdia em Jesus Seu Filho”.

Os Cânones de Dort: Artigo 7: “Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura”.

Não pode ser relegado outro depoimento de Agostinho a respeito do eterno amor de Deus pelos seus eleitos:
Agostinho: “Incompreensível e imutável é o amor de Deus. Pois ele começou a amar-nos, não desde que fomos reconciliados com ele pelo sangue de seu Filho; pelo contrário, ele nos amou antes da formação do mundo, para que também nós lhe fôssemos filhos juntamente com seu Unigênito, mesmo antes que viéssemos a ser algo. Que, portanto, fomos reconciliados pela morte de Cristo, não se deve entender como se o Filho nos reconciliasse com o Pai para que este começasse a nos amar, porque antes nos odiava; mas foi reconciliado com quem já antes nos amava, ainda que, pelo pecado, nutria inimizade para conosco”.
Serão vistos abaixo mais documentos da Reforma a respeito deste assunto.
A doutrina da reprovação eterna:
Não existem dúvidas entre os teólogos calvinistas quanto à doutrina da eleição, mas, quanto à reprovação existem três correntes na teologia reformada:
Primeira - Uma destas correntes afirma que o Decreto da Reprovação é passivo, ou seja, Deus simplesmente abandona os ímpios à sua natureza pecaminosa, deixando-os perecer segundo sua própria vontade caída.
Segunda - A segunda corrente afirma a passividade quanto à reprovação, como acima, admitindo a presciência de Deus no abandono dos ímpios, mas afirma a existência de dois propósitos na reprovação: O primeiro é passivo, o abandono dos ímpios à sua própria condição pecaminosa, o segundo é a destinação destes homens e anjos caídos à ira e ao castigo eterno pela presciência de Deus que previu que iriam apostatar no futuro.
Ambas as situações acima pressupõem a presciência como base formadora do Decreto. Já foi visto no estudo de Deus, que esta é uma situação ilógica e absurda, visto que, desta forma, um ato consequente se torna precursor do decreto antecedente, motivo pelo qual estas duas posições de passividade divina devem ser rejeitadas.
Ainda com referência a este tema, cabe uma pergunta: Qual a diferença, no resultado final, entre permitir algo que se conhece como mau tendo o poder de evitá-lo, ou causá-lo ativamente para realização de um plano predeterminado onde todas as coisas são boas e necessárias na universalidade do plano?
Terceira - Vamos à terceira posição, esta afirmação está de acordo com os ensinos de Agostinho, Calvino e dos reformadores e apesar das más interpretações a respeito é a posição reformada de forma indiscutível.
De acordo com esta corrente, Deus decretou ativamente tanto a eleição como a reprovação, provendo ao mesmo tempo, através das causas secundárias e contingentes todos os meios, sob seu estrito controle, para a realização, tanto da eleição como da reprovação.
Provérbios 21,18: “O perverso serve de resgate para o justo; e, para os retos, o pérfido”.
O motivo da reprovação não é o pecado, pois todos os homens são pecadores, tanto os salvos como os condenados, estando todos debaixo da justa ira de Deus. A razão da predestinação encontra-se unicamente na vontade soberana de Deus e não tem relação alguma com nada que venha a ocorrer no tempo, ou seja, nada próprio das criaturas. Desta forma, elimina-se, novamente, qualquer possibilidade da presciência ser um fator que possa ser considerado válido na doutrina da predestinação.
Isaías 43,3-4: “Porque eu sou o SENHOR, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por teu resgate e a Etiópia e Sebá, por ti. Visto que foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei, darei homens por ti e os povos, pela tua vida”.
Os Decretos Eternos - Confissão de Fé de Westminster - Capítulo III:
Seção III: Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.
Seção IV: Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.
Catecismo Maior de Westminster:
Pergunta 13: “Que decretou Deus especialmente com referência aos anjos e aos homens?”.
Resposta: “Deus, por um decreto eterno e imutável, unicamente do Seu amor e para o louvor de Sua gloriosa graça, que tinha de ser manifestada em tempo devido, elegeu alguns anjos para a glória, e, em Cristo, escolheu alguns homens para a vida eterna e os meios para consegui-la; e também, segundo o Seu soberano poder e o conselho inescrutável de Sua própria vontade (pela qual Ele concede, ou não, os Seus favores conforme Lhe apraz), deixou e pré-ordenou os demais à desonra e à ira, que lhes serão infligidas por causa de seus pecados, para o louvor da glória de Sua justiça”.
Lembramos aqui, que os documentos de Westminster são a regra de fé de todas as igrejas presbiterianas e que todos os membros desta igreja se obrigam a crer, obedecer e prestar fidelidade a estas regras de fé. Isto consta do artigo primeiro da constituição da IPB e do artigo segundo da constituição da IPI no Brasil.
Confissão de Fé Batista (1689) - Artigo 3º: “Pelo decreto de Deus, pela manifestação de sua Glória, alguns homens e anjos são predestinados ou preordenados à vida eterna através de Jesus Cristo para o louvor de sua gloriosa graça; outros são deixados a agir em seus próprios pecados para sua justa condenação, para o louvor de Sua gloriosa justiça. Esses anjos e homens assim predestinados e preordenados são particularmente e imutavelmente designados, e seu número é tão certo e definido que não pode ser acrescido ou diminuído”.
A doutrina da predestinação, incluindo a eleição e a reprovação não é uma novidade recente, todos os teólogos reformados eminentes afirmam de forma inquestionável esta doutrina:
João Calvino - Institutas da Religião Cristã - Livro III, Capítulo XXI:
Eleição Eterna, ou Predestinação de Deus de Alguns para Salvação e de Outros para Destruição.
“Nós chamamos o decreto de Deus de predestinação, pela qual Ele determinou em Si mesmo, o que haveria de acontecer com cada indivíduo da humanidade. Porque nem todos foram criados com um destino similar: mas a vida eterna foi pré-ordenada para alguns, e a condenação eterna para outros. Todo homem, portanto, sendo criado para um ou outro desses fins, dizemos, foi predestinado ou para vida ou para morte”.
É bastante frequente, no atual cristianismo, rotular qualquer pessoa que acredite na doutrina da predestinação eterna de hiper-calvinista, mas uma análise simples do pensamento de João Calvino mostra que estas pessoas são simplesmente calvinistas, como convém a todos presbiterianos, luteranos e batistas que prezam suas origens reformadas.
Martinho Lutero – De Servo Arbitrio (Livre Arbítrio - um Escravo):
“Todas as coisas, sejam quais forem, surgem e dependem dos Divinos apontamentos; pelos quais foram pré-ordenadas quem deveria receber a Palavra da Vida, e quem deveria não acreditar nela, quem deveria ser liberto dos seus pecados, e quem deveria se endurecer neles, quem deveria ser justificado e quem deveria ser condenado. Esta é a própria verdade que demole o livre-arbítrio a partir de seus fundamentos, a saber, que o amor eterno de Deus por alguns homens e o seu ódio por outros são imutáveis e não podem ser revertidos”.
Martinho Lutero – Obras Selecionadas (Site Monergismo):
“Logo, aquilo que chamamos de remanescente da natureza no ímpio e em Satanás não está menos sujeito, como criatura e obra de Deus, à onipotência e à ação divina do que todas as outras criaturas e obras de Deus. Assim, visto que Deus a tudo move e atua em tudo, também move necessariamente a Satanás e o ímpio e neles atua… Aqui vês que quando Deus opera nos maus e por meio dos maus certamente o mal acontece, e contudo Deus não pode agir mal ainda que faça o mal por meio dos maus; pois, sendo ele próprio bom, não pode agir mal, mas faz uso de instrumentos maus que não podem escapar da apropriação e da manobra de sua potência. Portanto, o defeito está nos instrumentos aos quais Deus não permite ser ociosos; por isso, o mal acontece porque o próprio Deus o põe em movimento. É exatamente como se um carpinteiro cortasse mal com um machado cheio de rebarbas e dentado. Daí resulta que o ímpio não pode senão errar e pecar sempre, pois, movido pela apropriação da potência divina, não se lhe consente ser ocioso, mas quer, deseja e age de modo correspondente ao que ele é”.
John Bunyan (puritano) - “O Progresso do Peregrino”:
“A reprovação é antes de uma pessoa vir ao mundo, ou de fazer o bem ou mal. Isto é evidenciado por Romanos, capítulo nove, verso onze. Aqui você encontra dois gêmeos no ventre de sua mãe, e ambos recebendo o seu destino, não somente antes de fazer o bem ou mal, mas antes de estarem em capacidade de fazê-lo, eles não tinham nascido
ainda — o destino deles, digo, um para a benção da vida eterna, o outro não; um eleito, o outro réprobo; um escolhido, o outro rejeitado”.
Romanos 9,11-14: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!”.
Jonathan Edwards – Comentários em Romanos, capítulo nove, verso vinte e dois:
“Quão terrível a majestade de Deus aparece no terror de Sua ira! Devemos aprender que este é o único propósito da condenação dos ímpios (a ira de Deus)!”.
Romanos 9,22: “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”.
Augustus Toplady, o grande autor de hinos maravilhosos que são cantados ao longo de séculos de louvor:
“Deus, desde toda eternidade, decretou deixar alguns da posteridade caída de Adão em seus pecados, e lhes excluir da participação de Cristo e Seus benefícios. Nós, com as Escrituras, declaramos que há uma predestinação de algumas pessoas em particular para vida, para o louvor da glória da Divina graça; e também uma predestinação de outras pessoas particulares para a mortepara a glória da justiça Divina — cuja morte de castigo eles inevitavelmente experimentarão, e isto justamente, por causa de seus pecados”.
George Whitefield:
“Sem dúvida, a doutrina da eleição e reprovação devem permanecer ou cair juntas, eu francamente reconheço que creio na doutrina da Reprovação, que Deus intentou dar a graça salvadora, através de Jesus Cristo, somente a um certo número de pessoas; e que o resto da humanidade, depois da queda de Adão, sendo justamente deixados por Deus para continuar nopecado, no final sofrerão aquela morte eterna que é o seu justo salário”.
Charles Hodge – Comentário em Romanos, capítulo nove, verso vinte e dois:
Preparados para destruição: “A referência é a Deus e que a palavra grega para ‘preparados’ tem a força do particípio completoPreparados (por Deus) para destruição”.
Enquanto grande parte das igrejas cristãs têm se esquecido das doutrinas bíblicas, é preciso ter uma posição firme em relação à soberania de Deus,
muitos, ou melhor, a maioria, não serão capazes disso, mas o remanescente é o que conta para Deus.
1 Reis 19,18: “Também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou”.
A eleição é eterna
Segue uma breve seleção de passagens bíblicas onde o povo de Deus é chamado de eleito. Têm muito mais disso em conjunção com outras passagens onde os termos: “Eleito”, “escolhido”, “preordenado” ou “apontado” são mencionados; ou ainda a frase “minhas ovelhas”, mostrando que o povo de Cristo é distinto do resto da humanidade.
Marcos 13,20: “Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias”.
Marcos 13, 27: “E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu”.
Lucas 18,7: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?”.
1 Pedro 1,2: “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas”.
A seguir, versículos que provam a doutrina de modo afirmativo.
João 15,16: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda”.
João 15,19: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia”.
Atos 13,48: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.
Romanos 8,29-30: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.
Romanos 9,11-12: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço”.
Romanos 11,5: “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”.
A oração sacerdotal de Jesus:
João 17,8-9: “Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”.
Está desta forma na Escritura, é, pois, obrigação do crente louvar a Deus pela sua misericórdia e recebê-la como a verdade. Não cabe a ninguém questionar ou requerer justiça de Deus, porque Ele é justiça para si mesmo e para todos os seres criados.
Romanos 9,20-21: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?”.
Quem pôde jamais escolher o seu pai que o iria gerar? Ou à sua mãe, que o trouxe à luz? Da mesma forma, o novo nascimento, que é espiritual, não pode ser escolhido pelo homem natural, somente Deus determina aqueles que receberão o chamado.
Isaías 45,10: “Ai daquele que diz ao pai: Por que geras? E à mulher: Por que dás à luz?”.
Agora, uma questão sobre a eleição:
Se alguém deseja ser eleito, Ele o escolheu para desejar isto, se alguém não acredita nesta doutrina, que direito tem de dizer que Deus deveria dar a ele o que não quer?
Deus dá sua graça liberalmente a todos que a desejam, pois Ele os faz ansiar por esta graça, uma vez que, pela sua vontade própria, o homem caído jamais decidirá pela salvação, e pela sua justiça própria jamais terá mérito para ela.
Assim, se alguém deseja ser eleito, é porque Deus o elegeu, mas se alguém não acredita na doutrina da eleição, quem é ele para encontrar alguma falha em Deus sendo que seu próprio ego o faz rejeitar a soberania e a vontade divina?
Todavia, a respeito da predestinação, não se pode dizer que Ele simplesmente escolheu uns para o céu e outros para o inferno; a justificação é para arrependimento e fé em Jesus Cristo, ela traz contrição, humilhação e a necessidade do conhecimento e do trabalho na obra de Deus.
Mas, se alguém não deseja ser justificado, por que seria tão estúpido para reclamar pelo fato de que Deus deu a um aquilo que ele quer, e não deu a outro aquilo que não quer?
As boas obras e a salvação:
2 Tessalonicenses 2,13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.
Texto básico: Deus vos escolheu de antemão para a salvação”.
Mas muitas pessoas dizem que Ele escolhe as pessoas por elas serem boas. Ora, está escrito que por obras ninguém será justificado, se não podem ser justificados por suas boas obras, por elas não podem ser salvos. O decreto da eleição, então, não pode ser construído a partir das boas obras.
Romanos 3,20: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”.
A justiça dos homens
Resta ainda uma questão, o que são as obras dos homens? O que é a justiça do homem? O que é o homem em função de suas obras e de sua justiça própria?
É bom notar que a referência são as boas obras e a justiça do homem. Não se tratam aqui de obras corrompidas ou de injustiça, mas de justiça e obras tidas como boas à vista dos homens.
Isaías 64,6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam”.
Outros alegam: “Deus os elegeu na previsão de que creriam”.
Deus é eterno e imutável, e como consequência lógica, impassional. Desta forma, todos os seus atos são obrigatoriamente eternos e imutáveis, por este motivo, nada pode influir Nele para eleger ou reprovar os homens, porque a fé em Cristo é o dom de Deus que se realiza no tempo, mas foi concedido aos seus eleitos antes do mundo existir, sendo que, apesar de sua vontade se realizar no tempo previsto, ela foi determinada na eternidade.
Efésios 2,8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”.
A única esperança de salvação tem origem na graça de Deus, evidenciada na pessoa de Jesus Cristo. Deve-se rejeitar completamente toda e qualquer idéia de que os dons da fé e do arrependimento, concedidos por Deus, possam ter sido a causa do amor de Deus. A fé é consequência e resultado da graça de Deus e não constitui mérito para salvação, uma vez que é o resultado desta salvação.
Jeremias 31,18-19: “Bem ouvi que Efraim se queixava, dizendo: Castigaste-me, e fui castigado como novilho ainda não domado; converte-me, e serei convertido, porque tu és o SENHOR, meu Deus. Na verdade, depois que me converti, arrependi-me; depois que fui instruído, bati no peito; fiquei envergonhado, confuso, porque levei o opróbrio da minha mocidade”.
Por que, então, Ele salva? Porque Ele assim o quis.
Romanos 9,15: “Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão”.
A ETERNIDADE E A ELEIÇÃO: O PRINCÍPIO
2 Tessalonicenses 2,13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.
Texto básico: “Deus vos escolheu desde o princípio para a vida eterna”.
Algum homem pode dizer quando foi o princípio? Segue abaixo uma magnífica meditação de Spurgeon com relação ao princípio:
Charles H. Spurgeon:
Anos atrás pensávamos que o princípio desse mundo foi quando Adão veio; mas temos descoberto que incontáveis eras antes de Deus preparar a matéria do caos para formá-la como habitação humana, colocou nela raças de criaturas que morreriam e deixariam as marcas de seus trabalhos e habilidades, muito antes dele tentar sua mão no homem. Mas isto ainda não era o princípio: a revelação nos aponta para um longo período anterior no qual esse mundo foi moldado, para os dias nos quais as estrelas surgiram; quando, tal como gotas de orvalho, estrelas e constelações pingaram das mãos de Deus; quando, por seus próprios lábios, ele lançou as órbitas dos astros; quando com sua própria mão ele estabeleceu cometas, como raios, vagueando através do céu. Voltamos a eras nas quais mundos foram feitos e sistemas moldados, mas mesmo assim não nos aproximamos ainda do princípio. Vamos até ao tempo no qual todo o universo repousava na mente de Deus, ainda não nascido, até que entramos na eternidade quando Deus o Criador vivia só, tudo repousando dentro dele, toda a criação descansando em seu pensamento poderoso, mas ainda não imaginamos o princípio. Poderíamos ir mais e mais e mais para trás, eras após eras. Poderíamos ir para trás, se usássemos eternidades completas, e ainda assim nunca chegaríamos ao princípio. Nossa imaginação pouco a pouco desapareceria, mas jamais chegaríamos ao princípio. Mas Deus, desde o princípio, escolheu seu povo; quando o espaço era sem limites, ainda não nascido; quando a quietude universal reinava, e nenhuma voz ou suspiro quebrava a solenidade do silêncio; quando não havia nem começo, nem gesto, nem tempo, nada, apenas Deus; aí estava o princípio: e o princípio era o Verbo, e no princípio o povo de Deus era um com o Verbo, e no princípio ele os escolheu para a vida eterna.
A eleição é pessoal
Spurgeon: “Se alguém dissesse que Deus escolheu o povo judeu, poder-se-ia dizer que escolheu aquele, aquele e aquele outro judeu. E se alguém dissesse que Ele escolheu os ingleses, poder-se-ia dizer que escolheu aquele, aquele e aquele outro inglês. A eleição é pessoal e deve ser assim, pois é o que afirma a Escritura”.
A eleição não é privativa de nenhuma raça, sexo, categoria eclesiástica ou denominação religiosa, Deus elegeu os seus filhos entre todas as raças, sexo, religiões ou categorias sociais, cada um separadamente, sem consideração de seus méritos ou justiça, sem absolutamente nada nesta pessoa que a justificasse, somente a vontade de Deus definiu esta escolha.
Desta forma, a escolha é pessoal, em uma família, o pai será chamado e a mãe condenada, um filho será chamado e outro desprezado, dentro da igreja, alguns serão escolhidos, outros rejeitados, a eleição é pessoal, não há nada que mude esta condição.
Deus escolheu os seus eleitos antes que eles viessem a existir, e cada um deles foi escolhido pessoalmente, sem ligação alguma com algo coletivo que viesse a criar mérito no homem ou obrigação da parte de Deus, a nova família dos eleitos é a família de Deus, onde todos são irmãos em Cristo e filhos adotivos do Deus eterno.
Romanos 8,15: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”.
A eleição produz resultados
A eleição é irrecusável: O fim de todas as coisas é pré-ordenado por Deus para ser alcançado por intermédio dos meios determinados previamente e colocados à disposição de suas criaturas através das obras da providência. Desta forma, todas as coisas serão executadas estritamente de acordo com o plano de Deus, e ao mesmo tempo, realizadas através da vontade livre de suas criaturas, direcionadas inevitavelmente pela natureza e juízo de cada indivíduo, e ainda, movida pelas circunstâncias que envolvem cada um dos eventos previstos.
2 Tessalonicenses 2,13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.
Texto básico: “Pela santificação do Espírito e fé na verdade”.
Existem, ao longo da história, milhões de homens e mulheres que se perderam por não entender a doutrina da eleição, tanto na forma negativa, como foi vista acima, ou então, que acreditam terem sido escolhidos simplesmente para o céu e para a vida eterna; mas se esquecem que foram escolhidos “para santificação do Espírito e fé na verdade”. Esta é a eleição divina: Deus escolheu as pessoas para serem separadas do mundo e para serem crentes humildes que buscam ativamente o conhecimento e o serviço na obra de Deus.
Os eleitos estão separados do mundo:
Os eleitos de Deus vivem no mundo, mas são separados do mundo, eles não são puros, não são perfeitos, não são imaculados, não conseguirão a santidade nesta vida, mas foram eleitos para a fé em Cristo e arrependimento para a vida - a justificação precede a fé e o arrependimento - desta forma, se alguém é justificado, é separado do mundo, recebe como dom a fé em Cristo e o arrependimento para a vida.
João 15,19: “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia”.
A eleição é para humildade e conhecimento de Deus:
A eleição é a doutrina mais despojadora em toda a face da terra por levar embora toda a verdade da carne e toda segurança que não se apóie no sangue de Cristo.
Frequentemente o crente descansa em algumas obras que são suas e não aquelas de Cristo, e crê em um poder que provém de si mesmo e não de Deus. O eleito é humilde, e isso, somente porque está debaixo da influência do Espírito, todo aquele que se envaidece, seja de sua justiça própria ou de sua eleição não é eleito de forma alguma.
O eleito de Deus busca incessantemente o conhecimento, o eleito ama a Palavra mais que todas as coisas e procura nela a realidade e os preceitos do único Deus verdadeiro, abandonando de vez suas sensações e experiências, encontra a verdade somente na Escritura: A Palavra do Deus vivo.
Charles Spurgeon: “O eleito olha para Jesus Cristo, e diz: Nada trago em minhas mãos para merecer a salvação e nada posso fazer para preservá-la, simplesmente à tua cruz eu me apego. Mas não pensemos que algum homem será salvo sem a regeneração, não concebam, que algum decreto passado nas brumas da eternidade, salvará nossas almas a menos que creiamos em Cristo. Não fantasie que a eleição perdoa o pecado, precisamos da soberania e da vontade divina para a salvação, mas a soberania de Deus não exime o homem da responsabilidade, precisamos ter a eleição, mas precisamos diligenciar nossos corações e conhecer a verdade divina, sem este conhecimento ninguém verá Deus”.
João 17,3: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.
Humildade perante Deus, coragem diante dos homens:
A humildade do crente é devida a Deus e à Palavra, nenhum ministro ou mestre religioso tem o direito de ir além da Palavra revelada, e o crente maduro deve estar atento para defender a revelação bíblica diante de religiosos que se desviam da sã doutrina, assim como diante do mundo ou das autoridades constituídas. Todo o respeito do crente procede da Palavra, as obrigações religiosas e civis estarão sempre limitadas pela Escritura, que é a regra máxima na vida do cristão.
Mateus 22,16: “E enviaram-lhe discípulos, juntamente com os herodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens”.
Esta coragem para enfrentar o mundo não provém do crente, pois o homem natural procura sempre a honra e a glória entre os homens, somente pelo novo nascimento e pela mudança interior provocada pela presença do Espírito, o homem torna-se capaz de colocar a Palavra acima das tradições humanas.
Romanos 8,15: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”.
Texto básico: “para viverdes, outra vez, atemorizados”.
A crença no Deus cristão soberano e determinador, leva o crente a ser ousado, a eleição do cristão faz dele uma pessoa destemida e audaciosa. Nenhum homem será tão corajoso quanto aquele que crê ser eleito de Deus. Que inquieta ao homem se ele é eleito do seu Criador? Aquele que Deus escolheu não se agitará nem tremerá, mesmo diante da própria morte. Veja novamente o verso do Apocalipse onde os covardes encabeçam a lista daqueles que são destinados ao lago de fogo eterno:
Apocalipse 21,8: “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”.
Ordo salutis – a ordem da salvação
A salvação pela graça não é uma novidade do Novo Testamento, todos os crentes do Velho Testamento e de toda história da humanidade foram salvos pela graça de Deus em Cristo, pois o Livro da Vida do Cordeiro está escrito desde a fundação do mundo:
Apocalipse 17,8: “A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá”.
Ordo Salutis (ordem da salvação): Ao mesmo tempo em que a salvação é definitiva e eterna, podemos reconhecer várias fases neste processo, de forma que a aplicação da redenção segue, como norma geral, uma ordem lógica e definida:
Chamado eficaz – justificação - arrependimento para vida - fé em Cristo – adoção – regeneração - glorificação.
Os homens mortais só têm uma oportunidade de salvação: A eleição. Por ela, Deus, em sua infinita misericórdia os escolhe na eternidade, justifica-os, concede-lhes a bênção da regeneração, vincula-os a seu Filho e se torna o seu Pai por adoção, como tal, conserva-os em seu seio, protegidos espiritualmente; a certeza da salvação procede desta filiação.
A paternidade biológica pode ser rejeitada, mas não negada, o descendente traz no seu organismo e natureza a herança de seus ancestrais. A paternidade espiritual é algo semelhante, porém mais radical e profunda: É inegável e irrecusável, uma vez filho, eternamente filho.
Romanos 8,29-30: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.
1 -           O CHAMADO EFICAZ
O chamado eficaz é obra do Deus triúno: Existem na teologia cristã algumas divergências quanto à ordem e operação da vocação, por este motivo, serão apresentadas abaixo as comprovações bíblicas do chamado, que é feito pela Trindade divina, assim como toda a obra da salvação.
O chamado eficaz se faz primeiramente pelo Pai:
1 Coríntios 1,9: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor”.
1 Pedro 5,10: “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar”.
Mas todas as coisas do Pai são feitas através do Filho, de forma que o chamado é atribuído ao Filho:
João 7,37-38: “No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”.
Mateus 11,28: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.
E o Filho chama por meio da Palavra e por intermédio do Espírito:
João 15,26: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim”.
Mateus 10,20: “Visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós”.
A teologia reformada define três tipos de chamado: O chamado real, o chamado verbal (ou externo) e o chamado eficaz (ou interno). Os dois primeiros não têm nenhuma função na salvação do homem, enquanto o chamado eficaz define a realização temporal da salvação para os eleitos de Deus.
O chamado real (geral): Este chamado é realizado pela revelação geral, a consciência inata de Deus em todos os homens que se revela através da história, das experiências de vida e das obras da natureza, este chamado não é suficiente ou efetivo para a salvação do homem, mas, ao contrário, é suficiente para tornar todo o homem culpado perante Deus, pois tendo recebido esta revelação não o receberam e o louvaram como Deus. Outra impossibilidade de salvação por este meio é que Cristo é ignorado, e não existe salvação em outro nome.
Romanos 1,18-20: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis”.
O chamado verbal (externo): Este é o chamado pela pregação da Palavra, mas nem todos os que a ouvem serão salvos, mas somente os que forem iluminados pelo Espírito, por isso, a pregação do evangelho leva a duas situações opostas, alguns receberão a palavra integralmente com alegria e serão salvos, outros recusarão a Palavra ou haverão de aceitá-la parcialmente, modificando-a conforme os desejos de seu coração impenitente e irão se perder em ambos os casos.
As palavras de Jesus, nos evangelhos, deixam claro que os falsos religiosos serão dignos de maior castigo que aqueles que desconhecem ou rejeitam pura e simplesmente a Palavra.
Mateus 21,31: “Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus”.
A sinceridade no chamado: Para que este chamado externo seja efetivo, o testemunho cristão deve ser verdadeiro, estritamente de acordo com a Palavra, sincero e honesto, supondo-se que todas as pessoas que ouçam tenham a possibilidade de serem salvas, pois ninguém conhece os que serão salvos e os que serão condenados. O julgamento pela aparência e pela vida de cada um nada significa, pois somente Deus conhece os seus eleitos e o momento em que serão chamados.
Marcos 16,15: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.
Os católico-romanos e arminianos consideram este chamado externo como propagador da graça de Deus, que seria desta forma, universal, e por este chamado os homens receberiam a capacidade de decidir pela sua própria salvação, aceitando ou rejeitando o evangelho conforme sua própria vontade – o livre-arbítrio – e por esta graça universal o homem se capacitaria também para preservar sua salvação, conseguida pelo que seria sua justiça própria auxiliada pela graça de Deus (a graça infundida).
Esta ideia da graça infundida, a justiça própria do homem auxiliada inicialmente pela graça de Deus, parece a princípio piedosa, mas é uma ideia herética e paupérrima, que considera a salvação do ponto de vista antropológico, trazendo ao homem uma capacidade que foi perdida na queda, criando para Deus a obrigação de salvar o homem e desprezando o valor infinito da obra de Cristo.  Veja abaixo o que diz Jesus a este respeito.
João 6,44: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”.
Agostinho diz o seguinte em seu comentário a este verso: “Assim Sua vontade o conduz, para que não somente saiba o que deve fazer, mas, porque uma vez que sabe, também o faça”.
Esta ideia de Agostinho é corroborada claramente pelo apóstolo Paulo quando ele diz que Deus efetua nos homens tanto o querer como o realizar, pois dada à natureza caída do homem, de nada adianta o seu querer contra sua vontade degenerada que irá sempre prevalecer, pelo que o mesmo apóstolo, em outro lugar, diz que não consegue realizar o bem que pretende, mas apenas o mal que está presente em sua carne.
Logo, quanto à graça infundida, graça universal, à graça cooperativa ou à graça preveniente, as pessoas que acreditam nestes contos de fadas não podem ser consideradas cristãs em hipótese alguma. A Escritura mostra, exaustivamente, que o chamado, a conversão e a preservação da salvação são levadas a efeito por Deus: O Pai e o Filho e o Espírito Santo em todas as suas fases e durante toda a vida terrena do homem.
Ezequiel 34,11: “Porque assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei”.
Já houve, na igreja cristã, um movimento pelo qual se tentava limitar este chamado verbal somente aos eleitos, mas isto é impossível, pois ninguém conhece os eleitos de Deus, por este motivo, o chamado verbal, este sim, deve ser universal, feito com boa vontade e sinceridade. O crente não deve, por este motivo, tornar-se uma pessoa insistente e sem noção de conveniência conseguindo, desta forma, efeitos negativos através da palavra inconsequente; devem existir bom senso e equilíbrio na evangelização e no testemunho cristão para que não se torne supérfluo ou ineficiente.
Mateus 12,36: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo”.
Por outro lado, não se deve confundir este cuidado no chamado verbal com a necessidade de advertência e correção aos falsos mestres e doutrinas heréticas na igreja, estes devem ser advertidos e combatidos com energia e decisão para que se convertam e sejam salvos, ou, em casos renitentes, devem ser excluídos da igreja, pois um pouco de fermento leveda a massa toda.
1 Coríntios 5,13: “Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”.
O chamado (vocação) eficaz: O chamado eficaz começa exatamente da mesma forma que o chamado externo, pelo ouvir e estudar a Palavra de Deus. A diferença está na predestinação do crente: Na escolha de Deus, na redenção obtida por Cristo e na presença do Espírito na operação deste chamado. O convite é feito ao pecador para receber a Cristo com fé e arrependimento, mas em nenhum momento deve-se sugerir, ou dar a entender, a capacidade do pecador para acolher este convite, mas, ao contrário, é preciso deixar claro que ele não tem capacidade em si mesmo para aceitar ou rejeitar a Cristo, não tem poderes em si mesmo para desenvolver a fé e o arrependimento, mas que todas estas coisas são dons de Deus, e são recebidas pelos seus escolhidos, gratuitamente, pela redenção obtida por Cristo e através da operação do Espírito Santo de Deus.
Filipenses 2,13: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.
Pode-se argumentar, à parte do fundamento bíblico, que a resposta ao chamado depende da boa vontade do homem, vejamos o que diz Agostinho a este respeito:
Agostinho: “A boa vontade do homem precede as muitas dádivas de Deus, entre as quais está também a própria boa vontade”.
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo X, Seção II – A vocação incondicional:
Esta vocação eficaz é somente pela livre e especial graça de Deus e não provém de qualquer coisa prevista no homem (1) que é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo (2) ele é habilitado, por causa disso, a responder este chamado e receber a graça oferecida e comunicada nele (3).
1 - 2 Timóteo 1,9: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.
2 - Efésios 2,5: “E estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos”.
3 - João 5,25: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão”.
Resumo
A vocação dos eleitos é obra única e exclusiva da graça de Deus, sendo eficaz e irrecusável. Pelo mesmo critério, a vocação dos réprobos é impossível e jamais acontecerá. Não existe nada de si mesmo nos eleitos ou réprobos para que recebam a vocação, esta é uma decisão exclusiva da vontade soberana de Deus.
Mesmo os eleitos de Deus, antes da vocação eficaz, resistem de maneira radical a todos os chamados do Espírito e somente passam a atender aos chamados após o recebimento da graça. A partir deste momento, e só então, o crente regenerado passa a cooperar com o chamado à vocação, mas sempre e somente através da ação contínua do Espírito que nele habita.
A natureza da vocação é o poder infinito de Deus, em Cristo e através do Espírito, que age diretamente na alma do homem, atraindo-o e determinando suas atitudes a partir daquele momento, todavia, de modo perfeitamente condizente com sua personalidade, época histórica e social, localização geográfica e de acordo com suas necessidades básicas e familiares, de maneira que ele vem a Cristo de forma totalmente livre e espontânea.
Esta vocação interna proveniente do Espírito é necessária à salvação, pois o estado inerente ao homem é o de morte espiritual e total inabilidade quanto à própria salvação e à realização de qualquer bem espiritual.
Tito 3,3: “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”.
Como foi visto no capítulo anterior, a vontade do homem é livre para decidir conforme sua natureza, ora, as inclinações do homem natural são para o mal e a depravação. A restauração efetuada pelo Espírito muda a natureza corrompida do regenerado, de forma a trazer à pessoa uma liberdade que ela nunca teve antes, pois o pecado torna o pecador escravo de suas compulsões malignas e de sua natureza corrompida.
2 Coríntios 3,17: “Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”.
Esta seção mostra que a existência de uma disposição propensa à regeneração e à aceitação da Palavra antecede a fé em Cristo e o arrependimento para a vida. É impossível conseguir que uma natureza indisposta colabore com o chamado de Cristo, somente pela vocação eficaz o Espírito leva a alma a uma nova realidade da emoção e da razão voltadas para atender a este chamado. Mesmo depois de receber a vocação, o homem somente irá perseverar em sua salvação através e pela ação contínua do Espírito durante toda sua vida terrena.
Catecismo Menor de Westminster - Pergunta 30: Como nos aplica o Espírito a redenção adquirida por Cristo? Resposta: O Espírito aplica-nos a redenção adquirida por Cristo operando em nós a fé e unindo-nos a Cristo por meio dela em nossa vocação (chamado) eficaz.
O chamado de Deus é eficaz, pois foi determinado na eternidade, quando ele acontece já é uma decorrência do Decreto de Deus, que se manifesta no tempo previsto, como se pode ver abaixo no exemplo de Zaqueu.
O chamado de Zaqueu: Jesus ia para Jerusalém, disse aos discípulos que teria que passar por Jericó, esta era uma cidade amaldiçoada, como também os publicanos, que eram odiados pelos judeus e desprezados pelos romanos. Ora, Zaqueu era publicano, era desonesto, era cruel, acreditava no poder das riquezas e morava em Jericó.
Lucas 19,1-3: “Entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade. Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, por ser ele de pequena estatura”.
Deus, porém, tinha outros planos para ele: Um chamado. Movido por este chamado Zaqueu desejava ver Jesus; ele era de baixa estatura, a multidão comprimia as pessoas, Jesus se vestia de maneira comum e dificilmente era distinguido na multidão, mas Zaqueu, já velho, sobe em uma árvore e ali permanece junto aos garotos. Jesus é quem faz o chamado, quando decidiu passar por Jericó, ele sabia que Zaqueu estaria ali.
Lucas 19,5: “Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa”.
Conforme o pensamento religioso judeu, Zaqueu seria a última pessoa a ser salva em toda Palestina, mas Deus não chama ninguém pelo merecimento, mas somente conforme sua graça. O que disse Jesus aos fariseus a este respeito?
Mateus 21,31: “Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem (*) no reino de Deus”.
(*): Publicanos (cobradores de impostos corruptos) e meretrizes vos precedem: precedem aos falsos religiosos, moralistas e confiantes em seu mérito e justiça própria.
Conforme figuração de Spurgeon, os homens têm subido na árvore de suas próprias boas obras, nos galhos de sua justiça própria e confiado na vontade e no poder do homem. Jesus olha para cima e ordena: Desce!  Deus não chama multidões, mas um a um, somente pelo chamado eficaz o homem desce da árvore de sua própria justiça.
2 Timóteo 1,9: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.
O chamado é uma ordem:
Jesus não pede nada a ninguém, ordena, pois ele é Deus, soberano e todo-poderoso.
Jesus viu a Simão e André no lago e diz: “Vinde após mim...”.
Mateus 4,20: “Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram”.
Logo adiante viu a João e Tiago, e chamou-os.
Mateus 4,22: “Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram”.
A Mateus, na coletoria:
Mateus 9,9: “Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu”.
O chamado de Deus é uma ordem, não é para depois, é para hoje e não depende da vontade do homem, aquele que deixa para depois ainda não foi chamado. Quem é chamado atende prontamente, é uma ordem de Deus, o chamado é irresistível. Da mesma forma como um homem natural não consegue por si mesmo desejar ou fazer algo pela sua salvação, o chamado de Deus é eficaz e irresistível, não existe meio caminho, ou o homem é chamado ou permanece em seus delitos e pecados, mas, e Zaqueu?
Lucas 19,6: “Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com alegria”.
Os judeus estavam inconformados com o fato de Jesus se hospedar na casa de um publicano, conforme o pensamento vigente, os judeus religiosos e da alta classe política se julgavam os únicos dignos do reino de Deus, mas quando Jesus disse, acima, que publicanos e meretrizes os precederiam, ele sabia o que estava falando, pois ele mesmo é quem faz o chamado conforme a escolha soberana do Pai, nenhum homem tem em si mesmo mérito para a salvação, somente a decisão divina leva ao homem a graça e a misericórdia de Deus, pois todos são pecadores.
Lucas 19,7: “Todos os que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador”.
A doutrina da graça não significa que o homem não pode resistir ao Espírito Santo, o homem natural irá sempre resistir e se opor a Deus e às coisas do Espírito, o chamado eficaz significa que Deus tem o poder e irá sobrepujar toda resistência ao Espírito no seu eleito e tornar sua influência efetiva e irresistível. Isto não significa que Deus não determina a vontade dos ímpios, mas que eles resistem a princípio ao Espírito, mas, no final, vão realizar a vontade de Deus de qualquer forma.
De maneira específica, pode-se definir a graça irresistível como uma manifestação da soberania de Deus, sobrepujando a rebelião voluntária do homem caído para levá-lo à fé em Jesus Cristo afim de que seja salvo: A justificação precede a fé.
Filipenses 2,13: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.
O chamado eficaz não significa que Deus irá forçar uma pessoa a crer contra sua vontade, mas através deste chamado, esta pessoa irá considerar a pregação do evangelho e o testemunho de Cristo como racional e desejável, representando seus melhores interesses.
João 1,13: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
O chamado produz frutos:
O chamado de Deus é eficaz, e acima de tudo, é preciso deixar claro que este chamado produz frutos. Zaqueu abriu sua porta, serviu sua mesa, seu coração se tornou generoso; ele distribui quase todos os seus bens, na noite seguinte ele dormiu mais pobre, porém com certeza justificado.
Lucas 19,8-10: “Entrementes, Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. Então, Jesus lhe disse: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido”.
Os Cânones de Dort, Capítulos III e IV, artigos 10 e 11:
Artigo 10 ‑ Por que alguns que são chamados vêm: Alguns que são chamados pelo ministério do Evangelho vêm e são convertidos. Isto não pode ser atribuído ao homem, como se ele se distinguisse por sua livre vontade de outros que receberam a mesma e suficiente graça para fé e conversão, como a heresia orgulhosa de Pelágio (Armínio) afirma. Mas isto deve ser atribuído a Deus: como ele os escolheu em Cristo desde a eternidade, assim ele os chamou efetivamente no tempo. Ele lhes dá fé e arrependimento; ele os livra do poder das trevas e os transfere para o reino de seu Filho. Tudo isso ele faz a fim de que proclamem as grandes virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz e se gloriem, não em si mesmos, mas no Senhor, como é o testemunho geral dos escritos apostólicos.
Colossences 1,13-14: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”.
Artigo 11 ‑ Como ocorre a conversão: Deus realiza seu bom propósito nos eleitos e opera neles a verdadeira conversão da seguinte maneira: Ele faz com que ouçam o Evangelho mediante a pregação e poderosamente ilumina suas mentes pelo Espírito Santo de tal modo que possam entender corretamente e discernir as coisas do Espírito de Deus. Mas, pela operação eficaz do mesmo Espírito regenerador, Ele penetra até os recantos mais íntimos do homem. Ele abre o coração fechado e enternece o que está duro, circuncida o que está incircunciso e introduz novas qualidades na vontade. Esta vontade estava morta, mas ele a faz reviver; era má, mas ele a torna boa; estava indisposta, mas ele a torna disposta; era rebelde, mas ele a faz obediente, ele move e fortalece esta vontade de tal forma que, como uma boa árvore, seja capaz de produzir frutos de boas obras.
1 Coríntios 2,14: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
2 - JUSTIFICAÇÃO
Calvino – Institutas: A JUSTIFICAÇÃO PODE SER SINTETIZADA NESTES QUATRO CONCEITOS:
- ACEITAÇÃO POR PARTE DE DEUS;
- IMPUTAÇÃO DA JUSTIÇA DE CRISTO;
- PERDÃO DOS PECADOS;
- RECONCILIAÇÃO COM DEUS.
2 Coríntios 5,18-19: “Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”.
A justificação é, ao mesmo tempo, uma decisão judicial e uma obra criadora de Deus, que se torna possível pela redenção adquirida por Cristo para o seu povo. Pela justificação, o pecador, morto em seus pecados e delitos, torna-se outra criatura através do novo nascimento. Em toda esta obra criadora de Deus, o homem é completamente passivo. Da mesma forma como não há lugar para cooperação de um bebê em seu próprio nascimento, também não há possibilidade de cooperação do homem em seu nascimento espiritual.
1 Coríntios 15,22: “Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo”.
Justificação no Velho Testamento: A palavra usada no Velho Testamento para justificação é “hitsdik” e significa, na maioria das aplicações, uma declaração judicial de que uma pessoa está de acordo com as exigências da lei, ficando livre do julgamento e da condenação.
Deuteronômio 25,1: “Em havendo contenda entre alguns, e vierem a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado”.
Esta palavra, na bíblia, tem um sentido meramente judicial, ao contrário do que afirmam os católico-romanos ou a teologia liberal, usualmente esta palavra é aplicada juntamente com seu antagônico: condenação. O uso desta palavra com o sentido de tornar moralmente justo torna impossível algumas passagens em que ela é utilizada, veja no verso de Provérbios abaixo: O perverso deve ser condenado.
Provérbios 117,15: “O que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro”.
Justificação no Novo Testamento: A palavra grega usada para justificação no Novo Testamento é o verbo “dikaioo” que é uma declaração de que o caráter da pessoa está de acordo com a lei, veja no verso abaixo de Romanos onde a pessoa é justificada sendo ainda pecadora. Esta pessoa não foi digna da justificação, mas foi justificada sem mérito algum pelo sacrifício de Cristo.
Romanos 5,8-9: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
A palavra “dikaios” ligada ao verbo “dikaioo” indica sempre uma relação ou algo que é fora do sujeito. A palavra “dikaiosis” - justificação - é um substantivo que indica o ato da justificação, um ato judicial de Deus, pelo qual, ele declara o homem livre do castigo devido pela sua condição pecaminosa, sendo este ato proveniente de algo fora do homem, sem consideração alguma pelo mérito ou justiça própria do pecador.
Romanos 4,25: “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”.
A doutrina da justificação
A igreja primitiva não tinha uma ideia clara a respeito da justificação e da regeneração, a ideia comum prevalecente até hoje na igreja de Roma é que a regeneração acontecia no ato do batismo e não havia uma clara distinção entre a justificação e a regeneração. Na Idade Média a justificação era confundida com a doutrina dos méritos humanos pela qual o homem recebe a graça de Deus e torna-se capaz de realizar boas obras que agradem a Deus (a graça infundida).
Somente após a reforma foi estabelecida uma clara distinção entre a justificação, a regeneração e a santificação, distanciando o processo de justificação da santificação como era visto pela igreja de Roma.
Justificação: A justificação é um ato judicial e imediato de Deus - o novo nascimento - tornando o homem livre da culpa do pecado e das penalidades da lei, transformando o seu caráter e infundindo nele a fé em Cristo, dando a ele o selo e o penhor do Espírito e adotando-o como filho. Esta justificação tem como base somente a redenção adquirida por Cristo, sem consideração alguma pelo mérito ou justiça do homem.
Regeneração: a regeneração é um aperfeiçoamento moral contínuo durante toda a vida do crente a partir da justificação, também sem qualquer mérito provindo do homem, e operado unicamente pelo Espírito enviado por Cristo àqueles que foram justificados pelo Pai. A regeneração não concede à pessoa justificada o dom da perfeição moral em nenhum momento de sua vida, esta perfeição moral é própria somente de Deus.
Santificação: Enquanto a justificação é um ato legal de Deus e a regeneração é um processo contínuo operado pelo Espírito, a santificação apresenta os resultados destes dois processos no decorrer da vida do crente, são as transformações que ocorrem no caráter e na conduta da pessoa após a justificação, quando ela passa a ter sua salvação preservada pela comunhão permanente do Espírito: Esta é a perseverança dos santos.
Esta santificação nunca será efetiva nesta vida terrena, mas apresenta os resultados de um processo contínuo em direção a uma perfeição que jamais será atingida pelo homem, pois a santidade efetiva é uma característica própria somente da divindade.
O fator negativo na justificação – o perdão dos pecados: Existe um fator negativo na justificação, que é o perdão dos pecados, no ato da justificação todos os pecados do crente são perdoados, passados, presentes e futuros, toda a culpa pelo pecado é removida, mas o crente não é declarado inocente, ele é perdoado pela justiça de Cristo a ele imputada.
A justificação não significa, como a confissão católica, o perdão dos pecados passados e atuais, restando ao homem a perseverança na santificação por seus próprios méritos, pois o homem continua pecador durante toda a sua vida e não é capaz de perseverar na sua salvação aparte da comunhão permanente do Espírito.
Se o perdão dos pecados não incluísse os pecados futuros, seriam necessárias várias justificações, o que não encontra base escriturística de forma alguma.
O fator positivo na justificação – a obra de Cristo: O fator positivo na justificação encontra-se fundamentalmente na obra ativa de Cristo, tornando o crente aceitável a Deus e propiciando a paz e a vida eterna em Cristo.
Em contraposição a este aspecto positivo da justificação, os arminianos, defensores do livre-arbítrio, condicionam a aceitação do homem por Deus à obediência evangélica, transformando-a novamente em obra, digna de reconhecimento, criando para Deus uma obrigação de salvar o homem pelos seus próprios méritos.
Isaías 64,6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam”.
Justificação objetiva e subjetiva
Pode-se discernir dois aspectos na justificação, um aspecto é o da geração, ou justificação objetiva, e outro, o do novo nascimento, ou justificação subjetiva.
A justificação objetiva (ativa) – o Decreto de Deus: A geração do novo homem acontece antes da fundação do mundo no Decreto da Eleição, neste ato simples de Deus a justificação está definida eternamente e jamais será perdida.
O Decreto da Eleição é o que possibilita a salvação dos crentes do Velho Testamento, bem como de fetos, infantes, incapazes e outros que eventualmente Deus determine salvar. É preciso reforçar que estes atos de salvação apenas pelos decretos de Deus são casos excepcionais, mas sempre, em todos os tempos, somente através da redenção adquirida por Cristo.
Usualmente a salvação é pessoal, sendo um ato transitivo (*) de Deus, que se realiza pela pregação ou pela leitura da Palavra e somente se torna possível através da redenção adquirida por Cristo e da operação permanente do Espírito – uma obra do Deus triúno.
(*) Transitivo: Cuja ação se transmite diretamente do sujeito a um objeto distinto dele.
Romanos 4,25: “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da (para possibilitar) nossa justificação”.
A justificação subjetiva (passiva) – o novo nascimento: A justificação passiva é o ato de justificação referido de forma usual na bíblia. A justificação passiva, ou o novo nascimento, ocorre em um momento determinado no tempo de vida terrena do crente, sendo que somente Deus conhece este momento e somente Deus conhece seus eleitos.
Ninguém pode afirmar, a não ser de forma irresponsável e temerária, quais são os eleitos de Deus e o momento em que estes recebem a justificação: O novo nascimento. Por este motivo, é completamente herético e abominável associar esta justificação, ou o novo nascimento, à aplicação dos sacramentos como fazem a igreja de Roma e as igrejas pentecostais. Também não é possível julgar o novo nascimento pelas aparências físicas de uma vida piedosa, pois somente Deus enxerga a verdade nos pensamentos e no coração dos homens.
João 3,8: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito”.
Na justificação não acontece nenhuma mudança na substância da alma, não há qualquer adição ou modificação nas faculdades da alma ou do corpo do homem (maniqueísmo), a mudança ocorre na disposição da mente, que é a alma; uma iluminação divina que ocorre somente através da comunhão e da operação do Espírito, se o Espírito abandona o homem, a apostasia será certa e fatal.
Hebreus 10,29: “De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?”.
A base da justificação
– Onde ela não está: A base da justificação não se encontra em nenhum mérito ou virtude inerente ao homem ou em suas obras, é preciso sustentar firmemente esta posição que se encontra ameaçada pelo arminianismo prevalecente nas modernas igrejas evangélicas, que a exemplo a igreja de Roma, ensinam que a graça recebida infunde no homem justiça própria dando a ele condições de perseverar na salvação por seus próprios méritos.
– Onde ela está: A base da justificação somente se pode achar na justiça perfeita de Cristo, que é imputada unilateralmente ao pecador no ato da justificação.
O perdão dos pecados – obediência passiva de Cristo: O perdão dos pecados foi adquirido pela obediência perfeita de Cristo, onde ele, sendo Deus, assumiu a forma de servo e cumpriu de forma perfeita a Lei que Adão não fora capaz de cumprir. Além disto, ele, que é impecável, se fez pecado e maldição, sendo obediente até a morte na cruz, suportando em lugar dos eleitos, o castigo devido a todos eles e desta forma propiciando a ira de Deus que pesava sobre seu povo.
A adoção e a vida eterna – obediência ativa de Cristo: Na obediência ativa de Cristo, pela qual ele ressurgiu dos mortos, ascendeu aos céus e está sentado à destra da majestade, os eleitos de Deus, já perdoados, são adotados como filhos, tornam-se herdeiros e confirmam o dom da vida eterna.
Esta conversão do crente não é súbita, mas existem algumas fases que podem ser distinguidas de forma geral e não específica neste processo de conversão: A primeira fase é a consciência do pecado que leva o crente a uma situação de angústia e desequilíbrio, a segunda fase é a crise que segue na confrontação da antiga vida e da nova vida que se apresenta, e finalmente, a sensação de paz, tranquilidade e harmonia ao descobrir a verdade de Deus.
A graça infundida: A justificação não traz ao homem a justiça própria ou a capacidade de adquirir a fé e manter sua salvação por si mesmo, transformando desta forma, a obediência evangélica em cumprimento de obras e aquisição de méritos por parte do homem. Somente a justiça perfeita de Cristo, imputada ao crente, traz a justificação, nada que provenha do homem pode colaborar com este fato. A perseverança , ou melhor, a  preservação do crente na salvação é devida unicamente à operação contínua do Espírito Santo.
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XI, Seção I – A justificação: Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica (1). Esta justificação não consiste em Deus infundir nos justificados a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente em consideração à obra de Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo (2), propiciando que se firmem nele e o recebam pelo dom da fé que não têm em si mesmos, mas que procede de Deus (3).
1 - Romanos 3,24: “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”.
2 - 2 Coríntios 5,19: “A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”.
3 - Efésios 2,8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”.
Resumo:
Deus justifica de forma definitiva todos os seus eleitos e somente estes. A justificação é um ato meramente judicial, onde o eleito é declarado inocente de seus pecados que foram imputados a Cristo. A justificação não torna os eleitos moralmente conformados à justiça de Deus, nem os torna santos em nenhum momento de sua vida terrena.
A justificação do crente é um ato legal de Deus. Na justificação, o pecador é declarado justo porque o representante do pecador é justo. É uma imputação da justiça perfeita de Cristo ao pecador, exclusivamente pela determinação soberana de Deus, sem participação ou mérito algum do homem.
A justificação existe eternamente nos decretos da eleição e redenção, pois nestes atos eternos do concerto entre o Pai, o Filho e os pecadores eleitos, todos estes eleitos já estão legalmente justificados, a justificação que acontece no tempo é uma justificação moral, que é apenas uma consequência desta justificação legal que existe eternamente. Por este motivo, todos os crentes que antecedem a Cristo, já nascem sob a justificação legal, sendo eternamente salvos pela escolha do Pai e pela decisão redentora do Filho.
Pode-se resumir a justificação como o ato de Deus em que Ele aplica sua graça no homem pecador, infundindo nele o princípio da nova vida: “O novo nascimento”.
Romanos 3,21-22: “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem; porque não há distinção”.
Por que não há diferença para Deus? Porque todos são iguais perante Deus: Pecadores perdidos e incapazes de agradar a Deus ou fazer algo por sua própria salvação, que foram salvos unicamente pela justiça perfeita de Cristo.
Romanos 3,23-24: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente (*), por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”.
(*): “Gratuitamente” pode também ser traduzida como “sem causa”.
A justificação, como todas as fases da salvação, é baseada unicamente na graça de Deus através da justiça perfeita de Cristo, ela restabelece a comunhão do homem com Deus e com seus semelhantes, provê o perdão dos pecados, a adoção como filhos de Deus, a paz e a liberdade.
A graça de Deus não se condiciona a qualquer motivo ou qualidade proveniente do homem, a graça foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, pois Deus é santo e justo, jamais pode aplicar a misericórdia sem a satisfação prévia de sua justiça, mas Jesus Cristo satisfez plenamente a justiça divina no lugar dos eleitos.
Perdão e justificação são, portanto, essencialmente distintos, o perdão é a absolvição do castigo e a justificação é uma declaração de que não existe mais nenhuma base para a aplicação do castigo. Pode-se ver desta forma que condenar não é punir, mas declarar o acusado culpado ou digno de castigo; e justificação não é meramente liberar desse castigo, mas declarar que o castigo não pode mais ser aplicado.
Efésios 1,4-5: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
Deus, por suas qualidades perfeitas, não pode sobrepor a graça à justiça, devem existir fundamentos válidos, completamente fora do homem, para declarar o pecador justo. O fundamento da graça salvadora é a redenção que há em Cristo, visto que ele pagou o preço pelo pecado através de uma vida de perfeita obediência e do sacrifício expiatório perfeito em lugar dos eleitos de Deus e teve seu sacrifício aceito através da ressurreição dos mortos.
Romanos 4,25: “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação”.
Esta é a diferença entre o cristianismo e todas as outras religiões, no cristianismo Deus provê a salvação; em todas as outras religiões, seitas, organizações ou irmandades o homem deve fazer algo de si mesmo para sua própria salvação.
Romanos 10,20: “E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim”.
A base da salvação não é um processo de sentimentos ou experiência, como aceitar a Cristo, convidar Jesus para o coração, receber os sacramentos ou levar uma vida de alto padrão moral. Se alguém pensa desta forma está desprezando a redenção que há em Jesus Cristo, todas estas coisas são consequências da justificação e não formam nenhum mérito para a salvação.
Romanos 5,8-10: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
A justificação precede a fé e o arrependimento
A fé não é um ato próprio da mente humana, mas um ato sobrenatural do Espírito resultando no assentimento pleno do evangelho e na verdade que concerne ao Salvador: Jesus Cristo.
1 Coríntios 2,14: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.
Da mesma forma que uma criança não escolhe seus pais biológicos, aqueles que são nascidos espiritualmente pela justificação não escolheram, foram escolhidos.
João 1,13: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
João refere-se a Deus, fazendo nascer, onze vezes no terceiro capítulo do seu evangelho.
João 3,3-5: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”.
Deus não somente justifica o pecador atribuindo a ele a justiça perfeita de Cristo, mas, pelo do novo nascimento, concede a ele, através do Espírito, os dons da fé salvífica e o arrependimento para a nova vida em Cristo.
Salmo 32,1-2: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo”.
Em Romanos, capítulo cinco, verso dezoito, Paulo mostra que a justiça que Deus imputa a seu povo é: “A justiça de um”. A queda do homem veio por Adão, de uma só ofensa, e a redenção pela justiça de um: Cristo, o Senhor e Salvador dos eleitos de Deus.
Romanos 5,18: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos (*) os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos (*) os homens para a justificação que dá vida”.
(*) - Todos (pav) – Sobre o significado desta palavra o léxico do Dr. Strongs traz a seguinte explicação:
1) Individualmente: cada, todo, algum, tudo, o todo, qualquer um, todas as coisas, qualquer coisa;
2) Coletivamente: aqui o Dr. Strongs mostra que “todos” é geralmente usado como significando uma abrangência relativa a grupos incluídos como participantes de uma situação: crentes, descrentes, pessoas de todos os sexos, povo racial, povo eleito, povo condenado, pessoas de todos os povos, raças e nações etc. Pode também, como no caso da primeira frase significar “todo” como totalidade da humanidade, é sempre necessário analisar o sentido da oração.
“Todos o seguiam" Todos seguiam a Cristo? Não, nem todos.
- "Então, saíam a ter com ele Jerusalém e toda a Judéia". Foi toda a Judéia ou toda a Jerusalém batizada no Jordão? Não, não foi toda a Judéia batizada no Jordão.
"Filhinhos, vós sois de Deus". "O mundo inteiro jaz no Maligno". O mundo inteiro aqui significa todos? Não, os eleitos de Deus não jazem no maligno.
As palavras "mundo" e "todo" são usadas em vários sentidos na Escritura, e raramente a palavra "todos" significa todas as pessoas, tomadas individualmente. As palavras são geralmente usadas para significar que Cristo redimiu alguns de todas as classes — alguns judeus, alguns gentis, alguns ricos, alguns pobres e não restringiu sua redenção a judeus ou gentios.
Imputar: significa atribuir ao pecador algo que ele não possui ou tem capacidade de realizar por si mesmo. Os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo e a justiça de Cristo imputada a eles.
Gálatas 3,13: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro)”.
Muitos religiosos, descrentes, alegam que a doutrina da predestinação torna o cristão preguiçoso e o desvia dos retos caminhos de Deus, mas ao contrário destas afirmações, os crentes regenerados trazem em si o selo e o penhor do Espírito, são nascidos de novo e têm em seu peito o coração de carne conforme o profeta Ezequiel escreveu. Deus capacita os seus filhos eleitos a terem prazer na lei, a terem amor a Cristo e a procurar naturalmente, por todas as formas, o conhecimento e o serviço na obra de Deus.
Ezequiel 36,26-27: “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis”.
Jesus declara que seu fardo é leve, isso somente é verdade para os eleitos, que trazem em si o Espírito de Cristo, aqueles que lutam em grandes dificuldades para se manter na prática de uma doutrina estranha ao evangelho estão procurando sua própria justiça, que nunca irão encontrar.
1 Coríntios 1,30: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”.
3 - ADOÇÃO
Após o processo de justificação os crentes se tornam filhos de Deus por adoção, o que significa logicamente que os homens naturais não são filhos de Deus, pois quem adotaria seus próprios filhos? Isto seria uma contradição lógica.
A adoção também é um ato legal imediato decorrente da justificação, pela adoção os filhos são aceitos no estado em que estão, não existe a exigência de mudança no pecador para o ato da adoção, a santificação do crente é vista biblicamente como uma relação de Deus com o homem, e não uma qualidade moral do homem.
Deus santifica os seus filhos separando para si aqueles que decidiu justificar na eternidade, da mesma forma, esta ideia da separação é também determinante no ato da adoção. Estes filhos, assim adotados, não são somente separados por Deus, mas também “nascidos de Deus” sendo que estes dois fatos não podem ser separados, como se pode ver no verso abaixo.
João 1,12-13: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (*) de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
(*) - Poder: neste verso, a palavra “poder” provém do grego clássico: “exousian eudoken”, que significa a declaração de um ato legal por parte de Deus para que a pessoa se torne seu filho através do novo nascimento.
João 3,3: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.
A “vida eterna” é um dos fatores positivos resultantes da adoção, os crentes adotados têm os direitos legais de filhos e passam a ser herdeiros das bênçãos da salvação, sendo herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Estas bênçãos da salvação estão presentes nesta vida terrena e na vida do porvir incluindo todas as bênçãos da vida futura.
Romanos 8,17: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”.
Confissão de Fé de Westminster - Capítulo XII, Seção 1 – Adoção: “A todos que são justificados Deus é servido, em seu único Filho Jesus Cristo e somente por ele, fazer participantes da graça da adoção (1). Pela graça eles são recebidos no número dos filhos de Deus (2), gozam de liberdade e privilégios; têm sobre si o nome de Deus e recebem o Espírito de adoção (3), têm acesso com confiança ao trono da graça e são habilitados a clamar: Abba, Pai. São tratados com comiseração (4), protegidos, providos e por ele corrigidos, como por um pai (5); nunca, porém, abandonados (6), mas selados para o dia da redenção, e herdam as promessas, como herdeiros da eterna
salvação (7)”.
1 – Efésios 1,5: “Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
2 - João 1,12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome”.
3 – Romanos 8,15: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, {Aba; no original, Pai} Pai”.
4 – Salmo 103,13: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem”.
5 – Hebreus 12,7: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?”.
6 – Hebreus 13,5: “Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei”.
7 – Hebreus 1,14: “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?”.
Os crentes são filhos de Deus por adoção, não por geração de pais crentes, por pertencerem a alguma religião ou por criação em lares cristãos. Os eleitos adotados adquirem direitos e obrigações inalienáveis perante Deus.
Justificação e adoção: a justificação traz ao eleito uma consumação imediata no seu relacionamento com Deus e com a lei, tornando o relacionamento com Deus agradável e a fé e o arrependimento em Jesus Cristo desejável, isto é realizado através de uma mudança efetuada de forma unilateral em sua natureza, após a justificação todos os crentes são recebidos por Deus como filhos por adoção. Apesar da humanidade ter caído completamente na queda de Adão, o homem conserva em si a imagem de Deus, o que permite a adoção dos eleitos.
2 Pedro 1,4: “Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo”.
Adoção de filhos em Israel
A adoção não era praticada no antigo Israel, quando a mulher era estéril, o homem suscitava seus filhos através das servas, o filho, porém, não pertencia à serva, mas à esposa que se tornava desta forma mãe por direito e de fato. Este costume é anterior à lei mosaica e tem sua regulamentação no Código de Hamurabi, rei de Ur, da Caldéia, pelo qual se regiam os patriarcas, que têm sua origem nesta cidade.
No pacto da graça esta comparação é trazida para a igreja de Cristo, os filhos que são gerados pelos seus pais na carne, quando justificados por Deus, passam a ser filhos de Deus. É importante lembrar que a igreja é um instrumento utilizado por Deus para congregar seus filhos, não é, de forma alguma, o agente na justificação, adoção ou regeneração, o único agente na salvação é Deus.
Também não se deve confundir a igreja local com a igreja de Deus, na igreja local o joio e o trigo estão misturados enquanto a igreja de Deus é constituída somente pelos seus filhos escolhidos em Cristo.
João 17,23: “Eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim”.
A graça e a adoção
Antes da vinda de Cristo, o único povo adotado por Deus eram os hebreus, fato este que, consequentemente, excluía os outros povos. O pacto da graça, nesta época representado pelo Pacto Abraâmico e Pacto Mosaico, foram feitos exclusivamente com Abraão e seus descendentes.
Êxodo 4,22-23: “Dirás a Faraó: Assim diz o SENHOR: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que eu matarei teu filho, teu primogênito”.
Agora, porém, em Cristo todas as raças se unem formando um só corpo dos filhos de Deus, a distinção não é mais étnica, mas definida pelos Decretos Eternos na predestinação e eleição de seus filhos de qualquer origem ou condição. A adoção, desta forma, é uma decisão divina que tem origem na redenção que há em Cristo, ela é possível através da reconciliação do homem natural com Deus pelo sacrifício substitutivo e pela mediação eterna do Cordeiro, o homem só pode ser adotado por Deus porque Ele os enxerga e recebe por meio de seu Filho amado.
Efésios 1,4-5: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
As bênçãos da adoção
A adoção é um ato da graça de Deus em Cristo, ninguém se faz filho de Deus, a ordem da salvação (ordo salutis) é a seguinte: eleição eterna, nascimento físico, chamado eficaz, justificação, adoção, regeneração e glorificação na segunda vinda de Cristo.
As bênçãos da adoção são as seguintes:
Sustento - Mateus 6,26: “Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?”.
Esperança - Romanos 5,2: “Por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus”.
Segurança - Romanos 8,38-39: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Herança - Romanos 8,17: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”.
Comunhão - Gálatas 4,6: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!”
Disciplina - Hebreus 12,6: “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”.
O filho de Deus não precisa convencer a si mesmo ou convencer aos outros da sua condição, esta convicção procede do Espírito que opera no coração do crente, de forma que, produz no filho de Deus a convicção natural do amor de Deus e da salvação unicamente em Cristo.
Efésios 1,13-14: “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”.
4 -     REGENERAÇÃO: A perseverança dos filhos de Deus
Regeneração: É a restauração progressiva do homem à imagem de Deus, como era no princípio. Ela acontece pela exclusiva ação do Espírito no regenerado, preservando sua fé em Cristo nas adversidades e renovando sua vida em direção à santificação, que não acontecerá plenamente nesta vida, mas é um processo contínuo que leva o homem perseverar e preservar sua salvação eternamente.
Perseverança: É a preservação dos eleitos de Deus pelo Espírito Santo durante o tempo em que são chamados, justificados, recebem, pelo Espírito, arrependimento, mudança de vida e a fé em Cristo, passam pelo novo nascimento e levam uma vida em regeneração contínua sendo glorificados eternamente no dia do juízo.
Certeza da salvação: “É a certeza da graça presente e da salvação eterna”.
A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã define a certeza da salvação como:
Certeza da salvação“A confiança do crente em Cristo, de que ele, a despeito da sua condição pecaminosa mortal, é, de forma irrevogável, um filho de Deus e um herdeiro do céu”.
Mateus 28,20: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.
O Espírito Santo é o agente eficaz na perseverança.
Romanos 8,16-17: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”.
Deus não justifica ninguém a quem Ele não regenere ao mesmo tempo. Estes benefícios estão unidos por um laço eterno e indissolúvel, de forma que aquele a quem ilumina por sua sabedoria, também redime; aquele a quem redime, justifica; aquele a quem justifica regenera e manterá na perseverança até a glória final.
Romanos 8,28-31: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?”
Deus recria os seus eleitos à imagem de seu Filho, mudando-lhes a natureza, a vontade, a razão, os desejos, o entendimento e conformando o querer de seu regenerado ao seu próprio querer. Não é o crente que não perde a salvação; é o Salvador que não perde o salvo, o Pastor que não despreza a sua ovelha.
João 6,37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”.
João 8,36: “Se pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.
A promessa da perseverança:
Nada está fora do domínio do Criador. A certeza da salvação não vem da soberania do ego humano, mas da soberania de Deus em cada redimido, pelo testemunho interno do Espírito Santo. Esta não é uma exclusividade do Novo Testamento, os profetas do Velho Testamento já revelam a salvação pela graça, como podemos ver nos versos abaixo de Jeremias e Ezequiel.
Jeremias 32,38-40: “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se afastem de mim”.
Ezequiel 36,26-27: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis”.
A doutrina da perseverança dos santos mostra a gratuidade da redenção e o que Deus faz livremente, sem qualquer mérito, justiça ou cooperação do homem.
Filipenses 1,6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”.
Não há motivo de desespero ou medo de se perder a salvação, e muito menos de vanglória para os que se envaidecem por se julgarem ‘mais santos’ que os outros; tudo procede de Deus, que a todos os seus escolhidos dá livremente, conforme a redenção que há em Cristo.
Efésios 2,8-9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.
Quem são os salvos?
- São escolhidos: João 15,16: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi, e vos designei para que vades e deis frutos”.
- São ovelhas do Pai sob o pastoreio de Cristo: João 10,3: “Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora”.
- São eleitos: Efésios 1,4-5: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.
- Têm a vida eterna: João 10,27-28: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão”.
- Têm a certeza da salvação: Filipenses 1,6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”.
- Têm segurança: Romanos 8,38-39: “Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.
- Têm o selo e o penhor do Espírito Santo: Efésios 4,30: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção”.
A regeneração e a confiança do crente
Duas declarações; a primeira de um teólogo calvinista de primeira linha que explica o porquê conhecer em profundidade a doutrina da perseverança, a segunda de um escritor inglês secular e ateu, mas que apresenta, sem esta intenção, o resultado prático da regeneração.
John Robbins (a certeza da salvação): Uma vida de comunhão com Deus não é possível, a menos que primeiro estejamos persuadidos de que somos (apesar de pecadores) aceitáveis e agradáveis a Deus.
George Bernard Shaw (a regeneração pelo Espírito): “A virtude não consiste em se abster do pecado, mas em não desejá-lo”.
A Perseverança dos santos
CFW - Capítulo XVII, Seção I – O Salvador não perde o salvo: “Todos aqueles que Deus aceitou em seu Filho amado, efetivamente chamados e santificados pelo seu Espírito, não podem decair do estado da graça nem total nem finalmente (1); mas, com toda certeza haverão de perseverar neste estado até o fim e serão eternamente salvos (2)”.
1 – Filipenses 1,6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”.
2 - João 10,27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”.
Resumo
Os eleitos não perdem jamais a salvação, pois esta é uma decisão eterna de Deus. A preservação do crente é obra do Espírito Santo.
A salvação é eterna
Todas as decisões de Deus são eternas e imutáveis, pois esta é a natureza de Deus. Assim também é a salvação, pois é impossível que a mente de Deus mude, Deus não aprende, não esquece e não se surpreende com nada no universo, pois todas as coisas não são simplesmente previstas, mas determinadas em seus Decretos Eternos.
Todas as decisões de Deus pertencem à eternidade, acontecendo no tempo, mas existindo de forma sempre presente e imutável na mente de Deus. Desta forma, a preservação dos crentes é assegurada pelo Pai na eternidade, através da escolha de seu povo eleito, e no tempo, pela obra perfeita de Cristo e pela comunhão permanente do Espírito.
1 timóteo 6,16: “O único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém!”
Os defensores do livre-arbítrio afirmam a perseverança do homem por sua própria capacidade, desta forma, o homem natural tanto pode salvar a si mesmo ou perder-se conforme sua capacidade. Os que assim crêem, negam os efeitos universais da queda de Adão e afirmam que o homem mantém sua capacidade de agradar a Deu, cooperar em sua salvação e criar para Deus a obrigação de salvar estas pessoas.
Romanos 5,12: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.
Este raciocínio leva a duas situações para a perseverança.
- A primeira é a condição de conseguir um estado de perfeita santificação nesta vida, o que a Escritura diz ser impossível.
Romanos 3,23: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”.
- A segunda possibilidade é a da remissão dos pecados cometidos ao longo da vida através de atitudes humanas, tais como a penitência, o perdão do sacerdote, a vida monástica ou então a confissão periódica dos pecados cujo perdão dependeria neste caso da sinceridade do pecador e não do sacrifício de Cristo. Ora, a Escritura diz claramente que todos os atos necessários à salvação foram realizados cabal e definitivamente no trabalho de Cristo, nada mais sendo necessário da parte do homem.
Hebreus 7,26-27: “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”.
A perseverança provém da ligação dos salvos com Cristo que é desde a eternidade, esta ligação foi estabelecida pelo Pai e nada poderá quebrar este decreto que Deus estabeleceu soberanamente antes da existência do mundo.
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XVII, Seção II – O amor imutável de Deus: “Esta perseverança dos santos não depende do livre-arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, que flui do livre e imutável amor de Deus Pai (1), da eficácia, do mérito e da intercessão de Jesus Cristo (2), da permanência do Espírito, da semente de Deus neles (3) e da natureza do pacto da graça (4); de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade (5)”.
1 – 2 Timóteo 2,19: “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor”.
2 – Lucas 22,32: “Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos”.
3 – João 14,16-17: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.
4 – Jeremias 32,38-40: “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”.

5 – 2 Tessalonicenses 3,3: “Todavia, o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno”.

Resumo
A perseverança é obra do Espírito nos eleitos de Deus.

Nenhum homem é capaz de perseverar ou colaborar em sua regeneração apartado do Espírito de Deus.
A possibilidade da perseverança

O primeiro pacto de Deus já mostra a incapacidade do homem em seu estado de inocência, após a queda esta situação mudou para pior pela corrupção da natureza humana na queda, desta forma, a restauração da comunhão com Deus tornou-se impossível para o homem natural. Somente Deus, pela sua determinação eterna pode restaurar a comunhão perdida, para isso o Verbo encarnou e através de uma vida de obediência e da morte vicária em lugar dos pecadores satisfez a justiça de Deus, permitindo então a manifestação da misericórdia, dirigida àqueles pelos quais Jesus morreu.

O sacrifício de Cristo é perfeito, o chamado de Deus é definitivo e nele está incluído o novo nascimento, a regeneração e a preservação pelo Espírito em toda vida terrena do crente, de forma que o homem mantenha sua salvação não somente até o fim de sua vida terrena, mas eternamente.

O fundamento da perseverança está baseado na imutabilidade dos Decretos Eternos, no pacto da graça, na justiça perfeita de Cristo e no poder de preservação do Espírito Santo.

João 10,28: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”.
CONVERSÃO
O que é a conversão? A conversão é todo o processo de salvação visto sob a ótica do comportamento humano, são os resultados observados na vida do homem durante o processo de salvação.

A conversão, vista desta forma, não é um ato judicial de Deus, mas um ato de criação, onde o homem é transformado e modelado cada vez mais à semelhança de seu Filho Jesus. Assim, a conversão não é um ato inconsciente, mas situa-se na esfera do consciente, podendo ser percebida pela pessoa que é o objeto desta conversão. Este fato não marca somente a transição de uma vida de pecado e o início de uma nova vida em comunhão com Deus, mas todo o processo de salvação realizado na vida terrena do crente, onde ele é vivificado e aperfeiçoado no conhecimento e no amor à Palavra.

Apesar da conversão ser analisada com relação ao comportamento humano, não se deve perder de vista que ela é parte de um processo sobrenatural que tem sua origem única e exclusivamente em Deus, sendo o homem um objeto passivo desta conversão.

A conversão no Velho Testamento:

- NACHAM: Esta palavra hebraica traduz um profundo sentimento de tristeza (NICHAM) pelos atos cometidos anteriormente, é causada pelo conhecimento de Deus e do pecado e traz o arrependimento e a necessidade de mudança de vida.

- SHUBH: Voltar-se para Deus, retornar.

A conversão no Novo Testamento: Esta palavra tem a correspondência com as palavras gregas do Novo Testamento, as quais serão mais bem explicadas a seguir:

METANOIA (meta + nous): Equivalente à palavra hebraica NACHAM, esta palavra não tem o sentido emocional que as traduções bíblicas imprimem a ela, ela significa o arrependimento, mas, sobretudo, a mudança de mente através do conhecimento do pecado, a tristeza é entendida como uma consequência do conhecimento, assim como a mudança da mente e a consequente mudança de vida. Desta forma, a raiz da palavra está no conhecimento e não na tristeza, que é tratada como uma consequência deste conhecimento.

A tristeza por um ato cometido, que provém da emoção e não do conhecimento, implica em remorso e não em arrependimento para a vida, podendo mesmo levar a uma condição pior que a anterior.

2 Coríntios 7,10: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte”.

Desta forma, pode-se dizer que a conversão é uma mudança de mente operada pelo Espírito Santo e recebida através de um novo conhecimento que leva à regeneração intelectual, ética e moral do homem.

- EPISTREPHO (Epístrofe): Equivalente à palavra hebraica SHUBH significa voltar-se para Deus. Este é um ato posterior na conversão e denota uma mudança de mente e a necessidade de um novo relacionamento com Deus. Um caso típico disto é na parábola do filho pródigo.

Lucas 15,18: “Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti”.

- METAMELEIA: Esta palavra significa “arrepender-se depois” e enfatiza o sentido emocional que acompanha o arrependimento.

Mateus 21,30: “Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi”.
O ARREPENDIMENTO NA CONVERSÃO

O verdadeiro arrependimento não é apenas mental ou emocional, mas envolve três aspectos que não podem ser ignorados.

- O aspecto mental, ou intelectual: O conhecimento do pecado envolvendo culpa e necessidade de punição é a primeira fase do arrependimento real, se este conhecimento não traz em si uma aversão profunda ao pecado ele não é real. É o caso do arrependimento pelo temor do castigo, este arrependimento não traz em si o amor a Deus e à Palavra e não é real de forma alguma. Da mesma forma, todo aquele que se considera capaz de arrependimento por sua própria justiça ignora o poder de Deus na salvação, não está de fato convertido.

Romanos 2,4: “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?”.

- O aspecto da vontade: Através do conhecimento e da aversão ao pecado acontece a mudança na vontade do homem, que passa a ser orientada, sempre pelo Espírito, em uma disposição favorável à obediência e ao amor à Palavra. A este respeito, a melhor definição possível foi dada por um dramaturgo inglês, ateu, veja abaixo:

George Bernard Shaw: “A verdadeira virtude não está em evitar o pecado, mas em não desejá-lo”.

- O aspecto emocional: Não se pode negar uma mudança emocional que provém do arrependimento: O ódio ao pecado. Uma tristeza profunda por uma vida decaída e ao mesmo tempo alegria e esperança em Cristo.

2 Coríntios 7,11: “Porque quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em tudo destes prova de estardes inocentes neste assunto”.

A REALIDADE DA CONVERSÃO

- Conversões temporárias: Vê-se com frequência no Velho Testamento as conversões nacionais, quando o povo se “arrependia de seus pecados” e se voltava para Deus. Estas conversões não eram reais, eram de origem moral e não representavam conhecimento de Deus e a mudança de mente e vida implícitas na verdadeira conversão. Certamente algumas destas pessoas se convertiam de forma real, mas não se pode dizer o mesmo a respeito de todo o povo.

Jonas 3,8: “Mas sejam cobertos de pano de saco, tanto os homens como os animais, e clamarão fortemente a Deus; e se converterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos”.
O caso de Saul é bastante típico, ele teve uma iluminação parcial através da presença do Espírito de Deus durante uma parte de sua vida, em um dado momento, o Espírito abandona Saul e Deus o entrega à influência de um mau espírito que o atormentava constantemente. Isto mostra que Deus leva o homem a praticar o bem, tanto quanto o mal, de forma ativa e deliberada.

1 Samuel 16,14: “Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da parte deste um espírito maligno o atormentava”.

Esta falsa conversão que implica apenas em mudanças morais na vida do homem é a conversão buscada atualmente pela moderna igreja evangélica, uma mudança humanista, cuja origem e razão estão centradas no homem e cada vez mais distanciadas da necessidade do conhecimento de Deus.

Estas novas conversões estão baseadas nas sensações e experiências pessoais, relegando cada vez mais a Palavra e a operação o Espírito como os instrumentos utilizados por Deus na evangelização e conversão dos homens.

Atos 20,29-30: “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”.

As conversões temporárias são fruto de uma iluminação parcial do Espírito, em pessoas que se mostram profundamente religiosas, mas que no decorrer do tempo se voltam a falsas doutrinas, ou apostatam de fé.

2 Timóteo 4,10: “Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia”.

Na sua primeira carta, o apóstolo João refere-se aos falsos mestres do cristianismo como “saindo do nosso meio”.

1 João 2,19: “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos”.

Na Carta aos Hebreus, o autor mostra que aqueles que experimentaram esta conversão temporária e depois apostataram estão em um estado muito pior que os ateus.

Hebreus 6,4-6: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”.

CONVERSÃO VERDADEIRA

A conversão verdadeira é uma obra que tem raízes na eleição eterna, e que se realiza no tempo pela graça de Deus, possibilitada pela redenção adquirida por Cristo e operada pelo Espírito. Assim sendo, a conversão não é apenas real, mas eterna, pois tem suas origens nos Decretos Eternos, que são antes da fundação do mundo, e tem o seu fim na segunda volta de Cristo, quando todos os verdadeiros convertidos serão glorificados junto ao Filho de Deus.

Não existe uma conversão real que é perdida, as pessoas que se desviaram do caminho e depois voltaram, ou ainda não haviam sido convertidas de fato, ou percorreram os descaminhos escabrosos preparados por Deus para sua disciplina e correção.

Hebreus 12,6: “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”.

O AUTOR DA CONVERSÃO

Apesar de que a conversão se manifesta em aspectos interiores da natureza humana, o autor desta conversão é Deus e não o homem.

Jeremias 31,18: “Bem ouvi que Efraim se queixava, dizendo: Castigaste-me, e fui castigado como novilho ainda não domado; converte-me, e serei convertido, porque tu és o SENHOR, meu Deus”.

Esta conversão se manifesta de forma gradual no homem, mas a ação de Deus na conversão se faz através da justificação, que é um ato judicial e de aplicação imediata.

Filipenses 2,13: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.
A FÉ E A CERTEZA DA SALVAÇÃO

A palavra fé, no Velho Testamento, somente aparece com este sentido direto no verso de Habacuque abaixo:

Habacuque 2,4: “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé”.

Conforme o léxico do Dr. Strongs esta palavra usada para fé é “emunah” e significa: firmeza, estabilidade, fidelidade.

Este verso tem sua correspondência no Novo Testamento na Carta aos Romanos:

Romanos 1,17: “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”.

A palavra grega usada para “fé” é o substantivo “pistis” e, de acordo com o Dr. Strongs ela pode significar:

1 - Uma convicção ou crença que diz respeito ao relacionamento do homem com Deus e com as coisas divinas, geralmente com a ideia de confiança e fervor nascido da fé e unido com ela;
2 - Convicção de que Deus existe e é o criador e governador de todas as coisas, o provedor e doador da vida e da salvação eterna em Cristo;
3 - Convicção de que Jesus é o Messias prometido, o Filho de Deus através do qual nós obtemos a salvação eterna;
4 – Forte sentimento de fidelidade e lealdade ligado à ideia de confiança em Cristo como o único mediador e salvador do homem.
Pela leitura deste verso, na Carta aos Romanos, capítulo primeiro, verso dezessete, processou-se a conversão de Agostinho e Martinho Lutero, eles certamente entenderam o sentido da palavra como explicado acima.

Romanos 1,17: “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”.

Vê-se esta mesma palavra em Gálatas e Hebreus, com a mesma origem no verso de Habacuque.

Gálatas 3,11: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé”.

Hebreus 10,38: “Todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma”.

Esta palavra grega “pistis” tem um significado mais profundo que a simples convicção apoiada na investigação ou dedução e traduz, antes, a confiança inabalável em que esta convicção se baseia. Todavia, não se pode desprezar o estudo, a investigação e a dedução apoiada em fatos verdadeiros, pois a verdadeira fé é fruto do conhecimento, neste caso, o estudo e as deduções são baseados na Palavra de Deus, pois a fé vem pelo ouvir e estudar a Palavra.

Mas, fundamentalmente, a fé é um dom de Deus, uma vez recebida a justificação, a fé resultante é eterna e inabalável, pois o dom de Deus não é uma capacidade adquirida pelo homem, este é o verdadeiro sentido da palavra.

Romanos 11,29: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.

Esta palavra é também utilizada como o verbo “pisteuen” e nesta forma pode indicar:

1 – Uma crença baseada no testemunho de outras pessoas:

Filipenses 1,27: “Vivei, {Vivei; no original, portai-vos como cidadãos} acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica”.

2 – Uma completa e total confiança em Cristo com relação à salvação:

Gálatas 2,16: “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado”.

A fé centrada em Cristo

A fé de modo geral: O objeto da fé em seu sentido geral refere-se à revelação da Escritura, tudo que é revelado e aquilo que da revelação pode ser deduzido pelo raciocínio lógico pertence à fé de um modo geral. Esta fé é denominada “geral” com extrema propriedade, pois ele envolve a compreensão, assentimento e aceitação sincera de toda a doutrina bíblica, uma aceitação parcial da Escritura não pode ser relacionada à fé salvadora de forma alguma.

A fé especial: Esta fé geral é necessária, mas não suficiente em si mesma, para a salvação, pois a fé salvadora é a fé centrada exclusivamente em Cristo, tendo como suporte a Palavra aceita de forma integral e sincera.

Esta fé centrada unicamente em Cristo é chamada “fé especial” e consiste no fruto da graça de Deus, em se ter recebido a Cristo como o único Senhor e Salvador exatamente da forma como ele é apresentado no evangelho: O único, exclusivo e suficiente salvador à cuja obra nada será acrescentado, da parte de homens, anjos, santos, imagens ou o que quer que seja.

João 14,6: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.

- Olhar para Cristo - João 3,14-15: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna”.

- Fé somente em Cristo - João 7,37-38: “No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”.

A doutrina da fé
Nos primeiros séculos da era cristã pouca atenção foi dada para a definição da fé, ela era tida como a aceitação da verdade em função de um testemunho, ou ainda abrangendo a ideia de entrega pessoal a esta verdade recebida intelectualmente.

A este respeito é preciso dizer uma coisa de extrema importância: É bastante perigoso separar a entrega pessoal da aceitação intelectual: A entrega pessoal, de fato, não é possível sem o assentimento intelectual.
O verdadeiro entendimento intelectual abrange o assentimento, o reconhecimento e a rendição à verdade revelada de forma integral, por este motivo, não se deve fazer esta diferença entre a mente e os sentimentos (coração), pois estes sentimentos são funções da mente e só podem existir em relação direta com o conhecimento, o entendimento e o assentimento intelectual.

Por outro lado, esta distinção deve ser feita entre o entendimento e o assentimento e não entre o entendimento e a entrega pessoal. Grande parte das doutrinas bíblicas são facilmente entendidas pelos homens, mas nem todas são assentidas, porque são contrárias à natureza humana e quem nega uma que seja das verdades bíblicas nega toda a Escritura.

Tiago 2,10: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”.
O assentimento das verdades bíblicas em total concordância com o entendimento não é obra humana, mas somente é possível pela operação do Espírito.

Desta forma não é possível, de nenhuma forma, separar a entrega de si mesmo do assentimento intelectual da verdade, ou vice-versa, separar o entendimento intelectual da verdade da entrega pessoal.

Mais uma vez, coube a Agostinho o tratamento e a definição da fé na igreja cristã. Agostinho considerava a fé como o assentimento intelectual da verdade, mas abrangendo neste assentimento uma primeira fase de conhecimento e entendimento da Palavra, necessária ao assentimento, que era seguido da consequente entrega pessoal e aperfeiçoada no amor.

Esta fé era concebida como de origem evangélica, ou seja, somente através da Palavra, e impossível ser obtida pelo homem por suas próprias forças, sendo sua aplicação sobrenatural operada pelo Espírito Santo aos eleitos, e somente a estes.

Efésios 2,8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”.
A fé na reforma:
A definição da fé reformada foi formulada em diversos documentos, mas a definição de Calvino é a mais apropriada:

Calvino: “A fé é um firme e seguro conhecimento do favor de Deus para conosco, fundado na verdade de uma promessa gratuita em Cristo, revelada às nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo”.
Breve Catecismo de Westminster - o Breve Catecismo é bastante direto e apresenta a fé de uma forma indiscutível como uma graça recebida, excluindo desta forma, qualquer cooperação ou esforço humano na obtenção desta fé salvadora.

Pergunta 86: Que é fé em Jesus Cristo? Resposta: Fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido.
Hebreus 11,1: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”.

Por este verso da Carta aos Hebreus pode-se avaliar claramente que este sentimento não é próprio da natureza do homem e só pode existir por uma mudança radical nesta natureza, possibilitada somente pela graça de Deus em Cristo, nada proveniente do homem natural poderá habilitá-lo a conseguir esta fé.

1 Coríntios 2,14: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.

Fé e justificação - veja a seguir o comentário à CFW feito pelo autor:

Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XI, Seção II - A justificação é pela fé somente: Fé, sendo recebida e permanecendo em Cristo e sua justiça, é o único instrumento de justificação; ela, contudo não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre acompanhada de todas as outras graças salvíficas e não é uma fé morta, mas age através do amor.
1 - João 1,12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome”.
Resumo:

A fé é recebida em e através de Cristo, não consiste em mérito ou esforço humano, mas é um dom de Deus aplicado pelo Espírito, desta forma, a justificação precede a fé, que é uma decorrência da salvação.
Fé e obras

A Fé: fé não é uma criação humana baseada em esforço ou justiça própria, a fé que se firma exclusivamente em Cristo e nele confia como o único e suficiente salvador é um dom de Deus, não é explicada pela racionalidade dos pensamentos, nem pelo conhecimento científico, nem é originária das opções e desejos dos homens, mas sempre um dom de Deus aos seus eleitos.

As boas obras: O que são então as boas obras? As boas obras são o resultado da salvação e não constituem mérito para esta salvação, pois foram preparadas por Deus, na eternidade, para que seus filhos andem nelas em novidade de vida.

Efésios 2,10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.

A fé não é uma capacidade pela qual o homem vem a merecer sua justificação, neste caso transforma-se a fé em obras, a fé é o dom de Deus, procedente da justificação, pelo qual Ele chama seus filhos das trevas para a maravilhosa luz de Cristo.

Colossences 1,13: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”.

O homem e a fé: A fé é uma atividade do homem como um todo, pois o homem somente existe como um todo, não é uma atividade do coração, da mente, da alma ou do espírito, pois todas estas palavras são usadas como sinônimos na bíblia e significam o centro de decisões, emoções ou vontade do homem conforme sua aplicação, mas todos se referem igualmente ao homem como um todo. O “coração” nada mais é que uma função da mente, que por sua vez é a própria alma, ou espírito, de forma que estas palavras são usadas de forma intercambiável e muitas vezes sinônimas na bíblia.

- O conhecimento: A fé abrange primariamente o elemento intelectual, o conhecimento é a necessidade inicial da fé, não existe fé se não existir a definição do objeto da fé, e este objeto somente é definido pelo conhecimento, ninguém pode crer naquilo que não conhece. O conhecimento seguro da Palavra, que resulta no assentimento, pertence de forma inalienável à natureza e origem da fé.

- A certeza do conhecimento: Esta certeza é sobrenatural, sendo fruto da graça de Deus em Cristo e aplicada pelo Espírito na justificação do crente, todavia, após este recebimento, o crente passa a ter a certeza de todas as verdades afirmadas na Palavra, tornando-se a fé assim concedida, um dom permanente e eterno que jamais será perdido.

- A emoção: O sincero assentimento da verdade e o conhecimento de Cristo, o objeto da fé, traz ao homem sentimentos e emoções inevitáveis com relação a si mesmo, ao objeto da fé e aos seus semelhantes, e visto que a fé age através do amor, este é o sentimento predominante nos crentes regenerados que se manifesta de muitas formas em suas vidas.

- A vontade: A fé traz perseverança, dirigindo e determinando a direção da alma nas situações mais difíceis e conduzindo o crente sempre na direção de sua salvação.

Romanos 5,3: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança”.
A certeza da fé
- A certeza objetiva: A certeza objetiva da fé consiste na certeza de que Cristo é tudo o que foi revelado no evangelho e que ele tem capacidade real para fazer o que é prometido por ele nas escrituras.

- A certeza pessoal: A certeza pessoal segue-se inevitavelmente à primeira, todo aquele que não aceitou a Escritura de forma integral e sincera não conseguirá jamais chegar à certeza pessoal da salvação. Esta certeza pessoal é o sentimento de segurança que envolve uma firme convicção do perdão dos pecados e da salvação eterna em Cristo.

A certeza da fé envolve alguns fatos específicos com relação a Cristo e à Escritura:

1 - A aceitação da Escritura como única, verdadeira e indivisível Palavra de Deus, tornando-se desta forma, toda ela, a única possibilidade do recebimento da fé e conhecimento de Deus para todos os homens.

2 Coríntios 4,3: “Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto”.

2 - A aceitação da completa e definitiva suficiência do trabalho de Cristo para a salvação do homem, de forma que o filho de Deus adquire a fé na firme segurança da salvação através de Cristo sem contar com nenhuma participação sua nesta salvação.

Gálatas 2,21: “Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão”.

Fé temporária: A fé temporária é fruto de uma iluminação parcial e poderá ser perdida, pois nunca foi verdadeiramente real, esta fé temporária é facilmente caracterizada pelo fato de que estes religiosos nunca deram seu assentimento completo e irrestrito à Palavra, mas sempre colocam algo de si mesmos no caminho da salvação e da perseverança, assim sendo, eles mesmos condenam, em si, a permanência da salvação colocando algo próprio do homem no que deveria ser exclusivamente de Deus.

Atos 8,20: “Pedro, porém, lhe respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus”.
Acreditar que o homem é capaz, por seus próprios méritos e esforços, de conseguir sua salvação, transforma a fé em mérito humano e a torna necessária à salvação. Esta suposição da moderna igreja evangélica apresenta ao homem um deus fraco e um Jesus que é um mero exemplo de vida,  que ignoram o futuro e necessitam da cooperação do homem para realizar seus propósitos.

Conforme este pressuposto, Deus salvaria àquele aquele que cria em si a fé salvadora, esta é a doutrina do livre-arbítrio, que apresenta dificuldades intransponíveis ao raciocínio.

1 – Por esta doutrina do livre-arbítrio a salvação de fetos, infantes e incapazes é simplesmente impossível, a não ser que seja negada a doutrina bíblica da queda (Pelágio - Armínio).

2 – Desta forma, a salvação se realiza a cargo do pecador, que apesar de morto em delitos e pecados assume o pesadíssimo fardo de desenvolver a fé salvífica. Mas o que diz a Escritura? “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.

3 – Ainda neste pressuposto, o pretenso crente assume a perseverança durante 10, 20, 30 anos, ou mais de sua vida. A possibilidade de viver tanto tempo sem cometer nenhum pecado é impossível e não merece consideração. Por outro lado, o crente peca e pede perdão, peca e pede perdão em um ciclo infindável, vulgarizando desta forma tanto o pecado como o perdão e transformando Jesus Cristo em um simples exemplo de vida.

4 – Considerando a hipótese que Jesus morreu pelos pecados de toda humanidade, aqueles que forem para o inferno serão condenados duas vezes pelo mesmo pecado, o que é inadmissível mesmo na justiça humana. Se isto é verdadeiro, podemos afirmar que a justiça dos homens é mais perfeita que a justiça de Deus. Talvez seja exatamente isto que estas pessoas estão afirmando.

A graça cooperativa: Esta mesma doutrina (livre-arbítrio) se apresenta, revestida em pretensa piedade, neste caso da graça cooperativa, onde se afirma que a graça de Deus dá ao pecador capacidade para adquirir por si mesmo a fé necessária à salvação e à perseverança.

A graça preveniente: Esta é mais uma manifestação da doutrina do livre-arbítrio: A graça preveniente. Por esta sandice, Deus salva àqueles os quais visualizou que no futuro teriam a capacidade de conseguir a fé e perseverar nela por seus méritos próprios. Qual a lógica desta afirmação? Um ato realizado no tempo futuro se torna base de um decreto realizado no tempo passado, o que é totalmente ilógico e impossível.

A fé psicológica: Esta é a fé que movimenta milhões na moderna igreja evangélica, a fé que necessita de comprovação através de experiências e sensações, a fé que necessita dos pretensos milagres para ser comprovada. Esta é a fé administrada por ministros milagreiros, que fazem seções de cura, psicologia, perdão, purificação, descarrego, amarram demônios e outros artifícios muito ao gosto dos modernos fariseus. Estas religiões de milagres são as religiões que mais crescem em todo o mundo.

Mesmo dando um voto de confiança a estes ministros, supondo que estes milagres houvessem sido efetivamente realizados, a exploração dos mesmos é abominável sob quaisquer aspectos, pois, se o milagre é real, ele é devido a Deus e não ao homem, se não é real, é falsidade e exploração da ignorância.

Por todas estas coisas, o crente moderno coloca sua fé nas mãos da igreja e de seus ministros como detentores do poder de salvação e santificação dos seus membros. Desta forma, os modernos evangélicos empreendem o retorno à Roma de forma acelerada, preparando o mundo para o recebimento da igreja ecumênica, a igreja do fim dos tempos.
Falsos religiosos e ateus: Todas estas coisas levam à obtenção de uma fé sem raízes, uma fé temporária que não leva à salvação de forma alguma, mas à perdição total e a um estado muito pior que o estado dos ateus que não crêem em nada.

Segurança da salvação: A doutrina da segurança na salvação foi uma bandeira levantada pelos reformadores contra a doutrina das obras, mesmo que se admita da graça de Deus como infundindo a fé - a graça cooperativa - a grande maioria das denominações prega a doutrina das obras como necessária à manutenção da salvação, de forma que o homem estará sempre sujeito a cair e apostatar da fé.

Contrariamente a esta doutrina do livre-arbítrio, os reformadores enfatizaram a doutrina da salvação exclusivamente pela graça de Deus em Cristo, de forma que a salvação é eterna, pois ela procede de fatos que provém de fora do crente e tem origem no Ser eterno de Deus, sendo desta forma, inalienável àquele que foi escolhido para a salvação.

João 10,27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”.
A segurança da salvação é, desta forma, a convicção de que a salvação procede unicamente de Deus em Cristo, e assim, não dependendo das ações dos homens, ela é segura e permanente nesta vida e na vida do porvir, pois Deus é imutável e assim são suas promessas.
A oferta da segurança: A Escritura revela de várias formas e maneiras esta segurança, portanto, a oferta da segurança é claramente percebida por todo aquele que assente nas verdades da Escritura, pois uma vez que a fé é um dom de Deus, ela jamais será perdida.

Efésios 2,8: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”.
Esta oferta da segurança é clara para todo aquele que acredita na suficiência do trabalho de Cristo, ou seja, acredita que a salvação provém unicamente de Deus, sendo, portanto, eterna e imutável, pois Cristo é verdadeiro Deus e suas promessas não podem falhar.

2 Coríntios 1,20: “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio”.

A oferta da segurança da salvação é proveniente da adoção. A pessoa que recebe a graça de Deus é chamada de forma eficaz, é justificada, passa pelo novo nascimento e é adotada por Deus, de onde vem a segurança e a coragem infundida pelo Espírito. Será útil neste estudo, avaliar o verso abaixo da Carta aos Romanos.

Romanos 8,15-16: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, {Aba; no original, Pai} Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”.

Por este texto vemos que o Espírito é quem oferece esta segurança que provém da adoção, esta é uma ação do Espírito de Deus direcionada ao espírito do homem, é a segurança dada por Deus para aqueles que Ele adotou em Cristo.

O pensamento puritano: Thomas Brooks diz o seguinte: "A fé, a seu tempo, por si mesma se erguerá e progredirá até a plena convicção da salvação".

O que se vê nas igrejas modernas são cristãos professos que se julgam seguros pela sua justiça própria e pretensa santidade, são crentes que “aceitaram a Cristo” e julgam perseverar na salvação por seus próprios méritos. Evidentemente não é este tipo de segurança mundana que se deve procurar.

Nenhum apelo à vontade do homem vai trazer a segurança da salvação, vejamos a este respeito uma declaração do Rev. Augustus Nicodemus: “Certeza de salvação não vem simplesmente de um ato onde você levanta a sua mão, ou faz uma decisão a favor de Cristo e a partir daí, lhe é dada certeza de salvação”.

Tiago 3,15: “Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca”.

A percepção da segurança: Existem altos e baixos na fé dos crentes verdadeiros, pois da mesma forma como o desenvolvimento da fé traz segurança e estabilidade, o crente sempre estará em convívio com sua natureza corrompida pela queda e com os conflitos e circunstâncias do mundo em que vive.
Por estes motivos acima, é normal que, muitas vezes, o crente se sinta inseguro, apesar de crer firmemente nas promessas de Deus e na obra de Cristo.

1 João 3,21: Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante de Deus”.

Vemos pelo verso acima, que o verdadeiro crente vive em paz com sua consciência, esta é a segurança que provém de Deus. É minha firme opinião pessoal, que o crente estará seguro em sua fé, quando para ele, a sua própria salvação não for tão importante quanto a glória de Deus e a exaltação de Cristo. Todavia, o cristão deve procurar de todas as formas, com todas as sua forças, confirmar a sua fé com trabalho e diligência.

Hebreus 6,11-12: “Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas”.
A certeza da salvação proclamada pela própria pessoa não se constitui em critério para analisar se ela é salva ou não, a fé centrada em Cristo é o ponto central da salvação. Não se deve dar ou pedir aos novos convertidos a certeza da salvação, mas encorajá-los para que progridam no conhecimento da Palavra, por onde é possível desenvolver a fé e o amor cristão.

2 Pedro 1,10: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum”.

Aquele crente humilde que se reconhece pecador e depende unicamente da obra redentora de Cristo tem dificuldade em se proclamar salvo, ao passo que os crentes vaidosos de sua justiça própria proclamam aos quatro ventos sua pretensa piedade julgando-se salvos pelas suas obras e decisões.

Mateus 23,5-7: “Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens”.
É preciso, pois, muito cuidado ao se tratar com esta doutrina que não pode ser abordada de forma leviana, pois somente Deus conhece seus filhos e não há como julgar pelas aparências.

Romanos 3,4: “De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem, segundo está escrito: Para seres justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado”.

A Luz dos Homens – a providência divina

Toda arte, todo conhecimento e toda ciência de forma geral e abrangente, provêm de Cristo, ele é a luz que ilumina o mundo como um todo e não somente os crentes, eleitos de Deus. A inteligência, o raciocínio e a sabedoria de todos os homens sem exceção provêm de Cristo, porque nele estão todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.

Colossences 2,3: “(Cristo), em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.

Todos (todo): A palavra todos é utilizada na bíblia com vários sentidos, em alguns versos designa todos os escolhidos ou todos os reprovados, em outros todos aqueles a quem foi dirigida a carta em questão, ou somente todos os participantes diretos da ação, ou ainda ‘todos’ no sentido figurado como povo ou nação, mas neste verso particular na Carta aos Colossences ela designa todos de forma total, abrangente e irrestrita, significando todo o conhecimento e sabedoria existentes no universo, sem exceção.

Assim sendo, Cristo detém todo o conhecimento e sabedoria no universo criado. Este conhecimento e sabedoria universais são personificados pela luz, e a iluminação representa a transmissão deste conhecimento aos homens conforme se pode ver no verso abaixo no evangelho de João, onde “todo homem” significa a totalidade dos homens
(e mulheres), eleitos ou réprobos, que existiram, existem e existirão em toda a história da humanidade.

João 1,9: “A saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem”.

Todo aquele que não tem interesse e prazer no conhecimento da Palavra, certamente, não recebeu a graça de Deus em Cristo, são crentes formais que lotam os bancos das igrejas em busca de prosperidade, consolo psicológico, bem estar, convivência social e prestígio pessoal.

É obrigação do crente adquirir o conhecimento de Deus, pois não se deve conhecer apenas o bem, mas discernir firmemente entre o bem e o mal. Nos versos abaixo na Carta aos Hebreus, o alimento sólido refere-se ao conhecimento profundo da Palavra.

Hebreus 5,14: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal”.

Qual a diferença entre o homem regenerado e o homem que recebe o conhecimento geral, ainda que poderoso, ainda que demonstre grande interesse pela palavra? O homem, realmente salvo por Deus, persevera na sua regeneração pela ação do Espírito Santo, mesmo que venha a pecar não se agrada do pecado, mesmo que venha a tropeçar, se levanta em seguida. A fidelidade não é do homem, mas de Deus que efetua no homem tanto o querer quanto o realizar conforme sua boa vontade. Aqueles que vêm a cair definitivamente, nunca foram realmente salvos, nunca estiveram entre os eleitos.

Hebreus 6,4-6: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”.
Pode-se ver esta iluminação parcial através da valorização dos sentimentos e experiências pessoais acima da busca do conhecimento bíblico, o conhecimento é um ato da mente, nenhuma sensação ou experiência pessoal vai substituir a revelação pela Palavra.

Evidentemente o cristão não é uma pessoa fria e sem emoções, mas a emoção válida é somente aquela que provém do conhecimento e dos dons de Deus: A fé em Cristo e o arrependimento sincero, que se traduz na necessidade de mudança de vida.

Romanos 11,29: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.

Não se pode dar vazão ao irracionalismo cego que permeia na moderna igreja evangélica, pois, não é possível conhecer a Deus com o “coração” sem conhecê-lo primeiro com a mente, quem não tem a iluminação do Espírito no conhecimento da Palavra, não conhece o deus que pretensamente adora, e também não recebeu o pleno conhecimento que pretende possuir.

Hebreus 10,26: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados”.

Todos aqueles que recebem a Palavra e têm nela uma aceitação parcial, ainda não foram salvos, e, mesmo trabalhando e se dedicando às atividades religiosas não receberam a graça de Deus, e se não receberem a justificação divina e a iluminação do Espírito, continuarão na apostasia, pois aqueles que trabalham em um falso evangelho, julgando-se plenos de sabedoria, dar-se-ão muitíssimo pior do que aqueles que nunca receberam a Palavra.

2 Pedro 2,21-22: “Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal”.

Por outro lado, é preciso lembrar, que, um estudo de aplicação da palavra “coração” como é usada na bíblia, indica sempre uma função da mente e nunca uma emoção cega, guiada por sentimentos irracionais. A vida do crente é formada a partir do conhecimento da Palavra e somente este conhecimento, que é uma iluminação da mente pelo Espírito, traz a segurança do cristão.

1 Reis 3,12: “Eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá”.

2 Crônicas 9,23: “Todos os reis do mundo procuravam ir ter com ele para ouvir a sabedoria que Deus lhe pusera no coração”.

Existe atualmente, na igreja evangélica, a forte tendência que se valorizar os sentimentos e experiências acima do conhecimento da Palavra. O cristianismo não é uma religião irracional que depende das paixões cegas provindas de pessoas que afirmam crer em mistérios e paradoxos bíblicos e se julgam altamente piedosas por crerem nestes “absurdos” irracionais.

O cristianismo é uma religião racional, onde, a partir do princípio primeiro, que é a Escritura, se conformam todos os pensamentos e ações dos crentes. Todos aqueles que não aceitam o evangelho, de maneira plena e absoluta são homens naturais, que não receberam ainda, ou jamais receberão a graça de Deus e resistem ao Espírito conforme sua natureza corrompida e degenerada pela queda.

Atos 7,51-54 (Estevão): “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardastes. Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu coração e rilhavam os dentes contra ele”.
As obras da providência de Deus destinam-se à ordenação e proteção geral de todas as coisas criadas, e não devem ser confundidas como uma espécie de graça salvadora concedida aos réprobos, sejam eles anjos ou homens.
O conhecimento da Escritura, o serviço na igreja e a posição eclesiástica não podem ser confundidos com a salvação, muitos homens são trazidos ao serviço e à igreja, vivem uma vida digna, mas não são obrigatoriamente salvos, pelo contrário, os piores de todos os homens são os réprobos religiosos.

Mateus 25,41: “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”.

Fazer a vontade de Deus, não é, como entendido pelos fariseus, seguir uma rotina rígida de cumprimento da lei, levar uma vida digna ou prestar serviço na igreja, se fosse assim, os cristãos primitivos seriam os fariseus e não os apóstolos.

Na verdade, a vontade de Deus será realizada sempre, em quaisquer condições, a diferença entre o filho de Deus e o réprobo é que os eleitos reconhecem todas as coisas como realizadas pela vontade de Deus e se alegram nisso, ao contrário dos prestadores de serviço, que pretendem modificar a vontade de Deus pela sua pretensa fé e orações, ensinando aos homens a supremacia da vontade própria sobre a soberania de Deus.

João 10,14: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim”.

A restrição do pecado
Deus realiza através de seu Espírito a obra de restrição do pecado. Apesar de manter todas as más criaturas em constante atividade pecaminosa, Deus impõe limites a esta realização de pecado, de forma que os homens e os anjos caídos não conseguem realizar efetivamente todo mau que desejam em suas vontades depravadas.

Esta restrição do pecado não pode ser confundida com um benefício de Deus atribuído aos réprobos, esta restrição do pecado se realiza somente pelo poder de Deus, não conferindo aos reprovados qualquer capacidade de regeneração. Nas palavras do Rev. Ronald Hanko, a restrição ao pecado é como uma focinheira em um cão violento, não irá mudar sua disposição, apenas impedi-lo de morder.

Isaías 37,29: “Por causa do teu furor contra mim, e porque a tua arrogância subiu até aos meus ouvidos, eis que porei o meu anzol no teu nariz, e o meu freio, na tua boca, e te farei voltar pelo caminho por onde vieste”.
JUSTIFICAÇÃO E JUÍZO

No dia do juízo final muitos religiosos irão a Jesus e apresentarão suas obras, obras feitas em nome de Jesus, grandiosas, piedosas... Jesus adverte, na profecia abaixo, que qualquer um que se apresentar no dia do juízo e apresentar suas obras, sua fidelidade ou sua vida piedosa como defesa, será simplesmente enviado para o inferno. As obras feitas em nome de Jesus, apenas aumentarão a culpa deles perante Deus.

Mateus 7,21-23: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”.

Alguns teólogos querem dar a entender que a passagem, “nunca vos conheci”, pode significar que Jesus refere-se a crentes que apostataram e não perseveraram na salvação. Ora, Jesus não diz: Eu vos tinha conhecido; não diz: Um dia vos conheci; a declaração de Jesus é peremptória e definitiva: “NUNCA vos conheci”. Estas pessoas a quem ele se refere nunca foram eleitos, nunca conheceram a salvação, são hipócritas religiosos que pretendem ser salvos por sua justiça própria.

O que está errado aqui? O que estas pessoas estão apresentando para sua salvação?

Eles estão apresentando suas próprias vidas piedosas e obras realizadas em nome de Cristo, porque não serão admitidos no céu? Jesus não nega que eles fizeram milagres, que profetizaram e que expulsaram demônios, estas pessoas eram religiosas e poderosas, fazendo grandes obras em nome de Cristo, porque não serão salvos?

Eles não confessaram que são pecadores, eles colocaram a sua justiça no lugar da justiça perfeita de Cristo, eles se esqueceram da expiação de Jesus em lugar dos homens pecadores, eles não consideraram que Jesus conquistou, em lugar deles, a salvação plena, eles não mencionaram que Jesus aplacou a ira de Deus o Pai.

Em resumo, buscam sua justificação em sua justiça própria, não reconhecem a Jesus como o único e suficiente salvador, na verdade essas pessoas não crêem no evangelho: A salvação unicamente pela vida de perfeita obediência e o sacrifício expiatório de Cristo.

O que estes falsos religiosos dizem no verso acima: Nós temos profetizado, nós expelimos demônios, nós fizemos milagres, eles estão enaltecendo a si mesmos, eles apresentam ao Senhor sua vaidade, seu pretenso poder e justiça própria. Não adianta nada falar em nome de Jesus com o fito de engrandecer a si mesmo.

Vejamos um exemplo no Velho Testamento, Moisés era amigo de Deus, com quem Ele falava face a face, ninguém recebeu de Deus este privilégio a não ser Jesus, mas Moisés cometeu uma única falha, relacionada com o verso acima, e não foi perdoado.

Quando o povo se revolta pela falta de água no deserto, Deus manda Moisés ferir a rocha em Refidim, Moisés, irritado com o povo rebelde fala de forma imprópria: “Faremos sair água desta rocha”. Ora, quem fez o milagre foi Deus, Moisés não deveria ter assumido o fato pessoalmente, ele deveria ter dito: “Deus fará sair água desta rocha”. Este foi um pecado grave, e, por ele, Moisés não entrou na terra prometida.

Números 20,10-12: “Moisés e Arão reuniram o povo diante da rocha, e Moisés lhe disse: Ouvi, agora, rebeldes: porventura, faremos sair água desta rocha para vós outros? Moisés levantou a mão e feriu a rocha duas vezes com o seu bordão, e saíram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. Mas o SENHOR disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei”.
Assisti recentemente uma palestra de um missionário famoso, ele esteve na África e estava muito orgulhoso de seus feitos, durante a palestra, para cada vez que ele disse o nome de Jesus ele falou “eu fiz”, “eu salvei”, “eu trouxe para a igreja” pelo menos meia dúzia de vezes; é certo que não devemos fazer julgamentos hipócritas, mas com certeza devemos fazer o julgamento de hipócritas.

Esta pessoa terá problemas sérios em sua vida, apesar de sua religiosidade e dedicação, o caminho está completamente desviado, pois Jesus é o caminho e a vida, e não a igreja e seus missionários, que devem se limitar a pregar a Palavra, confiando na operação do Espírito para a conversão.

Neste verso, a seguir, que traz uma mensagem profética, Jesus ensina que todas as obras realizadas pelo homem, em nada contribuem para sua própria salvação e nem para a salvação de outras pessoas, somente Cristo é o caminho, a verdade e a vida.

João 14,6: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”.

Este missionário famoso se esqueceu, ou não quis se lembrar, que o ministro religioso tem uma única função: Pregar a Palavra. Quem convence, quem recusa, quem salva, quem, condena é somente Deus, ninguém mais detém o poder de salvação, nenhuma igreja, nenhum ministro religioso, nenhum homem realiza do milagre da salvação, somente Deus conhece seus eleitos e a hora em que serão chamados.

Pode-se ver claramente nos evangelhos, que ninguém conhece a Deus e obedece a Ele mais que os demônios. A defesa dos eleitos não serão suas obras ou obediência, mas a justiça imputada de Jesus Cristo, todos são pecadores e somente serão salvos pela justiça que há em Cristo. Não basta reconhecer Jesus como Senhor, ele é também o Salvador, não basta reconhecer como Salvador, ele é também o Senhor.

Já foi abordado, por diversas vezes, nestes estudos, que as obras são consequência da salvação, frutos da justificação e não a razão para a salvação, isso é o evangelho e está perfeitamente explicado na Carta aos Romanos nos versos abaixo.

Romanos 3,20-24: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”.
John W. Robbins: “Os crentes têm a salvação, nós possuímos a vida eterna no primeiro momento da fé, e o dom da salvação é irrevogável”.

SANTIFICAÇÃO
Santidade (santificação): O termo hebraico usado no Velho Testamento para exprimir a santificação é o verbo “qadash” derivado do substantivo “qadosh”, estas palavras somente indicam qualidades morais quando se referem a Deus, quando se referem a objetos ou criaturas ela tem um significado de separação, as criaturas ou objetos santificados são aqueles que Deus separou para si. No Novo Testamento, o termo grego é o verbo “haziago” derivado do substantivo “hagios” que denota a ideia básica da separação e nunca se refere a qualidades morais dos homens ou dos anjos. Existem outras palavras empregadas de forma ocasional, mas o sentido fundamental da santificação pode ser expresso por esta forma acima: A separação.

A santificação está visceralmente ligada à justificação, sendo sua consequência natural, mas, enquanto a justificação é um ato legal de Deus, a santificação não é fruto de sacramentos ou de esforço humano, é uma obra do Espírito, que infunde novas condições morais no crente, mudando sua natureza em uma atividade contínua e paulatina durante toda a sua vida terrena. Desta forma, a santificação é o resultado da justificação, a santificação não é base para salvação, nem para a perseverança do crente, assim como as obras da lei também não são.

A santificação real está fundamentada nos Decretos Eternos, na eleição e justificação do crente através do sacrifício substitutivo de Jesus Cristo; a santificação é o que Deus faz acontecer no crente e não os esforços próprios do crente. Indo ainda mais longe, a idéia de que a coisa mais importante que Deus faz no processo da salvação é mudar o coração do homem é errada e perigosa, nada do que acontece na pessoa do crente é importante para a salvação, a salvação cristã provém de atos realizados por Deus completamente fora da pessoa do crente.

2 Coríntios 10,17: “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor”.

A aceitação de uma pessoa por Deus é unicamente pelo seu propósito eterno, a graça de Deus não provém de nenhuma qualidade inerente ao homem, esta graça é uma disposição voluntária de Deus em manifestar misericórdia para quem não a merece, se a graça fosse dada conforme o merecimento não seria fruto da misericórdia.

Eclesiastes 7,20: “Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque”.

Muito bem, o Deus cristão é perfeito, todas as suas qualidades subsistem conjuntamente e nenhuma é melhor ou pior que a outra, todas são unas e perfeitas. Deus é misericordioso, mas também é santo, a sua graça não pode ir contra a sua justiça, desta forma, devem existir fundamentos válidos para a manifestação de sua misericórdia sem colidir com sua justiça, estes são os fundamentos para o cumprimento da justiça de Deus: A vida de perfeita obediência de Jesus e sua morte sacrificial constituem a única razão que fundamenta a graça de Deus.

Este é o evangelho de Jesus Cristo, os pecadores somente são salvos por atos determinados por Deus na eternidade e realizados no tempo por Jesus Cristo, o mais recente desses atos deu-se há dois mil anos atrás, e totalmente fora do homem, isto é cristianismo - Deus provê a salvação - todas as religiões cujo sistema de salvação implique em qualquer forma de participação do homem não são cristãs de forma alguma, mesmo que se autodenominem desta forma.

Deus é perfeito, logo, não exige do crente a perfeição ao final do processo de salvação, mas, exige perfeição antes do início do processo. Esta perfeição jamais poderia ser provida pelo homem, mas o próprio Deus realizou a obra perfeita da salvação, sem a participação do homem, através de Cristo, a santificação do crente provém unicamente da justiça perfeita de Cristo, aplicada pelo Espírito em comunhão permanente com o crente.

João 8,46: “Quem dentre vós me convence de pecado? Se vos digo a verdade, por que razão não me credes?”.
A santidade de Deus no Velho Testamento: A santidade de Deus no Velho Testamento implica primeiramente em sua transcendência, ou seja, sua majestade indiscutível e sua inacessibilidade pelo homem, sua santidade não é somente uma de suas qualidades, mas uma característica fundamental do seu Ser divino. Deus é santo em sua justiça, Deus é santo em sua misericórdia, Deus é santo em seu amor, Deus é santo em seu ódio.

Desta forma vemos que a santidade de Deus expressa a sublimidade e perfeição de todas as qualidades e atribuições do seu Ser. A santidade é o princípio ético e ativo da pureza de Deus, que necessariamente defende sua honra e a glória acima de todas as coisas.

Habacuque 1,13; “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?”.
A revelação da santidade de Deus

- Deus revela sua santidade quando separa para si um povo, o qual ele tira do mundo impuro, santificando este povo e protestando contra o mundo e o pecado.

Oséias 11,9: “Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira”.

- A revelação da santificação também pode ser estendida para coisas e pessoas em uma relação com Deus, assim a cidade de Jerusalém era considerada uma cidade santa, a terra de Canaã, o templo, as festas solenes, os sábados eram todos considerados santos.

Ainda neste sentido, a palavra tem o sentido básico de separação, pois eram consagradas a Deus não pelas suas qualidades éticas e morais, mas pelo fato de terem sido separadas para o povo e para o serviço de adoração a Deus.

Pode se notar esta ideia de separação notadamente entre os sacerdotes, que eram separados para o serviço no templo, mas ao mesmo tempo, em sua maioria, completamente indignos e distantes da graça de Deus.
Santificação no Novo Testamento:
No Novo Testamento a santificação é, de forma geral, atribuída a uma característica fundamental e básica do Espírito Santo como santificador, mas o seu sentido continua sendo o da separação e nunca se refere a qualidades morais ou éticas dos homens.

2 Tessalonicenses 2,13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”.

Muitas pessoas, aparentemente convertidas, apresentam grandes melhoras éticas, morais, religiosas e de comportamento social, mas não tiveram nenhuma experiência de santificação. O progresso moral não diz nada sobre a santificação da pessoa, mas a santificação se reflete na caminhada com relação ao conhecimento de Deus: O reconhecimento da própria pecaminosidade, o render-se à soberania de Deus e à redenção somente em Cristo resultando tudo isso no reconhecimento da incapacidade total do homem e na soberania absoluta de Deus.

A santificação é uma obra sobrenatural que não consiste somente em persuasão, mas em um processo dinâmico durante toda a vida terrena do crente, que tem início em uma mudança na alma - o novo nascimento - uma obra de Deus, que somente é possível por uma união primordial do eleito com Cristo, existente desde a eternidade e aplicada pelo Espírito no ato da justificação.

Este novo nascimento resulta na mortificação do velho homem e na vivificação do novo homem, nascido em Cristo, para as boas obras preparadas de antemão para os filhos de Deus.

Efésios 2,10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.

Este processo é contínuo e operado pelo Espírito de Deus, sendo que o homem, mesmo após justificado, não adquire a capacidade de preservar sua salvação por si mesmo, mas depende toda sua vida da preservação do Espírito para perseverar em sua santificação. Este processo, que dura toda a vida do crente, nunca chega à perfeição nesta terra, mas caminha em direção a ela de forma contínua e inexorável.

É preciso salientar o fato de que, uma vez que o processo de santificação não depende do esforço humano, não existe nenhum crente mais santo que o outro, todos são iguais perante Deus, apenas separados, pois todos são salvos pelos méritos de Cristo, nada mais podendo ser acrescido.

Romanos 5,19: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”.
A santidade de Deus: A santidade de Deus reflete também a separação, mas a separação do mal moral, ou seja, do pecado. Pela sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado, neste sentido, a palavra “santidade” indica a pureza de Deus. Todavia, a idéia da santidade em Deus não é somente negativa (separação do pecado), mas tem um conteúdo positivo: O de excelência moral ou perfeição ética que jamais será atingida pelo homem.

A revelação definitiva da santidade de Deus foi dada em Jesus Cristo, ele refletiu, em sua vida, a perfeita santidade de Deus.

Breve Catecismo de Westminster, perguntas 35 - O que é santificação? “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão”.
Santificação, obra da graça
A santificação é obra da graça de Deus para aperfeiçoamento dos seus eleitos, portanto, a santificação não é para salvação, mas resultado da salvação. Somente os eleitos são santificados e somente o Espírito pode aperfeiçoar o crente para servir a Deus e garantir sua preservação.

A santificação é a separação dos crentes para Deus, baseada unicamente na eleição e na justiça de Cristo, não é um processo pelo qual o homem se torna justo ou aceitável a Deus. Não existe graduação na santificação dos crentes, nenhum cristão é mais santo que o outro, todos os eleitos são igualmente santificados no ato da justificação, isto independe do tempo de conversão, idade, sexo, condição social ou da prestação de serviços na igreja, no ministério ou na evangelização, todos os crentes são iguais perante Deus, tanto nesta vida como na glorificação, pois tudo é em Cristo e pela glória de Deus.

A santificação é progressiva, mas não é para melhorar o estado do crente diante de Deus ou da igreja, mas para qualificá-lo para submissão, obediência, domínio-próprio e conhecimento da Palavra, enfim, para receber os dons do Espírito; cada um recebe dons diferentes, que devem ser respeitados, não se deve exigir do crente algo diferente do que ele se dispõe a fazer.

De acordo com Louis Berkoff a santidade do homem deve ser pensada como uma posição determinada previamente entre Deus e a pessoa, mas jamais como uma qualidade moral ou religiosa inerente ao homem ou capaz de ser desenvolvida pelo próprio homem.

Louis Berkoff: “Não é correto pensar na santidade primariamente como uma qualidade moral ou religiosa, como geralmente se faz. Sua idéia fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou coisa”.

Todos aqueles que entendem a santificação como um processo de aquisição de justiça própria ou beatificação, colocam o homem como responsável, ainda que o processo de santificação seja pensado como tendo seu início pela graça. Este pensamento nega a eficácia de Deus na salvação, bem como a completa suficiência do sacrifício de Cristo e a obra do Espírito. Uma vez que o crente é justificado, também é santificado e passa a ser imediata e eternamente nova criatura.
João 10,28-29: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”.

O crente coopera em sua santificação? O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e, apesar da queda, ele mantém sua capacidade de inteligência e raciocínio lógico, sendo um ser racional e superior aos animais irracionais. O outro fator primordial é que pelo decreto da predestinação o eleito é unido a Cristo eternamente de forma inalienável,

Por estas qualidades inerentes ao homem, o Espírito pode operar a santificação, o que não seria possível em um ser irracional e também não é possível naquele que não tem a ligação eterna (ver união mística) com Cristo – os réprobos. Todavia, dizer que o homem coopera diretamente no processo de santificação não é correto, ele apenas recebeu de Deus as qualidades que possibilitam a instrumentalização da santificação, a obra é totalmente do Espírito.

Isto não deve levar a uma ideia de antinomianismo ou gnosticismo, o crente deve ter, juntamente com a noção de sua incapacidade, a humildade de procurar fazer o melhor possível para sua santificação, sempre visando a glória de Deus em primeiro lugar e sabendo que somente Deus, em Cristo e através do Espírito vai realizar sua salvação.

Filipenses 2,12: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.
O que é o legalismo? O legalismo é toda e qualquer tentativa do homem em acreditar no esforço próprio para obter mérito para sua própria salvação.

O que é antinomianismo? Antinomianismo é negar a validade da lei moral de Deus para a vida do cristão, uma vez que Jesus cumpriu toda a lei em lugar de seu povo.

Foi visto exaustivamente no presente estudo que nenhuma destas situações é válida, Jesus cumpriu, de fato, toda a obediência à lei que Adão não fora capaz de cumprir, mas isso nem exime o homem da lei moral de Deus, que tem validade universal para toda a humanidade, nem traz a necessidade de que o homem faça o que quer que seja em adição ou cooperação ao trabalho perfeito de Cristo.

Como então se processa a regeneração do crente e quais são as boas obras advindas da salvação? As boas obras dos cristãos não se constituem mérito para a salvação, mas são o resultado da salvação:

Efésios 2,10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.
Todos os crentes, após a morte, tanto no estado intermediário como na ressurreição e glorificação serão exatamente iguais perante Deus. Visto que a salvação não depende dos méritos e esforços próprios do homem, mas da justiça perfeita de Cristo, a salvação de cada pessoa é exatamente igual a de todas as outras, pois todos são salvos pela imputação da justiça de Cristo.
1 Coríntios 15,22: “Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo”.
Os meios de santificação
A operação da santificação é efetuada através da providência divina, ao longo de toda a vida terrena do crente, isto é realizado por meio do Espírito de Deus.
Meios externos
1 – A Palavra de Deus:
A revelação da Palavra é feita pelo Espírito, independente do grau de cultura ou inteligência do crente, pois a inteligência humana não tem entendimento para aceitar integralmente a verdade revelada.
A Escritura é o meio de santificação mais poderoso que existe para a santificação e conhecimento, mas a verdade do evangelho só é compreendida pela iluminação do Espírito Santo. Apesar de todas estas coisas, é preciso ter diligência e aplicação no estudo da Palavra.
A pregação: O evangelho deve ser ensinado com fidelidade e clareza; a pregação que foge ou mascara o evangelho de Cristo, tais como, exemplos de vida, lições de moral e ética, conhecimento cultural, atualidades e outros, não têm a procedência do Espírito, somente a boa nova do evangelho de Jesus Cristo tem a procedência do Espírito: A salvação pela graça somente sem nenhum mérito ou participação do homem, fora isso não existe evangelho.
Gálatas 1,6-12: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema (amaldiçoado). Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”.
2 – A oração:
A oração é a forma que os filhos de Deus se comunicam com o Pai, mas assim como a Palavra, a oração só se transforma em comunhão, quando dirigida e orientada pelo