A epístola de
Tiago
A obra exigida na epístola de Tiago
de quem diz que tem fé (crença) é a obra que a perseverança termina (Tg 1:4 4 Tenha,
porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos,
sem faltar em coisa alguma.),
ou seja, é permanecer crendo na lei perfeita, a lei da liberdade (Tg 1:25 25 Aquele,
porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não
sendo ouvinte esquecediço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no
seu feito.).
Introdução
Tiago, o Justo, possivelmente um dos
irmãos de Jesus (Mt 13:55 55 Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama
sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?
Mc 6:3 3 Não é
este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e
de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele.), é o autor dessa epístola.
O irmão Tiago só se converteu após a
ressurreição de Cristo (Jo 7:3-5 3. Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e
vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.
4. Porque não há ninguém que procure
ser conhecido que faça coisa alguma em oculto.
Se fazes estas coisas, manifesta-te
ao mundo.
5. Porque nem mesmo seus irmãos criam
nele.
At 1:14 14 Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas,
com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos.
1 Co 15:7 7 Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos.
Gl 1:19 19 E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão
do Senhor.),
tornando-se um dos líderes da igreja em Jerusalém, e é apontado como um dos
pilares da igreja (Gl 2:9 9. E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados
como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão
comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão;
10. Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também
procurei fazer com diligência.).
A epístola de Tiago é datada por
volta de 45 d. C., bem antes do primeiro concílio em Jerusalém, que se deu por
volta de 50 d. C., o que torna a mais antiga epístola do Novo Testamento.
Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi morto por volta do ano 62 d. C.
Os destinatários da epístola são os
judeus dispersos convertidos ao cristianismo (Tg 1:1 1 Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às doze
tribos que andam dispersas, saúde.),
daí o tom austero e a linguagem peculiar aos judeus.
Quando escreveu esta epístola, Tiago
buscou contrapor o ensinamento judaico de ter fé no único Deus, com o
ensinamento do evangelho, que é ter fé em Jesus Cristo, pois de nada adianta
alguém dizer que crê em Deus, mas que não obedece o mandamento de Deus, que é
crer em Cristo.
A abordagem de Tiago nos lembra o
ensinado por Jesus: “NÃO
se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14:1 1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em
mim.), evidenciando a
relevância da matéria abordada em função do público alvo: judeus convertidos ao
cristianismo.
Entretanto, um entendimento
equivocado acerca da epístola de Tiago se difundiu em meio a cristandade, de
que ele defendia a salvação pelas obras, opondo-se ao apóstolo dos gentios, que
defendia a salvação pela fé.
A má compreensão da abordagem de
Tiago fez com que Martinho Lutero detestasse a essa epístola,
denominando-a “epístola de palha”. Ele não
conseguiu visualizar que o ensinamento de Tiago não difere do ensinado pelo
apostolo Paulo.
Resumo
da epístola de Tiago
A epístola de Tiago tem início com exortação
à perseverança na fé, vez que na perseverança conclui-se a obra da fé (Tg 1:3-4
3. Sabendo que a prova da vossa fé opera a
paciência.
4. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita,
para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.).
Quem suporta as provações sem
desvanecer é bem-aventurado, vez que receberá de Deus a coroa da vida, que será
dada aos que O obedecem (amam) (Tg1:12 12 Bem-aventurado
o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da
vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.).
Tiago faz uso do termo ‘fé’ no
sentido de ‘crer’, ‘acreditar’, ‘confiar’, diferentemente do apóstolo Paulo,
que utiliza o termo tanto no sentido de ‘crer’ quanto no sentido de ‘verdade’,
sendo que este último significado é muito mais utilizado que aquele.
Em seguida, Tiago apresenta a
essência do evangelho, que é o novo nascimento por intermédio da palavra da
verdade (Tg 1:18 18 Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela
palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas.).
Após asseverar que é necessário
receber como servo obediente a palavra do evangelho, que é poder de Deus para
salvação (Tg2:21 21 Porventura o nosso pai Abraão não foi
justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?),
Tiago exorta os seus interlocutores a
cumprirem o determinado no evangelho, não se esquecendo da doutrina de Cristo
(Tg 2:21 21 Porventura o
nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar
o seu filho Isaque?).
Tiago lembra que quem atenta para a
verdade do evangelho e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, é executor
da obra estabelecida por Deus: crer em Cristo (Tg 2:25 25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada
pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?).
À vista da obra exigida por Deus,
Tiago demonstra que ser religioso sem refrear o que procede do coração, é
enganar-se a si mesmo, e a religião desse indivíduo se revela vã (Tg 1:26-27 26 Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião
desse é vã.
27 A
religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.).
Novamente Tiago chama os seus
interlocutores de irmãos, para então conclama-los a não fazerem acepção de
pessoas, já que professavam ser crentes em Cristo (Tg 2:1 1 Meus irmãos, não tenhais a fé de
nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.).
Se alguém fala que é crente no Senhor
Jesus, deve proceder conforme essa crença: não fazendo acepção de pessoas por
causa de origem, língua, tribo, nação, etc. (Tg 2:12 12 Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela
lei da liberdade.).
A abordagem de Tiago muda novamente
através de um grave: – ‘Meus irmãos’, para
questioná-los se é proveitoso alguém dizer que tem fé, se não tem obras. É
possível uma crença sem obras salvar?
O termo obra no contexto deve ser
compreendido conforme a visão do homem da antiguidade, que é o resultado da
obediência a um mandamento. Para os homens à época, mandamento por parte de um
senhor e obediência por parte de um servo resultava em obra.
A abordagem muda de acepção de
pessoas para salvação. Primeiro; Quem tem fé em Cristo não pode fazer acepção.
Segundo: Quem diz que tem fé que Deus é um só, se não realizar a obra exigida
por Deus, não será salvo.
A questão não se trata de alguém que
diz ter fé em Cristo, antes se algum que diz ter fé, porém, é fé em um único
Deus. Quem tem fé em Cristo será salvo, pois essa é a obra exigida por Deus.
Não pode se salvar alguém que diz ter fé em Deus, mas que não crê em Cristo,
vez que não é executor da obra.
A obra exigida de quem diz que tem fé
(crença) é a obra que a perseverança termina (Tg 1:4 4 Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que
sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.), ou seja, é permanecer crendo na
lei perfeita, a lei da liberdade (Tg 1:25 25 Aquele, porém, que atenta bem para a
lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecediço,
mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.).
Como os cristãos convertidos dentre
os judeus sabiam que a obra exigida por Deus é crer em Cristo, ao argumentar
que não basta diz que tem fé, Tiago estava enfatizando que é inócuo crer em
Deus e não crer em Cristo.
A abordagem no capítulo 3 muda
novamente quando é dito: meus irmãos
(Tg 3:1 1 Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que
receberemos mais duro juízo.).
A instrução tem em vista aqueles que
queriam ser mestres, porém, para esse exercício ministerial é imprescindível
ser ‘perfeito’. Ser ‘perfeito’ no contexto é não tropeçar na palavra da verdade
(Tg 3:2 2 Porque todos tropeçamos em muitas
coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para
também refrear todo o corpo.), e
assim estará apto a conduzir o corpo (os instruendos).
Após exemplos do que a palavra é
capaz de promover, novamente a abordagem é mudada, para tratar da
impossibilidade de proceder mensagens distintas de uma mesma pessoa,
contrapondo o conhecimento de Deus versus a sabedoria e tradição humana (Tg
3:10 -12 10.
De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto
se faça assim.
11. Porventura deita alguma fonte de
um mesmo manancial água doce e água amargosa?
12. Meus irmãos, pode também a
figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte
dar água salgada e doce.).
Por fim, a instrução é para que os
cristãos convertidos dentre os judeus não falassem mau um dos outros (Tg 4:11 11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um
irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a
lei, já não és observador da lei, mas juiz.), e, por figura (ricos), faz
referência aos judeus que mataram o Cristo.
A epístola é encerada tratando do
tema inicial: perseverança (Tg 5:11 11 Eis que temos por bem-aventurados os
que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor
lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso.), encorajando os crentes a serem
pacientes no sofrimento.
Principais equívocos de interpretação
1.
Entender
que Tiago está preocupado com temas como justiça social, distribuição de renda,
ações caridosas, etc;
2.
Considerar
a repreensão severa aos ‘ricos’ que acumulam bens como sendo uma repreensão a
quem detinha riquezas materiais é não observar que o termo ‘rico’ é uma figura
que se aplica aos judeus;
3.
Entender
que a carta de Tiago é antagônica ao ensinamento do apóstolo Paulo, que
apresenta a salvação pela fé em Cristo Jesus. Na verdade, Tiago evidencia que
crer em Deus não é o que Deus exige para salvação, e sim, crer que Jesus é o
Cristo, a obra da fé;
4.
Entender
que boas ações é o exigível para se autenticar quem tem fé genuína. Quem tem fé
em Cristo conforme as Escrituras, tem fé genuína, pois essa é a obra exigida
por Deus;
5.
Confundir
boas obras com o fruto pelo qual se identifica a árvore.
Tiago 1 –
Perseverança
A determinação é específica aos cristãos
(meus amados irmãos). O apóstolo solicita aos cristãos que não errassem
demonstrando que, mesmo os cristãos são passíveis de erros. Qual o erro que o
apóstolo Tiago repreende? Erros comportamentais ou
conceituais? O apóstolo faz uma repreensão acerca de erros
conceituais, visto que alguns destes erros já havia se instalado na compreensão
de alguns. Pensar que as tentações são provenientes de
Deus é um erro conceitual, porém, a verdadeira concepção acerca de
Deus é que Ele concede boas dádivas e todo dom perfeito.
Introdução
O apóstolo Tiago utiliza uma linguagem própria aos evangelistas. Ele não
se fixa nos pormenores e nas argumentações teológicas.
A linguagem utilizada por Tiago é bem próxima a do apóstolo João, e faz
uma abordagem prática do evangelho.
A abordagem de Tiago difere um pouco da abordagem de Paulo, porém, não
há discrepância alguma entre os escritos deles.
Analisaremos os escrito de Tiago, comparando-os com as argumentações de
Paulo, quando possível.
A Obra Perfeita da Fé
1 Tiago, servo de Deus, e do Senhor
Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas, saúde.
O apóstolo Tiago dá inicio a sua
carta com as mesmas considerações de Paulo. Eles se consideravam servo de Deus
e do Senhor Jesus.
A apresentação de Tiago é sucinta,
isto porque ele não enfrentava os mesmos problemas que o apóstolo Paulo, Paulo
tinha o seu apostolado contestado por grupos judaizantes.
Os destinatários da carta são
identificados como sendo as doze tribos da dispersão. O apóstolo Pedro também
nomeia os destinatários de sua carta de forma semelhante.
Tal nomeação não se refere ao povo de
Israel, antes aos cristãos, sejam eles judeus ou gentios que estavam
‘dispersos’ pelo mundo de então.
Quando Tiago identifica os
destinatários como sendo os cristãos, isto nos dá um parâmetro quanto à
interpretação: mesmo utilizando uma linguagem própria aos evangelistas, ele
escreve a pessoas que já eram crentes e que conheciam o evangelho.
2 Meus irmãos, tende grande gozo quando
cairdes em várias tentações;
O apóstolo conclama os irmãos a
alegria quando estivessem sendo provados. Neste versículo tentação é prova, e
não uma oferta para a pratica de uma conduta pecaminosa.
As argumentações deste capítulo
iniciam-se neste versículo e caminha para um clímax no capítulo dois.
O apóstolo centra a sua argumentação
na tentação, e o tema segue por toda a carta.
3 Sabendo que a prova da vossa fé opera
a paciência.
A alegria é certa quando aquele que é
provado conhece precisamente que a fé provada gera a paciência ( Rm 5:3 ).
A tentação é uma maneira de se por a
fé em prova.
4 Tenha, porém, a paciência a sua obra
perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.
O apóstolo Tiago solicita aos
cristãos que sejam pacientes, visto que a obra perfeita da fé é a perseverança
( Hb 10:36 ; Tg 5:7 ). Quando o cristão é provado, ele possui elementos para
examinar a si mesmo ( 2Co 13:5 ).
A paciência se evidencia com a prova
da fé.
5 E, se algum de vós tem falta de
sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto,
e ser-lhe-á dada.
A sabedoria que Tiago faz alusão
neste versículo está interligada a paciência do versículo anterior. Se o
cristão tem paciência, ele é perfeito e completo, visto que nada lhe falta,
aguardando a manifestação em glória de Cristo Jesus.
Se um cristão tem falta de sabedoria,
deve pedir a Deus que a dará liberalmente. Mas, qual a sabedoria que os
cristãos receberão de Deus? A resposta é dada pelo próprio apóstolo: “Mas a sabedoria que do alto vem é,
primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia
e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia” ( Tg 3:17 ). Ou seja, a
sabedoria que será concedida possui vínculo com a paciência, a obra perfeita da
fé.
Observe que o versículo anterior
ressalta que devemos ser perfeitos sem ter falta de coisa alguma, mas que se
tivéssemos falta da sabedoria que é pura, pacifica e moderada, era só pedir que
será concedido liberalmente.
6 Peça-a, porém, com fé, em nada
duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo
vento, e lançada de uma para outra parte.
O cristão deve pedir a sabedoria de
Deus com fé, ou seja, sem dúvida alguma quanto àquele que concede liberalmente.
O apóstolo faz a primeira comparação
em sua carta: aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo
vento, e é lançada de uma a outra parte.
Aquele que duvida é inconstante em
todos os seus caminhos, e não só quanto ao que pede a Deus. A comparação do
apóstolo com a onda do mar está para o homem que é dobre de coração, e não para
o que se pede a Deus.
O apóstolo deixa de enfatizar a
provação e passa a concitar a fé dos ouvintes.
7 Não pense tal homem que receberá do
Senhor alguma coisa.
Por que aquele que duvida não
receberá de Deus coisa alguma? Deus estaria punindo o reticente? Não!
O homem sem fé não receberá de Deus
coisa alguma, pois dele temos a promessa, e para alcançarmos o prometido
devemos ser pacientes “Porque
necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus,
possais alcançar a promessa” (
Hb 10:36 ).
8 O homem de coração dobre é
inconstante em todos os seus caminhos.
Como o apóstolo está aconselhando os
cristão à pratica do evangelho, ele aponta os vários aspectos pertinentes a
vida do homem. Pela fé alcançamos a salvação de Deus, mas isto não confere ao
salvo tranqüilidade em todas as áreas de sua vida. O homem pela fé alcança
salvação, mas tal salvação não confere riqueza, felicidade no casamento ou a
mudança instantânea de comportamento.
O apóstolo Tiago precisava tratar de um
assunto complexo entre os cristãos, e para isto ele utiliza o capítulo um de
sua carta preparando os corações dos ouvintes para o tema principal: a acepção
de pessoas!
Do versículo dois até aqui, o apóstolo
Tiago está estruturando o irmão de condição humilde. Nos versículos dez e onze
o apóstolo alerta os cristãos de boa condição financeira.
Observe que não há mudança na ideia no
contexto geral tratado no primeiro capítulo. Compare o versículo dois com o
doze.
O capítulo um da carta de Tiago é um
exemplo claro de psicologia aplicada. Ele não apresenta o problema a ser
tratado de inicio. Ele primeiro trata de estruturar os ouvintes evidenciando as
provações, a fé, a condição pessoal, a conciliação, para depois trazer o
problema à tona.
Posições: Alta e Insignificante
9 Mas glorie-se o irmão abatido na sua
exaltação,
O irmão de condição financeira
humilde deveria gloriar-se na sua exaltação, ou seja, ter grande alegria, visto
que, a sua condição humilde lhe concedia muitas provações, muitos motivos para
se refugiar em Deus, desenvolvendo a perseverança, que resultará na exaltação
futura ( Hb 10:36 ).
O irmão de condição humilde tem maior
motivo para exercitar a sua fé em perseverança, isto é, para gloriar-se.
Sobre este aspecto Paulo demonstra
que, caso fosse gloriar-se, gloriaria em suas fraquezas ( 2Co 12:5 ).
10 E o rico em seu abatimento; porque
ele passará como a flor da erva.
O rico deveria ANALISAR a sua
condição de maneira diferente. Deveria ter em mente a sua fragilidade, visto
que o homem nada é.
O homem tem grande tendência a
confiar naquilo que pode ver, o que pode lhe ofuscar a visão de que ele é
sustentado por Deus e para ilustra a condição dos homens, principalmente os
ricos, Tiago lembra a fragilidade da flor.
11 Porque sai o sol com ardor, e a erva
seca, e a sua flor cai, e a formosa aparência do seu aspecto perece; assim se
murchará também o rico em seus caminhos.
Tudo que é exterior ao homem perece
com o tempo. Os caminhos que os homens trilham neste mundo têm um fim, e para o
rico não é diferente “Não
atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se
vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” ( 2Co 4:18 ).
12 Bem-aventurado o homem que suporta a
tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor
tem prometido aos que o amam.
Esta é uma declaração prática de
elementos pertinentes ao evangelho de Cristo. Esta declaração é igual a do
escritor aos Hebreus:
“Porque necessitais de paciência, para
que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa” ( Hb 10:36 ).
Bem-aventurado o homem que suporta a
tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor
tem prometido aos que o amam.
Aquele que suporta a provação
demonstra que é paciente, e que receberá de Deus a vida eterna prometida a
todos quantos creram em seu Filho.
A vontade de Deus é que todos os
homens creiam naquele que ele enviou. A promessa é de vida, e vida eterna. Mas,
para alcançá-la o homem precisa de perseverança na fé dada aos santos.
As discrepâncias de ordem
socioeconômica no seio da igreja local estavam causando alguns problemas que
será tratado no capítulo dois. Porém, Tiago estrutura os seus leitores a serem
pacientes, suportando as tentações e provações.
13 Ninguém, sendo tentado, diga: De
Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.
O apóstolo passa a demonstrar que as
provações da vida não são provenientes de Deus. Alguém pode considerar que Deus
para aperfeiçoar a fé de seus filhos acaba por submetê-los a inúmeras
provações. Mas, não é assim! Deus a ninguém tenta.
A fé não precisa ser aperfeiçoada. O
que é passível de aperfeiçoamento é o comportamento humano e a sua compreensão
da realidade a sua volta. A fé é dom de Deus, que é perfeita como perfeito é o
Pai celeste que nos dá todas as garantias necessárias que estruturarmos a nossa
crença.
Por isso o apóstolo Paulo diz: “Eu sei em quem tenho crido” ( 2Tm 1:12 ).
14 Mas cada um é tentado, quando
atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
Após descartar que as tentações são
provenientes de Deus, Tiago demonstra onde as tentações têm origem.
Neste versículo ele não aponta a
origem do pecado, visto que o pecado teve origem em Adão, lá no jardim do Éden.
Observe que ninguém tem a possibilidade de pecar a semelhança da transgressão
de Adão. Não há como os descendentes de Adão dar origem ao pecado “No entanto, a morte reinou desde Adão
até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da
transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” ( Rm 5:14 ).
Cada ser humano possui um desejo em
particular. Cada pessoa vê as coisas com valores diferenciados. Uns dão maior
valor a bens materiais, outros a conduta, outros a dignidade, etc.
O apóstolo Tiago demonstra que o
homem é tentado pelo seu próprio desejo. Ele cobiça, é atraído e seduzido pelos
seus interesses.
Este desejo após tomar corpo, se for
levado a efeito, resulta em uma conduta pecaminosa. Se o desejo for vetado pela
consciência do homem, por leis, ou regras éticas, mas este homem leva a efeito
este desejo, acaba por gerar a morte.
Por que o apóstolo toca neste
assunto? Por causa de elementos apontados no versículo dezenove e vinte deste
mesmo capítulo.
Note que Tiago está escrevendo a
cristãos, pessoas que não estavam mais sujeitas ao pecado. Da mesma forma
estavam livres do pecado de Adão, uma vez que já criam em Cristo. Como um
desejo não contido poderia levar a morte?
Caso os ouvintes não suportassem a tentação;
caso não fossem perseverantes na fé que receberam, e lançassem mão da ira,
deixariam de se sujeitar a justiça de Deus que é pela fé, e estabeleceriam uma
própria com base na vingança. Tal inversão, adotar uma justiça própria em lugar
da divina, leva a morte espiritual.
15 Depois, havendo a concupiscência
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
O apóstolo está tratando de questões
práticas. O irmão de condição humilde deveria ter em conta a sua dignidade. Já
o de condição abastada, em quanto era insignificante a existência dos homens
sobre a face da terra.
Se estas pessoas considerassem estes
elementos, não seriam tentados a fazer acepção de pessoas ( Tg 2:2 ). Da mesma
forma caso alguém fosse discriminado, sofreria a provação e não lançaria mão da
ira, pois tal ação substitui a justiça de Deus que é pela fé, e se estabelece
uma outra, a justiça própria.
Através da fé recebemos a justiça de
Deus, pois é Deus quem nos justifica. Quando queremos embasar as nossas ações
em um sentimento próprio de justiça e de vingança, estaremos vestidos de trapos
de imundície. Só resta a morte diante de Deus.
A morte não é resultado da conduta
errônea, e sim da falta de fé. Se não há fé, não se consegue sofrer as
tentações com paciência. Se não há fé, o homem não espera na providência divina
e passa a agir por conta própria.
16 Não erreis, meus amados irmãos.
A determinação é específica aos
cristãos (meus amados irmãos). O apóstolo solicita aos cristãos que não
errassem demonstrando que, mesmo os cristãos são passíveis de erros.
Qual o erro que o apóstolo faz
referência? Erros comportamentais ou erros conceituais?
O apóstolo faz uma repreensão acerca
do erro conceitual que havia se instalado em alguns. Alguns pensavam que a
tentação era proveniente de Deus, porém, a verdadeira concepção acerca de Deus
é que Ele concede boa dádiva e todo dom perfeito. Compare: ( Gl 6:7 e 1Co 6:10
).
Erros Conceituais
17 Toda a boa dádiva e todo o dom
perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem
sombra de variação.
Os leitores não deviam cometer o erro
de considerar que as tentações eram provenientes de Deus. Antes deveriam
considerar que de Deus é proveniente toda a boa dádiva e todo o dom perfeito.
As bênçãos são provenientes de Deus,
que desce de Deus, ou antes, vem do alto.
Não é próprio de Deus a mudança e nem
mesmo a ‘sombra’ de variação, fato que por si só demonstra que não deveriam
errar quanto ao conceito de que Deus tenta alguém com o mal e que concede todo
o dom perfeito.
18 Segundo a sua vontade, ele nos gerou
pela palavra da verdade, para que fossemos como primícias das suas criaturas.
Esta carta utiliza uma linguagem
eminentemente evangelística, porém, neste versículo fica demonstrado que o
apóstolo possuía perfeita compreensão das nuances teológicas da mesma forma que
Paulo e Pedro.
O apóstolo Tiago não se utilizou de
conceitos teológicos ao escrever por questões próprias ao público alvo da
carta. Não se deve considerar que o apóstolo Tiago não comungava ou que não
possuía a mesma compreensão que o apóstolo Paulo demonstra em suas cartas.
Toda: Deus concedeu aos cristãos toda boa dádiva e todo o dom perfeito,
de maneira que nada falta àqueles que aguardam a Jesus “De maneira que nenhum dom vos falta,
esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” ( 1Co 1:7 );
Boa dádiva: Presente de Deus aos homens.
Dom perfeito: A graça de Deus por meio do
evangelho “Porque
pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” ( Ef 2:8 );
Pai das luzes:“Deus é luz, e nele não há trevas
alguma” ( 1Jo 1:5 ); “Porque noutro tempo éreis trevas, mas
agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” ( Ef 5:8 ); “Porque todos sois filhos de Deus
pela fé em Cristo Jesus” (
Gl 3:26 );
Em quem não há mudança e nem sobra de
variação: A imutabilidade de
Deus é base para a nossa fé “Por
isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho
aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento” ( Hb 6:17 ), pois só pela fé em
Deus somos filhos da Luz;
Segundo a sua vontade: Segundo o consentimento
(beneplácito) de Deus que, por meio da fé, adquiríssemos a filiação
divina “E nos predestinou para filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” ( Ef 1:5 );
Ele nos gerou de novo: Aqueles que creem em Cristo são
novamente criados segundo Deus em verdadeira justiça e santidade. Não é uma
reformulação ou uma melhoria na velha natureza. Antes recebemos poder para
sermos feitos (criados novamente) filhos de Deus “Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” ( Jo 1:12 );
Palavra da verdade: A palavra da verdade é a mensagem
do evangelho, pois o apóstolo Paulo demonstra que o evangelho é poder de Deus
para todos quanto crerem ( Rm 1:16 );
Para que fossemos como primícias das
suas criaturas: Aqueles
que creem são gerados de novo e passam a ser uma nova criatura “Assim que, se alguém está em Cristo,
nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” ( 2Co 5:17 ). Dentre todas as
criaturas de Deus somos considerados como sendo as primícias, visto que
ressurgimos com Cristo dentre os mortos “Mas
de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que
dormem” ( 2Co 5:17 );
Com base neste versículo podemos
verificar que não há divergência alguma entre o que Tiago e Paulo escreveram em
suas cartas.
É característica própria a carta de
Tiago utilizar uma linguagem evangelista, já que o público alvo da carta se
constitui de leigos. Eram carentes de conhecimento ( Tg 1:3 ; 5; 16; 19), e uma
linguagem teológica não seria de todo compreendida.
Por isso o apóstolo Tiago apresenta
um evangelho aplicado e menos conceitual.
E Tiago prossegue: “Sabei isto, meus amados irmãos…” (v. 19).
19 Portanto, meus amados irmãos, todo o
homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.
O apóstolo reitera pela terceira vez:
meus amados irmãos!
Ele não exclui quem quer que fosse da
exortação: Todo o homem:
1º Deveriam ser prontos a ouvir;
2º Tardios a falar, e;
3º Tardios a irarem-se.
O apóstolo reitera alguns cuidados
que os irmãos deveriam ter quanto a paciência. O homem paciente está pronto a
ouvir! Esta recomendação tem dois aspectos dentro do contexto que Tiago
procurou transmitir:
a) Eles ouviriam prontamente a mensagem
que estava sendo transmitida por meio da carta, e;
b) Quanto fossem inteirados dos
problemas existentes no seio da igreja ( Tg 2:1 -4), não partiriam para
julgamentos precipitados, antes estariam prontos a ouvirem um pouco mais.
Seriam pacientes.
As recomendações deste versículo soam
como um freio à concupiscência de alguns, que eram atraídos a falarem
precipitadamente ( Tg 1:13 -14).
Tiago utiliza o mesmo principio que
Paulo ao exortar o homem a examinar a si mesmo. Este com poucas palavras, de
maneira direita e incisiva, aquele utiliza o texto para evidenciar a cada
indivíduo o seu erro, fazendo com que se esquecessem dos erros do próximo.
20 Porque a ira do homem não opera a
justiça de Deus.
Este versículo esclarece o versículo
15.
A abordagem de Tiago tem inicio com a
declaração: “Bem-aventurado
aquele que suporta a provação” (v.
12). Este homem receberá de Deus o prometido, a coroa da vida, o que é
pertinente ao homem livre do pecado.
“Os que amam a Deus são
aqueles que foram chamados segundo o seu propósito de fazer
convergir em Cristo todas as coisas; estes não estão sujeitos ao pecado e têm
direito à coroa da vida; antes eram sujeitos ao pecado, e, portanto, alijados
da vida que há quando se está em Deus”
Nestes versículos podemos observar
que dois temas são desenvolvidos paralelamente:
a) Não deveriam errar nas questões
conceituais. Se Deus não muda, como conciliar ‘boa dádiva’ com ‘o tentar com o
mal’?
b) A maldição do pecado só recai sobre
aqueles que não perseveram, e, portanto, não são bem-aventurados.
As questões relativas ao parágrafo
(a) já foram comentadas
anteriormente.
Sobre o parágrafo
(b) resta descobrir qual o tipo de
‘pecado’ que leva o cristão a morte.
O cristão que for atraído e engodado
pela sua própria concupiscência (um exemplo prático que o apóstolo Tiago
utiliza é a precipitação em falar (v. 19), não suportando a tentação, teria em
si mesmo os elementos necessários a concepção da concupiscência.
É questão de tempo para a
concupiscência tomar corpo e dar à luz o pecado e do pecado advém à morte!
O pecado que dá luz à morte é o
lançar mão da ira.
Deus diz: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados,
mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei,
diz o Senhor” ( Rm 12:19); “Porque bem conhecemos aquele que
disse: Minha é a vingança, eu darei a recompensa, diz o Senhor. E outra vez: O
Senhor julgará o seu povo” (
Hb 10:30).
Quando Paulo diz: “…dai lugar a
Ira…”, é uma referência clara ao Senhor! É o mesmo que dizer, daí lugar a Deus,
pois a Ele pertence a Ira “Pelas
quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência” ( Cl 3:6 ).
Aquele que não suporta a tentação,
que advém de uma cobiça e se põe a falar incontidamente, acabará se inflamando
em sua própria ira. Este morrerá, visto que deixou de se sujeitar a justiça de
Deus, que é pela fé.
Aquele que sai a vingar-se a si
próprio está trilhando o mesmo caminho de Davi quando induzido por Nabal “Agora, pois, meu senhor, vive o SENHOR,
e vive a tua alma, que o SENHOR te impediu de vires com sangue, e de que a tua
mão te salvasse; e, agora, tais quais Nabal sejam os teus inimigos e os que
procuram mal contra o meu senhor” (
1Sm 25.26 ).
O apóstolo Tiago prevendo que alguém
poderia ficar indignado frente aos problemas que seriam relacionados nos
versículo 1 a 5 do capítulo 2, antecipa-se e demonstra que, se alguém não
adotasse o comportamento do versículo 19, incorreria em não estar sujeito a
justiça de Deus, que é por meio da fé em Cristo.
Quem se deixar levar pela própria
cobiça não suporta a provação, e passa a agir por conta própria alimentando
sentimentos facciosos e soberbos, ações pertinentes a ira do homem.
Recomendações
21 Por isso, rejeitando toda a
imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós
enxertada, a qual pode salvar as vossas almas.
Já que a justiça de Deus não coaduna
com a ira do homem, o apóstolo concita os ouvintes a lançarem fora toda
impureza e todo vestígio do mal. A imundície e superfluidade de malícia são
descritas em Tiago três, treze a dezesseis.
A amarga inveja e o sentimento
faccioso geralmente advêm da incontinência em falar e da pressa em vingar uma
causa própria.
A prontidão em falar acintosamente e
a ira não é próprio daqueles que são mansos, ou seja, a palavra do evangelho
deve ser recebida em mansidão.
A palavra de Deus é poder de Deus
para todo aquele que crê, ou seja, poder de Deus para salvação das vossas
almas.
22 E sede cumpridores da palavra, e não
somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.
Tiago solicita um compromisso com a
palavra do evangelho. O compromisso com a palavra se estabelece quando o
ouvinte resiste as tentações, é paciente, e manso. Este não esta se enganado a
si mesmo.
23 Porque, se alguém é ouvinte da
palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu
rosto natural;
Esta é a segunda comparação que Tiago
faz.
Ele estabelece uma hipótese: “Se…”.
Aquele que duvida é comparado à onda do mar, e o ouvinte que não pratica é
semelhante a quem contempla o próprio rosto através de um espelho. A comparação
se firma no versículo seguinte:
24 Porque se contempla a si mesmo, e
vai-se, e logo se esquece de como era.
Através das comparações Tiago
demonstra dois perigos:
a) O ouvinte esquecido ou relapso, e;
b) Ouvinte sem fé, que é levado de uma
a outra parte “…porque
o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de
uma para outra parte” (v.
6).
25 Aquele, porém, que atenta bem para a
lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço,
mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.
O apóstolo faz uma ressalva: “Aquele, porém…”.
O ouvinte que recebe a palavra com fé
e a pratica, este é o que atenta bem para a mensagem do evangelho, a lei
perfeita.
A lei que não deixa alternativa de
escolha não é perfeita. A lei perfeita deixa alternativa entre cumprir e o não
cumprir.
Tiago alerta novamente o ouvinte
relapso e o sem fé:
a) e nisso persevera – a perseverança é
resultado da fé em prática. A fé posta em prova produz a paciência, e o
exercício da fé à perseverança “Sabendo
que a prova da vossa fé opera a paciência” (v.
3); “Todo aquele que prevarica, e não
persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina
de Cristo, esse tem tanto ao Pai como
ao Filho” II Jo 1. 9.
b) não sendo ouvinte esquecido – o
ouvinte esquecidiço é aquele que não cumpre a palavra. Ele não é fazedor da
obra e nem bem-aventurado.
Só é bem-aventurado o ouvinte que
atenta para o evangelho com fé. Este será perfeito e sem falta de coisa alguma,
visto que é paciente.
O que suporta a tentação é aquele que
cumpre com a palavra, ou, aquele que faz a obra, sendo o resultado disso a
paciência, a obra perfeita “Tenha,
porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos,
sem faltar em coisa alguma” (v.
4).
26 Se alguém entre vós cuida ser
religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião
desse é vã.
O apóstolo Tiago chega ao momento da
prática. Ou seja, se o cristão não suportar a provação, não terá a obra
perfeita, que é a paciência. Este passará a agir, não refreando a língua.
Descumprirá cabalmente a determinação: “…todo
o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar…” (v. 19), enganando a si mesmo
(v. 22). Tal homem se apoiará na religiosidade, onde a justiça de Deus não
opera.
Tal homem está enfatuado, pois se
apóia em um discurso falso: sou religioso! “E
sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos
discursos” (v. 22).
27 A religião pura e imaculada para com
Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e
guardar-se da corrupção do mundo.
Uma demonstração clara de que alguns
estavam apoiados em falsos discursos é que a verdadeira religião se resume em
assistencialismo aos órfãos e viúvas, sem se contaminar com a corrupção do
mundo.
As recomendações aos gentios no
concílio de Jerusalém são claras: “Na
verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo
algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas
sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição,
das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá” ( At 15:28 -29).
Sobre este mister o apóstolo Paulo
foi alertado: “Recomendando-nos
somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com
diligência” ( Gl 2:10 ).
Tais determinações foram necessárias,
visto que alguns não estavam atentando para a perfeita lei da liberdade: “E isto por causa dos falsos irmãos que
se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos
em Cristo Jesus, para nos porem em servidão” (
Gl 2:4 ).
A recomendação de Tiago era tão
somente para que observasem o que era pertinente ao evangelho de Cristo“E sede cumpridores da palavra, e não
somente ouvintes…”,
porém, alguns estavam presos à religiosidade, que se firma em questões tais
como o legalismo, o formalismo e a moralidade. Estes estavam se enganando
quando se firmavam nos discursos da religiosidade: “…enganando-vos com falsos discursos”.
Vale salientar que o capítulo um da
carta de Tiago visa preparar os cristãos para a exposição de questões que são
abordadas no capítulo Dois.
O leitor desta carta deve ter o cuidado
de observar e analisar o seu conteúdo sobre o prisma de um único contexto.
A carta de Tiago desenvolve uma idéia
principal, porém, antes de especificá-la, ele teve o cuidado de preparar os
seus destinatários diretos, os cristãos de sua época, com várias exortações,
exemplos e comparações.
Não devemos nos ater as exortações,
exemplos e comparações sem o prisma da idéia principal.
A linguagem que Tiago utiliza é
evangelística, pois não se estrutura em citações do antigo testamento. A
linguagem é baseada em comparações e exemplos pertinentes ao dia-a-dia dos
leitores ( Tg 1:10 -11, e 23).
Quando se faz necessário a exposição de
alguns conceitos de cunho teológico, o apóstolo Tiago se socorre de conceitos
incontestes ( Tg 1:17 ), sem o auxílio da citação de trechos do antigo
testamento.
A carta de Paulo aos Efésios segue
quase a mesma estrutura de linguagem de Tiago por não utilizar citações do
antigo testamento.
Tiago 2 – Fé e obras
De nada aproveita ao homem dizer que
tem fé (que crê em Deus) e não ter obras (obedecer). Só é plenamente aceitável
e aproveitável se ele tiver fé (crer) e as obras (obedecer).
Introdução
O comentário ao capítulo Um da Carta do
apóstolo Tiago contém os elementos necessários à interpretação do capítulo
dois.
Declarações do apóstolo como: “Assim também a fé, se não tiver obras,
é morta em si mesma”,
ou “assim como o corpo sem o espírito está
morto, assim também a fé sem obras é morta”, tem
suas bases no capítulo um.
Antes de continuarmos na explicação
versículo a versículo, já é possível determinarmos o tema central da carta: a
perseverança.
A prova da fé produz a perseverança (
Tg 1:2 ). Ele destaca que o homem que suporta a provação é bem-aventurado (v.
12). A perseverança é condição essencial para se alcançar
à bem-aventurança prometida por Deus aos que o amam (v. 25).
Nesta linha de raciocínio o apóstolo
Paulo também destacou que a perseverança é produzida na tribulação Rm 5. 3. O
escritor aos Hebreus também demonstrou que é necessária a perseverança depois
que se crê em Cristo “Porque
necessitais de perseverança, para que, depois de haverdes feito a vontade de
Deus, possais alcançar a promessa” (
Hb 10:36 ).
Perseverança: Obra completa da fé posta à prova
( Tg 1:3 -4);
A vontade de Deus: “Que
creiais naquele que ele enviou” (
Jo 6:29 ).
Apesar de a carta estar endereçada ‘às
doze tribos da dispersão’ Tg 1. 1, o se conteúdo não contempla somente os
judeus que se tornaram cristãos.
O apóstolo Tiago demonstra que a fé do
cristão ao ser provada desenvolve a perseverança. Esta idéia é confirmada pelo
apóstolo Paulo: “E
não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a
tribulação produz a paciência…” (
Rm 5:3 ).
A prova da fé produz a perseverança,
e a perseverança é a obra completa da fé, como se lê abaixo:
“Sabendo que a prova de voffa fé obra a
paciencia. Tenha porém a paciencia a obra perfeita, peraque perfeitos e
totalmente finseros fejaes, em nada faltando”
Novo Testamento – 2ª impressão – Data
da edição: 1693, com introduções e resumos da edição de 1681 de Amsterdam, além
de Notas de Rodapé dos revisores – Impresso na Batávia (Ilha de Java). SBB.
Tiago insta os leitores a entenderem
que a prova da fé produz a perseverança. Após a provação restava a eles estarem
de posse da perseverança, que é a obra completa (perfeita) da fé.
Este aspecto da fé é retratado por
Paulo aos cristãos de Tessalonicenses ao citar a perseverança de Cristo: “Ora o Senhor encaminhe os vossos
corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo” ( 2Ts 3:5 ).
Tanto Paulo quanto Tiago concordam
que a perseverança é a obra perfeita da fé “Bem-aventurado
o homem que suporta com perseverança a provação…” ( Tg 1:12 ; Rm 5:3 ).
O homem será bem-aventurado no que
realizar quando suporta a provação, visto que atenta para a lei perfeita, a da
liberdade. Esta é a obra a se executar: a perseverança ( Tg 1:25 ).
A fé que Tiago faz referência é a fé
salvadora. Ele diz da fé que uma vez foi dada aos santos Jd 3. Esta fé quando
provada ‘obra’ (produz) a perseverança.
Em resumo, o capítulo um demonstra a
obra da fé quando provada: a perseverança.
A perseverança é algo próprio da fé.
Da mesma forma que a fé não vem do cristão, mas de Deus, a perseverança é
proveniente da fé e não do cristão. A perseverança é característica de quem
possui a fé (evangelho).
Alerta Segundo a Lei Real
1 Meus irmãos, não tenhais a fé de
nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
Novamente o apóstolo Tiago demonstra
a fraternidade em Cristo: meus irmãos.
A fé de nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor da glória é coletiva. Pertence ao senhor da glória e foi dada aos
cristãos ( Jd 1:3 ; Ef 2:8 ; Tg 1:3 ).
A fé foi dada aos santos, mas estes
não deviam tê-la em acepção de pessoas.
Este versículo é um aconselhamento
seguido de um exemplo.
2 Porque, se no vosso ajuntamento
entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar
também algum pobre com sórdido traje,
Observe que a entra de pessoas nas
reuniões dos cristãos era livre, diferente das reuniões dos judeus.
3 E atentardes para o que traz o traje
precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes
ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado,
O exemplo de acepção de pessoas recai
nas diferenças socioeconômicas.
4 Porventura não fizestes distinção
entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?
Em um primeiro momento o exemplo
parece hipotético, porém a exortação torna-se incisiva. Fizeram distinção entre
eles mesmos e se tornaram juízes movidos por maus pensamentos.
5 Ouvi, meus amados irmãos: Porventura
não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do
reino que prometeu aos que o amam?
O agora é o momento para qual os
cristãos foram preparados: “Ouvi,
meus amados irmãos…” (
Tg 1:19 ).
A linguagem é exclusivamente
evangelística: Deus escolheu os pobres aos olhos do mundo para serem ricos na
fé.
Não há qualquer promessa ou previsão
de mudança na condição financeira dos cristãos. Qualquer tipo de promessa de
melhora na condição financeira dos cristãos após terem aceitado a Cristo não é
bíblica.
Observe que a promessa confere
direito aos cristãos, porém a herança está atrelada ao reino prometido, que não
é deste mundo.
6 Mas vós desonrastes o pobre.
Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?
Tiago é incisivo e expõe um problema
no seio da igreja: “Mas vós desonrastes o pobre”. Aqueles que precisavam ouvir
tal queixa do apóstolo estavam preparados – sejam prontos a ouvir.
Aqueles que sofreram a afronta também
estavam preparados: sejam tardios em falar, e tardios em irar.
O tema da carta é perseverança, porém
o capítulo um reuniu elementos que preparou o ânimo dos ouvintes, tanto dos
ricos como os de condição humilde ( Tg 1:9 -10).
Recomendações
7 Porventura não blasfemam eles o bom
nome que sobre vós foi invocado?
Os ricos segundo os parâmetros deste
mundo, além da opressão que impunham aos cristãos, acabavam por levá-los aos
tribunais.
8 Todavia, se cumprirdes, conforme a
Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.
Se os leitores da carta de Tiago
andassem conforme as Escritura (A. T.), estariam realizando o bem “E vós, irmãos, não vos canseis de
fazer o bem” ( 2Ts 3:13 ).
Observe a distinção que Tiago faz dos
elementos da lei ao citar um único trecho de Levítico (a Escritura): deveriam
cumprir a lei real, ou o que foi instituído por Cristo “Não te vingarás nem guardarás ira
contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou
o SENHOR” ( Lv 19:18 ; Mc
12:31).
9 Mas, se fazeis acepção de pessoas,
cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.
O apóstolo Tiago faz esta declaração
com base neste versículo: “Aquele,
pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado” ( Tg 4:17 ).
Aquele que não anda conforme a lei
real, este é transgressor e comente pecado, pois tal pessoa ainda não teve um
encontro real com Cristo “Aquele
que diz que está na luz, e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas” ( 1Jo 2:9 ).
10 Porque qualquer que guardar toda a
lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.
Este é um parâmetro da lei: um
‘simples’ tropeço em qualquer ponto leva a pessoa subordinada a ela a derrocada
total.
11 Porque aquele que disse: Não cometerás
adultério, também disse: Não matarás. Se tu, pois não cometeres adultério, mas
matares, estás feito transgressor da lei.
Este versículo é um exemplo aplicado
dos parâmetros da lei que foi apresentado no versículo anterior.
12 Assim falai, e assim procedei, como
devendo ser julgados pela lei da liberdade.
Este versículo contempla o argumento
do apóstolo João: “Aquele
que diz que está na luz, e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas” ( 1Jo 2:9 ). O procedimento do
cristão deve estar em conformidade como que ele professa.
Ao falar: “Amarás o teu próximo, como
a ti mesmo”, deveriam proceder conforme o que diziam. Deveriam falar conforme a
lei régia e proceder conforme ela estipula.
Aquele que procede conforme o que
fala, age assim por saber que será julgado pela lei da liberdade. Tal
julgamento é de obras e se dará no Tribunal de Cristo “Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou
tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante
o tribunal de Cristo” (Rm
14:10); “Porque todos devemos comparecer ante o
tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio
do corpo, ou bem, ou mal” (2Co
5:10).
A lei da liberdade nos remete ao
versículo vinte e cinco do capítulo um: “Aquele,
porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não
sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no
seu feito” (Tg 1:25).
Aquele que não é relapso, ou seja,
que atenta bem para a lei da liberdade, cumpre com o determinado e é
bem-aventurado no seu feito.
Ele é bem-aventurado por suportar com
perseverança a tentação. A fé que ele recebeu deve se desenvolver, tornando-se
perseverante.
13 Porque o juízo será sem misericórdia
sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.
A misericórdia divina só é
demonstrada aos homens em particular quando este tem um encontro com Ele.
Sabemos que Deus amou o mundo de tal
maneira, e que deu o seu Filho unigênito. Está é a misericórdia de Deus
demonstrada ao mundo, em que seu Filho morreu, sendo nós ainda pecadores.
Mas, para que o homem seja
participante desta misericórdia deve crer em Cristo para ser participante da
luz.
Todos aqueles que crêem em Cristo são
participante de sua natureza e devem andar como ele andou. Contudo, devemos
observar o que diz o apóstolo João: “Outra
vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vós; porque vão
passando as trevas, e já a verdadeira luz ilumina. Aquele que diz que está na
luz, e odeia a seu irmão, até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão
está na luz, e nele não há escândalo. Mas aquele que odeia a seu irmão está em
trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe
cegaram os olhos” (
1Jo 2:8 -11).
Aquele que não faz misericórdia é
porque está em trevas e anda nas trevas. Não conhece a Deus, ou antes, não é
conhecido por Ele. Tal homem, por não ser perseverante, ou seja, não continuou
na fé que professava, uma vez viu, mas agora não sabe para onde deva ir, pois
as trevas cegaram os seus olhos.
Estes são aqueles que não fazem
misericórdia e terão o juízo de Deus.
O apóstolo João é bem claro com
relação ao amor: “Ora,
o seu mandamento é este, que creiamos no nome do seu Filho Jesus Cristo, e nos
amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou” ( 1Jo 3:23 ).
O mandamento de Deus é claro: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra
de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ). Somente após crer
no enviado do Pai, é que o amor ao semelhante passa a ter valor diante de Deus.
Devemos nos amar segundo o mandamento que foi ordenado: que creiais naquele que
Ele enviou.
Porventura a Fé pode Salvá-los?
14 Meus irmãos, que aproveita se alguém
disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?
O apóstolo Tiago continua a exposição
do versículo doze: “Assim falai, e assim procedei…”. Qual o proveito se alguém
disser que tem fé e não tiver as obras? Esta pergunta encontra resposta nos
versículos seguintes.
“Meus irmaõs, que aproveita, fe alguem
differ que a fé tem, e as obras não tiver? por ventura pode o a [tal] fé
falvar?
Novo Testamento – 2ª impressão – Data
da edição: 1693, com introduções e resumos da edição de 1681 de Amsterdam, além
de Notas de Rodapé dos revisores – Impresso na Batávia (Ilha de Java). SBB.
O leitor deve observar atentamente a
construção do versículo 14: alguém diz que tem fé, porém ele não tem as obras.
De nada aproveita ao homem ter fé e
não ter obras. Só é plenamente aceitável e aproveitável se ele tiver a fé e as
obras.
Certa feita algumas pessoas se
achegaram a Cristo e perguntaram: “Que
faremos para executarmos as obras de Deus?” (
Jo 6:28 ). Jesus respondeu: A obra de Deus é esta: “Que creiais naquele que ele enviou” ( Jo 6:29 ).
O que esta passagem nos ensina? Que
as pessoas geralmente estão em busca de algo material, e não de Deus. A
multidão estava a procura de Jesus por causa do pão que comeram (v. 26), porém
a mensagem e os sinais demonstrados não os havia sensibilizado (v. 27).
Quando Jesus demonstra que eles o buscavam
de maneira enfatuada, interpelaram: “Que faremos para executar a obra de
Deus?”.
Geralmente os homens que ainda não
tiveram um encontro com Cristo, entendem que para se aproximar de Deus, ou que
para agradá-lo, é necessário fazer alguma coisa. Observe que a multidão queria
fazer a obra de Deus.
Quando Jesus revela a obra a ser
realizada (que creiais naquele que ele enviou), estes apresentam
empecilhos: “Que
sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu?” ( Jo 6:30 ).
A humanidade é voluntariosa quando se
proclama afazeres. Constroem grandes templos, fazem grandes sacrifícios, são
generosos nas esmolas, porém, quando tomam ciência do que devem fazer, que é
crer em Cristo, estes pedem um sinal.
O jovem rico ao se aproximar de Jesus
fez a mesma pergunta: “Bom
Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?” ( Mt 19:16 ). Jesus enumerou
algumas coisas pertinentes à lei, e o jovem rico demonstrou que aquela era sua
prática de vida, mas ele queria fazer algo mais para ter garantia da vida
eterna “Tudo isso tenho guardado desde a minha
mocidade; que me falta ainda?” ( Mt
19:20 ).
Jesus aponta o essencial para que ele
alcançasse a perfeição: “Se
queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um
tesouro no céu; e vem, e segue-me” (
Mt 19:21 ).
A condição para alcançar a perfeição
não estava no disponibilizar das riquezas, antes na crença na palavra de
Cristo. Quando Jesus lhe apresentou a obra a ser realizada (crer naquele que
Deus enviou), o Jovem rico recuou.
Nestas passagens Cristo confirma as
palavras do apóstolo Paulo ao dizer que a salvação é por meio da fé “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” ( Ef 2:8 ). Ou seja, que“…sem
fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” ( Hb 11:6 ).
Também somos informados que as boas
obras Deus preparou de ante mão para que andássemos nela “Porque somos feitura sua, criados em
Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos
nelas” ( Ef 2:10 ). Ou melhor, que as
boas obras são feitas, realizáveis em Deus “Mas
quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam
manifestas, porque são feitas em Deus” (
Jo 3:21 ).
Reiterando: a salvação é por meio da fé e as
boas obras foram preparadas por Deus e são feitas Nele.
Através desta análise podemos
demonstrar que há uma grande diferença entre ‘obras da fé’ e o que chamamos de
‘boas ações’.
‘Boas ações’ são pertinentes e
possíveis de serem realizadas por todos os homens e independe da fé. Tanto o
crente quanto o incrédulo podem e devem realizar boas ações aos seus
semelhantes. Mesmo aqueles que não creem em Cristo realizam boas ações, e nem
por isso serão salvos.
Desta maneira é possível verificar
que ‘boas obras’ não está vinculado a procedimentos humanos, já que as boas
obras só são realizáveis quando o homem está em Deus por meio de Cristo.
Verifica-se que boas obras e más
obras são termos utilizados que fazem referência tanto ao comportamento humano,
quanto ao que é realizável em Deus “Porque
os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu,
pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela” ( Rm 13:3 ).
O que define quando o texto faz
referência a ‘boas ações’ e a ‘boas obras’? O contexto geralmente aponta qual a
idéia a se considerar. Na citação acima, temos que ‘boas obras’ é o fazer ‘boas
ações’, ou seja, o bem.
Este versículo contém elementos para
nortear o entendimento do leitor, porém, há vários versículos que não dispõe do
contexto para uma boa interpretação. Nestes versículos o que vale é o
posicionamento doutrinário adotado pelos apóstolos.
Um exemplo claro de que devemos nos
valer do posicionamento doutrinário adotado pelos apóstolos está neste
versículo que estamos analisando.
A análise que fizemos acima aponta os
seguintes posicionamentos doutrinários:
§ Sabemos que a salvação é por meio da
fé;
§ Que a salvação é dom de Deus;
§ Que a salvação não é por obras, para
que ninguém se glorie;
§ Que as boas obras são feitas em Deus;
§ Que não é possível ao homem realizar
a obra de Deus;
§ Basta ao homem crer no enviado de
Deus para se alcançar a salvação.
O versículo que estamos analisando
apresenta os elementos seguintes:
“Meus irmãos, que aproveita se alguém
disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?”
O versículo aponta que é necessário
ter fé e ter as obras. Em momento algum o apóstolo Tiago alude que a prática de
boas obras é o meio pelo qual se alcança a salvação. Em momento algum ele
afirma que boas obras auxilia a fé.
Observe que as obras pertencem à fé
(obras da fé). As obras da fé que Tiago faz alusão não podem ser confundidas
com ‘boas ações’.
Neste versículo o apóstolo não fala
de prática de boas obras, ou prática de boas ações. Ele fala de posse da fé e
posse das obras da fé.
É totalmente pertinente o que Tiago
escreveu e o que os outros apóstolos escreveram.
Primeiro porque a bíblia demonstra
que a fé é proveniente de Deus “E
pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis;
sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita
saúde” ( At 3:16 ; Rm 12:3 ; 1Co 12:9
).
Qualquer tipo de prática não torna o
homem agradável a Deus “Ora,
a lei não é da fé; mas o homem, que fizer estas coisas, por elas viverá” ( Gl 3:12 ).
Novamente o apóstolo Paulo excluiu
qualquer prática: “Mas,
àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é
imputada como justiça” (
Rm 4:5 ).
Não existe contradição alguma entre
Paulo e Tiago, pois Tiago não fala em pratica de obras, mas sim da posse da
posse das obras da fé.
Para ilustrar a idéia, Tiago
estabelece um exemplo:
Fé e Obras
15 E, se o irmão ou a irmã estiverem
nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, 16 E algum de vós lhes disser:
Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias
para o corpo, que proveito virá daí?
Estes dois versículos são bases para
um comparativo.
Perceba que os dois versículos não
constituem uma exortação à prática destas ações, pois a questão de alimentar o
faminto era algo já resolvido entre os cristãos, tão resolvido que o apóstolo
utiliza como exemplo para mostrar a inutilidade da fé sem as obras.
É uma constante em nossos dias
utilizar este comparativo como base para instar as pessoas a serem praticantes
de boas ações. Para isso utilizam o jargão: ‘Está escrito’! Está escrito que de
nada adianta visitar o irmão necessitado sem dar-lhe o necessário ao sustento.
Estes dois versículos são duas
perguntas com respostas prontas. O apóstolo já sabia da resposta dos leitores.
‘Meus irmãos, qual é o proveito…?’ (v. 14)
‘Se (…) qual o proveito disso?’ (v. 15- 16).
A resposta do versículo quatorze é
negativa, e a dos versículos quinze e dezesseis era de se esperar negativa.
É necessário dar alimento e roupa a
quem tem necessidade? Sim! Mas, a idéia em discussão vem do versículo seguinte:
17 Assim também a fé, se não tiver as
obras, é morta em si mesma.
Novo Testamento – 2ª impressão – Data
da edição: 1693, com introduções e resumos da edição de 1681 de Amsterdam, além
de Notas de Rodapé dos revisores – Impresso na Batávia (Ilha de Java). SBB.
O versículo inicia-se através de uma
comparação com o exemplo do versículo anterior. A leitura da idéia do versículo
anterior é de que nada adianta falar ao necessitado que se satisfaça sem
prover-lhe os meios para tanto. Assim também, ou seja, da mesma forma a fé.
Assim também a fé é sem efeito, ou
seja, em si mesma está morta, pois não tem o que lhe é próprio: as obras. As
obras são concernentes a fé, de sorte que se ela não tiver as obras, a morte
também lhe será própria.
Quais são as obras da fé?
A paciência é a obra perfeita da fé e
nela estão contidas todas as outras obras. Observe:
“Sabendo que a prova da vossa fé opera
a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais
perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma” ( Tg 1:3 -4).
Os cristãos deveriam ter a paciência,
a obra perfeita da fé!
O apóstolo não faz referência à
prática de obras, mas a posse da obra perfeita da fé.
É certo que a perseverança termina a
obra que teve início através da fé, e que nela estão inclusas todas as outras
obras.
O texto é claro: a fé quando provada
produz a paciência, a obra perfeita da fé.
A obra em discussão é a da fé, e não
a obra do homem que pratica boas ou más ações.
Sobre as questões comportamentais da
nova criatura (as boas obras), o apóstolo Paulo recomenda aos cristãos agirem
em conformidade ao ‘fruto do Espírito’ “Mas
o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de
Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos
em Espírito, andemos também em Espírito” (
Gl 5:22 -25).
O apóstolo Tiago ao falar das obras
da fé retrata as mesmas questões do apóstolo Paulo quando fala do fruto do
Espírito. As obras da fé e o fruto do Espírito são questões pertinentes ao
homem interior, que devem influenciar o comportamento deste mesmo homem nas
suas relações com o mundo “Se
vivemos em Espírito, andemos também em Espírito. Não sejamos cobiçosos de
vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros” ( Gl 5:25 -26).
Observe que o fruto é do Espírito da
mesma forma que as obras são da fé. Se tal fé não possuiu as obras que dela
decorrem, é morta em si mesmo. Aquele que possui a fé deve também estar de
posse das obras que a fé produz “Meus
irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras?
Porventura a fé pode salvá-lo?” (v.
14).
As obras que o crente deve ter posse
são as da fé, e difere das boas ações que os cristãos devem efetivamente
praticar (diferente de ter).
É fácil visualizarmos que as obras da
fé não dizem respeito às questões comportamentais (obras do homem) quando
compreendemos que todos os homens, sejam salvos ou não, podem praticar boas
ações.
De outra forma, é fácil verificarmos
que as boas obras dizem respeito àqueles que vêm para Cristo por meio da fé, e
que tais obras somente se realizam em Deus ( Jo 3:21 ; Is 26:12 ; Ef 2:10 ). Ou
seja, não é possível àqueles que não aceitaram a Cristo como salvador terem
boas obras ou o fruto do Espírito. Primeiro porque não são nascidos do
Espírito; Segundo porque as boas obras são feitas em Deus.
Porém, há um outro aspecto a se
considerar com relação àqueles que estão em Cristo: o homem regenerado realiza
as boas obras por estarem em Deus por meio de Jesus, conforme lemos em
Isaias “SENHOR, tu nos darás a paz, porque tu
és o que fizeste em nós todas as nossas obras” ( Is 26:12 ); porém, este mesmo homem realiza boas e más ações, e
estas serão provadas como pelo fogo quando do Tribunal de Cristo ( 2Co 5:10
) “E, se alguém sobre este fundamento
formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, A
obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo
será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que
alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de
alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo
fogo” ( 1Co 3:12 -15).
A Nova Criatura:
§ É nascida de Deus “O que é nascido do
Espírito é espírito” (
Jo 3:6 );
§ As boas obras são feitas em Deus “… a fim de que as suas obras
sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (
Jo 3:21 );
§ As boas obras foram preparadas por
Deus “…criados em Cristo Jesus para as boas
obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” ( Ef 2:10 );
§ Porém, a nova criatura pode praticar
boas e más ações “…
cada um receberá segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” ( 2Co 5:10 );
§ E será salvo “…mas o tal será salvo, todavia
como pelo fogo” (
1Co 3:12 -15);
§ Ele é salvo por meio da fé e deve
estar de posse das obras da fé. É espiritual e deve andar (comportar) segundo o
Espírito ( Gl 5:25 ).
A Velha Criatura
§ É nascida da semente de Adão “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3:7), e precisa nascer
novamente, da semente incorruptível, a palavra de Deus;
§ As suas obras são más “…os homens amaram mais as trevas do
que a luz, porque as suas obras eram más” (
Jo 3:19 );
§ Fazer o mal está ligado à natureza, e
não as ações do homem não regenerado “Porventura
pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Tampouco podeis
vós fazer o bem, acostumados que estais a fazer o mal” ( Jr 13:23 );
§ A velha criatura pode fazer boas e
más ações, porém não pode realizar o bem “Não
há quem faça o bem, não há nem um só” (
Rm 3:12 );
§ Como a velha natureza está vendida ao
pecado como escrava, por mais que se tenha vontade, não realizará o bem “…com efeito o querer está em mim, mas
não consigo realizar o bem” (
Rm 7:18 ); Por mais que se queira fazer o bem é uma impossibilidade que reside
na natureza decaída, que é escrava do pecado;
§ Por mais que pratiquem boas ações,
jamais a velha criatura verá o reino dos céus, pois sobre ela pesa uma
condenação “…quem
não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de
Deus” ( Jo 3:18 );
§ Por mais que pratiquem boas ações, a
velha criatura não possui a fé e as obras da fé. Ela não vive no Espírito e não
pode andar em Espírito ( Gl 5:25 ).
A Perseverança
A carta de Tiago não foge do tema que
está na introdução. Na introdução fica claro que o tema da carta é: “perseverança, obra perfeita da fé” ( Tg 1:2 -4).
Os outros escritores também fizeram
referência à perseverança, e eles têm a mesma idéia sobre o seu valor.
Paulo disserta sobre o amor em I Co
13, e de maneira semelhante Tiago disserta quase que exclusivamente sobre a
perseverança em sua carta.
Sobre a fé sabemos que ela foi
implantada no cristão através da palavra da verdade, que é poderosa para salvar
as nossas almas ( Tg 1:21 ). O apóstolo Pedro nos informa que o objetivo fim da
nossa fé é salvação das nossas almas (1Pe 1:9).
Assim como Pedro, Tiago também nos
informa que a fé é provada (1Pe 1:7 ; Tg 1:3).
Veja nas referências abaixo a
harmonia de idéia entre Pedro e Tiago:
Aquele que é perseverante em observar
a lei perfeita, a da liberdade, receberá a coroa da vida (1Pe 1:22 -23; Tg 1:21
e 25). Compare os textos.
A segunda carta de Pedro tem início
semelhante à carta de Tiago. Pedro cumprimenta com graça e paz todos aqueles
que receberam a fé por meio do conhecimento de Deus, que deu tudo que diz
respeito a vida e a piedade. A essa fé alcançada deveriam diligentemente
acrescentar as obras da fé.
O apóstolo Pedro enumera as obras da
fé: “E vós também, pondo nisto mesmo toda a
diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, E à
ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, E à
piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós
houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no
conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas
coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos
seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a
vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque
assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo” (
2Pe 1:5 -11; Gl 5:22 -23 ; Tg 3:17 ).
Observe que os elementos que se deve
ter acrescido à fé não diz de afazeres (prática de ações ou obras). Não são os
afazeres que se deve acrescentar a fé, antes os cristãos deve ter a posse da
fé, e somado a ela estas outras virtudes, produzidas por meio da fé (bondade,
conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor). Se
a fé produz (obra) a paciência, da mesma forma ela produz as virtudes
enumeradas acima.
Aquele que está de posse das virtudes
que decorrem da fé não estará ocioso, mas se aplicará em produzir boas ações no
conhecimento de Cristo Jesus.
Da mesma forma, Tiago receita aqueles
que sentissem falta de alguma coisa, que pedissem a Deus sabedoria ( Tg 1:5 ),
que a todos concederia do alto ( Tg 1:17 ), a sabedoria que é pura, pacífica,
moderada, tratável, misericordiosa e de bons frutos, imparcial e honesta ( Tg
3:17 ).
Novo Testamento – 2ª impressão – Data
da edição: 1693, com introduções e resumos da edição de 1681 de Amsterdam, além
de Notas de Rodapé dos revisores – Impresso na Batávia (Ilha de Java). SBB.
Tendo posse desta sabedoria, o
cristão tem os meios para mostrar através do seu bom comportamento em mansidão
de sabedoria as suas obras. Se o cristão é completo, tem fé e obras, deve por
meio do seu bom procedimento mostrar as suas obras em mansidão.
§ É a perseverança que termina a obra
que teve início na fé ( Tg 1:3 ) – “Porque
necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus,
possais alcançar a promessa” (
Hb 10:36 ). É preciso considerar que a vontade de Deus é que se creia naquele
que Ele enviou. Ou seja, primeiro se crê na mensagem do evangelho e para que se
possa alcançar a promessa precisa ter a perseverança, a obra perfeita da fé.
§ Não há como dissociar perseverança e
fé ( Tg 1:12 ) – “Para
que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e
paciência herdam as promessas” (
Hb 6:12 ). A carta de Tiago trabalha esta idéia desde o início ( 2Ts 1:4 ).
§ A carta de Tiago trata do que se deve
ter e acrescentar à fé – “E
não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a
tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a
esperança. Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos” ( Rm 5:3 -4; Rm 8:25 ). Tiago
trata do comportamento do cristão enquanto com perseverança se aguarda a
promessa.
§ A salvação se opera através da obra
perfeita de fé – “Mas,
se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; se somos consolados,
para vossa consolação é, a qual se opera suportando com paciência as mesmas
aflições que nós também padecemos” (
2Co 1:6 ). A salvação se opera suportando com paciência as mesmas aflições que
sobrevieram aos apóstolos.
A obra que a fé opera (produz) está
relacionada ao homem interior, e o capítulo um bem demonstra esta verdade.
18 Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu
tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha
fé pelas minhas obras.
Novo Testamento – 2ª impressão – Data
da edição: 1693, com introduções e resumos da edição de 1681 de Amsterdam, além
de Notas de Rodapé dos revisores – Impresso na Batávia (Ilha de Java). SBB.
Diante da afirmação anterior, alguém
poderia contradizer o apóstolo dizendo: Tu tens a fé, ou seja, a afirmação é o
mesmo que por em descrédito o argumento do apóstolo que acabou de dizer que a
fé sem as obras é morta.
A resposta do apóstolo é: “…e eu tenho as obras:”, ou seja, ‘… e eu (que ou digo) tenho as obras’. Este alguém que diz: “Tu tens fé”, estaria querendo apontar um
possível erro conceitual do apóstolo, porém, Tiago reafirma o seu
posicionamento: “E
eu tenho obras”.
O apóstolo Tiago põe a prova o que
estava afirmando: “mostra-me
a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”.
O apóstolo não descarta a fé, pois o
seu discurso é para que se tenha ‘as obras’ da fé. Observe que as obras é o
elemento essencial da fé, pois como alguém sem as obras da fé poderia
demonstrar a fé? “Mostre-me
a tua fé sem as tuas obras”.
Tiago se propõe a demonstra a sua fé
por intermédio de suas obras. Como a paciência é a obra perfeita da fé, é
facilmente demonstrável a fé por meio do que ela produz.
A Fé Morta
19 Tu crês que há um só Deus; fazes
bem. Também os demônios o creem, e estremecem.
A crença em um só Deus é importante,
porém pode ser inócua tal crença se não se fizer acompanhar as obras.
De nada adianta dizer crer em Deus se
o indivíduo não crê no testemunho que Ele deu acerca do seu Filho. As
Escrituras é um testemunho vivo que Deus deu do seu Filho, e aqueles que creem
em Cristo realizam a ‘obra’ exigida por Deus, pois Cristo mesmo disse: – ‘A obra
de Deus é está: que creiais naquele que ele enviou!’
20 Mas, ó homem vão, queres tu saber
que a fé sem as obras é morta?
A insensatez de alguns em compreender
a mensagem do apóstolo sobre as obras da fé, leva o apóstolo a dar exemplos:
21 Porventura o nosso pai Abraão não
foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
A fé de Abraão foi demonstrada na
perseverança em levar o seu único filho até o altar de sacrifício. Sobre este
aspecto o escritor aos Hebreus assim escreveu: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque,
quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu
unigênito” ( Hb 11:17 ).
Abraão não se fez de rogado quando
lhe sobreveio a provação, permanecendo firme.
Abraão foi justificado quando creu em
Deus, porém a sua fé provada se demonstrou mais preciosa que o ouro, e as suas
obras testemunharam acerca de sua fé “Para
que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é
provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus
Cristo” ( 1Pe 1:7 ).
Em Gn 15:6 a fé de Abraão foi lhe
imputada para justiça, ou seja, Deus justificou a Abraão, e sobre este aspecto
Paulo afirma: “Pois,
que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a
graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que
justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” ( Rm 4:3 -5).
O aspecto que Paulo comenta é o da
declaração divina acerca do homem: aquele que crê que Deus justifica o ímpio,
esta fé é imputada como justiça. Abraão não tinha praticado nenhuma obra, mas
creu. Ele estava de posse da fé que veio por meio da palavra de Deus, que lhe
fez a promessa.
Tiago comenta Gn 22, onde a ação de
Abraão confirma a sua fé em Deus. Neste ponto é as obras de Abraão que o
justifica, ou seja, são as obras que dizem algo à respeito do pai Abraão. Em
Gênesis quinze, Deus declara algo sobre Abraão, e em Gênesis vinte e dois, as
obras dizem algo acerca do patriarca “…pelas
obras justificado…” (v.
21).
22 Bem vês que a fé cooperou com as
suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
Através do exemplo anterior o
apóstolo espera que o leitor insensato possa ver que a fé coopera com as obras,
e que pelas obras a fé é aperfeiçoada. Ou seja, a prova da fé leva ao
aperfeiçoamento da fé, resultando em obras pertinente à fé.
23 E cumpriu-se a Escritura, que diz: E
creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o
amigo de Deus.
Tiago citou dois pontos distintos da
Escritura: Gn 15:6 , da justificação pela fé, e 2Cr 20:7 , onde Jeosafá em pé
na congregação nomeia Abraão de “amigo de Deus”.
A escritura cumpriu-se na seqüência
exata e em dois pontos distintos: Deus justificou a Abraão ( Gn 15:6 ), e a sua
perseverança na fé, apesar da prova, concedeu-lhe a dádiva de ser chamado de
amigo de Deus “Porventura,
ó nosso Deus, não lançaste fora os moradores desta terra de diante do teu povo
Israel, e não a deste para sempre à descendência de Abraão, teu amigo?” ( 2Cr 20:7 ).
O cumprimento da Escritura se dá em
dois momentos: Quando Deus justifica o crente Abraão e ele persevera mesmo
quando a sua fé foi provada, o que lhe deu o título de amigo de Deus posteriormente.
Se Abraão não estivesse de posse da obra perfeita da fé,a perseverança, jamais
teria recebido o título de amigo de Deus.
24 Vedes então que o homem é
justificado pelas obras, e não somente pela fé.
Este versículo demonstra que o homem
é justificado pelas obras da fé. Ou seja, o homem não é justificado somente
pela fé, mas pela fé e pelas obras que esta fé produz ( Tg 1:4 ).
25 E de igual modo Raabe, a meretriz,
não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os
despediu por outro caminho?
A ação de Raabe em esconder os espias
de Israel demonstra de maneira clara que ela havia crido em Deus. O que ela
ouviu acerca do Deus de Israel foi o bastante para que ela alcançasse a fé, que
logo em seguida foi posta à prova ( Js 2:1 -24).
26 Porque, assim como o corpo sem o
espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.
Tiago conclui o pensamento com uma
comparação. Assim como o corpo sem o espírito está morto, a fé sem obras é
morta.
A fé sem as suas obras é morta. Não há
referência as obras ou ações humanas como meio para se alcançar o favor de
Deus.
O favor de Deus foi demonstrado,
sendo que Cristo foi morto, e éramos ainda pecadores. Ele morreu isto porque
não havia como o homem realizar algo que pudesse mudar sua realidade.
Agora que já fomos reconciliados com
Deus através da morte de Cristo, haveria algo ainda a ser feito para permanecer
com tal dádiva? Não!
O que o apóstolo demonstra é que
devemos ter a fé e estar de posse das obras da fé.
“Cheguemos, pois, com confiança ao
trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de
sermos ajudados em tempo oportuno” (
Hb 4:16 ).
Após cremos em Deus, devemos nos
achegar ao trono da graça com confiança, certos de que em tempo oportuno
acharemos graça e misericórdia.
O aproximar do trono da graça com
confiança é uma das obras da fé, da mesma forma que o é reter firmemente a
nossa confissão ( Hb 4:14 ).
As obras da fé são aspectos que se
manifestam no homem interior, onde ele lança mão da esperança proposta. Ele
possui essa consolação como ancora firme e segura da alma.
Por várias vezes Tiago chama os
cristãos de irmãos.
Quando ele chama o lugar de reunião dos
cristãos de ‘sinagoga’ (com base no texto grego Tg 2:2 ), é porque o conceito
de igreja não se estendia ao templo, como o é em nossos dias.
As várias referências que a bíblia
registra acerca da igreja descrevem mais um reunião de pessoas do que o templo
onde estavam se reunindo. Para Paulo a igreja era a união de gentios e judeus
em torno do nome de Cristo ( Ef 3:10 ).
O ajuntamento dos cristãos constitui a
igreja, porém o local pode ser denominado de templo, igreja ou sinagoga. À
época de Tiago o termo mais preciso para o local de ajuntamento era ‘sinagoga’.
Neste aspecto o apóstolo João escreveu
no Apocalipse desta maneira: “Conheço
as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que
se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás” ( Ap 2:9 ); “Eis que eu farei aos da sinagoga de
Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que
venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo” ( Ap 3:9 ). O apóstolo escreve ao
anjo das igrejas da Ásia, porém havia algumas pessoas que se diziam judias, mas
na verdade eram sinagoga de Satanás. Ou seja, aqueles que se arrogavam no
direito de se dizerem judeus queriam avocar para si a filiação divina, mas não
passavam de sinagoga (templo) de Satanás.
As expressões judaicas que a carta
apresenta decorrem de uma vida inteira voltada para o judaísmo. Tal
característica não determina precisamente que os destinatários da carta também
devam ser todos judeus convertidos ao cristianismo.
O tema da carta não é uma questão
própria e exclusiva dos judeus convertidos, mas de todos quantos creem em Cristo:
perseverança!
A carta não apresenta temas como
idolatria e escravidão pelo simples fato de os destinatários serem cristãos.
Com relação a idolatria já havia recomendações proveniente do concílio de
Jerusalém ( At 15:20 ).
Não entraremos nas questões pertinentes
às hipóteses das datas em que foi escrita a epístola, porém a carta não faz
menção a cristãos gentios ou judeus por ser unânime entre os apóstolos desde o
concílio em Jerusalém que os judeus e gentios constituem a igreja de Cristo (
At 15:14 ).
Qualquer desvio deveria ser prontamente
reprimido ( Gl 2:14 ). Quem presenciou a repreensão de Paulo ou que ouviu falar
de tal acontecimento, já estava mais do que alertado quanto a qualquer tipo de
dissensão entre povos no seio da igreja.
As argumentações teológicas em Tiago
são as mesmas que permeiam as cartas de Paulo, como já vimos em ( Tg 1:17 -18).
Aliado a está característica, não dá
para afirmar que a carta de Tiago foi escrita antes dos evangelhos. A linguagem
dos evangelhos é voltada para fatos históricos, com exceções ao evangelho de
João.
Tiago não faz alusão ao concílio de
Jerusalém, porém tal fato não pode ser utilizado para tentar precisar a data da
carta, visto que tal fato não é pertinente ao tema em questão.
Há quatro indivíduos identificados como
Tiago no novo testamento. Podemos sugerir qual deles seria o autor da carta,
porém não é possível afirmar categoricamente.
O que é plenamente observável a
respeito do escritor da carta é que ele não precisar defender a sua posição no
seio da igreja à maneira de Paulo. Bastou a simples identificação: “Tiago, servo de Deus, e do Senhor
Jesus Cristo…” (Tg 1:1).
Tiago 3 – Os perfeitos
O tropeçar em muitas coisas não
suspende o direito a salvação, uma vez que foi alcançado pela fé. A salvação
decorre da filiação divina por meio da fé em Cristo aparte das questões
comportamentais. A salvação não é conquistada através de bom ou mau
comportamento e também não é mantida através de comportamento. A salvação é pela fé (salvação) e o fim objetivo da nossa fé se
alcança com a perseverança.
A Língua
1 Meus irmãos, muitos de vós não sejam
mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
Tiago dá um conselho a alguns irmãos:
não sejam muitos de vós mestres. Por que ele dá esse conselho? Alguns queriam
ser mestre, porém não tinham recebido tal capacitação ( Ef 4:10 -11).
As pessoas que aspiravam a posição de
mestre não atinavam que os mestres receberão juízo na condição de mestre e nem
da necessidade de estar enquadrado em alguns quesitos que Tiago discorre neste
capítulo.
O juízo que Tiago faz referência será
estabelecido no Tribunal de Cristo ( Rm 14:10 ; 2Co 5:10 ), visto que ele se
inclui entre aqueles que receberão maior juízo (implicitamente Tiago se
posiciona como mestre), e por ser certo que ele tinha certeza de sua salvação.
O juízo do Grande Trono Branco não é destinado à igreja “Meus irmãos…” (v. 1).
Os versículos que se seguem
apresentam os motivos pelas quais os irmãos não deveriam aspirar a posição de
mestres com o único fito de se vã gloriar.
2 Porque todos tropeçamos em muitas
coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também
refrear todo o corpo.
O apóstolo chama a atenção para algo
que não devemos ignorar: todos tropeçam em muitas coisas! Tiago não exclui
nenhum dos irmãos. Todos nós tropeçamos em muitas coisas.
O tropeçar deste versículo difere da
ideia que Paulo apresenta em Romanos “Todos
se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há
nem um só” ( Rm 3:12 ). Isto
porque o que Paulo apresenta diz respeito a todos que ainda não tiveram um
encontro com Cristo.
A carta aos Hebreus demonstra o
desejo do escritor em não tropeçar em coisa alguma, e para isso solicita aos
cristãos que orem em seu favor “Orai
por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo
querem portar-se honestamente” (
Hb 13:18 ). O portar-se honestamente em tudo deve ser o desejo de todo cristão,
porém, ele deve ter consciência de que falhará em muitas coisas.
O tropeçar em muitas coisas não
suspende o direito à salvação, uma vez que a salvação é alcançada pela fé. A
salvação decorre da filiação divina por meio da fé em Cristo, aparte das
questões comportamentais. A salvação não é conquistada através de bom ou mau
comportamento e também não é mantida através do comportamento.
A salvação é pela fé (evangelho), e o
fim objetivo da nossa fé se alcança com a perseverança.
“Se alguém não tropeça (em+a) palavra,
o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo”
Após demonstrar que todos os cristãos
estão sujeitos a erros, tanto comportamentais quanto conceituais, o apóstolo
Tiago estipula uma condição para alguém ser perfeito: se não tropeçar em
palavra, o homem é perfeito.
Tropeçar ‘em palavra’ não é falar
palavras torpes, fofocar, mal dizer, mentir, etc. O ‘tropeçar em palavra’ não tem
relação com o que é abordado no verso 5 ( Tg 3:5 ).
Se ‘tropeçar em palavra’ fosse falar
palavras torpes, fofocar, mentir, amaldiçoar, o apóstolo não teria colocado o
substantivo ‘palavra’ no singular “Se alguém não tropeça em palavra(s) …”. Quando alguém mente, fofoca ou amaldiçoa,
profere várias palavras, diferente de tropeçar ‘em’ a ‘palavra’. Sobre qual
‘palavra’ o apóstolo fez referência?
A palavra do verso 2 do capítulo 3
diz da palavra da verdade, o que foi abordado desde o início da epístola:
“Segundo a sua vontade, ele nos gerou
pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas” ( Tg 1:18 );
“Por isso, rejeitando toda a imundícia
e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a
qual pode salvar as vossas almas” (
Tg 1:21 );
“E sede cumpridores da palavra, e não
somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” ( Tg 1:22 );
“Porque, se alguém é ouvinte da
palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu
rosto natural” ( Tg 1:23 );
Ou seja, desde o início da epístola o
apóstolo demonstrou que os cristãos foram gerados pela palavra da verdade com o
objetivo de serem primícias das criaturas de Deus (perfeitos). Ele também
demonstra que é necessário rejeitar toda a imundície e malícia, recebendo com
mansidão a palavra enxertada que salva o homem. O cristão é aquele que cumpre a
palavra, e não somente ouvinte, ou seja, o ouvinte diz de quem se envolve em
falsos discursos ( Tg 1:23 ).
A palavra da verdade é poder para
criar filhos de Deus ( Jo 1:12 ), porém, não tem efeito sobre aqueles que não
se exercitam nela “Ora,
o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz” ( Tg 3:18 ). Ou seja, da mesma
forma que o espelho não tem poder para mudar o homem que se utiliza do seu
reflexo para contemplar o seu rosto natural, não terá nova vida aqueles que não
atentam bem para a lei perfeita, e nela perseveram ( Tg 1:25 ).
Todos que creem na palavra tornam-se
perfeitos, pois alcançou a salvação em Cristo ( 1Co 2:6 ; 2Co 13:11 ). Ou seja,
Tiago estava demonstrando que quem não tropeça na (em+a) palavra alcançou a perfeição, isto porque
muitos desejavam serem mestres, porém não compreendiam a palavra que concede a
perfeição em Cristo “Querendo
ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” ( 1Tm 1:7 ); “Instrutor dos néscios, mestre de
crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei” ( Rm 2:20 ).
Muitos buscavam somente a posição de
mestre por vã-gloria, o que promoveria somente a inveja, o sentimento faccioso,
a confusão e toda má obra ( Tg 3:16 ). Quem quisesse ser sábio e entendido,
condição essencial para ser mestre, bastava ter um bom procedimento ( Tg 3:13
).
Os perfeitos manejam bem a palavra da
verdade (poder de Deus), estão plenos (cheios) do poder de Deus ( Rm 1:16 ).
Quem é perfeito se revestiu de toda a armadura de Deus ( Ef 6:10 , 13 -17), e
não mais vive guiado pelas paixões humanas ( Gl 5:24 ; 2Tm 2:22 ), não tem
falta de coisa alguma. Perfeito: maduro e completo ( Tg 1:4 ).
3 Ora, nós pomos freio nas bocas dos
cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.
O apóstolo passa a exemplos
figurativos. Os exemplos apontam o contraste entre o tamanho e força do cavalo
e a pequenez dos freios que os controlam.
4 Vede também as naus que, sendo tão
grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para
onde quer a vontade daquele que as governa.
Ele apresenta o contraste entre o
tamanho das embarcações e o leme que as orienta.
5 Assim também a língua é um pequeno
membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo
incendeia.
“Assim também…”, ou seja, alguns dos
elementos (leme e freio) que foram apresentados nas ilustrações anteriores se
comparam proporcionalmente a língua e o efeito devastador que ela pode causar.
O apóstolo evidencia o quanto é importante ter a língua sob controle.
Tiago apresenta uma grande verdade: a
língua é um pequeno membro que se gloria de grandes coisas! Ou seja, muitos
dentro da igreja se gabavam de serem mestres, mesmo quando não tinham esse dom.
Porém, é difícil que alguém venha a se gabar das funções que aparentemente são
pequenas.
Um bom exemplo de controle sobre a
língua é observável em Paulo: “Se
convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza. O Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é eternamente bendito, sabe que não
minto. Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pós guardas às portas da
cidade dos damascenos, para me prenderem. E fui descido num cesto por uma
janela da muralha; e assim escapei das suas mãos” ( 2Co 11:30 -33).
Paulo não se gabou de grandes coisas,
antes, sentia-se lisonjeado por ter fugido do rei Aretas em um cesto.
Muitos em nossos dias se gabam de
grandes feitos, grandes ajuntamentos, grandes mensagens. Porém, este é um feito
próprio da língua quando sobre ela não se tem domínio.
Paulo bem que podia gabar-se do
livramento que Deus concedeu a ele e a Silas, mas preferiu gloriar-se (como que
em um ato de loucura) das suas fraquezas “E,
perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros
presos os escutavam. E de repente sobreveio um tão grande terremoto, que os
alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram
soltas as prisões de todos” (
At 16:25 -26).
Apenas uma fagulha de fogo pode
incendiar um bosque inteiro.
Iniquidade
6 A língua também é um fogo; como mundo
de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o
corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.
A língua é comparada a uma fagulha
que incendeia um bosque. Por vir especificada ‘um fogo’, demonstra que ela não
é fogo, mas é comparável ao fogo por ter a capacidade de inflamar.
Embora esta carta traga muitos
conselhos, não devemos ler e analisar seus textos como se lê e analisa o livro
de provérbios. Primeiro porque provérbios é um livro, e o texto de Tiago é uma
epístola.
As diferenças entre carta e livro
acabam por influenciar a escrita e a linguagem utilizada pelo autor, visto que
a linguagem deve ser própria ao público alvo.
O público que se destina um livro é
abrangente, universal, enquanto que uma carta destina-se a um público restrito
(os destinatários). Ou seja, uma carta tem o cunho pessoal, enquanto um livro
se guia pela impessoalidade e universalidade.
O livro de provérbios destina-se a
humanidade e a carta de Tiago aos cristãos.
O tema ‘língua’ não tem início neste
capítulo. Este tema vem sendo desenvolvido desde o primeiro capítulo, o que
diferencia a abordagem de Tiago da abordagem feita em Provérbios. Em Provérbios
geralmente uma ideia se conclui em apenas um versículo.
Como a língua é um pequeno membro que
se gaba de grandes coisas, todos os cristãos devem ter o cuidado de gloriar-se
apenas em Deus ( Jr 9:24 ; 1Co 1:31 ; 2Co 10:17 ), pois no Senhor não há
diferenças sócio-econômicas. Ou seja, o irmão de condição humilde deve gloriar-se
na sua alta posição no Senhor e o rico na sua insignificância ( Ef 1:9 -10).
Porém, ao ingressar na igreja, tanto
o pobre quanto o rico buscam o que entendem ser a melhor posição: querem ser
mestre, doutores, pastores, etc. Esquecem que para ser algo diante do Senhor,
devem deixar tudo, principalmente os conceitos e conhecimentos do mundo “E, na verdade, tenho também por perda
todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória,
para que possa ganhar a Cristo…” (
Fl 3:8 ).
Aquele que procura ser mestre somente
como meio para se gabar, sem ter a chamada para tal ministério, poderia causar
um grande prejuízo a igreja de Deus, visto que poderia introduzir algum erro
conceitual e a devastação seria semelhante ao pequeno fogo em uma floresta.
Observe que o homem é atraído e
engodado pela sua própria concupiscência. Por desejar ardentemente gabar-se de
grandes feitos, aplica-se em alcançar grandes posições. Aquele que é guiado
pela concupiscência, quando alcança uma posição de destaque, os deslizes com as
palavras e os erros conceituais são inevitáveis (isto porque, todos nós
tropeçamos em muitas coisas, e quem não tropeça em palavras é perfeito e capaz
de refrear todo o corpo); e o que este homem estará propagando com a sua língua
será como o fogo em uma floresta: devastador. A posição de mestre a alguém que
não foi comissionado para ensinar potencializa o efeito destruidor do erro.
Para evitar tão grande mal, todo
homem deve estar pronto a ouvir e ser tardio em falar, a exemplo daqueles que,
diante da tentação, diziam de maneira equivocada que estavam sendo tentados
pelo Senhor ( Tg 1:13 -17). Qual não seria o estrago no seio da igreja se
alguém com este erro conceitual viesse a alcançar a posição de mestre?
Aquele que é enganado pelo seu
próprio coração acredita que é religioso. Estes geralmente não controlam a
língua, estão prontos a falar, são tardios em ouvir, e acabam lançando mão da
ira ( Tg 1:16 ).
“…como mundo de iniquidade, a língua
está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso
da natureza, e é inflamada pelo inferno”
O versículo acima é um exemplo
prático do exposto no capítulo um, versículo quatorze e quinze. Compare:
“Mas cada um é tentado, quando atraído
e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” ( Tg 1:14 -15).
Cada pessoa é tentada pela sua
própria concupiscência, ou seja, primeiro ela é atraída e engodada pelos seus
próprios desejos. Quando estes desejos são levados a efeito, dá-se à luz o
pecado, e o fim dele é a morte.
Da mesma maneira, o homem que não
cumpre com o disposto no versículo dezenove do capitulo um, acaba por se gabar
de grandes coisas ( Tg 3;5 ). Para fazer jus ao que foi propalado através da
língua incontida, este homem vai se sentir atraído e desejar as ‘melhores’
posições na igreja.
Como todos tropeçam em muitas coisas,
aquele que se gaba e alcança uma posição de destaque, irá tropeçar em palavras.
Desta forma, a língua deste incauto será como fogo. Será como mundo de
iniquidade situada entre os seus membros.
Como o que contamina o homem é o que
procede do seu coração “Mas,
o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem” ( Mt 15:18 ); “Nada há, fora do homem, que, entrando
nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem” ( Mc 7:15 ), a língua é o
veículo que evidencia o que está no coração, o que contamina todo o corpo.
Tiago e Jesus falam do mesmo problema
que afeta o coração da humanidade. Este fala do princípio pernicioso que
contamina o homem (o pecado que tem domínio sob o coração do homem sem Deus),
enquanto aquele fala da língua, membro que torna evidente o princípio
pernicioso que está no coração do homem.
Tiago dá mais um alerta: a língua
pode acelerar o processo de destruição do homem, que sem a intervenção da
língua, seria natural, ou seja, seria conforme o curso próprio da natureza.
Isto porque o curso da natureza do homem é a morte, e a língua tem a capacidade
de inflamar; ela acelera o curso da natureza. Um exemplo desta verdade é o
recomendado por Paulo: “Não
neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo” ( 1Tm 3:6 ).
A soberba leva a queda, uma entrada
súbita na condenação do diabo. E, o que resta a quem teve inflamado o curso da
natureza pela língua? Ser inflamada pelo inferno!
Onde há pecado, há morte e a justiça
de Deus não opera, o que resta é o fogo do inferno ( Tg 1:20 e Tg 3:6 ).
Fonte Doce, Água Doce
7 Porque toda a natureza, tanto de
bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e
foi domada pela natureza humana;
Toda a natureza é dominada pelo homem
porque Deus lhe deu o domínio “E
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e
sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a
terra” ( Gn 1:26 ).
8 Mas nenhum homem pode domar a língua.
É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
Apesar da condição anterior (v. 7), o
homem não pode domar a língua. Observe que Tiago aponta uma impossibilidade:
nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode controlar; está
cheia de peçonha mortal.
Se pensarmos somente na língua, é
difícil explicarmos este verso. Porém, quando verificamos que o coração do
homem e enganoso “Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” ( Jr 17:9 ); e que, o que
procede do coração do homem é que contamina “E
dizia: O que sai do homem isso contamina o homem” ( Mc 7:20 ), percebemos que a abordagem de Tiago refere-se ao
posicionamento de Jesus: “Raça
de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em
abundância no coração, disso fala a boca” (
Mt 12:34 ).
É impossível ao homem por si só mudar
a natureza do seu coração “Porventura
pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis
vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” ( Jr 13:23 ). Mas, o que é impossível aos homens é possível a
Deus! Através da regeneração Deus cria um novo coração e um novo homem e lhe dá
uma nova vida.
A ordem divina sempre foi: “Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso
coração, e não mais endureçais a vossa cerviz” ( Dt 10:16 ). Mas, como fazer tal circuncisão? É possível ao homem
fazer tal incisão?
Ora, o é que impossível aos homens, é
possível a Deus. A circuncisão do coração só é possível quando se está em
Cristo “No qual também estais
circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos
pecados da carne, a circuncisão de Cristo” (
Cl 2:11 ).
Tal circuncisão é pela fé “Mas a justiça que é pela fé diz assim:
Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a
Cristo.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração;
esta é a palavra da fé, que pregamos, A saber: Se com a tua boca confessares ao
Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz
confissão para a salvação” (
Rm 10:6 -10).
Seria impossível a boca (língua)
fazer a confissão verdadeira para a salvação caso não houvesse a circuncisão de
Cristo. Só em Cristo é que o homem recebe um novo coração “E lhes darei um só coração, e um
espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e
lhes darei um coração de carne” (
Ez 11:19 ).
9 Com ela bendizemos a Deus e Pai, e
com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
Tiago evidência a incoerência de
alguns: bendizem a Deus e amaldiçoam a sua criatura.
10 De uma mesma boca procede bênção e
maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
Isto quer dizer que de uma mesma
boca, através de uma mesma língua, um coração deita benção e maldição.
Não é conveniente a cristãos que
procedam desta maneira. Caso alguém questionasse o fato de não ser próprio aos
irmãos falarem mal uns dos outros Tiago passa aos exemplos e motiva a sua
argumentação.
11 Porventura deita alguma fonte de um
mesmo manancial água doce e água amargosa?
As perguntas de respostas prontas:
Não! Cada fonte deita a água que lhe é própria. Mas, uma fonte de um mesmo
manancial só pode produzir um único tipo de água.
12 Meus irmãos, pode também a figueira
produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água
salgada e doce.
O que é impossível às plantas é
impossível às fontes de um mesmo manancial “Porque
não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto” ( Lc 6:43 ).
O apóstolo segue fazendo uma
aplicação prática do seu ensino.
13 Quem dentre vós é sábio e entendido?
Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
Esta pergunta é uma ‘pegadinha’.
Aquele que responder: “Eu”, é o mesmo que queria ser mestre, e que Tiago
procura dissuadir do seu intento ( Tg 3:1 ). Aquele que desejava ser mestre, ao
menos se considerava sábio e entendido.
Pois bem, se houvesse alguém que se
considerava sábio e entendido deveria demonstrar através de um bom trato
(procedimento), as suas obras em mansidão de sabedoria.
Ou seja, aquele que não tivesse as
suas obras demonstradas em bom procedimento, tinha em si amarga inveja e um
sentimento faccioso.
É necessário observar os três
elementos que compõe o versículo: “Mostre
pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria”.
§ Mostre pelo seu bom trato – (trato: tratamento; ajuste,
pacto, tratado; convivência; passadio, alimentação; procedimento, modos, etc).
Aquele que se sentisse sábio e entendido deveria ter uma boa convivência, bons
modos e procedimento;
§ As suas obras – ‘as obras’ constituem o
motivo pela qual alguém se gaba; observe que ‘bom trato’ não é ‘boas obras’
(aquelas que são feitas em Deus), e que ‘boas obras’ também não é ‘as suas
obras’, que o versículo faz referência; a pessoa que estivesse se gloriando
deveria mostrar a sua realização (suas obras);
§ Em mansidão de sabedoria – Porém, deveria demonstrar as
suas obras segundo a sabedoria descrita no versículo dezessete: em mansidão de
sabedoria que do alto vem.
A
Inveja: Obra da Carne
14
Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos
glorieis, nem mintais contra a verdade.
O problema encontra-se no coração do
homem e a língua torna evidente este mal “…sentimento
faccioso em vosso coração…”.
Este versículo demanda um exercício
de interpretação de texto para uma melhor compreensão. Observe:
§ Uma pergunta – “Quem entre vós é sábio e entendido?”. O contexto nos mostra que só
quem quer ser mestre se considera sábio e entendido;
§ Uma determinação a quem respondesse
afirmativamente que é sábio e entendido – “Mostre pelo seu bom trato as suas
obras em mansidão de sabedoria” A
determinação do apóstolo só é cabível a quem presume ser sábio e entendido;
porém, a determinação é impossível de ser cumprida por quem se arroga na
condição de sábio e entendido;
§ Uma conclusão – “Mas, se tendes amarga inveja, e
sentimento faccioso em vosso coração…”.
Este versículo é uma conclusão do apóstolo, e aponta os elementos que consta do
coração daqueles que se acham sábios e entendidos. Observe que o argumento fica
inconsistente quando se tenta combinar a primeira e a segunda parte do
versículo ao se enfatizar a partícula ‘se’: “Mas,
se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso…”, e; “…não
vos glorieis, nem mintais contra a verdade”. O indivíduo pode se gloriar de uma
alta posição, porém, jamais alguém vai querer se gloriar de ser invejoso e faccioso.
A Bíblia Vida Nova da Editora Vida Nova reza o seguinte: “Se, pelo contrário, tendes em vosso
coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem
mintais contra a verdade”. Para
enfatizar a partícula ‘se’, trocam o ‘não’ pelo ‘nem’, o que dá a entender que
alguém se gloria em ser invejo e faccioso (‘glorieis disso’, disso o quê?).
A ênfase deve estar no verbo ‘ter’, o
que demonstra que aqueles que se sentiam entendidos e sábios só estavam cheios
de inveja e contenda “Porém
se tendes inveja amarga, e contenda em vosso coração…”.
A pergunta persiste: quem é sábio e
entendido? Um sábio e entendido deve mostrar através do seu bom comportamento
suas obras em mansidão de sabedoria. Quando alguém que se diz sábio e entendido
não consegue cumprir com a determinação anterior, só pode estar acometido de
amarga inveja e um sentimento faccioso no coração.
A determinação é clara e
precisa: “…não vos glorieis nem mintais contra a
verdade”.
§ Não vos glorieis – Com relação a gloriar-se, a
primeira determinação do apóstolo é oposta: “Glorie-se
o irmão de condição humilde (…) o rico, porém, glorie-se na sua
insignificância…”; O
apóstolo Tiago dá um bom motivo para os irmãos se gloriarem ( Tg 1:9 -10), e
reitera que todos devem estar prontos a ouvir, tardios em falar ( Tg 1:19 ). Se
alguém estava procurando a posição de mestre com a intenção de gloriar-se, a
determinação é clara: não vos glorieis; pois os mestre receberão maior juízo (
Tg 3:1 ); a língua se gaba de grandes coisas ( Tg 3:5 ); e, quem entre eles era
sábio e entendido, a ponto de gloriar-se? ( Tg 3:13 );
§ Nem mintais contra a verdade – o verbo no grego sugere que
não deveriam alegar ‘falsas reivindicações de estarem na verdade’, ou seja,
eles na verdade não eram mestres, antes tinham amarga inveja no coração e um
sentimento faccioso.
15 Essa não é a sabedoria que vem do
alto, mas é terrena, animal e diabólica.
Muitos dentre os cristãos se sentiam
mestres, sábios e entendidos, porém a sabedoria que neles estava não vinha de
Deus ( Tg 3:1 e 13).
A
pretensa sabedoria que alguns possuíam não era a sabedoria que vem do alto.
A
sabedoria terrena, animal e diabólica é a que está vinculada à velha natureza.
Eles ainda eram carnais ( 1Co 3:3 ).
16
Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra
perversa.
O apóstolo dá os motivos que
compromete a sabedoria que alguns possuíam: inveja, espírito faccioso,
perturbação e obra perversa “Porque
as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações,
iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices,
glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como
já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de
Deus” ( Gl 5:19 -21); “Porque ainda sois carnais; pois,
havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais,
e não andais segundo os homens?” (
1Co 3:3 ).
17
Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica,
moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e
sem hipocrisia.
O
apóstolo Tiago descreve a sabedoria que vem de Deus. Esta é a sabedoria que
Deus dá liberalmente a todos “E,
se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada” ( Tg 1:5 ).
18
Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.
O
apóstolo Tiago chega a uma conclusão: o fruto da justiça semeia-se na paz! O
que ele quis dizer?
Não
se semeia o fruto, e sim a semente, pois devemos ter em mente que a semente dará
o seu fruto no devido tempo. Ou seja, para se obter o fruto da justiça devemos
lançar a semente na paz. Mas, qual é a semente que produz o fruto da justiça?
Para se obter o fruto da justiça faz-se necessário semear a semente apropriada,
que é a palavra de Deus ( 1Pe 1:23 ).
Sabemos
que Cristo é a nossa paz e que o fruto da justiça só é possível por meio dele (
Ef 2:14 ). Sobre este assunto o apóstolo Tiago já havia feito uma abordagem
anteriormente:
“Segundo
a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como
primícias das suas criaturas. Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja
pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do
homem não opera a justiça de Deus. Por isso, rejeitando toda a imundícia e
superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a
qual pode salvar as vossas almas” (
Tg 1:18 -21).
§ Gerou pela palavra da verdade: “Sendo de novo gerados, não de semente
corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece
para sempre” ( 1Pe 1:23 ) – a
palavra do evangelho é semente que pode salvar as nossas almas e nos deixa na
posição de primícias das criaturas de Deus;
§ Pronto para ouvir: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o
ouvir pela palavra de Deus” (
Rm 10:17 ) – a semente só germina quando ouvimos. Por isso a recomendação do
apóstolo: “…recebei
com mansidão a palavra…”;
§ Não opera a justiça de Deus: “Aquele que não conheceu pecado, o fez
pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” ( 2Co 5:21 ) – a justiça que
surge é em Cristo (nele) e é resultado de uma obra divina (feitos);
§ Rejeitando toda a imundícia e
superfluidade de malícia: “E,
na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de
tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por
ela” ( Hb 12:11 ) – o ato do cristão
em rejeitar a imundícia e a superfluidade de malícia é o mesmo que se exercitar
na paz.
Ora, o fruto da justiça semeia-se na
paz, para os que exercitam a paz.
Passemos a explicar novamente o
versículo dentro do contexto que o apóstolo vinha discorrendo.
Aqueles que desejavam ser mestre
simplesmente para se gabar, foram avisados de que a sabedoria que vem do alto é
pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons
frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. Após informar qual a sabedoria que
deveriam buscar, Tiago conclui: “Ora…”.
Ou seja, só é possível semear o fruto
da paz, levar a semente do evangelho, aqueles que dela são nascidos e que exercitam
a paz. Os que promovem a paz, ou aqueles que a exercitam, não devem ter amarga
inveja e nem sentimento faccioso. Estes são requisitos essenciais a quem deseja
ser mestre.
A bíblia nos apresenta o fruto da
justiça e o fruto do Espírito. Qual a relação entre eles?
“Ora, o fruto da justiça semeia-se na
paz, para os que exercitam a paz”
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança…”
Tiago fala como se semeia o fruto da
justiça e Paulo aponta o que é o fruto do Espírito.
§ O fruto do Espírito – “E os que são de Cristo crucificaram a
carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos
também em Espírito” (
Gl 5:23 -24) – O fruto do Espírito só é possível àqueles que crucificaram a
carne e nasceram do Espírito Eterno. Estes deixaram de viver segundo a carne e
passaram a viver segundo o Espírito. Ou seja, cumpre-se o que foi dito por
Cristo: “O que é nascido da carne é carne, e o
que é nascido do Espírito é espírito”( Jo
3:6 ). Aqueles que são nascidos do Espírito através do lavar regenerador da
palavra do evangelho, estes são espirituais, e produzem em Deus amor, gozo,
paz, longanimidade, etc. “Estai
em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver
na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim” ( Jo 15:4 );
§ O fruto da justiça – “Levando ele mesmo em seu corpo os
nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos
viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” ( 1Pe 2:24 ) – O fruto da
justiça só é possível àqueles que tiveram os seus pecados levados pelo corpo de
Cristo e crucificaram a carne, estando mortos para o pecado. Estes deixaram de
viver para o pecado e passaram a viver segundo a Justiça. Ou seja, para
pudéssemos ser: “Cheios
dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” ( Fl 1:11 ).
Observe que o ‘fruto da justiça’ e o
‘fruto do Espírito’ só são possíveis por meio de Jesus. Observe também que os
dois frutos estão no singular: o fruto. Ou seja, o fruto do Espírito é o mesmo
que o fruto da justiça.
E o mais interessante: Paulo e Tiago
falam do fruto do Espírito, e ou Fruto da Justiça, para dissuadir os seus
leitores de comportamento semelhantes:
“Não
sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos
uns aos outros” (
Gl 5:26 );
“Mas,
se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos
glorieis, nem mintais contra a verdade (…) Porque onde há inveja e espírito
faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa” ( Tg 3:14 -16).
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