A Consagração para o Sacerdócio
Levítico – Lição 12
A cerimônia de consagração para o sacerdócio levítico evidenciava a
grande responsabilidade e a importância desse ministério tanto para quem
haveria de exercê-lo quanto para o seu beneficiado direto — o povo, que
assistia a essa solenidade. Essa cerimônia tinha tanta relevância, que Deus deu
a Moisés todos os detalhes de como ela deveria ocorrer. Eles estão registrados
em Êxodo 29.1-46 e incluíam uma cerimônia de santificação do altar para o
sacrifício.
Deus estabeleceu o sacerdócio como “estatuto perpétuo” (Êx 29.9), o que
significa que ele era imutável e deveria ocorrer enquanto o Santuário
existisse. A expressão hebraica traduzida por “perpétuo” nessa passagem traz a
ideia de “imutável”.
Para aqueles que iriam exercer esse ministério, ao final das orientações
referentes à cerimônia, Deus promete abençoar todas as obras do seu ofício. O
Senhor é assim: Ele não apenas nos cobra responsabilidades; Ele também promete
estar conosco e nos abençoar em tudo o que precisamos fazer para a sua glória e
a bênção do seu povo.
Vejamos a seguir alguns aspectos dessa cerimônia e como ela aponta para
princípios que todo obreiro do Senhor não deve olvidar, objetivando o seu
amadurecimento espiritual no serviço do Mestre.
As Mensagens Expressas na Consagração de Arão e seus Filhos
Em Êxodo 29.1, já nos é apresentada na introdução a razão por que esse
cerimonial precisava ser feito: “para os santificar”. Arão e seus filhos só
poderiam começar a “administrar o sacerdócio”, como diz o texto, depois que
fossem santificados, e essa santificação ocorreria justamente através dessa
cerimônia. Esse propósito é asseverado não só na introdução das orientações
para a cerimônia, mas também no seu final (Êx 29.44).
Como ressaltamos na abertura deste capítulo, essa consagração servia
para colocar em relevo a responsabilidade e a importância do ministério
sacerdotal levítico. Por
A meio dessa cerimônia, o povo era cientificado e rememorado de que
aquelas pessoas que estavam ali eram chamadas por Deus. Elas não eram pessoas
que estavam ali simplesmente porque queriam ou porque se achavam competentes
para tal. Estavam ali porque Deus as chamara, como afirma o escritor da
Epístola aos Hebreus, que também ressalta a ligação do sacerdócio levítico com
o ministério de Cristo: “E ninguém toma para si essa honra, senão o que é
chamado por Deus, como Arão. Assim, também Cristo não se glorificou a sim
mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas glorificou aquele que lhe disse: Tu és
meu Filho, hoje te gerei” (Hb 5.4,5).
A grande mensagem inicial desse cerimonial era sublinhar o fato de que
as pessoas que estavam ali para serem apresentadas para aquele serviço especial
eram chamadas, escolhidas, eleitas pelo próprio Deus para aquela tarefa. Esse
era o significado primordial da consagração.
Em segundo lugar, essa cerimônia dizia a todos que aqueles
homens não se dedicariam a outra coisa: eles se dedicariam tão somente,
exclusivamente, àquele serviço para o qual estavam sendo apresentados.
Em terceiro lugar, como lembra Matthew Henry, a expressão em
hebraico para “consagrar” em Êxodo 29-9 é “encher as mãos”. Em vez de “sagrarás
a Arão e seus filhos”, que é uma tradução correta para o final desse versículo,
podemos colocar também “tudo porás nas mãos de Arão e nas mãos de seus filhos”.
Da mesma maneira, “o carneiro das consagrações” (Êx 29.22,26) significa também
“o carneiro posto nas mãos” de Arão e seus filhos.1 Esse significado “mãos
cheias” fala-nos de mãos ocupadas. Sim, quem é consagrado para Deus é uma
pessoa que passa a ter as suas mãos ocupadas. A sua vida ganha uma direção
específica, um norte determinado, um rumo estabelecido; o trabalho de Deus o
consome, toda a sua vida é preenchida, afetada e envolvida pelo seu chamado.
Ele é consagrado, e quem é consagrado é alguém ocupado. O trabalho da sua vida
é definido pelo seu chamado.
Em quarto lugar, a consagração de Arão e seus filhos falava
também de aperfeiçoamento. Era só a partir da consagração que eles estavam
finalmente autorizados a iniciar seu ofício conforme lhes havia sido ensinado.
A partir daquele momento, eles poderiam começar o seu trabalho, pois já estavam
preparados para o serviço. O seu preparo estava concluído e a consagração era o
sinal verde de Deus para que começassem. Era hora de arregaçar as mangas e
trabalhar. Eles estavam preparados.
E finalmente, em quinto lugar, a consagração fala de
capacitação divina para o serviço. Esses homens eram... Homens! E como homens,
eram, portanto, fracos, como ressalta o escritor da Epístola aos Hebreus (Hb
7.28). Mas, através daquela consagração, Deus estava dizendo: “Eu estarei com
vocês! Eu estou capacitando-os. Meu Espírito estará sobre a sua vida em todas
as obras deste importante trabalho para mim e em favor deste povo. Por meio de
vocês, Eu abençoarei o povo de Deus”. Essa é a mensagem que Deus transmite ao
final das orientações para essa cerimônia, e que está expressa nos dizeres “Vos
encontrarei para falar”, “Por minha glória serão santificados”, “Santificarei a
Arão e seus filhos, para que me administrem o sacerdócio”, “E habitarei no meio
dos filhos de Israel e lhes serei por Deus, e saberão que Eu sou o Senhor, seu
Deus, que os tenho tirado da terra do Egito, para habitar no meio deles; eu, o
Senhor, seu Deus” (Êx 29.42-46).
A Cerimônia de Consagração
Eis alguns aspectos importantes dessa cerimônia de consagração:
A lavagem com água (Êx 29.4), utilizando a água da pia de bronze (Êx
30.17-21). Ela nos fala de purificação, pureza, santificação, perfeição. Essa
lavagem com água simboliza a purificação pelo sangue de Jesus e a Palavra de
Deus (1 Jo 1.7; Jo 15.3;
17.17). O escritor da Epístola aos Hebreus nos lembra que sem
santificação, “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). A mensagem aqui, enfim, é que
ninguém pode se apresentar ao serviço do Senhor sem santificação, sem procurar
viver uma vida de santidade.
Colocação, em seguida, das vestes especiais para o ofício (Êx
29.5,6,8,9). Após a lavagem, eles estavam prontos para colocar suas novas
vestimentas, próprias e específicas para o trabalho que exerceriam. Sobre o
significado dessa indumentária, já falamos bastante no capítulo anterior. A
mensagem aqui é que “não era suficiente que removessem a corrupção do pecado
[pela lavagem da água]”, mas também “deveriam vestir as graças do Espírito,
vestirem-se de justiça (SI 132.9). Eles deveriam ser cingidos, como homens
preparados e fortalecidos para o seu trabalho. E deveriam ser vestidos e
coroados, como homens que consideravam o seu trabalho e as suas funções uma
verdadeira honra”.2
A unção com azeite (Êx 29.7; 30.22-33).
O azeite da unção deveria ser derramado sobre a cabeça de Arão e de seus
filhos. A unção simboliza a presença e o poder do Espírito Santo. Também Jesus,
o nosso Sumo Sacerdote, foi ungido pelo Espírito Santo (Lc 4.18,19; At 10.38),
bem como os seus discípulos (Lc 24.49; At 1.5,8; 2.1-4). Cada crente em Cristo,
desde o dia em que aceitou Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, recebeu o
Espírito Santo como penhor da nossa salvação (2 Co 1.21,22). Entretanto, é
preciso que busquemos o batismo no Espírito Santo para dinamizar mais ainda o nosso
serviço a Deus (At 1.8; 19.1-6), além de buscarmos ser sempre cheios do
Espírito Santo (Ef 5.18).
Tanto o sumo sacerdote como os demais sacerdotes eram ungidos (Êx 29.7;
30.30). Todos aqueles que são chamados para o serviço de Deus precisam da unção
de Deus, isto é, do poder do Espírito Santo sobre suas vidas para realizarem
com excelência a obra que o Senhor confiou em suas mãos para fazer. O azeite
tinha que ser especial (Êx 30.22-25), não poderia ser misturado, nem com
composição diferente. Sua fórmula era exclusiva, não podendo ser usada para
outro fim nem aplicada em estranhos, mas só para o serviço na obra de Deus (Êx
30.31-33). Deus não aceita mistura. Sua unção não poderá ser misturada com
fórmulas mundanas. Não há concórdia entre a luz e as trevas (1 Co 6.14-18).
O sacrifício (Êx 29.10-18).
Primeiro, era feita uma oferta pelos pecados dos próprios sacerdotes (Êx
29.10-14). Eles deveriam colocar a mão na cabeça do animal a ser sacrificado
(Êx 29.10), como confissão de que eram pecadores e pelos seus pecados deveriam
morrer. Ora, Cristo é a expiação pelos nossos pecados (Jo 3.16; 1 Co 15.3; 1 Jo
1.7). Quem serve na obra de Deus deve se lembrar de que é um pecador e se
apoiar totalmente nos méritos de Cristo para sua salvação. Como Paulo disse a Timóteo,
o obreiro de Deus deve cuidar primeiro de si mesmo, da sua própria salvação, da
sua vida espiritual, para depois levar a salvação e a bênção e Deus aos outros:
“Tem cuidado de ti mesmo [...] fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como
aos que te ouvem” (1 Tm 4.16). Como alguém poderá ajudar perfeitamente aqueles
que se encontram doentes enquanto ele mesmo ainda se encontra doente?
Em seguida, deveria haver ainda um holocausto não de expiação de culpas, mas
especificamente em honra a Deus, e a oferta sobre ele deveria ser totalmente
queimada, simbolizando a dedicação total daqueles homens ao serviço do Senhor
(Ex
29.15-18). O fogo consumindo toda a oferta fala de entrega total ao
serviço. E o fato de essa oferta só poder ser apresentada após a oferta pela
expiação dos pecados desses sacerdotes significa que “até que a iniquidade seja
retirada, nenhum serviço aceitável pode ser realizado”,3 o que nos lembra da
purificação de Isaías para poder servir no ministério profético como Deus
queria (Is 6.7).
A oferta pacífica vinha depois, o chamado “carneiro das
consagrações” (Êx 29.19-37) ou “sacrifício da posse”. Todos esses sacrifícios
apontavam para o Calvário, para a obra de Cristo na cruz. Nesse sacrifício em
especial, o sangue da vítima inocente deveria ser aspergido tanto sobre o altar
quanto sobre as vestes e o corpo dos sacerdotes — no caso, sobre a ponta da
orelha direita, o dedo polegar da mão direita e o dedo do pé direito de todos
eles. O azeite também era espargido sobre eles e suas vestes. Isso tudo era
para santificação de todos eles (Êx 29.20,21). Significava santificação de sua
atenção (orelha direita), do seu trabalho (mão direita) e de seu andar, seu
proceder (pé direito); e o sangue e o azeite juntos falam do sangue de Cristo e
do Espírito Santo, da justificação e da santificação, do perdão e do poder
purificadores. Aliás, o Espírito Santo é quem aplica a obra de Cristo em nossa
vida, operando a santificação.
O restante do ritual, conforme descrito no texto sagrado, é muito bem
sintetizado pelo Comentário Bíblico Beacon:
Moisés poria nas mãos dos sacerdotes partes deste carneiro das
consagrações, junto com porções do pão, bolos e coscorões que estavam na cesta
(Ex 29.22,23; ver v.2). Por um movimento horizontal em direção ao altar, os
sacerdotes tinham de apresentá-los como oferta ritualmente removida,
simbolizando entrega a Deus (v.24). Depois, Moisés queimava a porção de Deus no
altar (v.25) por cheiro agradável ao Senhor. Retinha o peito do carneiro das
consagrações para si (v.26), a parte que normalmente ia para o sacerdote que
oficiava a oferta do peito do movimento. O peito e o ombro dos sacrifícios
pacíficos — como pode ser chamado este tipo de oferta (v.28) — eram porções
habituais para o sacerdote (v.27). O peito era movido em movimento horizontal e
o ombro era alçado (ou erguido) em movimento vertical em atos simbólicos de
dá-los a Deus.4
As ofertas diárias se seguiam durante sete dias, que era o tempo que
durava a cerimônia de posse do novo sacerdote. Arão e seus filhos cozinhavam e
comiam juntamente com o que sobrava do cesto do pão e as porções de carne não
queimadas do altar ou que haviam sido dadas a Moisés. O mesmo também ocorria no
caso da oferta pacífica. Esse pão e essa carne dos quais os sacerdotes
participavam, e que os santificavam, representavam o corpo de Cristo , cuja
carne era simbolizada no Novo Testamento pelo pão da Santa Ceia (Mt 26.26; 1 Co
11.24). Um detalhe interessante e que as, vestes do sumo sacerdote eram
passadas para o seu filho por ocasião da consagração deste como novo sumo
sacerdote (Ex 29.29,30). O novo sumo sacerdote deveria passar pelo mesmo
cerimonial de consagração de seu pai, com o azeite sendo derramado sobre
aquelas vestes mais uma vez — e sobre ele, pela primeira vez. A indumentária
não seria nova — seria a mesma usada por seu pai —, mas a experiência seria
nova para o novo sumo sacerdote. Isso fala que as responsabilidades,
representadas aqui pela indumentária, se transferem, mas a consagração e a
unção, não. O novo ministro tem que ter a sua própria experiência de
confirmação e capacitação para o ofício dadas por Deus.
Cristo, nosso Sumo Sacerdote Perfeito e Eterno
A ordem sacerdotal de Cristo não era a de Levi, mas a de Melquisedeque
(Hb 5.6,10; 7.1-28), e a Bíblia nos apresenta Jesus como aquEle que tem um
“sacerdócio perpétuo” (Hb 7.24), isto é, imutável.
A perpetuidade do sacerdócio levítico era garantida por meio da
continuação da linhagem levítica, pelo “grande número” de seus sacerdotes que
se sucediam com
o Só que o “sacerdócio perpétuo” de Jesus é muito mais poderoso, pois se
assenta na sua eternidade, além da perfeição e do caráter definitivo de seu
sacrifício (Hb 7.24-27). Ele era perfeito, por isso seu sacrifício e serviço
foram perfeitos (Hb 7.26-28).
Louvemos a Cristo, que nos deu livre acesso à presença de Deus por meio
do seu ministério perfeito e definitivo, um ministério perpétuo em nosso favor,
no qual Ele está “sempre vivendo para interceder por todos” nós (Hb
7.25b). Aleluia!
Silas
Daniel
Bibliografia
1 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento — Gênesis a Deuteronômio.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 320.
2 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento ----- Gênesis
a Deuteronômio. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 320.
3 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Antigo Testamento ----- Gênesis
a Deuteronômio. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 321.
4 LIVINGSTON, George
Herbert. Comentário Bíblico Beacon. v. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.
218, 219.
Nenhum comentário:
Postar um comentário