Todos os pecados são iguais? 12 provas que existem
“pecadinho e pecadão”
Hoje, muitas
pessoas reagem contra o legalismo e a discriminação afirmando que todos os
pecados são iguais perante Deus e que, portanto, não existe pecadinho, nem
pecadão. Contudo, a Bíblia parece mostrar uma complexidade maior sobre o
assunto.
No excerto abaixo,
parte do artigo “A prática homossexual é igual qualquer outro pecado?”, Robert
Gagnon dá 12 exemplos de que nem todos os pecados são iguais. Como este é um
tema polêmico, leia e reflita antes de reagir.
O fundamento
escriturístico da visão de que alguns pecados são piores do que outros
Ainda assim,
continuo sendo um ‘homem da Bíblia’; então, atentemos para ela. Provas
para a visão de que a Bíblia considera alguns pecados como piores do que outros são
praticamente infindáveis, de modo que encerrarei a lista quando chegar numa
dúzia de exemplos.
(1) No Antigo
Testamento, existe claramente uma classificação de pecados. Por exemplo, em Levítico
20, que reordena as ofensas sexuais do capítulo 18 conforme a severidade da
ofensa/pena, com as ofensas sexuais mais graves agrupadas primeiro
(20.10-16). Dentro do primeiro nível de ofensas sexuais (ao lado de adultério,
as piores formas de incesto, e bestialidade) está a relação sexual com alguém
do mesmo sexo. Obviamente, variadas penas para diferentes pecados se encontram
por todo o material legal do Antigo Testamento.
(2) Após o episódio
do bezerro de ouro, Moisés disse aos israelitas: ‘Cometestes um grande
pecado. Agora, porém, subirei ao Senhor; talvez eu possa fazer expiação
pelo vosso pecado’ (Êx 32.30). Obviamente, o episódio do bezerro de ouro foi um
enorme pecado por parte dos israelitas, algo confirmado pela gravidade do
julgamento divino. Deve ter havido muitos tipos de pecados entre os israelitas,
desde o momento em que partiram do Egito. Apenas em ocasiões específicas, no
entanto, a ira de Deus se acendeu contra as ações dos israelitas — por que
motivo, se todos pecados são igualmente abomináveis para Deus?
(3) Números
15.30 refere-se às ofensas praticadas com ‘punhos cerrados’ (deliberadamente
e, talvez, em tom de desafio) como se fossem de natureza mais séria do que
pecados relativamente involuntários (15.22,24,27,29).
(4) Em Ezequiel
8, o profeta é erguido por um anjo ‘nas visões de Deus’ e levado até
Jerusalém, onde vê diferentes graus de idolatria ocorrendo nos arredores do
Templo e o anjo declarando duas vezes a frase: ‘Verás abominações ainda
maiores que estas’ (isto é, coisas detestáveis para Deus; 8.6,13,15;
8.17), depois de uma sequência de visões.
(5) Jesus
referiu-se ao ‘que há de mais importante na Lei’ (Mt 23.23), como
justiça, misericórdia e fidelidade — era mais importante obedecer a estas
coisas do que ao dízimo de especiarias, mesmo que não se devesse desprezar tais
ofertas. Formulações deste tipo implicam que violações do que há de mais
importante ou dos principais mandamentos (como não defraudar os pobres de seus
recursos tendo em vista ganho pessoal) são mais graves do que violações de
mandamentos menores ou ‘mais leves’ (por exemplo, dar o dízimo de pequenos
alimentos, como especiarias), que, segundo Jesus, deveriam ser praticados sem
deixar de lado as questões mais importantes. Jesus acrescenta a seguinte
crítica: ‘Guias cegos! Coais um mosquito e engolis um camelo’ (23.24).
Qual é a diferença entre um mosquito e um camelo, se todos os mandamentos e
todas as violações são iguais?
(6) Famosa
também é a identificação que Jesus fez dos dois mandamentos mais importantes (Mc
12.28-31). Ele também disse: ‘Quem desobedecer a um desses mandamentos [da
lei], por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado
o menor no reino do céu’ (Mt 5.19). Novamente, apresentar mandamentos maiores e
menores significa apresentar violações maiores e menores.
(7) Sugeriria que a especial
aproximação de Jesus a quem explorava os outros economicamente (cobradores de
impostos) e a quem pecava na área sexual, sempre no esforço de
restaurá-los para o reino de Deus que ele proclamava, não era tanto uma reação
ao abandono deles pela sociedade quanto uma indicação da especial gravidade
desses pecados e o perigo espiritual extremo que tais pessoas encaravam. Nesse
sentido, pode-se pensar na história da mulher pecadora que
lavou os pés de Jesus com lágrimas, enxugou-os com seus cabelos, beijou-os com
seus lábios, e ungiu-os com óleo (Lc 7.36-50). Jesus explicou o ato
extraordinário da mulher contando uma parábola de dois devedores: aquele
a quem o credor mais perdoa é quem mais o ama. A dedução óbvia é que a
mulher pecadora tinha feito algo pior aos olhos de Deus. Embora o anfitrião
fariseu de Jesus não tenha gostado que a mulher tenha tido contato com Jesus,
este louvou as ações dela: ‘Os pecados dela, que são muitos [ou grandes], lhe
são perdoados, pois ela amou muito [ou grandemente]; mas aquele a quem se
perdoa pouco, este ama pouco’ (7.47). Muitos cristãos tratam a ideia de ser
perdoado de maiores pecados como algo ruim. Jesus subverteu-a. Pense só como
cristãos que enfatizam que todos pecados são iguais poderiam empregar o
conceito bíblico de alguns pecados serem mais graves do que outros: alguns de
nós talvez precisassem de mais perdão, mas posso dizer que isto nos fez
entender a graça do Senhor de uma forma melhor e, portanto, amar o Senhor ainda
mais.
(8) Outro caso
óbvio de priorização de algumas ofensas como piores do que outras é a
caracterização de Jesus sobre a ‘blasfêmia contra o Espírito Santo’,
‘pecado eterno’ do qual nunca se terá perdão — no contexto, refere-se aos fariseus
terem atribuído os exorcismos de Jesus ao poder demoníaco (Mc 3.28-30).
(9) De acordo com João
19.11, Jesus disse a Pilatos: ‘Nenhuma autoridade terias sobre mim, se do
alto não te fosse dada; por isso, aquele que me entregou a ti incorre
em pecado maior’. A referência é a Judas (6.71; 13.2,26-30; 18.2-5) ou ao
sumo sacerdote Caifás (18.24,28). ‘Pecado maior’ naturalmente implica que a
ação de Pilatos é pecado menor.
(10) Paulo
fala sobre diferentes níveis de ação em 1Coríntios 3.10-17: é possível construir
de qualquer jeito sobre o fundamento de Cristo e sofrer perda, mas ainda assim
herdar o reino. No entanto, ‘destruir o templo de Deus’, a comunidade local de
cristãos, por questões indiferentes traria sobre a pessoa sua própria
destruição efetuada por Deus. Contrasta-se esta destruição com ser ‘salvo …
pelo fogo’ por causa das ofensas menores. Importantes comentaristas de
1Coríntios (por exemplo, Gordon Fee [pentecostal], Richard Hays [metodista],
David Garland [batista] e Joseph Fitzmyer [católico]) concordam (1) que se faz
distinção entre o grau de gravidade das ações; e (2) que Paulo aborda a
salvação individual do cristão. Assim diz Gordon Fee: ‘Que Paulo atenta para
uma verdadeira ameaça de punição eterna parece também ser o sentido óbvio do texto’.
‘Quem é responsável por desmantelar a igreja pode esperar julgamento à altura;
é difícil fugir do sentido de juízo eterno neste caso, dada a sua proximidade
com os vv. 13-15’ (The First Epistle to the Corinthians [NICNT; Grand Rapids:
Eerdmans, 1987], pp. 148-149). O mesmo pensa Garland, que de forma sucinta
afirma que ‘juízo desolador’ aguarda a quem destrói a comunidade em Corinto:
‘sua salvação está em risco’ (p. 121).
(11) Se todo pecado
é igualmente grave para Deus, por que Paulo destacou a ofensa do homem
incestuoso em 1Coríntios dentre todos os pecados dos coríntios como motivo para
exclusão da comunidade? Por que tamanha expressão de choque e
indignação da parte de Paulo? Além disso, se não existisse uma classificação de
mandamentos, como Paulo poderia ter rejeitado de imediato um caso de incesto
que mostrava consenso entre dois adultos, era monógamo e comprometido? Se os
valores da monogamia e compromisso pelo resto da vida fossem de mesmo peso que
a exigência de certo nível de alteridade familiar, Paulo poderia não ter tomado
uma decisão quanto ao que fazer. Naturalmente, para Paulo, não foi uma questão
difícil de decidir. Ele sabia que a proibição de incesto era mais fundamental.
(12) Primeira
João 5.16-17 diferencia entre ‘pecado que não é para morte’ (pelo qual
a oração pode surtir efeito e salvar a vida do pecador) e ‘pecado para
a morte’ (pecado mortal, pelo qual a oração não surtirá efeito).
Estes doze exemplos
(será que precisamos mesmo de mais?) já devem deixar claro que a afirmação de
que a Bíblia não indica em lugar algum que determinados pecados são piores aos
olhos de Deus não tem nenhum mérito.
Cristãos às vezes
ficam confusos sobre a questão ao pensar no argumento de Paulo acerca do pecado
universal em Romanos 1.18—3.20. Sim, Paulo argumenta que todos seres humanos,
judeus e gentios sem nenhuma distinção, estão ‘debaixo do pecado’ e ‘sujeito[s]
ao julgamento de Deus’. De fato, sua posição não é simplesmente que ‘todos
pecaram e estão destituídos [ou carecem] da glória de Deus’ (3.23), mas também
que todos ‘substituíram a verdade de Deus’ e de nós mesmos acessível nas
estruturas materiais da criação (1.18-32) ou na revelação direta das Escrituras
(2.1—3.20). Paulo argumenta o seguinte: não podemos dizer que pecamos, mas não
sabíamos que pecamos. Pecamos e sabíamos (em algum lugar nos recônditos da
nossa alma) ou, ao menos, recebemos muitas provas disso. Em resumo, todos são
‘indesculpáveis’ por não glorificar Deus como Deus (1.20-21).
O que Paulo diz é que qualquer pecado pode excluir alguém do reino de
Deus, se esse alguém pensa que pode conquistar a salvação por mérito pessoal ou
que dispensa a morte reparadora e a ressurreição vivificadora de Jesus. O que
Paulo não diz é que todo pecado é igualmente ofensivo a Deus em todos aspectos.
O argumento em Romanos 2, por exemplo, não é que os judeus pecam tanto
(quantitativamente) ou tão notoriamente quanto (qualitativamente) os gentios de
maneira geral. Qualquer judeu, incluindo Paulo, teria rejeitado esta conclusão
de imediato. Idolatria (1.19-23) e imoralidade sexual / homossexualidade
(1.24-27) não era nem de longe um problema tão grande entre os judeus como o
era entre os gentios (evidentemente, ‘os pecados comuns’ de 1.29-31 já eram
mais problemáticos). Antes, o argumento é que, embora os judeus pequem menos e
de forma menos notória em relação aos gentios de maneira geral, todavia têm
mais conhecimento porque têm mais acesso às ‘palavras de Deus’ nas Escrituras
(2.17-24; 3.1,4,9-20). Então, tudo fica nivelado, por assim dizer, no que diz respeito
à necessidade de receber a obra graciosa de Deus em Cristo (3.21-31).
Nenhum comentário:
Postar um comentário