“Segui a
paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando,
diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus;
nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
muitos sejam contaminados”(Hebreus 12:14-15).
queda – grego, “para que nenhum
(ou seja, através de preguiça em execução) falhando”, ou “aquém da graça de
Deus … incomodar você”. A imagem é tirada de uma companhia de viajantes, um dos
quais fica para trás, e assim nunca chega ao fim da longa e laboriosa jornada
[Crisóstomo].
raiz de
amargura – não apenas uma “raiz amarga”, que possivelmente traria
frutos doces; isso, uma raiz cuja essência é “amargura”, nunca poderia. Paulo
aqui se refere a Dt 29:18:
“Para que não haja entre vós uma raiz que produz fel e absinto” (compare At 8:23). A
raiz da amargura compreende cada pessoa (compare Hb 12:16) e todo princípio
de doutrina ou prática é tão radicalmente corrupto a ponto de espalhar a
corrupção por toda parte. A única segurança é erradicar essa raiz de amargura.
muitos – sim, “os muitos”, isto é, toda a congregação.
Enquanto estiver oculto debaixo da terra, não pode ser remediado, mas quando
“surge”, deve ser tratado com ousadia. Ainda lembre-se da cautela (Mt 13: 26-30) como
erradicar as pessoas. Nenhum perigo desse tipo pode surgir na erradicação de
princípios ruins.
Quando deparamos com a
frase “raiz de amargura”, uma leitura superficial ou uma
interpretação subjetiva pode nos levar a perder o ensinamento rico dessa
expressão no seu contexto. Confesso que li esse trecho muitas vezes antes de
perceber o seu verdadeiro sentido. Sabendo que a amargura é um mal que deve ser
expulso da vida do cristão (Efésios 4:31), eu via nesse versículo de Hebreus
mais uma instrução contra essa atitude venenosa. Mas o estudo mais cuidadoso da
expressão conforme sua origem e o contexto desse trecho nos leva a outra
conclusão e reforça alguns fatos importantes para nosso estudo e para a vida de
cada pessoa que procura agradar a Deus.
A expressão “raiz
da amargura” foi introduzida na Bíblia séculos antes de aparecer no
Novo Testamento. Entre as palavras finais de Moisés encontramos esta
admoestação para o povo de Israel:
“Porque
vós sabeis como habitamos na terra do Egito e como passamos pelo meio das
nações pelas quais viestes a passar; vistes as suas abominações e os seus
ídolos, feitos de madeira e de pedra, bem como vistes a prata e o ouro que
havia entre elas; para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família,
nem tribo cujo coração, hoje, se desvie do SENHOR, nosso Deus, e vá servir aos
deuses destas nações; para que não haja entre vós raiz que produza erva
venenosa e amarga, ninguém que, ouvindo as palavras desta maldição, se abençoe
no seu íntimo, dizendo: Terei paz, ainda que ande na perversidade do meu
coração, para acrescentar à sede a bebedice” (Deuteronômio
29:16-19).
O contexto desse uso
original da expressão lhe atribui seu significado importante. O ponto não é de
amargura profunda no coração, uma raiz da qual brotam outros pecados, e sim de
uma raiz que produz um resultado amargo, o castigo divino previsto nas
maldições do capítulo anterior. A amargura vem de Deus, mas é provocada por
atos humanos. Moisés avisou especificamente sobre o perigo de se desviar da
vontade de Deus, cobiçando os ídolos e os prazeres carnais que os outros povos
buscavam. Ele frisou o risco de uma falsa sensação de segurança, alguém achando
que poderia seguir práticas pecaminosas e ficar impune. Mesmo participando da
aliança especial que Deus fez com Israel, nenhum homem, mulher, família ou
tribo tinha uma garantia de permanecer em comunhão com o Senhor.
Esse entendimento
esclarece o ponto de Hebreus 12 e se ajusta perfeitamente ao contexto desse
trecho do Novo Testamento. Esse livro frisa a superioridade de Jesus Cristo como
Mediador de uma nova e superior aliança, o Novo Testamento. Repetidamente, o
autor de Hebreus alerta sobre o perigo de se desviar de Jesus e participar de
práticas profanas e inúteis.
Com base na linguagem de
Deuteronômio e suas semelhanças com o contexto de Hebreus, devemos aproveitar
duas lições importantes do aviso sobre a raiz de amargura:
(1) Deixar de servir a
Cristo, optando por qualquer outro sistema religioso ou prazer carnal, trará o
amargo castigo de Deus;
(2) Acreditar que o fato
de ter entrado em comunhão com o Senhor seja garantia da salvação eterna é
tolice.
A doutrina da perseverança
ou preservação dos santos, um ponto fundamental do Calvinismo que influencia a
teologia de muitas denominações evangélicas, é um exemplo desse perigo. Tanto
Moisés quanto o autor de Hebreus ensinaram a necessidade de continuar vivendo
conforme a vontade do Senhor para manter a comunhão com ele. Quem prega a
doutrina de “uma vez salvo, salvo para sempre” distorce as Escrituras e cria a
raiz da amargura.
A amargura no coração é
má, e deve ser excluída da vida do cristão. Mas o significado da “raiz
da amargura” é bem mais amplo e nos adverte sobre a consequência
desastrosa de qualquer desvio da vontade do Senhor Jesus.
Vamos seguir a Jesus e
perseverar até ao fim!
O Que Significa Raiz de Amargura na Bíblia?
Raiz de amargura é uma expressão que
aparece na Epístola aos Hebreus para se referir a um comportamento perigoso e
extremamente prejudicial à Igreja. Apesar
de ser uma expressão muito comum entre os cristãos, muitos possuem um
entendimento completamente equivocado sobre o que é raiz de amargura.
A
raiz de amargura na Bíblia
O
texto mais conhecidos mais conhecido onde aparece a expressão “raiz de
amargura” está registrado em Hebreus 12:6, onde lemos:
Tendo cuidado de que ninguém seja faltoso, e se
prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos
perturbe, e por ela muitos se contaminem.
(Hebreus 12:15)
(Hebreus 12:15)
Nem todos
sabem, mas ao escrever essa frase, o escritor do livro de Hebreus estava de citando outro texto
presente no Antigo Testamento. Na verdade o autor dessa epístola era um
profundo conhecedor do Antigo Testamento, e fez uso exaustivo dele em toda sua
carta.
Seus
destinatários eram crentes judeus da Diáspora, isto é, que viviam fora da
Palestina, e estes também conheciam bem as Escrituras através de sua tradução
grega, a Septuaginta. Assim, o
texto citado pelo autor, e que obviamente foi compreendido pelos seus leitores,
encontra-se no livro de Deuteronômio, onde Deus, através de Moisés, exortou ao
povo de Israel que não houvesse entre eles “nenhuma raiz que produza esse
veneno amargo” (Dt 29:18).
Para que entre vós não haja homem, nem mulher, nem
família, nem tribo, cujo coração hoje se desvie do Senhor nosso Deus, para que
vá servir aos deuses destas nações; para que entre vós não haja raiz que dê
veneno amargo.
(Deuteronômio 29:18)
(Deuteronômio 29:18)
Qual
o significado da raiz de amargura?
A
palavra amargura significa literalmente “sabor amargo”, porém no sentido figurado pode se
referir aos sentimentos relacionados à angústia, ou seja, transmitindo a ideia
de que a alegria é doce enquanto a tristeza é amarga.
Com
base nisso, a interpretação mais popular entre os cristãos diz que a raiz de amargura é um tipo de rancor alimentado por alguém,
ou seja, uma mágoa ou sentimento odioso que está no coração e que impede que o
ofendido perdoe quem lhe ofendeu.
No
entanto, esse não é o verdadeiro significado da raiz de amargura a qual o
escritor de Hebreus se referiu. Para entendermos o que realmente é a raiz de
amargura na Bíblia, basta olharmos para o texto que foi citado no Antigo
Testamento, e analisá-lo à luz do contexto do capítulo 12 de Hebreus.
A
raiz de amargura em Deuteronômio 29
Uma
leitura simples do capítulo 29 de Deuteronômio nos revela que o povo de Israel
estava sendo exortado por Deus, através de Moisés, contra o terrível perigo da Idolatria que afasta as pessoas do verdadeiro
Deus.
Moisés
então lembrou o povo sobre da adoração aos falsos deuses que havia no Egito,
onde ídolos feitos de madeira, de pedra, de prata e de ouro eram cultuados, e
como aquela prática era uma abominação diante do Senhor.
Essa
advertência era muito propícia, pois o povo de Israel entraria na Terra
Prometida, onde os povos que habitam aquela região também praticavam a
idolatria tal como os egípcios. Então, os israelitas foram exortados para que
não houvesse entre eles ninguém “cujo coração se afaste do Senhor,
do nosso Deus, para adorar os deuses daquelas nações” (Dt
29:18).
É
nesse contexto que Moisés utilizou a figura da erva daninha, isto é, a raiz amarga e venenosa para ilustrar a idolatria
em conexão com a apostasia. Esse alerta era tão sério que o
escritor enfatizou que se alguém se afastasse do Senhor e abraçasse a idolatria,
achando que estaria em paz e em segurança, na verdade estaria trazendo maldição
sobre si mesmo (Dt 29:19).
O
que é a raiz amarga?
De
acordo com a informação acima, é bem fácil entender porque Moisés recorreu à
raiz amarga que produz veneno para ilustrar o que estava falando. Além do gosto
horrível e amargo, esse tipo de erva daninha, quando colocada no alimento,
poderia matar uma família inteira.
Além
disso, as ervas daninhas prejudicavam grandemente as plantações, pois se
disseminavam com muita rapidez, e prejudicavam a absorção de nutrientes das
demais plantas. Assim, fora o gosto horrível e amargo dessa raiz, ela
causava doença, morte e prejuízo nas lavouras.
A
raiz de amargura em Hebreus 12
Vimos
que o escritor de Hebreus utilizou exatamente esse exemplo dado por Moisés.
Quando olhamos para o contexto do capítulo 12, podemos perceber que a raiz de
amargura se encaixa perfeitamente com o tema que está sendo discutido.
O
escritor da epístola estava exortando os irmãos a não desanimarem, mas apoiarem
uns aos outros. Aqui vale dizer que aqueles cristãos estavam sofrendo muito.
Por conta de sua fé em Jesus Cristo, eles estavam sendo perseguidos, perdendo
seus negócios, tendo seus bens confiscados, sendo presos e alguns até mesmo
mortos.
Diante
desse cenário, constantemente eles eram pressionados a abandonar a fé e
retornar ao judaísmo. Então o autor de Hebreus mostrou a superioridade de
Cristo frente ao caráter temporário do judaísmo, e os instruiu dizendo que
recuar não é uma opção.
No
capítulo anterior (11), ele forneceu vários exemplos de pessoas que sofreram e
venceram através da fé verdadeira, e no capítulo 12 ele apresentou Jesus como
o “autor e consumador da fé”, aquele suportou a dor maior no Calvário (Hb 12:2-4). Depois disso, ele
ensinou como os cristãos devem agir diante da disciplina de Deus (Hb 12:5-11).
Entre
os versículos 14 e 17, o autor, como um pastor preocupado com a situação de
suas ovelhas, escreveu aos seus leitores sobre como viver uma vida que agrada a
Deus. Ele fez isso dizendo o que deve ser feito, isto é, “seguir a paz com todos e a
santificação“ (Hb 12:14), bem como o que não
se deve fazer, nesse caso, negligenciar o cuidado mútuo uns para com os outros,
pois essa falha representa um perigo muito grande, já que pessoas faltosas
separam-se da graça de Deus e contaminam, como raízes amargas e venenosas,
a comunidade cristã, trazendo consequentemente grande perturbação.
É por
isso que ele aconselhou que os cristãos cuidassem uns dos outros, estando
atentos para que “ninguém se prive da graça de Deus”.
Como o sofrimento é um tema que está sendo tratado nesse capítulo, o escritor
está aconselhando os cristãos a estarem alertas sobre como os demais estão
lidando com seus problemas e sofrimentos, para que seja possível identificar
alguém esteja ficando para trás, sendo faltoso, e, consequentemente,
separando-se da graça de Deus.
É
possível que as pessoas que o autor estivesse em mente quando escreveu esse
texto fossem aquelas que diante das calamidades se revoltavam contra Deus, que
se esqueciam de todas as bênçãos que já lhes foram dadas, que rejeitavam a
verdade a qual foram instruídas, que negavam a fé que um dia disseram
professar, que mostravam não desfrutar da verdadeira paz e, obviamente,
falhavam no processo da santificação, e, ainda por cima, na sua loucura e
perversidade, acreditavam estar em segurança.
É
esse tipo de pessoa que se enquadra na figura da raiz de amargura. Em outras
palavras, a raiz de amargura é aquela pessoa que se
privou da graça de Deus, ou seja, a amargura produzida por essa raiz
não é o ressentimento ou a mágoa, mas é o pecado da incredulidade e do desprezo
com as coisas de Deus.
A
raiz de amargura expressa o estado de rebelião das pessoas que mesmo com seus
corações mergulhados na perversidade se iludem com uma falsa segurança quando
buscam refugio longe de Deus.
É por
isso que a raiz de amargura é tão perigosa, pois ela causa problemas dentro da
comunidade cristã, gerando perturbação e podendo contaminar outras
pessoas. Com seu comportamento corrompido, e suas palavras amargas, tais pessoas
se esforçar para privar os cristãos da santidade.
A
raiz de amargura é um veneno contagiante, que serve de canal para que o pecado
se espalhe entre o povo como erva daninha. A raiz de amargura transmite o mau testemunho e o escândalo, e
ridiculariza a fidelidade a Deus, assim como fez Esaú, que por um
prato de ensopado desprezou sua herança como primogênito e, consequentemente, a
bênção de Deus, banalizando as promessas da aliança feitas a Abraão e Isaque. É por isso que o
escritor o chamou de profano (Hb 12:16).
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