CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA A COMPREENSÃO DAS
ESCRITURAS
Antes de mais nada, quero explicar
alguns pontos básicos que são fundamentais para a compreensão das Escrituras, e
que espero possam aclarar um pouco a confusão que existe a hora de ler e
interpretar.
A Bíblia não é um livro, mas um
conjunto de livros, e se bem a mesma foi escrita por muitos autores humanos, o
único autor verdadeiro por trás da trama é Deus. Isso fica comprovado porque,
justamente apesar de tantos autores diferentes em tantos aspectos através de
tantos séculos, a Bíblia não contém contradições e toda ela é uma maravilhosa
peça de encaixes, obra de Mestre.
Digo isto muito a despeito dos
descrentes que possam reclamar de suas supostas contradições e erros. Para
eles, minha resposta: em primeiro lugar, leiam a Bíblia de capa a capa pelo
menos duas vezes com um entendimento literal e histórico, e depois disso mais
uma vez com a ajuda do Espírito Santo. Se depois dessas três leituras não
começam vislumbrar a perfeição na arquitetura da Bíblia, lamento informá-los
que muito provavelmente nunca chegarão a entendê-la... e conseguintemente,
nunca serão salvos.
Pela sua própria estrutura, a Bíblia
não é um livro de fácil leitura, ou pelo menos isso afirmam as pessoas como
desculpa para não lê-la. Em grande medida estão certas. A maioria dos que
decidem ler a Bíblia começam com grande vontade no Gênesis, mas quando chegam a
Números e Levítico abandonam, desalentados pelas longas listas de nomes e de
ordenanças. Poucos são os corajosos que avançam até o fim, ao Apocalipse. E
muitos menos ainda são os que obtêm verdadeiros conhecimentos.
Como nossa sociedade NÃO FOMENTA O
AMOR PELA LEITURA E MUITO MENOS A COMPREENSÃO DOS TEXTOS, o 99% dos cristãos
desistem de ler a Bíblia por si mesmos, delegando o análise e estudo das
Escrituras aos líderes das congregações, e esperando que eles lhes entreguem
suas próprias conclusões pré-mastigadas e pré-digeridas na boca, como a bebês.
Essas pessoas serão as que, no dia do seu juízo, se desculparão tentando
colocar a culpa sobre seus líderes, acusando-os de serem eles os que lhes
ensinaram as coisas erradas. Todavia, e mesmo que estes carreguem com essa
culpa, estes cristãos-bebês serão tidos como culpados por si mesmos, porque
Deus dá entendimento a quem assim o pede [1]. Ninguém será desculpado por não
ter procurado pela Verdade por si mesmo.
DIFERENÇAS ENTRE ALMA, CORPO E ESPÍRITO
Sendo que o homem foi feito a imagem e
semelhança de Deus, ele também consta de três partes separadas e ao mesmo tempo
unificadas: corpo, alma e espírito, segundo as próprias Escrituras o testificam:
...e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Ts 5.3).
Muitos alegam que alma e espírito são
a mesma coisa, pois na própria Bíblia muitas vezes estas palavras são
utilizadas para um mesmo aparente fim. Todavia, uma leitura cuidadosa dos
versículos que se referem à palavra "alma" (demasiados para ser aqui
citados, remito aos interessados a uma busca bíblica, hoje muito facilitada
pelos programas de computador) demonstrará que ela é sempre utilizada como
sinônimo de "vida do corpo" ou até mesmo de "coração" (no
sentido tanto dos sentimentos como do órgão que centraliza a função corporal da
vida humana). A palavra alma vem do grego psique, de onde surgem palavras como
psicanálise e outras referidas àquela parte humana invisível e interna.
E uma leitura cuidadosa dos versículos
onde se utiliza a palavra "espírito" (com minúscula) demonstrará que
a mesma é sempre utilizada se referindo a distintos tipos de espírito (como
exemplos, o espírito de ciúmes, o espírito de sabedoria, o espírito de aflição,
entre muitos outros), mas nunca no sentido da própria vida orgânica. A palavra
espírito vem do grego pneuma, que significa "sopro, fôlego".
A alma, portanto, se refere a vida
mesma (como fonte de energia), a mente humana propriamente dita (pensamentos) e
as qualidades inerentemente humanas (sentimentos), enquanto que o espírito
refere-se àquilo que torna o homem diferente dos animais: a mente espiritual e
os sentimentos ligados ao Espírito, a Vida com maiúscula. Para clarificar mais
ainda, diremos que a TODO ser vivo tem alma, enquanto que somente os homens
podem ter espírito: "Na sua mão está a alma de tudo quanto vive, e o
espírito de toda a carne humana" (Jó 12.10), e também "Assim
diz Deus, o SENHOR... que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito
aos que andam nela" (Is 42.5).
Depois da criação, Deus deu uma única
ordem a Adão e Eva: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal,
dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás"
(Gn 2.17). A serpente, no entanto, discutiu essa ordem: "Então a
serpente disse à mulher: Certamente não morrereis" (Gn 3.4). E depois
de terem comido do fruto proibido, nem Eva nem Adão caíram mortos, como teria
sido de esperar.
É bem sabido que isto é assim porque
essa morte se refere à morte do espírito, e não a morte da alma e do corpo, a
morte física. Ora, se depois de pecar o espírito que há no homem morre, mas seu
corpo continua vivendo, isto significa que a vida da alma é a vida orgânica,
enquanto o espírito corresponde àquela parte que faz do homem um ser superior,
que o liga com Deus, a parte que hoje toda a humanidade não nascida de novo tem
morta.
Resumindo:
Corpo
|
Parte física e visível do ser humano, a
"casca" exterior, a qual vive enquanto a alma permanece nela, dando
funcionamento aos órgãos internos e gerando as necessidades básicas da vida
humana (respiração, alimentação, evacuação, reprodução, etc.)
|
Alma (psique)
|
Parte incorpórea e invisível do ser humano, a
força vital interior, a mente racional (não abstrata) e os sentimentos
humanos.
Quando a alma morre, o corpo morre com ela.
|
Espírito (pneuma)
|
Parte incorpórea e invisível do ser humano, a
mente abstrata, os sentimentos ligados à divindade.
Quando o espírito morre, a alma e o corpo podem
continuar vivendo, mas separados de Deus.
|
O humanismo se baseia na satisfação
das necessidades corporais e no enaltecimento das qualidades da alma, enquanto
ignora completamente todo tipo de atividade espiritual. Isto tem gerado o
comportamento de nossa sociedade atual (através da evolução da humanidade
durante séculos, é claro), a qual é basicamente niilista [2]: "Paulo
pinta um pavoroso retrato da sociedade dos tempos do fim em 2 Timóteo 3:1-5.
Ele diz que ela será caracterizada por três amores: o amor a si mesmo
(Humanismo), o amor ao dinheiro (Materialismo) e o amor aos prazeres
(Hedonismo). Ele então aponta que o pagamento por esse estilo de vida carnal
será o que os filósofos chamam niilismo, isto é, a sociedade se atolando em
desespero. A mente dos homens se tornará depravada (Romanos 1:28), e as pessoas
chamarão ao mal de bem e ao bem de mal (Isaías 5:20)" [3].
Não estranha, portanto, que a maioria
das pessoas diga que a Bíblia é um livro cheio de erros ou difícil de entender,
pois a mesma se compreende por meio da mente espiritual e não da mente carnal
ou mente da alma. Todavia, que podemos fazer os seres humanos se já nascemos
com a nossa parte espiritual virtualmente morta por causa do pecado herdado? Graças
a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! [4]
FORMAS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Agora, vejamos algumas coisas acerca
da interpretação das Escrituras.
Assim como acabamos de ver a divisão do homem em
três partes, também existem três formas diferentes de interpretação, baseadas
nessa mesma divisão e com diferentes níveis de compreensão:
1)
Interpretação histórica e cronológica, de leitura
lineal e aplicação física ou corporal, no sentido de que se refere aos
acontecimentos na história do povo de Deus, praticamente em ordem cronológica,
desde a criação até os futuros dias do Juízo Final (leitura lineal desde
Gênesis até Apocalipse). Podemos dizer que esta interpretação é a mais básica,
a nível corporal, porque é apreendida com o entendimento humano e se refere aos
fatos propriamente ditos.
2)
Interpretação individual, de leitura
alegórica e aplicação no nível do crescimento pessoal interno de cada pessoa,
no sentido em que o que os acontecimentos são interpretados simbolicamente como
se referindo às ocorrências dentro da alma humana, a respeito do seu
desenvolvimento. A leitura não precisa ser lineal (pois se bem o crescimento se
desenvolve numa forma normalmente lineal, sempre pode-se voltar atrás sobre
tópicos que não foram aprendidos em seu momento, ou para aprofundar em algumas
coisas de difícil compreensão ou complexidade). Podemos dizer que este tipo de
leitura se aplica à alma e seu crescimento. É aquele tipo de leitura que busca
"lições pessoais" para aplicar à vida cotidiana.
3)
Interpretação espiritual, de leitura
também alegórica, mas de aplicação no nível do espírito humano. Esta é a
leitura mais difícil da Bíblia, por ser a mais "escondida" aos olhos
humanos, sendo que pelo pecado temos os olhos e ouvidos do coração fechados a
semelhante entendimento. Só podem aceder a ela as almas nascidas de novo, aquelas
que ressurgem da morte causada pelo pecado, e a mesma é indispensável para o
verdadeiro crescimento da alma, e não à inversa, como sustenta o humanismo (que
requer o crescimento da alma para alcançar o crescimento espiritual). É o tipo
de leitura menos praticado, mais desconhecido e mais desvirtuado pelos falsos
profetas.
Queria que vocês pudessem ver as
coisas como meu Pai as vê. Tudo neste plano corporal e material é sombra para
nosso aprendizado, o que importa em verdade é o plano espiritual, que é mais real
que o material. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de
passar [5]. Deus é espírito, mais é muito mais real do que nós (que em
verdade existimos pela Sua graça). Todavia, os homens insistem em interpretar o
mundo físico e o abstrato com suas mentes finitas... mas isso não passa de
sabedoria de homens, uma sabedoria que não cresce com o passar do tempo porque
não é verdadeira sabedoria, mas só um acúmulo de conhecimentos. É como uma
pessoa que conheça todas as letras do alfabeto de cor, mas que nem por isso
saiba ler e escrever.
INTERPRETAÇÃO DE PROFECIAS
Os eruditos determinam duas formas de
interpretação profética, a alegórica e a literal, mas eu afirmo que eles não
conhecem meu Pai. Precisam entender, quando falamos de profecias não interessa
tanto o método de interpretação (pois ambos os métodos têm a sua validade,
quando aplicados corretamente e sob a guia constante do Espírito Santo), senão
a forma de cumprimento das profecias.
Ora, existe uma dura briga entre os defensores
de cada método de interpretação. Posso compreender e validar até certo ponto as
defesas que fazem de seus respectivos métodos: os defensores do método
alegórico acusam os literais de serem excessivamente "realistas", não
dando margem para interpretações simbólicas como, por exemplo, já que o Egito
representa o mundo (como a própria Bíblia aclara), podemos também alegorizar o
cruzamento do rio Jordão como o novo nascimento, a conquista de Canaã como a
luta do cristão contra os poderes demoníacos do pecado em sua vida, etc. Por
sua parte, os defensores da interpretação literal acusam os alegóricos de serem
excessivamente espiritualizantes, assumindo atitudes além do espiritual, muito
mais próximas da fantasia.
É verdade que dentro dos primeiros podemos
encontrar correntes excessivamente limitadoras do poder de Deus, no sentido que
só Lhe permitem uma aplicação concreta, realista, visível e comprovável dos
fatos, numa atitude absolutamente "tomeana" (do tipo "ver para
crer"), descartando qualquer coisa que implique uma segunda intenção,
enquanto dentro dos segundos podemos encontrar algumas correntes que chegam a
conclusões que não são absolutamente bíblicas.
Aos primeiros digo: não limitem o
poder de meu Pai. E aos segundos aclaro: não inventem coisas em Seu nome,
aprendam a distinguir os espíritos como nos pede João.
As profecias têm:
1)
Cumprimento parcial. As profecias têm um cumprimento
parcial em algum momento da história, pois são somente sombras para que
saibamos reconhecer os fatos na sua manifestação cabal, quando esses tenham o
seu cumprimento total. São como exemplos que nos são dados, mas elas nunca
cumprem com todos os requisitos, para que a gente saiba que essa profecia ainda
vai se cumprir no futuro.
2)
Cumprimento total. É quando a profecia cumpre com
todos os detalhes da mesma, e ninguém pode ter dúvida alguma que a mesma está
cumprida. Por sobre todas as coisas, as profecias cumpridas encaixam no Plano
de Deus, no plano espiritual, não no físico.
Nem todas as profecias tiveram um
cumprimento parcial antes de ter o seu total. Jesus cumpriu muitas profecias de
forma total e absoluta que nunca antes tiveram seu cumprimento parcial, mas
isso foi sempre no caso das profecias messiânicas. Já nas profecias escatológicas,
todas elas têm um cumprimento parcial para nosso aprendizado, e um cumprimento
total (muitas já tiveram, outras ainda estamos esperando). Isso porque não
existe ninguém que possa representar, sequer por sombra, a Nosso Senhor, mas
muitos homens podem representar as forças do mal que agirão nos tempos
apocalípticos (o Anticristo, a Prostituta ou o Falso Profeta, entre
outros).
[1] Mateus 24.35, Marcos 13.31, Lucas 21.33
[2] Niilismo é
um conceito filosófico que implica a desvalorização e a morte do
sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao "porquê". Os
valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos
dissolvem-se". (fonte: Wikipédia).
[3]
Uma Visão Geral dos Sinais dos
Tempos, Dr. David
R. Reagan (Fonte: http://olharprofetico.com.br)
[4] Tendo em conta estas definições, recomendo a
leitura completa do capítulo 7 de Romanos com novo entendimento.
[5] Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria,
peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á
concedida. (Tg 1.5)
O meu povo
está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote,
rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas
sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu
me esquecerei de teus filhos. (Os 4.6)
Autora: ANUNCIADORA DE SIÃO
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