segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Descanso de Hebreus 4

O Descanso de Hebreus 4:  Seria o descanso pela fé contrário ao descanso do sábado semanal?

1 Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado.
2 Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram.
3 Nós, porém, que cremos, entramos no descanso, conforme Deus tem dito: Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso. Embora, certamente, as obras estivessem concluídas desde a fundação do mundo.
4 Porque, em certo lugar, assim disse, no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as obras que fizera.
5 E novamente, no mesmo lugar: Não entrarão no meu descanso.
6 Visto, portanto, que resta entrarem alguns nele e que, por causa da desobediência, não entraram aqueles aos quais anteriormente foram anunciadas as boas-novas,
7 de novo, determina certo dia, Hoje, falando por Davi, muito tempo depois, segundo antes fora declarado: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração.
8 Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria, posteriormente, a respeito de outro dia.
9 Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.
10 Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas.
11 Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência.
12 Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.
13 E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.
14 Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão.
15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.
16 Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.

1 Vinde, cantemos ao SENHOR, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação.
2 Saiamos ao seu encontro, com ações de graças, vitoriemo-lo com salmos.
3 Porque o SENHOR é o Deus supremo e o grande Rei acima de todos os deuses.
4 Nas suas mãos estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes lhe pertencem.
5 Dele é o mar, pois ele o fez; obra de suas mãos, os continentes.
6 Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou.
7 Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz,
8 não endureçais o coração, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto,
9 quando vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, não obstante terem visto as minhas obras.
10 Durante quarenta anos, estive desgostado com essa geração e disse: é povo de coração transviado, não conhece os meus caminhos.
11 Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso.


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O sábado como memorial do Éden aponta para um tempo em que o homem gozava de plena comunhão com o Criador e estava livre das fadigas e tribulações decorrentes do pecado. Mas além disso aponta para a soberania de Deus sobre Sua criação. A proposta do evangelho é reconduzir o homem ao estágio de homem novo, “nova criação” (1Co 5:17) e à plena comunhão com o Criador, em um novo Céu e nova Terra, no eterno descanso em Deus e com Deus. O livro de Hebreus, em seu capítulo 4 menciona a entrada no descanso de Deus para o crente tendo sua referência o sétimo dia: 
"Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso, tal como disse: Assim jurei na minha ira Que não entrarão no meu repouso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo. Porque em certo lugar disse assim do dia sétimo: E repousou Deus de todas as suas obras no sétimo dia." (Hb4:3-4).
Pergunto: O descanso em Jesus, prometido no Evangelho ocuparia hoje o lugar do sábado?

O Propósito da Exortação de Hebreus 4

Uma vez que a reconciliação ou reestabelecimento da comunhão da criatura com o Criador se inicia com a experiência da fé na redenção em Cristo, sendo que Ele é o próprio Criador e sustentador do cosmo (Cf. Hb 1:1-3), Hebreus afirma que é no “hoje” (ou no agora), no instante em que cremos em Seu poder de salvar e a Ele nos entregamos pela fé, que então se inicia o reestabelecimento daquela comunhão perdida no Éden, iniciada no sexto dia da criação e celebrada no sétimo, na plena unidade do Criador com suas criaturas (cf. 4:3). Mas o início não é ainda a plenitude. Ansiamos ainda a plenitude, nosso retorno ao Éden, o reino de Deus.

Antes de tudo, é bom salientar que o autor de Hebreus percebe a similaridade das experiências entre a comunidade a que se dirige e seus antepassados. Nesse sentido, como o texto mesmo afirma, também houve o anúncio do evangelho (ou boas-novas) aos antepassados (cf. Hb 4:1). Porém acrescenta que na conquista da terra, a Josué não se deu de forma cabal o descanso que Deus idealizava para eles, a saber, a irrupção do Reino de Deus por meio da fidelidade do povo à aliança e ao Messias (como mais tarde seria profetizado pelos profetas e nos Salmos, em diversos textos). 

A razão de o Israel segundo a carne haver fracassado, segundo a Escritura, sempre foi a incredulidade: ao se negarem a responder com fé nas promessas de Deus em conduzi-los até o ponto que Ele havia planejado, e por isso ficaram na metade do caminho (cf. Hb 4:2). Algumas vezes encontraram a prosperidade material e a expansão do reinado de Israel, mas não experimentaram a irrupção do reino de Deus. Ao se negarem finalmente a reconhecerem o Messias em Jesus de Nazaré, a promessa do Reino de Deus já não se vê atrelada ao povo judeu como nação, mas permaneceria com o remanescente fiel de Israel, que se torna a Igreja, e que agora proclama esse Reino para o mundo todo. E é essa grande salvação em Jesus, o grande descanso que o livro de Hebreus nos capítulos 3 e 4 anunciam. E a parênese ali, que tem sua referência no Salmo 95, tem como finalidade alertar que eles, os hebreus convertidos não deveriam repetir os erros de seus antepassados, impedindo o cumprimento da promessa, ao desistirem de sua fé em Jesus. Diz o texto (cf. Hb 4:1).
Mas podemos questionar: O que Deus esperava deles e em que ponto falharam?

O Chamado ao Descanso pela Fé

Quando salvou Seu povo hebreu, Deus prometeu a Moisés: “A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso” (Ex 33:14). Para Moisés e Israel, essa promessa era grandiosa, após o longo período de lutas e escravidão no Egito. Porém, como tantas vezes Deus havia dito, as promessas desse descanso eram condicionais e apelavam para a fé e obediência de Seu povo: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos. . .". Como observa Pedro Apolinário, os hebreus, sempre motivados em entrar na terra prometida, quando se lembrava das promessas, sempre se esqueciam de cumprir as condições. Por isso, o Salmo 95 citado em Hebreus 3 e 4 afirma que por sua “incredulidade” na promessa dada por Deus, quase todos pereceram no deserto, sem desfrutar da terra prometida (cf. 3:14-19). Isso não impediu que Deus prosseguisse apelando seu povo em cada momento a fim de que aceitassem a graça que desejava oferecê-los. A queda espiritual do povo e sua rejeição à autoridade divina é uma constante nos profetas e nos Salmos.

Era para esse descanso que Jeremias apelava quando escreveu: “Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para as vossas almas.” (Jr 6:16). O apelo de Jeremias atualiza a promessa para o povo, anos depois do deserto.

Também o Salmo 95 atualiza o apelo de Deus para o “hoje”, ao afirmar que embora o povo houvesse entendido um cumprimento da promessa do descanso com Josué, o Seu propósito pleno ainda terá seu lugar, e para que ela se realize, é preciso que o Seu povo permaneça em atitude de fé em Seu poder de salvar e cumprir Sua promessa, e assim não repita os erros da geração passada, sob a pena de permanecer fora do descanso (Hb 4:07). Desse modo, também a promessa era para aquele dia, o “hoje”. O salmista espera que o povo que aguardava a salvação de Deus permanecesse em atitude de fé, naquele dia, e por isso atualiza o apelo para que não haja o endurecimento do coração no dia chamado “hoje”. Ele entendia que essa exigência era sempre atual para o povo da aliança.

Quando ao citar o Salmo 95, o autor de Hebreus busca afirmar o mesmo pensamento do salmista, entendendo que o apelo de Deus é para todos em todos os tempos e lugares, incluindo o povo cristão da Nova Aliança. Seu apelo é que eles busquem, “hoje”, abrir o coração para a graça soberana de Deus e assim entrem no descanso prometido. Ele afirma categoricamente que se Josué tivesse dado descanso, Deus não apelaria ao povo de novo, em outro dia, o "hoje", como sendo o dia de descanso (cf. Hb 4:8). E quando traz o tema do sábado, ele o apresenta tão somente para resposta a uma pergunta: “como se entra no descanso pela fé?” E a resposta: “deve repousar como Deus repousou no sétimo dia, descansando de suas obras”. O “como descansar em Deus?” é a questão em voga, e não a pergunta “devo ou não devo descansar no sábado?”. 

Nesse sentido aqui o sábado é usado apenas como uma metáfora para o descanso eterno que se inicia na redenção pela fé na salvação operada por Deus. O antítipo (ou mesmo contraste) se estabelece entre a terra da promessa alcançado por Josué e o descanso pela fé, concedido por Jesus. Nada no texto oferece a possibilidade de que seja afirmada a negação do sábado semanal como dia sagrado. Antes, pode-se dizer que a simples utilização do sábado dentro do contexto sugere que de fato era sagrado ou a força da metáfora não teria seu efeito.

O Sábado de Hebreus 4

Desse modo se nota que o descanso mencionado em Hebreus 4 não descaracteriza o sábado do sétimo dia. Ele é citado apenas como uma metáfora para dar sentido ao caráter do descanso em Deus como exigido por Ele desde os dias do deserto. Se desde aqueles dias havia o descanso sabático semanal e se exigia um descanso em Deus, um descanso nunca conflitou com o outro. O evangelho (ou boas novas) pregadas a eles nos chega a todos no dia que se chama "hoje", exigindo a mesma atitude pedida a eles: Descanso dos esforços humanos e confiança de que Deus realiza a salvação daquele que crê nEle. 

Ademais, se o sentido da experiência de fracasso dos antigos hebreus tem seu uso relacionando com a experiência do Êxodo e o descanso em Deus na terra da promessa, o sentido do descanso eterno tem sua referência no descanso sabático de Deus, e não no dos homens, como o autor de Hebreus mesmo afirma: “Deve descansar de suas obras, como Deus, das Suas”. Se de fato buscamos uma referência para o descanso prometido com base em nosso descanso semanal, veremos que embora venhamos a descansar a cada sábado, sempre saberemos que esse descanso está incompleto em seu sentido escatológico, pois não revela ainda a plenitude do descanso que terão aqueles que aceitam a redenção pela fé. Ainda não descansamos o descanso primeiro, o descanso como Deus descansou, pois agora estamos presos às fadigas e às lutas com o pecado. Desse modo, o descanso sabático referido é o de Deus, ocorrido no passado, desde a fundação do mundo. Apenas aquele sábado de Deus remete a nossa mente para o eterno e perfeito descanso que teremos Nele, no Éden restaurado. Assim, de fato, “resta um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9), prefigurado pelo descanso de Deus no sexto sétimo dia da semana da Criação.

Retornando ao ponto inicial, a promessa de descanso, citada em Hb 4:1 permanecerá até que sejamos plenificados com a comunhão com o Criador tal como experimentou Adão naquele sétimo dia no Éden. Como o autor de Hebreus mesmo diz: Tudo permanece em forma de "promessa". Em Cristo adentramos o limiar do Reino e já o vivenciamos, e temos confirmada a nossa entrada nesse descanso, pela fé. Em Cristo, descansamos na salvação de Deus e cremos naquilo que Ele fez e fará por nós. E até que o “descanso” definitivo ocorra, o sábado do sétimo dia tem seu propósito de relembrar a cada semana de onde viemos e para onde vamos: do descanso em Deus e para o descanso em Deus que abraçamos em forma de promessa no momento em que descansamos em Cristo pela fé.

Conclusão

Concluindo, o evangelho já existia desde os dias do deserto, com suas figuras e tipos que asseguravam a graça de Deus. O povo foi privado da entrada no descanso definitivo por conta de sua incredulidade. Já nos dias da monarquia, o salmista entendia que o descanso era para além do descanso dos conflitos desse mundo e exigia uma atitude de fé na graça de Deus. Seu apelo para o hoje é o mesmo do autor de Hebreus: ambos tencionam chamar a atenção para a atitude de fé para que recebam a graça do descanso. O descanso mencionado não é o do sábado semanal, mas a posse da salvação pela fé, quando descansamos no poder de Deus que nos salva através de Jesus. 

Assim, entendo que o descanso do sábado não conflita com o Evangelho: Ele proclama o senhorio de Deus sobre Sua criação e também a submissão de Seus súditos a Ele. E até que o Céu a Terra passem, o sábado ainda é o memorial de nosso tempo edênico, no passado e no futuro, e por isso também tem sua relevância no presente, ao nos apontar o Criador e nos ensinar a descansar nEle.



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